Fiz IMERSÃO nos poucos discos que tenho dele, e fiquei convencido de que JARRETT é imprescindível, apesar da irritante antecipação dos solos com sua VOZ DE PATO DONALD, simultaneamente induzida à música genial que constrói nas gravações ao vivo.
É uma chatice não evitável. Mas, tem remédio. É bem possível no decorrer dos tempos, que muitos de seus discos venham a ser tratados em estúdio para eliminar o… “PROBLEMA”. A “falas” desconcentram o ouvinte. São ruídos inseridos que tornam a música feia e chata. Tornam esquisita a obra em desenvolvimento..
Em resumo, KEITH JARRETT realizou, pela ECM, quatro tipos de trabalhos.
1) Iniciou acompanhado por um quarteto de músicos europeus, em contraste à sua formação clássica e jazzística nos Estados Unidos.
Sua música peculiar, e bela por definição, casava-se perfeitamente ao JAZZ FRIO do SAXOFONISTA JAN GARBAREK; do baixista PALLE DANIELSSON, e do baterista JON CHRISTENSEN, músicos típicos da ECM.
Com esse conjunto, KEITH gravou diversas composições de sua autoria, todas ALÉM-JAZZÍSTICAS, e que destacam sua reconhecida HABILIDADE PIANÍSTICA. O exemplo aqui é o disco “MY SONG”…
2) KEITH tem enorme vocabulário artístico, e talento para construir frases inusitadas no piano; estendê-las ou encurta-las, e mesmo terminá-las inesperadamente. JARRETT sabe usar o intervalo entre as notas, espaços, e fazer música totalmente pessoal. Ele cria “PONTOS e VÍRGULAS” na concepção instantânea de sua música, talento que o tornou concertista solo de grandeza ímpar.
KEITH JARRETT praticamente criou o improviso ao vivo no piano solo. Há enorme discografia nesta linha. Aqui, por exemplo, estão “THE KÖLN CONCERT”, que vendeu muito; “THE VIENNA CONCERT”, e o excepcional “STAIRCASE”.
Há muito tempo caiu em minhas mãos um box com 10 LPs da ECM, chamado THE SUN CONCERTS, gravados ao vivo no Japão. Uma doideira de improvisos inacabáveis! Louquíssimos! Álbum caríssimo, que acabei me desfazendo e hoje lamento “abissalmente”…. BURRAGENS do COLECIONISMO…
3) Talvez o trabalho mais profícuo e de maior sucesso seja, também, o mais “conservador”. O trio americano que formou com o baixista GARY PEACOCK e o baterista JACK DEJOHNETTE, teve duração enorme para os padrões do JAZZ. Mais de 25 anos. Começaram no início dos 1980, e foram até aproximadamente 2010 – e quem sabe além disso.
A CRÍTICA AMERICANA considera essa formação talvez o melhor TRIO de JAZZ história! Não é pouca fama!!!! Os três juntos gravaram coisas vanguardistas e originais; principalmente STANDARDS JAZZÍSTICOS, mas sob outra ótica…
Veja exemplo aqui em “TRIBUTE”. Um álbum duplo composto por coleções de standards recriados não sob a perspectiva do compositor original, mas com base nas versões que a banda considerava relevantes.
Então, há “SOLAR”, de MILES DAVIS, na versão da perspectiva de BILL EVANS; e SMOKE GETS IN YOUR EYES, vista como fosse por COLEMAN HAWKINS; ALL THE THINGS YOU ARE, de JEROME KERN, no olhar de SONNY ROLLINS e por aí vai…
E não deixem de ouvir o espetacular YESTERDAYS. Foi gravado ao vivo no Japão, e a qualidade técnica da gravação é extraordinária. Disco imperdível; o trio está no auge criativo e em total sinergia aproveitando cada nota em razão da vantagem de haver um tema condutor nas músicas. É coisa relativamente recente, feita em torno de 2010. E explica muito da grandeza dos três músicos. É Fantástico, acredite.
4) Como gênio complexo e produtivo, JARRETT meteu-se com a música CLÁSSICA, e fez discos considerados entre os melhores sobre as composições que escolheu. Gravou com estilo BACH, por exemplo.
E fez versão para TABULA RAZA, obra do estoniano ARVO PART, talvez o maior compositor de música “CLÁSSICA CONTEMPORÂNEA”!
O catálogo enorme e em trânsito de KEITH JARRETT está entre os grandiosos da produção contemporânea. É música de alta qualidade, melódica sem ser vulgar ou brega, e muito acima e além dos rótulos. JARRETT toca sem parar; fraseia e harmoniza o tempo inteiro, e tem noção absoluta de ritmo.
Vou buscar mais coisas dele. É inevitável e prazeroso demais!
Postagem original: 25/02/2020
