Fiquem tristes, não!
Começar com irreverências faz bem ao espírito, e diz mais perto sobre a música criativa e espetacular de KEITH JARRETT. Para os que não observaram ainda, ele em vários discos nos brinda com grunhidos, orgasmos, gritinhos e imenso repertório não musical.
KEITH sempre fez isto. Mas, nos discos aqui fez menos, ou foi devidamente contido pela pós-produção que pode ter eliminado muitas “sonoridades propositais aleatórias”, ou “glossolalias não pianísticas”. (Que belas definições, TIO SÉRGIO!!!)
JARRET tem 80 anos e, por felicidade, sua inteligência e rápido desenvolvimento foram descobertos por seus pais muito cedo. A precocidade na fala e a memória muito acima do esperado, explicitaram o potencial evidente. Aos 3 anos, KEITH ganhou um piano e começou a estudar e tocar.
Os discos aqui postados são de fases menos conhecidas, mas já revelam o rio caudaloso, rápido e ininterrupto de ideias musicais. Vale a pena curtir!
Recomendo esse antigo e belo BOX, “FOUNDATIONS”, com dois CDS editado pela gravadora RHINO/ATLANTIC, em1994. É rica introdução; e com faixas dos outros dois cds da foto. Vocês encontrarão, por exemplo, seu fantástico piano em “My Romance”, com o ART BLAKEY E OS NEW JAZZ MESSENGERS, em 1966. Um JARRETT com as notáveis características que o levaram ao infinito em sua carreira: frases longas e cheias de criação e fôlego.
Tem, também, faixa retirada do LP gravado por AIRTO MOREIRA, para a CTI, que veio à luz em 1988. “So tender” é PÓS-BOSSA, e tem gente como GEORGE BENSON e RON CARTER!
Já na gravação com o saxofonista “CHARLES LLOYD” e o baterista JACK DEJOHNETTE, é vanguarda experimental que JARRETT encarou com a criatividade de sempre.
Há muita, muita coisa de alto nível. Faixas do espetacular “KEITH JARRETT & e o vibrafonista “GARY BURTON”, de 1971, FUSION de primeira linha em integração musical sinérgica entre os dois.
E, também, a gênese de seus trios com PAUL MOTIAN E CHARLIE HADEN, nos cinco discos feitos para a ATLANTIC RECORDS, entre 1968/1971, onde vai do JAZZ EXPERIMENTAL ao JAZZ MODERNO redefinido para aqueles tempos.
FOUNDATIONS é um BOX imperdível.!
KEITH JARRETT viu o seu talento reconhecido já na adolescência. Um professor de música, da escola onde estudava, o levou para ver um show de DAVE BRUBECK. Ele adorou! Principalmente a clareza da música do mestre. E aprendeu e se dedicou a fazer música complexa e profunda, com vocabulário claro e articulado. Em poucas palavras: a fazer música bonita, muitas vezes experimental, mas sempre bela. Tenha certeza: é muito difícil conjugar as duas qualidades!
De lá KEITH para a BERKLEE SCHOOL OF MUSIC, em 1963. Ficou por lá um ano. Gostava de contraponto e harmonia, mas detestava aulas teóricas.
Foi expulso porque aprontou alguma coisa com um dos “grand-pianos” da escola.
Saiu e continuou desenvolvendo seu estilo e suas aptidões; e tornou-se profissional. Seu fraseado límpido e vocabulário musical extenso, deixaram-no fluir sem limitar as ideias que tinha o tempo inteiro. O tempo, a prática e a ousadia refinaram o estilista supremo e sua “exatidão intuitiva”.
Vocês perguntarão: “Mas, TIO SÉRGIO, o que faz o disco do BRANFORD MARSALIS, numa postagem sobre o JARRETT?
É que MARSALIS, cria comportada e muito bem preparada da mesma BERKLEE SCHOOL, talvez seja em quase tudo o inverso de KEITH. Esse disco aí é um portento de técnica; mas, também, de chatice não melódica. JAZZ VANGUARDA feito por acadêmicos.
BRANFORD nos dá a sensação de que usa camisinha dupla para ejacular sua arte. Tem medo de engravidar a música.
Então, caro MARSALIS, vá tocar na vitrola dos meus amigos@Gil Andersons e@Rodrigo Marques Nogueira! Que andam com mais paciência do que o TIO SÉRGIO aqui!!!!
Escutem KEITH JARRETT e suas idiossincrasias. E, vá lá, o BRANFORD MARSALIS, também…
Dois craques!!!
postagem original 24/02/2020
