Usei a foto da nova caixa da banda abrangendo o período entre 1997 e 2008, uma enormidade com 24 cds e tudo o mais do período.
Mas, a intenção é especular um pouco mais sobre a fase atual dos caras, o que fizeram no palco durante o show curto e magnífico, o primeiro deles ( vergonhosamente, diga-se ) no Brasil.
Em primeiro lugar, o que eles pretenderam, ou pretendeu ROBERT FRIPP, com três baterias de marcas diferentes DW, TAMA e SONOR, cada uma delas com kits próprios e alternativos; e sonoridades, timbres e afinações diferenciadas entre si?
Eu especulo que não estavam lá apenas para o acompanhamento rítmico – o que bastaria uma só. Mas, para criar harmonias e, principalmente, “um coro de vozes” construindo melodias através de cada intervenção solo ou coletiva da percussão. E, de quebra, multi-ritmos, o que era o esperado também.
Seria?
E FRIPP, heim? o que faz o “dono da banda” durante as performances?
Ele é o maestro e o anti-maestro. Lembrando a definição de BRIAN ENO sobre si mesmo: “um não músico”?
ROBERT FRIPP sabe trabalhar o silêncio como integrante pontual da música ( não sei se fui claro ou percebi adequadamente ). Ele cria algumas texturas, pontua os clímaxes e, principalmente, desconstrói performances quando exacerbam, do ponto de vista dele, as pretensões da composição executada.
Explico: em dado momento, MEL COLLINS, que explicita o lado FUSION do grupo na tradição vanguardista do JAZZ BRITÂNICO; e, também, músico arrasador e ultra criativo nos sopros; em certo momento engatou um trecho de “Take the A train” de DUKE ELLINGTON… Porém, FRIPP simplesmente limitou o discurso com ruídos. Quer dizer, ele dirige o KING CRIMSON como decide fazer; e para onde quer! Ele manda – e não “co”manda a banda.
O KING CRIMSON não faz FREE JAZZ, mas JAZZ DE VANGUARDA CONTEMPORÂNEO.
E, por quê?
O FREE-JAZZ pressupõe total liberdade dos músicos para improvisar e se interrelacionarem durante a execução das músicas.
No entanto, a minha impressão foi ter assistido a um show milimetricamente calculado e conduzido.
Deste ponto de vista, talvez ROBERT FRIPP seja um misto de maestro, patologista de laboratório de análises clínicas, e cirurgião preciso: o resultado do exame é aplicado na operação das músicas.
Exagero meu? Pode ser.
As cordas, as duas guitarras e o baixo high-end de TONY LEVIN, trabalham andamentos e solos mesclando cacofonias controladas e melodias típicas do ROCK PROGRESSIVO.
O resultado é o que um dos nossos por aqui definiu como JAZZ PROGRESSIVO. Que eu redefiniria a escrita para “JAZZ / PROGRESSIVO”. Algo “simbiótico”, e não “adjetivo’, para um estilo ou outro.
Então amigos, o que tivemos foi um resumo da alta performance musical da banda, cuja definição de estilos e objetivos é muito difícil de fazer. Eu arriscaria algo como “JAZZ VANGUARDA – PROGRESSIVO MESCLADO COM MÚSICA LIVRE, MAS NÃO ALEATÓRIA”.
Nossa, tio Sérgio? Enlouqueceu?
Não. (acho que não…) E incorporo, também, a sugestão desafiadora do meu amigo@Gerson Périco: MÚSICA TEMPESTIVA!
Quem não fuça no KING CRIMSON não tem ideia de 50 anos de música que está perdendo.
É indispensável.
POSTAGEM ORIGINAL:13/10/2019

