MILES DAVIS – “IN A SILENT WAY”, 1969 – A FUSÃO FUTURISTA CONCEBIDA NUM LAPSO DE TEMPO ENTRE “AMBIENT MUSIC – JAZZ VANGUARDA – ROCK PROGRESSIVO E NEW AGE” –

Viver e sonhar, ou fazer enquanto sonhando? Quem sabe dar forma ao sonho depois de acordado e tudo feito meio “sem querer – querendo”?

Tudo isso junto, provavelmente…

Talvez MILES tenha sido um predestinado. Foi contratado pela COLUMBIA RECORDS em 1957, e permaneceu por lá até 1989. O legado está em magnífico BOX com 70 CDS e um DVD, abrangendo o quê deixou gravado, e parte do descartado na época, mas reaproveitado ao longo dos tempos.

O lapso temporal aconteceu entre o final de um dos “MILES DAVIS QUINTET”, aquele criado em 1965 com o pianista HERBIE HANCOCK; RON CARTER, no contrabaixo; TONY WILLIANS, baterista; e WAYNE SHORTER, no sax. Músicos excepcionais, herdeiros da moderna tradição jazística. Eles gravaram 4 LPS, e faixas que saíram em mais três álbuns lançados posteriormente.

Quando o grupo foi dissolvido, em 1968, MILES montou outro com músicos mais jovens, também extraordinários e depois ultraconhecidos: JOE ZAWINUL e CHICK COREA, teclados; JOHN McLAUGHLIN, guitarra; DAVID HOLLAND, no baixo. E manteve TONY WILLIANS e HANCOCK.

Este é o time que atuou no álbum original. E, acrescido de outros músicos, tocou nas várias outras faixas que compõe este BOX com 3 CDS, livreto muito informativo e fino acabamento gráfico.

As sessões que resultaram no “IN A SILENT WAY”, o BOX SET, seguem dois caminhos não tão distantes, mas divergentes.

Claro, MILES também procurou ficar próximo à sua sonoridade “histórica”, para não fugir radicalmente do público que conquistara. Afinal, continuava fazendo turnês. trabalhando. Mas, funcionou; grande parte do que não entrou no álbum original acabou sendo aproveitada nos discos posteriores: FILLES DE KILIMANJARO, 1969; WATER BABIES, 1976; CIRCLE IN THE ROUND, 1979; e DIRECTIONS, 1971. Esse material, menos experimental, é facilmente identificável com a evolução de sua carreira.

“IN A SILENT WAY”, lançado em 1969, faz fronteira com “BITCHES BREW”, 1970; e ambos são marcos fundadores do “JAZZ FUSION”.

O disco foi produzido por “TEO MACERO”, e é diferente de tudo o que MILES DAVIS fazia, e fez depois. Foi sendo concebido e realizado durante as diversas sessões de gravação que compõem este BOX. E, a mudança de foco em direção ao mais experimental é nítida.

A música título foi composta por JOE ZAWINUL, tecladista de vanguarda austríaco, que se inspirara no “clima” do Natal de 1968, que passara com a família em VIENA. Ela tenta expressar a intensa paz, calor humano e proximidade com suas origens e a natureza.

DAVIS gostou do que ouviu. É diferente da “tensão” característica de seu estilo. E o resultado é obra inovadora, coesa, experimentando novas texturas e harmonias. Músicas digamos “oníricas”: com inícios “fluidos”; sem final explícito, e reinícios no decorrer das faixas… Ou seja, moderníssimas.

Segundo McLAUGHLIN, o estúdio era amplo, os músicos estavam mais espalhados, e MILES circulava falando baixinho no ouvido de cada um, orientando, dirigindo o grupo.

DAVIS integrou ao time três tecladistas com estilos diferentes. E para desempenhar funções diferentes. E todos assumiram a música de base elétrica. Ele deu liberdade para o super GUITAR HERO JOHN McLAUGHLIN expor seus talentos. Resumindo, com os novos integrantes o lado ROCK afluiu.

MILES DAVIS compôs SHHHH / PEACEFULL, e ABOUT THAT TIME, para completar o LONG PLAY. Quatro músicas experimentais enunciando o FUSION JAZZ, e o início da FASE ELÉTRICA da carreira dele. E há várias faixas no BOX indo para esse lado, também.

Ao final, houve a seleção das faixas para serem lançadas. E o resultado é uma construção peculiar entre o ROCK PROGRESSIVO e o JAZZ de VANGUARDA que abriu, tempos depois, novos caminhos agora definidos como NEW AGE, AMBIENTE MUSIC, TRANCE – e outras tendências da modernidade eletrônica.

É preciso compreender que a impermanência de tudo é a regra da vida. Os conceitos até então consolidados sobre estilos, e suas origens, consequências e influências também estão sob escrutínio.

Hoje, encara-se RICK WRIGHT, no PINK FLOYD; e o recentemente falecido MIKE PINDER, um dos fundadores dos MOODY BLUES; como dois tecladistas mestres na criação dos climas e conceitos marcantes das bandas. Tanto o FLOYD como os MOODIES seriam totalmente diferentes sem a presença desses dois.

Neste sentido, não se deve estranhar que as sonoridades encontradas no álbum “IN A SILENT WAY” possam ter influenciado BRIAN ENO na criação da AMBIENT MUSIC. E daí, da música elétrica para os eletrônicos de vanguarda modernos, tipo a NEW AGE e o TRANCE. E, vou citar o estilo da gravadora ECM e sua imensidão criativa que aceita do acústico ao eletrônico; do JAZZ ao CLÁSSICO, do experimental ao conservador modernizado.

Em poucas palavras, MILES DAVIS pode ser pioneiro por aqui, também!

E DURMA-SE COM UM SILÊNCIO DESSES!
POSTAGEM ORIGINAL: 09/06/2024

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