MIROSLAV VITOUS, UM SUPERDOTADO! BAIXO ACÚSTICO GENIAL EM VANGUARD JAZZ E FUSION

Em cena no “making-of” do DVD “Me and Mr Johnson”, ERIC CLAPTON aponta para o tamanho dos dedos de ROBERT JOHNSON, e comenta sobre o alcance físico do negão no braço e nas travas do violão. Os dedos enormes possibilitavam tocar as notas e os acordes, que certamente o distinguiram na história do BLUES.
Eu acrescento: ainda bem que o JOHNSON não foi urologista…
MIROSLAV VITOUS é um sujeito grandalhão. Se apropria e se aconchega facilmente ao enorme BAIXO ACÚSTICO. É, também, caso raro de superdotado em duas atividades: aos 6 anos tocava violino; aos 9 piano; e aos 14 baixo acústico. Resumindo o “PROLEGÔMENO”, o cara estava graus e graus acima da normalidade.
E, para referendar, MIROSLAV FOI NADADOR DE ALTÍSSIMA PERFORMANCE. Participava da equipe olímpica da antiga Tchecoslováquia! Só não foi para as Olimpíadas porque escolheu fazer música!
Sorte nossa e do mundo inteiro!
VITOUS, como outro artista de dimensão histórica – o bailarino russo RUDOLF NUREYEV, para citar em mesmo nível – aproveitou a excelência da educação física e do ensino das artes propiciada pelos Estados comunistas da EUROPA ORIENTAL, principalmente durante a guerra fria. Na música, ele se destacou a tal ponto que, aos 19 anos, já gravara com artistas populares locais!
EM 1966, VITOUS foi aprovado para cursar a BERKLEE SCHOOL OF MUSIC, em Nova York. Quem o escolheu em concurso foi o tecladista JOE ZAWINUL. Só!
No livreto que acompanha otima edição da BGO inglesa, para THE BASS; um clássico “underground” originalmente batizado por “INFINITE SEARCH”, VITOUS conta que, em PRAGA, na década de 1960, era muito difícil encontrar discos de JAZZ ou do bom POP internacional. No entanto, a rádio FREE EUROPE era ouvida por lá, e sua formação jazzística veio de alguns excelentes programas veiculados. Ele estudava e praticava com as informações que obtinha.
VITOUS conta experiência pela qual eu também passei várias vezes, como colecionador e ouvinte interessado em JAZZ e ROCK: Já nos E.U.A, MIROSLAV perguntava para pessoas ligadas à música se conheciam certos discos e gravações. E a resposta era normalmente “não”. Eu cansei de fazer isso com estrangeiros e ouvir a mesma coisa… Ele conclui que sabia mais de JAZZ morando em Praga, do que a turma do primeiro mundo. Eu digo o mesmo morando a vida toda no Brasil… E não sou o único, com certeza…
MIROSLAV tocou uns tempos com MILES DAVIS, que já estruturava sua FUSION ELÉTRICA. Mas, não era o que a banda necessitava. Ele toca BAIXO ACÚSTICO. E sua grande contribuição foi seguir a tradição de SCOTT LA FARO, um dos “libertadores” do contrabaixo para improvisar e liderar a música dentro de um grupo: LA FARO está, por exemplo, em FREE JAZZ, de ORNETTE COLEMAN…
VITOUS é um solista de vanguarda e não apenas um provedor de ritmos e andamentos. É, também, um dos grandes no uso do ARCO no instrumento. E foi desse contato com a banda de MILES DAVIS que, em 1969, MIROSLAV gravou para a EMBRYO, gravadora de vanguarda, um grande clássico batizado por “INFINITE SEARCH”.
O álbum foi produzido pelo flautista HERBIE MANN, que aproveitou a base do grupo de MILES DAVIS substituindo WAYNER SHORTER no sax.
Estão aí a guitarra de JOHN McLAUGHLIN, já grande músico, que ainda não havia levado seu fraseado curto ao estado da arte; JACK DeJOHNETTE e a sua bateria cheia de estilo, ton-tons e pratos; HERBIE HANCOCK ás no piano elétrico; e o sax de JOE HENDERSON, formado na sonoridade clássica da BLUE NOTE, e exportado para as fronteiras do JAZZ EXPERIMENTAL.
O quinteto é ousadia plena e, ao mesmo tempo, melódico!
Soa europeu? Quem sabe? Mas, nada do chato pedante masturbatório que circunda gênios de fato e, também, os FAKES. Então, junte aos acústicos os eletrificados e você terá um disco denso e consistente, na tradição da melhor “FUSÃO JAZZÍSTICA”, até hoje com lugar marcado na história e nas discotecas mais sofisticadas.
O movimento seguinte de VITOUS foi participar da fase inicial do WEATHER REPORT, com WAYNE SHORTER e JOE ZAWINUL – o seu “descobridor”.
MIROSLAV disse, certa vez, que foi “forçado” a sair substituído por ALPHONSUS JOHNSON, o antecessor do mítico JACO PASTOURIOUS, quando a FUSION da banda tornou-se mais linear e decididamente elétrica, em 1974. Aqui estão dois dos quatro álbuns que gravou com o WEATHER REPORT: SWEETNIGHTER, 1977; e I SING THE BODY ELECTRIC, 1974.
Desse ponto em diante o gigante disciplinado, metodicamente transgressor, praticante incansável do “DOUBLE BASS”, entra em nova etapa. Firme, forte e desafiador como o NADADOR de ponta que também foi.
Ele como todos que dão certo esforçou-se. Procurou um caminho e estilo. Em uma sapecada geral, levantei entre 48 e 58 álbuns de estúdio onde era, ou estava, entre os protagonistas. Há participação em mais 228 discos como artista convidado ou contratado. Nada mal! Concordamos, né?
MIROSLAV VITOUS gravou muito pela E.C.M., de MANFRED EICHER. Discos SOLO eu tenho na foto “MIROSLAV VITOUS GROUP”, 1980, com JOHN SURMAN, soprano; KENNY KIRKLAND, piano e JON CHRISTENSEN, na bateria. E, também, “JOURNEY´S END”, 1983, com a mesma turma, e JOHN TAYLOR substituindo KENNY no piano. Há também, “UNIVERSAL SYNCOPATIONS”, 2003, com CHICK COREA, JOHN McLAUGHLIN e JACK De JOHNETTE….Ahhhhh, vocês todos sabem o que eles tocam….
E há dois do diferenciado guitarrista norueguês TERJE RYPDAL, com MIROSLAV e DeJOHNETTE, lançados em 1979 e 1981. E mais um do saxofonista JAN GARBAREK e o baterista PETER ERSKINE, em1991. Sei que há outros diversos, na ECM, gravadora que é a “CARA” de MIROSLAV VITOUS, além de muitos, muitos outros catálogos afora…
VITOUS não parou, continua em atividade, e, dizem, soberbo! Inclusive em “aventuras” orquestrais. Mas, aí, já extrapola o texto.
Enfim, pesquisar essa gente toda é quase impossível, e as conexões espalham-se mundo e vida afora. Então, convido a todos começar por aqui. É música exuberante feita por gente de alta qualidade técnica e artística.
Procurem saber.
POSTAGEM ORIGINAL: 29/04/2023
Pode ser arte de texto

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