MÚSICA, RUÍDOS E BARULHO – 150 ANOS CONVIVENDO

Estou postando coisas contraditórias e controversas. Artistas variados que talvez tenham nos ruídos e no barulho o cerne desses discos. Alguns também têm fogo pingando, mesmo que lenta e controladamente…

Seriam?

Anos atrás, na revista RECORD COLLECTOR, o entrevistador perguntou a JOHN MAYALL por que o BLUES fez tanto sucesso entre os jovens ingleses em meados dos anos 1960?

Resposta de um cara de mais de 85 anos e 60 de carreira: “porque é música feita com instrumentos elétricos e amplificados, e tem base perceptível no sentimento. Ao vivo é muito legal assistir, e é dançável”. Eu complemento: mesmo que as letras às vezes pareçam tristes, elas são jocosas, berradas, picantes e iconoclastas. Prato cheio para os jovens…

ROGER MCGUINN, guitarrista dos BYRDS, expressou com onomatopeia o porquê do som da banda: CRRRSSSHHHH: o SOM dos MOTORES, da VELOCIDADE e o barulho dos AVIÕES!

Pulei pra frente e achei lugar para o barulho supremo no ROCK: O HEAVY METAL e suas metástases!!!

O RUÍDO e o BARULHO nos acompanham na vida urbana, desde a segunda metade do século vinte… É “perfeitamente audível”, claro!

Coadjuvantes como sirenes, motores barulhentos, freadas e pneus cantando; juntam-se aos carros de bombeiros, de polícia e ambulâncias; e, também, ao martírio atual causado por betoneiras concretando prédios madrugadas adentro! Esqueci os templos e os bares? Não esqueci não.

Esta plêiade sinistra compõe a MÚSICA INCIDENTAL URBANA. Ela se instala no interior de nossos cérebros, e adeus sono, paz e sossego!

Se a arte imita a vida, tudo fica muito bem exposto na MÚSICA:

DAVID GILMOUR, criou o álbum, “RATTLE THAT LOCK”, 2015, depois de ouvir o sinal para embarques numa estação de TRENS na FRANÇA. Daquele fragmento sonoro emblemático, ele compôs um HIT…

Que tal reavivar o CULT contemporâneo “CERIMONY, AN ELECTRONIC MASS”? É álbum de música eletroacústica amalgamada ao ROCK. Foi composta pelo compositor de vanguarda francês, PIERRE HENRY, e o tecladista e cantor GARY WRIGHT, e gravado há mais de meio século, em 1969, pelo grupo inglês SPOOKY TOOTH. A capa “descreve” o conteúdo!

Está entre as primeiras articulações criativas de sons, vozes e RUÍDOS, eivado por… ROCK! Inestimável e inesquecível!

Vamos incluir BRIAN ENO e sua organizada e sutilmente ruidosa AMBIENT MUSIC? Claro, sem ele grande parte do que ouvimos, hoje, não teria sido proposto e criado…

Encontrei no subsolo de minha mente a balbúrdia “INDUSTRIAL ROCK”. Talvez os perpetradores mais famosos sejam os britânicos THROBBING GRISTLE, já em 1977, com THE SECOND ANUAL REPORT. Os integrantes do grupo têm nomes inacreditáveis e adequadamente sonoros, como GENESIS PORRIDGE, COSI FUN TUTTI, etc… Vá ao GOOGLE, lá você saberá…

E busquei na “graxa” os alemães do EINSTÜRZENDE NEUBAUTEN, com suas chapas de metal, britadeiras, serrotes, facas, eletrodomésticos e tudo o quê “barulhasse”. RUÍDOS+BARULHOS = SOM RUIDOSO E BARULHENTO…. ora, pois pois…

E achei o KRAUTROCK, em sua acepção original, compósito de eletrônica e ruídos. E Os DJS, heim?!?! Por décadas, e mundo afora, recortando e colando sons, músicas? Estratégias para preservação do ruído, e do barulho – e por decorrência…

Fui buscar na estante “CABEÇA” de WALTER FRANCO. E “ARAÇA’ AZUL”, de CAETANO VELOSO. Ruídos propositais e estruturados, e de algum jeito descendentes da MÚSICA ELETROACÚSTICA, de STOCKHAUSEN, LUKAS FOSS, e outros tantos e tontos….

Ahhh, e a nossa gênio, JOCY DE OLIVEIRA, 84 anos, compositora, pianista, professora e articuladora de ruídos e sonoridades; a pioneira da música eletrônica no BRASIL, no cenário desde o final da década de 1950? Ela se recusava a repetir o passado, então… pulou direto para o futuro…

Eu trouxe, também, para o banquete TERRY RILEY, compositor erudito contemporâneo, que sutilmente um habitante desse cosmos ruidoso. Você conhece “IN C”, 1968, sua obra mais famosa? É considerada a primeira composição MINIMALISTA.

Mas, TIO SÉRGIO, é barulhenta? Não. Mas, é articulação de notas repetitivas no piano e outros instrumentos. O efeito seria uma sequência de ruídos organizados?

E por falar em “MÚSICA CLÁSSICA, eu duvido que no século XIX RICHARD WAGNER não tenha causado furor e indignação! Se você já ouviu as introduções das óperas do ciclo “OS ANÉIS DOS NIBELUNGOS”, vai escutar uma parafernália de RUÍDOS, DISSONÂNCIAS e o BARULHO CRESCENTE da ORQUESTRAÇÃO enchendo o teatro!!!

MANTOVANNI e MELACHRINO, maestros da suavidade, e das orquestrações inofensivas nas décadas de 1950/1960, jamais regeriam WAGNER, que é “tamanco sem couro”: pau puro!

O mesmo se poderia dizer do estoniano ARVO PART, o maior compositor erudito contemporâneo? Formalmente, é um “conservador”. Mas, que provocaria “INCÊNDIO TOTAL COM SUAS COMPOSIÇÕES”, nas palavras de MICHAEL STIPE, vocalista do R.E.M – e personagem insuspeito de leniência, quando o assunto é transgressão, iconoclastia e barulho! Julgue você…

Para colorir a tela, vou contar “exemplo edificante”, que eu li pelaí:

O “MINISTRY”, foi fundado por ALAIN JOURGENSEN. Era banda barulhentíssima que iniciou no SYNTH POP, e migrou para o ROCK INDUSTRIAL. E, com o tempo, os membros descambaram “barulhagem” adentro…

Certo dia, ALAIN estava em um estúdio ao lado de outro onde ERIC CLAPTON estava gravando. Não se sabe exatamente o quê aconteceu; ouviram uma enorme explosão! E todo mundo saiu correndo para ver! CLAPTON, inclusive: Era o JOURGENSEN testando novas mixagens, altura, volume…coisas leves… bobagens…

É claro que não foi e não é só isso; porque os numerosos e contraditórios estilos e tendências sempre convivem!

Mas, nem pense em escutar música de vanguarda dos últimos 150 anos, sem considerar o BARULHO, RUÍDOS – e altos volumes sonoros em sua criação ou execução.

BARULHO e RUÍDOS são traços, sim, da ICONOCLASTIA e da JOVIALIDADE. Mesmo quando santos e velhinhos fazem das suas, né, KEITH JARRETT e seus gritinhos? Oba, GLENN BRANCA – que inspirou o SONIC YOUTH. E cadê o YNGWIE MALMSTEEN e o DEEP PURPLE & ORQUESTRA??? Gandaia de roqueiros fingindo serem clássicos?

Há um INFERNO de altíssimos DECIBÉIS; e um SANSARA de RUÍDOS. E, também por isso a vida moderna tornou-se um contínuo PURGATÓRIO.

E não adianta internar-se em TEMPLOS ou MOSTEIROS, e onde houver religiosos:

Essa gente é barulhenta pra caramba!!!!!
Postagem original 19/03/2024

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *