“O QUAM TRISTIS” … “( 2000 – 2008 ) – THE COMPLETE WORKS – BOX EDIÇÃO LIMITADA COM 5 CDS E BOOKLET. DARK WAVE!

A professora, compositora e pianista JOCY DE OLIVEIRA, é a criadora da MÚSICA ELETROACÚSTICA NO BRASIL, na década de 1950, portanto, influenciadora da moderna MÚSICA ELETRÔNICA,
JOCY talvez não sonhasse o “QUAM” longe sua opção repercutiu. Ponto!
Existe no mundo, inclusive no Brasil e principalmente em São Paulo, um cenário “GÓTICO UNDERGROUND” rico e muito diferenciado. Vem desde a década de 1980, e persiste com muita distinção até os dias atuais.
Usar a expressão “GOTHIC ROCK” é algo limitadora para atividade musical ativa e vulcânica. Melhor usar DARK WAVE, mais ampla, que transcende as origens, e de certa maneira mantêm sob sua definição quase tudo o que foi feito posteriormente.
Hoje, são vistos como DARK WAVE originais, e mesmo ainda no final dos 1970, THE CURE e SIOUXIE & THE BANSHEES. E invadindo a década de 1980, o BAUHAUS, JOY DIVISION, SISTERS OF MERCY, CLAN OF XYMOX, THE CULT e vasta “troupe”.
O espectro penetra a década de 1990, com o “DREAM POP”; passa por expressivas formas de WORLD MUSIC, e pela expansão da AMBIENT MUSIC.
Esta resenha focará em discos e sonoridades produzidos por gravadoras alternativas espalhadas mundo afora. Gravadoras diferenciadas como DISCHORDIA, CLEOPATRA, PROJEKT, e HYPERIUM… E a PALACE OF WORMS, que lançou “O QUAM TRISTIS…”. São todas eivadas por ELETRÔNICOS DE VANGUARDA e música não convencional.
É preciso lembrar a brasileira “WAVE RECORDS”, talvez sucessora da “CRI DU CHAT”, e detentora de bom acervo e de lançamentos. Ela é tocada por ALEX TWIN, músico, agitador cultural, e idealista da VANGUARDA MUSICAL UNDERGROUND, com bons serviços prestados nada silenciosamente…
ALEX também criou e participa de dois projetos da vanguarda eletrônica brasileira. Os “Cults”e conhecidos INDIVIDUAL INDUSTRY e o 3 COLD MEN.
Ele fez ou produziu outros. E toca a loja, a gravadora e um espaço cultural, em SÃO PAULO, dedicado a essas tendências.
O TWIN, é resiliente; e está do seu jeito original no seleto conclave dos criadores do UNDERGROUND paulista.
Há uma profusão de artistas e vertentes influenciados pela DARK WAVE. Os conhecidos DEAD CAN DANCE, BLACK TAPE FOR A BLUE GIRL, CHANDEEN, CLOCK DVA, e THIS MORTAL COIL,por exemplo. Há mais!
Claro, sobram estilhaços e resquícios para incensados como DAVID SYLVIAN, BJORK e COCTEAU TWINS; e até para ENYA e LOREENA MACKENITT. Todos “solares” como aurora boreal…
Para muitos cultores do não óbvio, o OPERA MULTI STEEL, e o grupo que o sucedeu, “O QUAM TRISTIS…” também são representantes perfeitos da DARK WAVE.
É interessante buscar em passado algo “remoto” sinais dessa onda toda.
Os que conhecem o ROCK PSICODÉLICO INGLÊS, talvez se recordem dos YARDBIRDS em música totalmente fora de seu repertório, mas instigante e experimental.
Com JEFF BECK na guitarra, em 1965, gravaram “STILL I’M SAD”, onde há “CANTO GREGORIANO” acompanhado por banda de ROCK. É fenomenal e imperdível!!! E DARK de dar medo!
Se a viagem se estender para 1968, ouviremos a talvez primeira banda digamos…”DARK PSICODÉLICA” da História!
Os americanos THE ELECTRIC PRUNES, na verdade um “projeto”, são, para mim, os primeiros inspiradores do GOTHIC ROCK! E gravaram, além de SINGLES matadores e tremendamente experimentais, a seminal MASS IN F MINOR (aí na foto).
É MISSA CATÓLICA cantada em latim; e em formato de ROCK DE VANGUARDA! A inspiração direta de JIMI HENDRIX nas guitarras é óbvia. O disco é um clássico UNDERGROUND.
Os que viveram os anos 1990, recordarão das gravações de cantores líricos, como PAVAROTTI, em incursões no POP e, às vezes acompanhados por grupos de ROCK. O encontro com o U2 é notório.
Muitos têm na memoria os CDS gravados por COROS de Igrejas. Os MONGES BENEDITINOS fizeram enorme sucesso no mundo inteiro. E até foram sampleados por D.Js; e tocados em danceterias e RAVES….Um must, na época!
Nesse “melting pot” da DARK WAVE, ERICH MIHIETT, PATRICK ROBIN, CATHERINE MARIE, e FRANCK LOPES criaram em BOURGES, na FRANÇA, o “OPERA MULTI STILL”, em 1983.
Todos cantam e são multi-instrumentistas. O grupo gravou 13 LPS/CDS, vários K7s, e fizeram incontáveis contribuições em miscelâneas e compilações de GOTH ROCK, AMBIENTE MUSIC e DARK WAVE. Espectro muito abrangente. Curiosamente, não conseguiram viver somente de música, e todos são profissionais em outras áreas…
Ainda assim, andaram e se apresentaram em vários lugares do planeta. Tocaram em SÃO PAULO, em 2011; e o show é tido como inesquecível.
Para constatar o intercâmbio e a característica multicultural desses artistas, FRANCK LOPEZ participa do 3 COLD MEN, com TWIN, e têm 4 discos gravados.
Vale a pena escutar a todos. Há vídeos e etc… no YOUTUBE.
“O QUAM TRISTIS” é o OPERA MULTI STEEL ampliado com a vocalista CARINE GRIEG. E foi criado depois de o proprietário da gravadora alternativa PALACE OF WORMS, GUIDO BORGHETTI, ter ouvido LAUDAMUS, música do O.M.S, cantada em latim.
BORGHETTI ofereceu-se para produzir um álbum inteirinho com músicas naquele idioma. E, para que não se confundissem com o OPERA MULTI STEEL, todos gravaram sob pseudônimo, e batizaram o novo projeto de “O QUAM TRISTIS”.
É nome bastante adequado, só ouvindo… Um “blend” de música acústica… “MEDIEVAL” feita com instrumentos antigos, como DULCIMER, FLAUTAS, CRAVOS, VIOLAS, etc…; mesclados a uma parafernália eletrônica; e acompanhando CANTOS LITÚRGICOS SACROS e / ou PROFANOS, e também CANTOS GREGORIANOS.
É tudo junto e ao mesmo tempo redivivo sob critérios contemporâneos, em cantares típicos do POP ETHEREAL feminino, muito em voga nas década de 1990 e 2000. E ali se juntou vocal masculino associado ao GOTHIC ROCK!
O tédio e a mesmice não habitam! Ao contrário: a sonoridade vai além do NEW AGE. Mas aquém do eletrônico de danceterias. É curioso, moderno e, quem sabe, atemporal… enquanto dure.
As letras incorporam poemas profanos e poesias recônditas, pinçados de autores anônimos – ou não – em séculos passados. Há, também, textos religiosos e litúrgicos, compostos na Idade Média. Uma espaçonave reversa…
E trazê-los sob arranjos contemporâneos expõe a estranheza deste mix de tempos e eras, garantindo impacto para os que os escutam hoje…
É bonito e nada óbvio!
Os cinco discos que compõe o BOX são diferentes entre si. Em quaisquer deles se percebe a integração com a sonoridade da época em que foram lançados, entre 2000 e 2008.
O títulos são bastante elucidativos. O primeiro disco FUNÉRAILLES DES PETITS ENFANTS, foi lançado em 2000. LES RITUEL SACRÉ saiu em 2002. MEDITATIONS ULTIMES veio àààà luz (?) em 2005; e LES CHANTS FUNESTES, de 2008, encerra o ciclo de álbuns originais e talvez da banda.
Para o BOX, há uma coletânea de RARE TRACKS, COVERS e REMIXES. Estamos no outono e a caminho do inverno.
Tente! Quem sabe com vinho tinto, chocolate quente ou cognac… Não é para festas…, e sim para público mais resguardado e reflexivo.
O desafio de todo artista é resguardar o próprio estilo e característica, dialogando com a contemporaneidade. O U2, o RADIOHEAD e DAVID BOWIE fazem ou fizeram isso muito bem!
O pessoal d’ O QUAM TRISTIS procura impor-se por um diferencial que os aproxima e, ao mesmo tempo os diferencia do OPERA MULTI STEEL e outros contemporâneos de estilo.
Não é para qualquer “paladar auditivo”. Mas, desperta ouvintes mais curiosos em busca do não óbvio.
Dedico o texto para o meu amigo Gerson Périco , que flutua e mergulha muito bem nesse mar interno…
POSTAGEM ORIGINAL 09/05/2022
Pode ser uma imagem de 1 pessoa

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *