Ontem, acordei com a macaca preta e fui dar uma repassada em alguns discos “relaxantes”. Comecei com MILES DAVIS em “KIND OF BLUE”, disco elegante, mas nervoso como todo o BE-BOP.
Depois, fui direto para o ORNETTE COLEMAN e a mais avassaladora experiência musical
até aqueles tempos, 1961!
Ainda seria?
É curioso; a música popular moderna havia chegado a seu ápice técnico e de bom gosto, com as grandes cantoras e cantores americanos fazendo os ciclos de compositores como GERSHWIN, COLE PORTER e diversos vários. E, quase ao mesmo tempo, o JAZZ instrumental vivia um refinamento estético brilhante; JOHN COLTRANE, MILES, DIZZY, CHARLIE PARKER e infinidade mais.
O interessante é que ao invés de expandir-se e repetir-se houve implosão: a DESCONSTRUÇÃO RADICAL da MELODIA, a SUBVERSÃO DA HARMONIA e RECONCEITUAÇÃO do RITMO.
Pareando, mas sem comparar, foi o equivalente à aparição de STOCKHAUSEN na música clássica moderna, após SCHOEMBERG e DEBUSSY.
Em poucas palavras, o advento do caos após revoluções quase radicais?
COLEMAN teve a ideia libertária e libertadora de propor a IMPROVISAÇÃO TOTAL. E foi além: juntou dois quartetos de formação igual com sax, trompete, baixo e bateria. Os músicos são todos de primeira linha e com recursos técnicos e formação para compreender a VANGUARDA DA ÉPOCA.
No estúdio havia dois gravadores registrando o que estava sendo feito. Combinaram alguns pontos pré-definidos onde todos tocavam ao mesmo tempo. E a”coisa (des) andou” por 38 minutos, em take único. E cada músico tocando no ANDAMENTO, RITMO ou MELODIA que quisesse. Radical mesmo!
Resultado: O caos?
Não!
O que resultou é obra com início, meio e fim. E simplesmente porque, depois de gravada, se consolida um produto que se mantém intacto para a eternidade; portanto lógico, autossuficiente e coeso em si mesmo.
“FREE JAZZ, A COLLECTIVE IMPROVISATION”… é obra revolucionária e libertária ao mesmo tempo. Mas, pronta e acabada para quem vier ouvi-la a qualquer tempo e época!!!!
Imprescindível.

