OS FRANCESES E O AMOR PELO JAZZ

Um dos encantos da vida é ver o belo, ou trabalhos de qualidade serem reconhecidos fora de casa pelos curiosos dessa Terra.

A miopia não é somente uma deficiência visual. É, também, e talvez principalmente, uma constatação da limitação humana e da mediocridade existencial irremediável.

O BLUES AMERICANO foi recuperado, expandido e amado pelos ingleses, na década de 1960.

Quem palmilhou, buscou e colecionou a MÚSICA BRASILEIRA, da raiz ao contemporâneo e até hoje, foram em grande parte os colecionadores japoneses!

Mais um viva, então, ao espírito empreendedor, à paixão universal e à beleza compartilhada!

Os FRANCESES deram vida nova ao JAZZ AMERICANO – e ao deles próprios! – dos anos 1940 em diante.

O intelectualismo e cosmopolitismo francês obrigaram e abrigaram a ruptura de barreiras culturais e raciais. Tornaram popular e inteligível para os europeus o JAZZ, uma forma de arte radical, moderna, não linear e sofisticada.

Seria? O que escrevo é radical?

É possível argumentar.

Aqui vai um BOX da minha coleção, muito interessante e fruto da paixão dos franceses pelo JAZZ. É a recuperação do acervo das gravadoras “SWING e VOGUE DISQUES”. São reproduções em MINI-DISCS dos Lps de 10 e 7 polegadas da época.

As capas são originais; fizeram o melhor trabalho técnico possível, e foram aqui reunidos sob a orientação da sucessora SONY MUSIC. Um must!

Fundada em 1947, a VOGUE durou até 1987. Lançou por lá, e divulgou com empenho e paixão o JAZZ clássico de SIDNEY BECHET, STEFHANE GRAPPELLI, DJANGO REINHARDT e CLIFFORD BROWN…

Depois, assumiu a ruptura do BE-BOP e da vanguarda com THELONIOUS MONK, DIZZY GILLESPIE, LALO SCHIFRIN, MARTIAL SOLAL, HENRY RENAULD e GERRY MULLIGHAN. E flertou, prensou e divulgou o RHYTHM and BLUES e o BLUES de MARY LOU WILLIANS e BIG BILL BROONZY, por exemplo.

E, também, o GOSPEL de MAHALIA JACKSON, e diversos e váriados artistas.

Esses VINTE Cds, com 35 DISCOS originais, é para ter, pegar e ouvir! Tentem escutar.

Pois, é; em linhas gerais foi muito além. Um dos fundadores que manteve o controle da gravadora até o final, o visionário colecionador CHARLES DELAUNAY, expandiu a VOGUE para o POP/ROCK de jOHNNIE HALLIDAY e FRANCOISE HARDI, mas sempre gostou e cuidou do JAZZ. O legado é soberbo.

Então, quando vocês assistirem novamente ao filme de Bernard Tavernier, “ROUND MIDNIGHT”, de 1986, observem a performance e interpretação do grande saxofonista DEXTER GORDON, no papel principal.

E não esqueçam de notar o jeito “HIP” de GORDON, e o clima DARK da PARIS retratada, que têm tudo a ver com a VOGUE DISCS, e muito, muito com todos nós!

“Se” percam por aí…
POSTAGEM ORIGINAL: 10/04/2020

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *