SIM, UM EXCELENTE ÁLBUM DE ROCK PROGRESSIVO SINFÔNICO!!!
Conhecer a HISTÓRIA é jeito confiável para consolidar conhecimentos válidos. E, também, para relativizar saberes, recuperar detalhes, preencher lacunas, ou até corrigir eventuais erros.
A HISTÓRIA do RENAISSANCE é parte de uma lacuna obscurecida pelo brilho intenso que o foco nos “super guitarristas” ERIC CLAPTON, JIMMY PAGE e JEFF BECK, deu aos YARDBIRDS, durante a curta existência da banda, entre 1963 e 1968.
Quando o grupo terminou PAGE, o último LEAD GUITAR, formou o LED ZEPPELIN, portal imenso para o HARD ROCK e o HEAVY METAL. ERIC CLAPTON, que saíra em 1964, e tido como “GOD” na Inglaterra, agora consagrava-se no CREAM, onde ampliou a sua experiência acumulada com o JOHN MAYALL’S BLUESBREAKERS. E JEFF BECK, depois de 1966 seguiu multifacetada e sem paralelos carreira solo.
Mas, TIO SÉRGIO, e o vocalista KEITH RELF e o baterista JIM McCARTHY, o que fizeram?
Criaram o conceito inicial, e gravaram os dois primeiros discos do RENAISSANCE, com JANE RELF no vocal, em 1969. Foram dois fracassos de vendas, e sobrou ninguém da primeira formação do grupo.
Mesmo assim, o RENAISSANCE foi a DORSAL PROGRESSIVA surgida no “desfazimento” do histórico, abrangente e seminal “THE YARDBIRDS”…
“So Beggins The Task”, parafraseando o nome de bela canção de STEPHEN STILLS…
Tenho por aqui, sei lá onde, postagem mais completa sobre o RENAISSANCE. Então, vou ater-me a esse belo trabalho, que antes deste relançamento eu não apreciava muito. Aqui, eu adiciono algumas “bolocotas” informativas e interpretações para tentar situar a banda no contexto da época.
ANNIE HASLAN tem um incrível alcance vocal de 5/8!!! Estudou canto, tem dicção perfeita e clara. Sua voz tem a leveza e a doçura das cantoras de MÚSICA CLÁSSICA.
ANNIE foi selecionada através de um anúncio na revista MELODY MAKER, em 1971, e juntou-se ao diferenciado baixista JON CAMP; ao baterista TERENCE SULIVAN; ao excelente pianista e tecladista JOHN TOUT; e também ao violonista e guitarrista MICHAEL DUNFORD, o compositor da maioria das melodias. É curioso: o RENAISSANCE usou guitarra elétrica pela primeira vez neste neste álbum!
Como o KING CRIMSON e o PROCOL HARUM, o RENAISSANCE tinha letrista exclusiva: BETTY THATCHER, que morava em outra cidade, e recebia as partituras e uma fita com a melodia via correio Ela escrevia as letras e devolvia ao grupo. Pelo que ouvimos na discografia disponível, o entrosamento foi perfeito!!!
O RENAISSANCE sempre foi mais popular na AMÉRICA, incluindo o CANADÁ, do que na INGLATERRA – essa eterna reveladora de ídolos e talentos, que precisaram ganhar a vida fora, porque lá o mercado é comparativamente pequeno e os impostos enormes. Então, mudaram-se para os Estados Unidos por dois anos, e tentaram aproveitar o culto que foram despertando.
No começo, ficaram em um “limbo” de mercado. Fizeram turnês com o BLUE OYSTER CULT, o KISS, EAGLES e vários, até encontrarem o nicho mais adequado: a turma do PROGRESSIVO e redondezas. Excursionaram com o JETHRO TULL, GENESIS, GENTLE GIANT…
Os cinco primeiros álbuns da nova fase foram paulatinamente vendendo melhor. Mesmo assim, elesnunca estouraram.
“A SONG FOR ALL SEASONS”, o sexto, foi o primeiro sucesso de verdade, com 60.000 LPS vendidos, graças a “NORTHERN LIGHTS”, lançada em SINGLE, em 1978; que para surpresa de todos, atingiu o décimo lugar nas paradas inglesas. Eles foram 3 vezes no TOP OF THE POPS.
ANNIE vivia na época com ROY WOOD, o famoso guitarrista, líder da banda psicodélica inglesa THE MOVE, e um dos fundadores da ELECTRIC LIGHT ORCHESTRA. Ele produziu e tocou no primeiro disco solo dela: ANNIE IN THE WONDERLAND, 1977.
ANNIE HASLAN era, também, muito amiga de BETTY THATCHER, e inspirou a letra de “NORTHERN LIGHTS”, que tem nada a ver com a Aurora Boreal… É uma canção sobre saudades, amor e retorno ao lar. Afinal, eles viviam na estrada…
Para fazer “A SONG FOR ALL SEASONS” eles contrataram DAVID HENTCHEL, que produzira com sucesso ELTON JOHN e o GENESIS. Era experiente, tolerante, e sabia operar sintetizadores, um upgrade necessário naqueles tempos.
O disco foi concebido como ROCK PROGRESSIVO SINFÔNICO.
Trouxeram a ROYAL PHILHARMONIC ORCHESTRA, e os arranjos foram feitos por LOUIS CLARK, que também havia escrito para a ELECTRIC LIGHT ORCHESTRA. A regência coube ao maestro HARRY RABINOVITZ.
A banda e a orquestra gravaram separadamente, como fizeram os MOODY BLUES, em DAYS OF FUTURE PASSED. As orquestrações têm ecos de DEBUSSY, SCHOSTAKOVICH e PROKOFIEV.
Eu percebo traços da canção-tema dos filmes do “Agente 007”. Acho os arranjos pesados, intensos e dramáticos. Lembram mais o PROCOL HARUM do que o GENESIS.
A conjugação orquestra / banda ao vocal etéreo e refinado de ANNIE HASLAN, talvez tenha gerado o melhor disco do RENAISSANCE. Na opinião do grupo, é a MASTERPIECE da carreira. Apesar da capa desenhada pela HIPGNOSYS, que ninguém gostou ou entendeu direito…Afinal, se era pra exibir a foto de moça qualquer, por que não ANNIE?
O box lançado pela ESOTERIC RECORDINGS, em 2019, é bem realizado. Traz livreto, poster, comentários e as letras. Tudo em caixa bem apresentável.
A remasterização do disco original está ótima! A mixagem do baixo ficou excelente, o piano soa claro, inteligível, e o som do restante da banda está muito bem remixado e coeso.
A voz de ANNIE HASLAN está nítida e afinadíssima, como sempre. A orquestra integrou-se muito bem, e os instrumentos utilizados estão com recortes bem audíveis.
O box traz outras faixas adicionais. E mais dois CDS bônus de concerto gravado no TOWER THEATER, na PHILADELPHIA, EM 1978; e na B.B.C.
O som está razoavelmente audível. Mas com certeza não foi remasterizado. São as limitações e lapsos de um projeto muito bonito.
Os cantores do coro pediram para receber seus cachês em caixas de cerveja, ao invés de dinheiro…
Certamente foi uma honra também para eles trabalhar em disco tão belo.
Eu recomendo a todos!