ROBERT PLANT: RECONSTRUÇÃO VITORIOSA DA CARREIRA DEPOIS DO LED ZEPPELIN

Gênios a gente conta nos dedos. São poucos.
Artistas como TOM JOBIM, PAUL McCARTNEY, MILES DAVIS, JOHN COLTRANE, e DAVID BOWIE por exemplo, são exceções dentro da minoria que congrega os grandíssimos e talentosos. São gênios!
Os geniais e superdotados existem aos montes – e ainda bem!
Vejam o LED ZEPPELIN. Lá havia três superdotados musicais: JIMMY PAGE, JOHN PAUL JONES ( baixo ) e ROBERT PLANT, “músicos geniais”. E um adequado eficaz: o baterista JOHN BOHNAN.
A conjunção terrena, e astral também, conspirou para a formação da talvez maior banda de ROCK da década de 1970. Eles imperaram; mesmo concorrendo com gente de nível igual, como o PINK FLOYD.
Limpando minhas coisas, observo a estante e vejo uma coletânea de PLANT. Esquento os motores com a vassoura e o espanador, e ponho pra rolar. Eu já gostava, e acho que o compreendi mais a fundo.
Estão no disco dez entre as 40 canções dos CINCO discos que PLANT gravou, entre 1981 e 1990. São muito boas. Melódicas, mas pesadas. E venderam bem; facilitando para que ROBERT reorientasse a carreira.
O LED ZEPPELIN é ícone, e o que fez está disponível para quem quiser ouvir. Explodiu na AMÉRICA e no mundo, e se tornou a referência maior para os nascentes HARD ROCK e HEAVY METAL, gêneros ainda indistinguíveis, em 1969.
ROBERT PLANT é considerado o maior cantor de HEAVY METAL da HISTÓRIA, por muitas publicações e vasto etc… ( Eu concordo!!!).
Mas, TIO SÉRGIO, PLEASE!!!! Como pode!!! se o ZEPPELIN e o PLANT jamais cantaram o HEAVY METAL típico?
Pois, é: essa é mais uma das características de PLANT. Um óbvio potencial vocal para o que viria ser o HEAVY METAL, canalizado para a outra possibilidade nascente: o HARD ROCK.
Sua voz aguda, extensa e clara facilitou que PLANT abarcasse os dois mundos de maneira pessoal, única! Para, no decorrer da carreira, adapta-la a outras possibilidades.
PLANT é bom ouvinte, descobridor e agregador de talentos, e sabe de seus limites e potenciais. Hoje, coloca a voz com pertinência estudada. Administrou-se artisticamente a vida inteira.
A morte de JOHN BOHNAN, em dezembro de 1980, extinguiu o LED ZEPPELIN por falta de clima e outros detalhes. PLANT tinha apenas 32 anos de idade! E sucesso absoluto e inquestionável, por doze!!! Extremamente jovem e vivido!
Então, o quê fazer?
ROBERT é lúcido, estratégico; e mesmo tendo a possibilidade, intuiu que prosseguir carreira fazendo mais do mesmo poderia limitá-lo e torná-lo autoparódia; espelho borrado de um passado onde estivera entre os maiores.
É minha opinião que PLANT sabia mais o quê não queria, e menos sobre o caminho a seguir. Tinha ciência do legado que ajudara a forjar e não poderia ser descartado. Não dá pra imaginar concerto de quaisquer dos ex-ZEPPELIN sem tocar os grandes clássicos atemporais. Não rola; porque são obrigatórios.
Então, o novo jogo seria um sutil equilíbrio entre o “porvir” – nossa TIO SÉRGIO!!! -, a fidelidade a si mesmo, e a base de fãs do LED ZEPPELIN. E PLANT necessitou aprender o “novo”, e observar “o que” funcionava para ele.
Seus discos na década de 1980 são pesados, e incorporam tecnologias e novidades: sintetizadores, teclados, e o uso dos nascentes computadores na música. Mas, não fogem do ROCK, do “BLUES – ROCK” e algo do PROGRESSIVO. Estilos em voga naqueles tempos e parte do acervo de potencialidades de PLANT.
As produções evitam longos solos de guitarras, mas não o uso correto e instigante do instrumento. PHIL COLLINS está nos dois primeiros discos. E PAGE participou de algumas faixas, mas sem o jeito caudaloso, típico da década de 1970. Gosto já questionado pelo público mais jovens, que exigia mais concisão.
ROBERT PLANT recolocou-se na geração do novo ROCK simpático às tecnologias nascentes, à música eletrônica e às várias formas do PÓS-PUNK e da NEW WAVE. Mas sem ser chato, pretencioso, ou perder a essência do original; e cuidou para não tornar-se datado por modismo escancarado.
Com o tempo, trabalhou com gente graúda, também. Mas, sem esquecer os primórdios; e aproveitou bem o novo, criando discos artisticamente relevantes.
De qualquer forma, ele se manteve antenado com a tradição do COUNTRY, do BLUES, do ROCK AND ROLL CLÁSSICO e do FOLK BRITÂNICO. Acervo imenso!
No entremeio abriu-se para o que acontecia na ÁFRICA, no ORIENTE MÉDIO e na ÁSIA. Flertou muito com o nascente WORLD BEAT, formando bandas e recrutando músicos talentosos para compor o seu “approach” diferenciado com a tradição. Ele encontrou o diferente, mas não assumiu o totalmente exótico.
Em 1993, PLANT criou “FATE OF THE NATIONS”, álbum seminal em seu portfólio. Tocam e cantam lá constelação de craques daquela geração; e gente mais tradicional, como o guitarrista RICHARD THOMPSON, e a vocalista do CLANNAD, MÁIRE BRENNAN.
O disco tem “sonoridade” que recorda “WISH”, excelente álbum do CURE, de 1992, o que reflete a tendência da época.
De algum jeito o disco inspirou a incursão de ROBERT PLANT e JIMMY PAGE na WORLD MUSIC. Culminando em “NO QUARTER”, disco ao vivo de 1994, mesclando “set” que inclui o ZEPPELIN clássico, e certas músicas como KASHMIR – em releituras ultra criativas, juntando orquestra de músicos do Marrocos, e outras paragens.
Uma das consequências foi o “Revival” da dupla por quase quatro anos, com passagem espetacular pelo BRASIL, no ROCK IN RIO, de 1996. Eles fizeram outro disco perfeitamente dispensável, BACK TO CLARKSDALE. E fecham um ciclo na vida de ambos.
PLANT seguiu e formou a STRANGE SENSATION BAND, continuou gravando e mesclando sonoridades ligadas à WORLD MUSIC, e usando instrumentação eletrônica. Os discos tornaram-se mais “ETHEREALS”, viajantes. E fora da “tradição” .
DREAM LAND, 2002, tem parte do repertório composto por covers: coisas de DYLAN, TIM ROSE, etc…, músicas mais tradicionais com tratamento atualizado para aqueles tempos. O disco foi indicado ao GRAMMY.
MIGHT REARRANGERS, 2005, retoma a FUSION AFRO-BLUES-FOLK – WORLD MUSIC – ROCK – CELTA, sei lá… e acrescenta à banda o guitarrista JUSTIN ADAMS. Músico incomum e fora do escopo tradicional do ROCK.
Só que…
O produtor de TV americano, BILL FLANAGAM, convidou PLANT e a excelente cantora e violinista de COUNTRY/ BLUEGRASS, ALISON KRAUSS, para gravarem cantando juntos em seu programa. A ideia era explorar a possível, ou não, integração entre contrastes.
Foi sucesso retumbante!
A voz bonita, educada, afinada e quase angelical de ALISON combinou com a de ROBERT PLANT – contida, bluesy, e adequadamente postada. Fluíram bem no repertório tradicional da COUNTRY MUSIC.
E o resultado foi o belíssimo “RAISING SAND”, gravado em 2007; e ultra bem produzido por T.BONE BURNNET, com a participação de músicos em nível de MARC RIBBOT, na guitarra. A banda soa pesada, com baixos mais nítidos e percussão marcada – afinal, ROBERT está lá! – , mas sem perder afinidade com a delicadeza da música COUNTRY, e ressaltando os talentos de ALISON KRAUSS.
Resultado? Foi 5 vezes premiado com o GRAMMY; e os dois correram o mundo em shows. Que, aliás, recomeçaram para divulgar o novo disco da dupla, RAISE THE ROOF TARGET, lançado em 2021.ROBERT PLANT se considera um cara de sorte – e ela novamente bateu na porta…
A boa experiência com ALISON aproximou ROBERT da versátil cantora COUNTRY, PATTY GRIFFIN. Em 2010, ele formou o BAND OF JOY, com os excelentes guitarristas BUDDY MILLER e DARREL SCOTT, parte da nata dos músicos de NASHVILLE. Gravaram um disco bem sucedido e deixaram outro inédito na gaveta..
Vale a pena procurar no YOUTUBE os shows ao vivo; dinâmicos e mais para o COUNTRY, porém eivados por BLUES e ROCKABILLY, o que dá outro tempero às músicas do LED ZEPPELIN e da carreira solo dele. Em sentido mais amplo, é uma banda de SOUTHERN ROCK, talvez…
PLANT e PATTY GRIFFIN, eram namorados e romperam, mas são amigos. Ela continua em carreira solo, no TEXAS. E ele aproveitou a guinada ao tradicional para voltar ao país PAÍS DE GALES, descansar, repensar, enfim….
Do retiro resultaram LULLABY AND THE CEASELESS ROAR, 2014; e CARRY FIRE. 2017, mais focados no FOLK CELTA, e muito além… Ambos foram gravados com sua banda de longa data, THE SENSATIONAL SPACE SHIFTERS, uma transmutação ampliada da STRANGE SENSATIONAL BAND.
Estão lá o tecladista JOHN BAGGOTT, que passou pelo MASSIVE ATTACK e o PORTISHEAD – pasmem!!! -, responsável pelo som etéreo e climático dos discos. Também JUSTIN ADAMS, o genial multi – guitarrista e adjacências, e o excelente SKIN TYSON, também na guitarra.
Pelo que assisti, em show de anos atrás, eles conseguiram fundir a MÚSICA CELTA à “AFRICANO MARROQUINA”, e ajustar o que PLANT criou em sua carreira, do ROCK ao BLUES ao FOLK , para a sonoridade atualizada que vêm formatando há tempos.
ROBERT PLANT parece um sujeito sensato, que sabe dirigir o trabalho e prestigiar os que o assessoram. Mas talvez irremediavelmente solitário. Teve filhos; e um deles é dono de Cervejaria. E, depois que separou – se da mulher, na década 1970, namorou a cunhada e fizeram outro bebê… e lá se foi a putativa sensatez…
Sua carreira solo é pequena, uns dezesseis discos, alguns premiados, mas todos comercialmente vitoriosos. Ele continua relevante do ponto de vista musical.
Experimente; ou melhor: deguste.
POSTAGEM ORIGINAL:16/07/2022
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