SLOWDIVE, LUSH, RIDE e OUTROS RESGATADOS. A VOLTA DO “SHOEGAZE”

A sensação de que tudo na vida, artes incluídas, se transformou em um “eterno presente”, mais ou menos à partir de 1970; e revelando tendência à permanente “atemporalidade”, até hoje me deixa perplexo!
Quando se pensa no desenvolvimento da música, e nem sempre por causa de cada obra em si que, em sua imensa maioria, surgiu para ser consumidas no ato. Mas, pela sobrevivência de parte do passado, que se mantém no presente quase incólume, através de vários estilos e artistas.
Vide, por exemplo, a influência do mais que cinquentenário HEAVY METAL, e a persistente atualidade de bandas como LED ZEPPELIN e BLACK SABBATH, ainda a base sacrossanta do gênero, apesar de evoluções, mudanças, e outras propostas.
A perenidade é luxo. Geralmente existem apenas a criação, divulgação, acontecimento e fim. Arquiva-se e vamos para outra…
Porém, na sociedade contemporânea, com evolução da tecnologia, a massificação promovida pelo marketing, e à parte as qualidades intrínsecas da criação, a memória do acontecimento sempre pode ser recuperada.
E dela podem surgir outras fusões, entendimentos, e suportes para além do imediato. Há “momentos vindos do pretérito, e estendidos no presente eterno imediato”…
Seria?
O ROCK é pleno de “revivals”. Recuperações de ídolos do passado, e suas influências nas propostas do presente.
Neste momento, artistas surgidos 45 anos atrás, e até mais tempo, voltaram à tona. E os melhores entre eles, portanto já “estendidos indefinidamente”, se mantiveram no circuito.
Recentemente, vimos THE CURE, SIOUXIE & THE BANSHEES, PRETENDERS, NEW ORDER…, em meio a outros, se apresentando renovados.
E, o mais interessante, incorporando estilos e técnicas da turma que os sucedeu, lá pelo início dos 1990. Isto fez e faz a diferença…
Quando houve, no BRASIL, em 2023, o festival PRIMAVERA SOUNDS, estava anunciado o inglês SLOWDIVE. Banda desconhecida por aqui, e com certo prestígio, mas vendas pequenas.
Eu gosto. E tanto quanto do LUSH, e o RIDE. E postei os CDs que deles todos mantenho.
O SLOWDIVE veio meio capenga, porque a vocalista principal, RACHEL GOSWELL, estava com problemas de saúde desde a passagem da “troupe” pelo CHILE, onde foram recebidos efusivamente!!!
Mesmo assim, RACHEL esteve nos palcos pilotando os teclados sem grande encantamento, mas provendo a “base bem anos 1990” que o grupo segue.
Eu assisti ao show no CHILE , via YOUTUBE. A qualidade técnica do evento está ruim. Mas, fiquei surpreso quando soube que vinham se apresentando há muito tempo com o repertório curto, insuficiente.
A banda gravou pouco…Mas, permanece agitando…
Em linhas gerais, o SLOWDIVE é mistura do “DREAM POP” com “AMBIENT MUSIC”. Destacando o vocal da baixinha RACHEL…
E, quando estão no palco, “encenam” o …”SHOEGAZE”.
O efeito geral é melódico, “esvoaçantes, e agradável.
Aprendi com meninos e meninas que trabalharam comigo na CITY MUSIC, uma das lojas que tive na década de 1990, sobre a mudança das perspectivas musicais nos 1980/1990.
O ROCK ALTERNATIVO, à época emergente, prescindia e recusava o virtuosismo egoísta. Gente como SATRIANI, ALVIN LEE e MALMSTEEN passavam anos luz dos alternativos.
A música passara a ser interpretada como uma concepção de grupo. Um Coletivo; conceito que se instaurou, nas últimas décadas…
Mas, francamente, juntando os discos que tenho do SLOWDIVE, o somatório daria um excelente álbum POP.
No entanto, um dos quase HITS da banda, ALLISON, tem melodia perfeita, linda! E, para mim, está entre as dez canções meio desconhecidas mais bonitas e viajantes do POP ROCK!
Em nível e companhia de “EXPECTING TO FLY”, 1967, música PSICH/PROG solitária de NEIL YOUNG, gravada pelo BUFFALO SPRINGFIELD; “JILL”, pepita psicodélica instantânea e simultaneamente recatada e reluzente gravada por GARY LEWIS & THE PLAYBOYS; e “PRETTY SONG OF PSICHED OUT”, outra beleza explícita feita pelos também americanos da “GARAGE BAND” “STRAWBERRY ALARM CLOCK” – e ambas em 1968.
Porra!!!! ( hummm…), TIO SÉRGIO!!!! Estas são velhas demais!!!
Sim, e muito delicadas, e contendo o travo psicodélico “histórico” que perpassou os tempos…
O último disco que o SLOWDIVE lançou, EVERYTHING IS ALIVE, foi considerado entre os melhores de 2023… Sei lá…, mas bom é; e reafirma o estilo da banda…
Eles ganharam matéria destacada na imprensa inglesa, sublinhando a volta do “SHOEGAZE”
à moda. A rigor, é apenas uma postura das bandas no palco: a turma toca baixo e guitarras olhando para os próprios sapatos, como se concentrados na execução da música…
Com o tempo, virou sinônimo de um “estilo” do início da década de 1990!
RIDE, LUSH, SLOWDIVE, e uma penca neste “BRIT BOX”, tipo MY BLOOD VALENTINE, CURVE, PALE SAINTS, CATHERINE WHEEL, MOOSE, etc… se apresentavam desse jeito…e soam na mesma linha.
O som que produzem tem nada com esse “olhar cabisbaixo concentrado”, é claro! E ficou associado às bandas que focam nas guitarras distorcidas e pesadas; arranjos viajantes e vocais geralmente femininos e melódicos, ou seja, o DREAM POP… e suas variações.
Quem assistiu ao THE CURE, recentemente, observou que a turma das guitarras e baixo, estava “analisando os sapatos feito engraxates”… E criaram um BLEND muito sugestivo entre os ROCKS ALTERNATIVO e o PROGRESSIVO.
É a evolução sobre aquele passado de 45 anos atrás, que retornou revigorada pela sonoridade da turma da década de 1990 … Resumindo, algo bem novo e interessante!


Procure ouvir. 

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