Entre 1963 e 1965, os BEATLES gravaram 99 músicas, fizeram dois filmes de sucesso “A HARD DAYS NIGHT’ e “HELP”, ambos em 1964. Viajaram se apresentando mundo adentro, explodiram em sucesso global.
A BEATLEMANIA espalhou o novo POP, e confirmou o conceito de tietagem já experimentado por ELVIS PRESLEY, FRANK SINATRA e outros, no passado não distante.
Mas, grana conseguiram relativamente pouca. Muito trabalho e recompensa financeiramente medíocre pelo empreendedorismo e criatividade, e a influência cultural reconhecida.
Verdade: na Inglaterra da época, os impostos ultra extorsivos levaram artistas e outros ricos a emigrarem; houve fuga de capitais e investimentos. É bom pensar nisso para compreender os limites da extração fiscal …
A canção TAXMAN expressa a revolta dos BEATLES contra o Fisco inglês.
REVOLVER, O ÁLBUM
Do ponto de vista artístico é obra marcante.
Por exemplo, o guitarrista GEORGE HARRISON em várias faixas se inspira, na minha opinião, no JEFF BECK “yardbirdiano” e sua guitarra eivada por recursos e sonoridades inovadoras, com muito uso da distorção, sempre controlada mas onipresente, como determinava o figurino. Eram tempos de PSICODELIAS…
REVOLVER mantém a marca dos BEATLES desde RUBBER SOUL, também de 1965. Explosão de ousadias, novas ideias, inovações técnicas e artísticas, vinham num crescendo.
E a preservação dos “Backing Vocals” consagrados de JOHN, PAUL e GEORGE, da bateria eficiente de RINGO STARR, e a produção de GEORGE MARTIN, garantem a identidade marcante do grupo.
Se destaca em REVOLVER a consistência melódica de tirar o fôlego na imensa maioria das composições do quarteto. As músicas são todas diferentes entre si, independentemente da tendência estilística.
Em TAXMAN, por exemplo, a remixagem de GILES MARTIN destaca GEORGE no centro e mais à direita. O baixo de PAUL McCARTNEY está na caixa esquerda, com LENNON na outra guitarra mais atrás. A nova mixagem deixou a música muito mais equilibrada. Abriu espaço para a expressão de cada um deles, submersas nas edições anteriores.
No disco há para todo gosto. Do romantismo de “HERE, THERE AND EVERYWHERE”, até a fantástica “FOR NO ONE” e seu arranjo sofisticado.
Estão lá, também, o R&B de “GOT TO GET YOU INTO MY LIFE”. O PÓS – BEAT ROCK em transição “DR. ROBERT”; e o SUNSHINE POP de “AND YOUR BIRD CAN SING” – em que a guitarra RICKENBACKER tocada por GEORGE, soa ao estilo de ROGER McGUINN, nos BYRDS – grupo americano ícone daquele momento.
O álbum, em geral, tende ao ROCK PSICODÉLICO, com uso de técnicas de estúdio e ELETRÔNICA DE VANGUARDA – para aqueles tempos – em nítido objetivo de transpor os limites do POP usual.
Ouçam “I’M ONLY SLEEPING”, “TOMORROW NEVER KNOWS”, “SHE SAID, SHE SAID”, “I WANT TO TO TELL YOU”, e “GOOD DAY SUNSHINE”. Prestem atenção na fantástica mixagem para o “STEREO” dos SINGLES “”RAIN” a “PAPERBACK WRITER”, que revelam outro mundo!
E sem esquecer YELLOW SUBMARINE, pensada desde o início para RINGO cantar. É “MÚSICA PARA CRIANÇAS” com velados respingos “alucinógenos”… Talvez uma sutil lembrança de outro clássico da “inocência envolvida em fumaças mágicas”: “PUFF…THE MAGIC DRAGON, gravada por PETER, PAUL & MARY, em 1963. Canção que o tempo redefiniu seu “verdadeiro” conteúdo.
É interessante observar a influência do hinduísmo e do misticismo, vividos por todos eles em meados da década de 1960, e representados em arranjos com SITAR, TABLAS e TAMBOURA. A espetacular LOVE YOU TO é deferência ao clima musical desafiador daqueles tempos.
O álbum inteiro é excelente. E seu ponto mais alto e definidor é a melhora técnica exponencial:
“ELEANOR RIGBY” foi ideia concebida por McCARTNEY, depois de ouvir as 4 ESTAÇÕES DE VIVALDI, principalmente o “INVERNO”. GEORGE MARTIN criou o arranjo emulando o “PADRECO”, misturando a obra dele aos picos de suspense da trilha do filme “PSICHO”, de “ALFRED HITCHCOCK”. Lembrem-se da cena antológica onde a personagem é esfaqueada durante o banho!
Resumindo, a combinação de “dois clássicos” gerou uma das melhores músicas da história do ROCK, até hoje CULT e reverenciada.
O fantástico REMIX atual faz juz à obra de arte!
“ELEANOR RIGBY”, é correta e magnificamente cantada por PAUL McCARTNEY, que está posicionado no centro da faixa.
O DUPLO QUARTETO DE CORDAS, com 4 VIOLINOS, 2 VIOLAS e 2 CELOS, perfeitamente dispostos no estúdio, cria um som impactante!
O coro formado por GEORGE, PAUL e JOHN, também está ao centro da faixa, porém posicionados e mais atrás de PAUL. O palco sonoro conseguido nessa nova mixagem é de tirar o fôlego!!!! Intensa, e talvez definitiva!
Há gravação alternativa das cordas, no segundo disco. Mas, soa “clássica” demais… A opção escolhida foi acertadíssima.
O álbum inteiro melhorou muito do ponto de vista técnico e sonoro! Vou falar “como foi conseguido” mais à frente.
REVOLVER E ALGUMAS EDIÇÕES HISTÓRICAS
Não sou BEATLEMANÍACO, mas coleciono discos da banda.
Estes aqui são as versões que tenho e mantenho.
De maneira geral, as versões em ESTÉREO mixadas por GEORGE MARTIN são ruins. Emboladas. A pior delas é a primeira edição em CDS: HORROROSA.
a captação das gravações feitas por GEOFFREY EMERICK, em minha opinião deixam algo a desejar. O som “transborda”, e não se define com clareza…
Por isso, eu prefiro as mixagens feitas em MONO. O resultado é mais natural, mais bem distribuído no palco sonoro criado pelas duas caixas.
Entre as gravações MONO que ouvi, a melhor de todas foi a utilizada na edição americana lançada pela CAPITOL, em 1965. O disco está abaixo e ao centro.
Vocês conhecem as primeiras gravações ao VIVO dos ROLLING STONES, lançadas em EP chamado “FIVE BY FIVE”, e depois ampliadas, em 1966, para o LONG PLAY com o nome de “GOT LIVE IF YOU WANT IT”?
Pois bem, ali fica muito claro o que era remixar para o ESTÉREO o que estava feito em MONO com baixa qualidade: em uma das caixa toca a banda. Na outra, apenas MICK JAGGER canta ( e mal ), e bate palmas. O resultado técnico é horroroso! Mas, quem ligava pra isso? O SHOW é demoníaco! Bom demais!!!!
Foi esse tipo de problema que GILES MARTIN e equipe conseguiram resolver!
A NOVA MIXAGEM 2022
Antes de tudo, é bom lembrar que estúdios mais sofisticados com doze, dezesseis canais, só apareceram em torno de 1967. O álbum SGT. PEPPERS, dos BEATLES, já foi gravado com muito mais recursos do que REVOLVER.
Dito isso, vamos combinar que fazer MIXAGENS ou REMIXAGENS é arte combinada à técnica. Se o trabalho for refinado, a diferença no resultado é abissal!!!!
Há semelhanças com a montagem de um filme. Onde o diretor orienta o trabalho dos atores, e também dos câmeras, da fotografia, etc…, e diz como e o quê deve ou não ser filmado.
A arte do montador realça, constrói a narrativa visual das ideias pretendidas.
O diretor de cinema tem função similar à do produtor de discos, que organiza a história “gravada”. A incumbência do engenheiro de gravação é fazer a música tocada pelos artistas soar conforme o planejado, e com boa qualidade para o passo seguinte: as mixagens.
A dificuldade encontrada por GEORGE MARTIN para remixar a edição original de REVOLVER para o STEREO, estava nos limites técnicos da captação da música gravada.
Os BEATLES gravavam direto, e as técnicas existentes em 1965 não permitiam, em cada um dos QUATRO CANAIS, que instrumentos ou vozes, fossem totalmente isolados. A música soava em bloco.
Mas, o problema foi contornado, e quem sabe resolvido com técnica desenvolvida na indústria cinematográfica.
Os filmes, em geral, carregavam um problema de “ruído” nos diálogos, muitas vezes inaudíveis, porque encobertos por outros sons gerados durante as filmagens das cenas.
No projeto do filme GET BACK, a equipe do cineasta PETER JACKSON usou uma nova tecnologia para “de – mixar” e separar dentro de uma cena algum diálogo mal captado, e remontá-lo de maneira audível.
A “de-mixagem” deu flexibilidade para que o projeto se tornasse possível. O que GILES MARTIN e sua equipe fizeram foi adaptar essa nova “técnica” para separar as vozes das guitarras, bateria, baixo, etc… que estavam embolados dentro de cada canal. O resultado foi a “MAGIA DA TECNOLOGIA”, e tudo soou com mais nitidez, recuperando alguns detalhes perdidos.
De posse desse novo acervo, GILES seguiu o mais à risca possível a receita original de GEORGE, seu pai. E remontou REVOLVER em ESTÉREO, e com muito mais equilíbrio.
Por respeito à história do disco e dos profissionais envolvidos, talvez uma REMIXAGEM em MONO, com esses novos recursos, jamais seja feita.
Mas, que deixa a gente curioso, ahhh isso deixa!!!
Postagem original: 20/03/2023