“ISTO É BOM PRA CELULITE, PRO CORAÇÃO E PRA ENERGIA…”
Alguém que formula frase como esta certamente é candidato a OZZY OSBOURNE, aqui nessa PATÓPOLIS TROPICAL.
Candidato, não. O TIM era o OZZY de nossas bandas. Doido militante, errático, talentoso, non-sense e irresponsável.
TIM MAIA tinha vozeirão peculiar, e era cantor nitidamente brasileiro. Cantava temas universais com o gingado FUNK, SOUL/R&B/BOSSA NOVA, orbitando os PRETOS do Norte e do Sul do planeta.
TIM era um preto brasileiro entrosado com o mundo. Um PRETO FUSION, moderno. Aos que estranham a mistureba – e também podem estar certos, claro! – gosto de argumentar que há uma natural fraternidade que distingue os pretos, enquanto músicos, do que fazem os brancos.
Não é a similitude cultural, o quê seria impossível. Mas um jeito que os justapõem entre si, e, ao mesmo tempo, os distinguem do resto.
A MÚSICA FEITA PELOS PRETOS É IDENTIFICÁVEL, SEMPRE; mesmo sendo tão variada mundo afora. Há elos e, paradoxalmente, “contrastes complementares” que fazem um TIM MAIA, UM MONARCO, um ZECA PAGODINHO; e um WILSON PICKETT, ou B.B.KING, simultaneamente compreensíveis e aproximáveis.
Talvez?
Hoje, eu estava cozinhando e comecei a reouvir o grupo FOLK JAZZ JAZZ/FUSION escocês THE PENTANGLE, para tentar compreender e escrever algo por aqui, quando minha mulher insistiu para eu animar os trabalhos domésticos tocando TIM MAIA AO VIVO.
Fomos à festa.
Claro, conhecia o disco, mesmo não sendo parte de minha coleção particular. E aproveitei para prestar mais atenção.
Gostei? Sim.
TIM MAIA era único em sua intervenção no universo da “MPB-AMPLA”. Sempre brasileiro no jeito de cantar, eventualmente compor, escolher repertório, e comunicar-se com o público; tinha, também, aquele vínculo com os bailes e os bailinhos. Ouvir “PRIMAVERA”, “ME DÊ MOTIVOS” e outras, evoca uma certa cumplicidade entre os hits estrangeiros, anos 1960/1970 e as emulações brasileiras.
As coisas se comunicavam. E TIM era elo hábil entre os dois mundos; o que não é pouca coisa!
O disco em si, parece somatório de vários shows. Há momentos mais técnicos, outros piores em termos de captação do som. Há audível dificuldade em manter um standard de qualidade.
TIM MAIA era doido demais para ser administrável, e mesmo mantido em nível aceitável de performance, a produção tinha de “medicar” o tempo inteiro: juntar shows diversos, equalizar o som para que parecesse uno; e claramente complementar falhas como performances da banda, “estranhas”, digamos, ao momento do show.
Achei pouco natural a junção de “momentos bossa nova” à festa proposta. Não há espontaneidade.
Em compensação, a introdução do show feita pela BANDA VITÓRIA RÉGIA é cativante; emocionante, até. E os momentos mais FUNK sempre dançáveis, alegres, compatíveis com o TIM que todos gostam.
Claro, juntar em performance longa um cara talentoso, carismático, mas anárquico e sem-noção como TIM MAIA, exigiu alguém na produção e supervisão como NELSON MOTTA, para edulcorar para o público mais amplo um artista barra pesada em comportamentos; e mesmo que não em intenções explícitas.
NELSON MOTTA é ótimo nisso. Consegue transmitir o melhor possível do jeito mais simples. Sempre rodeando algo mais sofisticado em um tom adequado e compreensível para mais gente. Ele fez de MARISA MONTE um tantinho menos do que ela potencialmente era. E de TIM MAIA, um pouco além do que ele conseguia.
TIM é artista perfeito em suas limitações e qualidades. É popular, é Brasil e POP, legal de ouvir e dançar!
Tente sempre.
Postagem original: 21/03/2021
