TOM RAPP & PEARLS BEFORE SWINE – CULTS!

Depois de uma audiência, o advogado da parte contrária perguntou:

“Peraí, você é o TOM RAPP, do “PEARLS BEFORE SWINE”?” E a resposta: “Sou sim”!

E o advogado: “Meu Deus, mas que honra! Você foi um dos meus ídolos, na juventude!”

A conversa espalhou-se e um “sumido” da história do POP foi redescoberto em sua reconfiguração!

Em 1977, já de saco cheio, e depois de um show abrindo para PATTY SMITH, TOM RAPP encerrou a vida artística.

Havia gravado sete discos; e ele calculava que não havia ganhado $ 200 ( duzentos dólares ), uns R$ 1.100,00 MANDACARUS com eles em mais de dez anos de carreira!!!!

Foi roubado várias vezes. O seu primeiro álbum para a pequena e cult ESP-DISK, vendeu 200 mil cópias! E ele não recebeu um centavo! E nem do segundo que também fez por lá! A indústria da música tem antros e desvãos!!!! Em parte, sempre foi administrada por bandidos comuns e mafiosos….

TOM RAPP contou, rindo, que na juventude ficou na frente de um certo ROBERT ZIMMERMAN em concurso de poesias! Ele era um poeta, letrista, que construía imagens fortes, letras em que são possíveis visualizar os personagens, enredos, etc…

Quando surgiu em 1967, o VILLAGE VOICE, jornal underground de Nova York, escreveu sobre “ONE NATION UNDERGROUND”, o primeiro disco de sua banda, o “PÉROLAS PARA OS PORCOS” …OOOPS!!!! “PEARLS BEFORE SWINE”, que RAPP seria cult por causa de seu jeito de “poetar” e a qualidade de suas músicas! E acertou!

As capas dos dois LPs da ESP-DISK são reproduções de obras de arte inquietantes. Em ONE NATION UNDERGROUND, 1967, está a pintura de HIERONYMUS BOSH, “GARDEN OF DELIGHTS”, absurdamente vanguarda para o século XVII!

E BALAKLAVA, 1968, traz “O TRIUNFO DA MORTE”, de BRUEGEL.

Ambas são pinturas “psicodelicamente aterrorizantes”! E, de certa maneira expressam os medos e horrores do mundo, em metáfora transposta para meados da década do 1960!

A grosso modo, TOM RAPP teve duas fases mais ou menos consequentes, mas com certas diferenças de tom.

Começou nitidamente FOLK – PSICODÉLICO; tem pontos experimentais, e algum RAGA-ROCK. Depois rumou para o COUNTRY-ROCK de maneira algo esquiva, mas clara. Melodicamente, soa vez por outra como o LOVE. Mas, de fato, tem quê de DONOVAN, e muito de DYLAN. E algo indistinguível do próprio TOM, que é, sim, um verdadeiro estilista!

Há, também, música que deu encrenca, mas que só os chatos que compreendem a linguagem da telegrafia perceberam. E, na época, estava ainda cheio de profissionais que sacavam. MISS MORSE tem acompanhamento feito por um telégrafo que “transmite” obscenidades! Ideia, muito interessante, convenhamos!

O famoso D.J. das rádios, MURRAY THE K teve problemas com a polícia por causa disso. Ele também não sabia o quê estava tocando no programa dele…

O PEARLS BEFORE SWINE gravou belas, darks e tristes melodias. A coletânea aqui postada, “CONSTRUCTIVE MELANCHOLY”, tem título preciso e primoroso. Descreve o que há dentro do disco. E abrange os discografia da segunda fase.

Ouça de qualquer forma “THE JEWELER”: canção emocionante, descritiva, linda, visual e profundamente melancólica!

A maioria dos cinco LPs, lançados pela REPRISE, na década de 1970, foram gravados em NASHVILLE, com músicos de alto nível, que deram aos discos um standard de qualidade.

TOM “anasala” sutilmente o cantar, emulando DYLAN e quase todos que pularam para o COUNTRY, e o COUNTRY ROCK.

Os discos não venderam; só pra variar…

O gás acabou, e TOM RAPP mudou de vida.

Voltou a estudar, formou-se em economia, depois em direito e tornou-se advogado de “direitos humanos”, defendendo militantes e outros marginalizados pelo sistema.

Sua vida profissional posterior manteve a coerência de suas posições artísticas. Vez por outra, apresentou-se em alguns festivais, e influencia gente como DAMON & NAOMI, do GALAXIE 500, e um vasto punhado de artistas não convencionais.

O “PEARLS BEFORE SWINE” é velho admirado meu. Comprei os dois primeiros discos em edições originais na ERIC DISCOS, talvez início dos 1980. Hoje, eu tenho edições especiais em CDS.

TOM RAPP assumiu atitude que admirei profundamente. Ele soube parar quando concluiu que era o melhor a fazer.

Não julgo fracassados os que desistem. Uma carreira é muito mais do que ganhar muita grana, “dar certo”, essas coisas prestigiadas acriticamente pelo mundo em geral.

Ele desenhou sua carreira, e a levou enquanto achou que deveria. Fez canções exuberantes, colecionáveis, apreciáveis, densas. E morreu em 2018 de câncer.

Parar pode ser um modo de estar para um jeito de ser! É um direito, e não um fracasso.

TOM RAPP não será esquecido! É cult de verdade!
Texto original em 21/01/2021

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