EM QUALQUER ATIVIDADE HÁ PRECOCES, SUPERDOTADOS E GÊNIOS.
“PETER FRAMPTON” É UM SUPERDOTADO: AOS 16 ANOS ERA PROFISSIONAL; AOS 18 TINHA 3 SINGLES DE RELATIVO SUCESSO COM O GRUPO “THE HERD”; E TORNOU-SE GUITARRISTA E CANTOR ADMIRADO ATÉ HOJE.
HÁ, TAMBÉM, STEVIE WONDER, QUE AOS DOZE ANOS GRAVOU LP AO VIVO PARA MOTOWN; AOS 16 OSTENTAVA SÉRIE DE SINGLES E LPS. HOJE, É INSTITUIÇÃO; E GÊNIO CONSUMADO ENTRE OS PRECOCES. ALGUÉM DISCUTE?
E TEMOS STEVE WINWOOD. UM OUTRO CASO SÉRIO:
Algum tempo atrás, a revista RECORD COLLECTOR o entrevistou. Em dado momento perguntaram algo assim: ” STEVE, aos 13 anos você tocava piano em pubs e já cantava com voz peculiar. Você não sente falta de não ter jogado bola, e coisas que todo adolescente faz?
A resposta: Rindo; “Fiz coisas e adquiri vivências que os garotos se matavam para conseguir muito, mas muito mais tarde do que eu.” Ele falava de farras e mulheres. Aos 15 anos, com o “SPENCER DAVIS GROUP” ele tocava em boates de Strip Tease !
Você dirá; “Mas como, TIO SÉRGIO? Na Inglaterra “poser” e conservadora de 1964?”
Funcionava assim: colocavam o órgão na porta da cozinha, e estendiam um lençol em frente para o nosso garoto não assistir às “Saliências”. Mas não adiantava. Menino bonito e talentoso atraía meninas (muitas!) para fazer o que o jovem Macron fez com a professora… (hum …. alguém se lembra?)
Vamos falar sobre a carreira do espetacular e diferenciado TRAFFIC. A intenção inicial de WINWOOD era formar uma banda e veicular suas ideias. Mas não aconteceu bem assim. Ele se juntou a “JIM CAPALDI “, bom baterista e letrista; “CHRIS WOOD”, sax, flauta, etc… E, também, a DAVE MASON, multi-instrumentista, cantor, compositor, e outro caso à parte na história do POP; porém, concorrente interno na direção do grupo. Todos, exceto WOOD, fizeram carreira solo de algum sucesso.
STEVE e MASON discordavam muito, mas se entenderam. E os dois primeiros álbuns, “MR. FANTASY”, de 1967, e “TRAFFIC”, DE 1968, são joias da PSICODELIA INGLESA. O trio “CAPALDI, MASON E WINWOOD” compôs o repertório. A eficiência e bom gosto de WOOD e CAPALDI deram a solidez para dois músicos criativos: STEVE e DAVE.
Tudo o que você queira saber sobre o ROCK PSICODÉLICO INGLÊS dos 1960, de certa forma está contido no “TRAFFIC”: WORLD MUSIC HINDU; resquícios de JAZZ e MÚSICA CLÁSSICA; base em BLUES, e algo indefinido do R&B, com STEVE cantando.
O som em geral, é algo “triste e melancólico”, e agrega o FOLK PSICODÉLICO em transição para o ROCK PROGRESSIVO, culminando em FUSION peculiar – Inédita!
Não deixem de ouvir uma das canções mais inventivas de todos os tempos. Completamente ROCK e VANGUARDA, tocada com SITAR, CRAVO, FLAUTA, e etc…, “PAPER SUN” é monumental!
Antecipa, de certa maneira, a ideia dos MOODY BLUES para outro grande disco da PSICODELIA INGLESA: “IN SEARCH OF THE LOST CHORD”, feito em 1968 – Também álbum inovador e grandioso!
Quer dizer, TIO SÉRGIO, que a gente deve considerar a sonoridade do TRAFFIC, nesta fase, um tipo de “FUSION”? Sim; e por que não? E também ROCK PROGRESSIVO, por supuesto! E que tal um defini-lo “CROSSOVER” entre estilos que se interpõe,” intrapõe “, e se amalgamam? Sugiro que assim seja. É genial e belíssimo!
Porém, como a vida e as relações entre pessoas são imperfeitas; se de certa forma o produto agradava MASON, estava um tanto longe da ideia concebida por WINWOOD; que buscava por um som mais JAZZY, mais BLUESY; e um tanto percussivo!
Quem sabe, na linha do que JOHN MAYALL fez em “CRUZADE”, por exemplo. E acrescido com outro sabor da moda: o LATIN ROCK do “SANTANA”. “Vício emulado” que habita WINWOOD até hoje!
DAVE MASON saiu do TRAFFIC porque pretendia algo mais autoral e menos chegado ao BLUES. Talvez?
Com “STEVE” no comando eles transitaram para outro universo. “JOHN BARLEYCORN MUST DIE”, de 1970, álbum entre os melhores feitos por eles, é mais instrumental. Apoiou-se no R&B e no JAZZ, com aproximações tanto ao BLUES e ao FOLK, por assim dizer. Esqueçam alavancagens psicodélicas e outras originalidades pregressas.
Se alguém quiser comprovar o fascínio de STEVE por percussão, vá lá e ouça os discos ao vivo do TRAFFIC. Ela é linguagem integrante, e não como acessória. “WELCOME TO THE CANTEEN”, o primeiro deles, gravado em 1971, é claramente “SANTANISTA”, com focos nos bateristas JIM GORDON, CAPALDI, e no percussionista ganense “REEBOP KWAKU BAAH”. O álbum encerra a fase psicodélica com o repertório dos primeiros discos. DAVE MASON também voltou à banda pela última vez.
Em seguida, veio o que é para muitos o melhor e mais conhecido álbum do TRAFFIC: “THE LOW SPARK OF HIGH HEELED BOYS”, 1971. Lá está agregado RICK GRETSCH, baixista que estivera com o quase natimorto cult BLIND FAITH. O LONG PLAY traz, também, uma inovação no design da capa, que se repetiu no disco seguinte: ela é criativamente “oitavada”. É disco que forma com o subsequente “SHOOT OUT AT THE FANTASY FACTORY” , 1973, o “intercurso estético” entre o ROCK PROGRESSIVO e a FUSION-JAZZ-BLUES que os consagrou. Foram os dois maiores sucessos comerciais da banda; aliás, muito famosa nos EUA. E ambos se tornaram Discos de Ouro.
Tecnicamente, o grupo atingiu o seu clímax. WOOD, CAPALDI e WINWOOD trouxeram a consagrada cozinha rítmica dos americanos do “MUSCLE SCHOALS STUDIO”: ROGER HAWKINS, bateria; e DAVID HOOD, baixo .Estão presentes diversos HITS da “SOUL MUSIC ” e do “R&B” gravados para a ATLANTIC RECORDS. REEBOP também permaneceu na banda.
Para selar em definitivo a nova sonoridade e a integração entre todos gravaram, em 1973, o disco duplo ao vivo “TRAFFIC ON THE ROAD”. STEVE WINWOOD toca como se fora “THELONIOUS MONK”, cheio de silêncios e intervalos. O espaço dado ao sopro para CHRIS WOOD também funciona magicamente: sutil, compassado, efetivo. É outro álbum indispensável em qualquer discoteca de bom gosto.
A saga do TRAFFIC termina em 1974 com “WHEN THE EAGLE FLIES”. Menos ambicioso – e bastante bom. Algo a caminho do que hoje se chamaria de “PROG”. Quer dizer, parece ROCK PROGRESSIVO, mas não é, necessariamente…
Deixo de lado a tentativa de retorno que fizeram em 1994. Acho que “não ornou”. Resumindo, o TRAFFIC construiu uma discografia e perspectiva musical que se justifica por ela mesma.
Perca-se neles!
POSTAGEM ORIGINAL: 03/08/2020

POSTAGEM ORIGINAL: 03/08/2020
