TROGGS e OUTSIDERS, AS PRIMEIRAS BANDAS QUE COMPREI COM MEU PRÓPRIO DINHEIRO!

O Brasil tem órbita própria, e costuma siderar pelo céu e o inferno. Claro, as coisas mudam. Mas, sempre mantêm aquele gostinho de “NINGUÉM MERECE”, que cruza a existência de todos nós.
Eu comecei a trabalhar no dia 9 de junho de 1967. Decorrência de dupla circunstância: a minha sofrível performance enquanto aluno do segundo grau, com notas baixas, insuficiência de aprendizado e insegurança pessoal. Mesclados a uma educação restritiva, mesmo que muito bem intencionada.
Eu senti muito o baque ao entrar no “ginásio” (sei lá, o nome hoje. Não consigo guardar. ) Trauma? Algum, talvez. Não sabia como relacionar-me com o ensino e o ensinado em aulas. Por isso, fui reprovado duas vezes…perdi dois anos preciosos e irrecuperáveis. Antes, era assim; desgastante assim…
Quem testemunhou isso foi meu novo/velho amigo@Renato Cesar Curi, contemporâneo no RUI BLOEM, cerca 1965/66; e companheiro em infindáveis jogos de futebol de botão…e agruras com a professora de matemática, dona MARÍLIA; rígida, e algo impaciente.
Resumindo, meus pais implantaram vigilância irrestrita; fui estudar à noite, e … ai de mim se não me virasse, e não me dedicasse pra valer a estudar.
Melhorei.
Fui trabalhar no BANCO NOVO MUNDO, e por isso compreendo o meu velho conhecido e contemporâneo KID VINIL:
EU FUI BOY! BOY, BOYYY…
Naqueles tempos, a consciência social da elite brasileira oscilava do reprovável ao repugnante. Eu girava a cidade de SAMPA levando correspondências, fazendo “coisas”, e trabalhava de segunda a sábado ( “só meio período”… ), das 8,30 às 17,00 horas…
Ganhava o formidável e justo “SALÁRIO MÍNIMO DO MENOR”, equivalente a meio, repito, meio – vou repisar: MEIO SALÁRIO MÍNIMO por mês!
O meu primeiro “PIXULÉ OFICIAL” eu gastei quase todo comprando dois LPS e dois compactos simples ( lembro de 96 TEARS, com QUESTION MARK & THE MISTERIANS, o outro???). Os LONG PLAYS foram “IN”, com THE OUTSIDERS, e TROGGLODYNAMITE, THE TROGGS!!!
Nota fundamental: eu não tinha toca-discos, ou seja lá o que fosse. Mas, comprei os discos e ouvia na casa de minha tia DIVA, ou com meu eterno “amigoirmão” SILVIO LUCIANO.
Era o bálsamo e a motivação para trabalhar, sei lá… Acho que no dia de meu enterro o correio vai entregar alguma encomenda retardatária…Eu já “DE CUJUS”, e a fatura apontando no Cartão de Crédito…
Hummm!!!
Começo pelos OUTSIDERS, banda americana algo obscura, mas criadora de um SINGLE imprescindível para os que curtem ROCK de garagem: “TIME WON´T LET ME”. É clássico vez por outra ainda tocado pelas rádios do mundo.
Eu os adorava; e tive acesso ao primeiro LP também lançado no BRASIL, em 1966; um misto agradável de BEAT E R&B americanos. E, por isso, comprei “IN”, terceiro álbum deles lançado aqui, em 1967; mescla alguns COVERS e material original. A coletânea que postei é suficiente, já que VINTAGE, para o gosto da maioria.
E vamos aos TROGGS. Caso interessante no POP/ROCK inglês. Foi uma das bandas que não evoluíram do BEAT para a PSICODELIA e de lá – os que conseguiram – para o ROCK PROGRESSIVO.
Não eram primários, mas básicos. Fizeram o conhecido percurso do BEAT/R&B, que os BEATLES, SEARCHERS, STONES, HOLLIES, e outros percorreram entre 1962 e 1965. Foram retardatários, e mantiveram-se mais ou menos por ali.
Mas tinham guitarrista adequado em CHRIS BRITTON; um pulsante e pesado baixista, PETE STAPLES; e baterista redundante, porém eficiente e integrador: RONNIE BOND, também bom e vigoroso cantor. Procure ouvi-lo.
De certa forma, RONNIE esteve para os TROGGS como DON BREWER, também baterista, foi para o GRANDFUNK RAILROAD, quando arrebatou e arrebentou cantando “WE´RE AN AMERICAN BAND”…
Se os americanos tinha em MARK FARNER, um vocalista galináceo, digamos; REG PRESLEY era o marcante “filhote” do PATO DONALD. E sempre foi o principal cantor e compositor dos TROGGS, e pelo qual serão lembrados.
Como parte das bandas inglesas da época, os TROGGS tinham um quê copiado dos KINKS e/ou do WHO. Mas desenvolveram estilo marcante, em parte pela tentativa de repetir o já feito com êxito. E deram de cara com a sorte grande ao gravar “WILD THING”, em 1966, que os catapultou ( a expressão é essa mesma ) para o sucesso e a fama.
Os TROGGS estavam além: a música é um prenúncio do PUNK ROCK em sua concisão e irreverência. E traz um dos mais lembrados RIFFS DE GUITARRA da história. E outro mais inusitado feito com – pasmem! – OCARINA!!!! Nem preciso comentar sobre o que fizeram JIMMY HENDRIX e vários outros, com a música…
Os mais atentos quem sabe notem que “WILD THING” é claramente inspirada em “SATISFACTION” dos… ahhh, vocês sabem … lançada um anos antes. E a semelhança é tão pungente que os TROGGS também a regravaram!
Em seguida, como a banda era quase totalmente voltada para os SINGLES – fizeram 39!!! – ; ainda em 1966 gravaram a adorável “WITH A GIRL LIKE YOU”, com seu clássico refrão, o “Scatting Singing” dos pobres: BAH,BAH,BAH,BAH, BAH!… BAH, BAH, BAH, BAH, BAH… foi repetido ad-nausean POP ROCK AWAY…
Os TROGGS costumavam “compor músicas reiterativas”; quer dizer: oscilavam do plágio indiscreto – CHUCK BERRY e BO DIDDLEY, que o digam!!! -; à “autocópia notória”, como em “NIGHT OF THE LONG GRASS”, e a sua “inspiração” direta, “I CAN´T CONTROL MYSELF”, 1967; que foi expulsa das rádios inglesas por tímida alusão à “nudez pornográfica”!!! Mesmo assim, chegou ao topo da parada, e foi substituída “só” por “REACH OUT, I´LL BE THERE”, clássico dos FOUR TOPS.
O auge dos TROGGS foi em 1968, com “LOVE IS ALL AROUND”, SUNSHINE POP romântico e delicioso; o último sucesso do grupo. A canção curiosamente voltou consagrada na versão feita pelo grupo WET,WET,WET para o filme “QUATRO CASAMENTOS E UM FUNERAL”, em 1994. E REG PRESLEY virou celebridade. Foi a shows de TV e, dizem, enriqueceu com os royalties.
A legitimidade dos TROGGS chegou a ponto de tocarem no “casamento/evento” do STING. Os que gostam do POLICE certamente descobrirão o germe inoculado pelos TROGGS – que sempre estiveram por aí.
Os LPS não são lá essas coisas. Mas, a pletora de SINGLES, juntados na coletânea de 3 CDS e 80 faixas, aqui postada, são todos fieis ao princípio básico do BEAT inglês dos 1960, e refletem obra construída e consistente. Há muita coisa vibrante, pesada e divertida!
Os TROGGS tornaram-se CULT a partir de meados da década de 1980, quando a nova geração do ROCK alternativo despontou com a volta ao básico. É notória a admiração do pessoal do R.E.M, cultores do ROCK tradicional modernizado e não simplista. E juntos com os TROGGS fizeram um álbum emblemático, ATHENS ANDOVER:
ATHENS fica na GEÓRGIA, nos E.U.A., onde nasceu o R.E.M; e ANDOVER é a cidade natal dos TROGGS, na INGLATERRA.
No início da carreira dos BEATLES, um repórter perguntou: POR QUE THE BEATLES? E LENNON respondeu: E POR QUE, NÃO?
REG PRESLEY quando lhe perguntavam “por onde andavam os TROGGS”? , respondia: “E VOCÊ, POR ONDE ANDOU?
“Memories are made of this”.
POSTAGEM ORIGINAL: 31/07/2022
Pode ser uma imagem de 11 pessoas, pessoas em pé e texto que diz "THE TROGGS NAMITE Colaghan THE TROGGS ಕOGGS Trogglodynamite From Nowhere Celloph Mixed Bag THE TROGGS"

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