IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO observou em seu livro “O VERDE VIOLENTOU O MURO”, de 1984, que “NA ALEMANHA ATÉ PUNK É DISCIPLINADO”:
contou que viu em rua deserta um jovem PUNK esperar o semáforo abrir para atravessar “na faixa”…
Diz muito sobre o povo alemão, para o bem e para o mal, não é mesmo? E abre hipóteses para entender esse disco intrigante de UTE LEMPER, atriz e cantora alemã, que faz um…”TAKE A WALK ON THE WILD SIDE” das PAIXÕES UNDERGROUND do íntimo humano.
BERLIM é cidade tida como “afetivamente fria”, mas intensa, que expõe o sexo e suas implicações; relacionamentos casuais; desejos; prostituição sem pieguice; desalento e desamparo; falta de grana; e não arrependimentos reflexivos. É o existir com dores, portanto…
No repertório vem descrito em letras de autores excelentes e sofisticados; e compositores íntimos do UNDERGROUND CONTEMPORÂNEO.
Pinta um quadro DARK sem ilusões ou desesperos. Algo depressivo, mas COOL. Controlado e reprimido simultaneamente.
Coisa de alemão?
Do ponto de vista musical há direção estudada, produção firme, portanto obra coesa como se a pretensão fosse um álbum CONCEITUAL. E talvez seja. Há música de CABARÉ, TANGO, CHANSON FRANÇAISE… E POP ROCK, também.
Enquanto escuta, você viaja pela translúcida selva da marginália CULT. Há NICK CAVE, ELVIS COSTELLO, PHILLIP GLASS, DIVINE COMEDY, TOM WAITS, SCOTT WALKER E KURT WEILL.
Escolhidos e apresentados de forma a dar sentido ao quê, imagino, seja a essência da frieza proficiente e ativa dos alemães também para lidar com as emoções e desejos.
E, claro, sob o ponto de vista dos produtores e da cantora; mesmo porque também buscados em autores americanos, ingleses, etc… Onde há DARKS é instigante colher metáforas.
UTE LEMPER é competente sem ser brilhante. A maior parte da obra é feita por NEIL HANNON e o DIVINE COMEDY. No disco há música e uma orquestração de SCOTT WALKER, naquele estilo próprio de expressar maremotos e inundações; refluxos e desolação.
Amedrontador!
Você ouvirá, também, PHILLIP GLASS quase minimalista, e fazendo um POP ROCK com a sonoridade básica e o estilo transposto para as sinfonias compostas sobre a fase BERLIM de DAVID BOWIE. Mas, é adequado ao disco. E há muito, muito mais…
Eu recomendo; mas, questiono: será que gosto, mesmo, disso?
E você gostará?
Tente, porque é fascinante!
Original publicado em 31/01/2020
