VÂNIA BASTOS – VOZ DE LUZ E CRISTAL

A primeira vez que a escutei VÂNIA fazia backing vocal na BANDA SABOR DE VENENO, de ARRIGO BARNABÉ, em tumultuado festival no final de 1979 / início dos anos 1980. Foi televisionado.

E “SABOR DE VENENO” foi tão vaiado quanto SABIÁ, de CHICO BUARQUE e TOM JOBIM, no FESTIVAL DA CANÇÃO, em 1967, acho – aquele onde GERALDO VANDRÉ ficou em segundo lugar com “PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE FLORES “.

Os motivos das vaias foram muito diferentes: CHICO e TOM concorreram com música totalmente fora do clima político da época, pleno de mudanças e radicalismos.

ARRIGO, ao contrário , estava na absoluta VANGUARDA MUSICAL: quebra de ritmos e andamentos, arranjo anárquico e atonal, letra fora do comum, e tudo o mais que macacos como eu adoraram! Mas, a média da plateia obviamente, não!

VÂNIA se destacava. Voz cristalina tinindo agudos com técnica e alguma anarquia. Contestatária e irônica, numa apresentação cheia de sarcasmos.

Corte.

VÂNIA foi por outra vertente em sua carreira. Sempre moderna, jamais abdicou de seu inigualável talento!

A VOZ DE CRISTAL E LUZES, sua dicção perfeita e a capacidade vocal de ir ao extremo agudo sem jamais perder a afinação.

Além das interpretações sublimes que faz ao transitar por toda a riqueza da nossa MPB.

VÂNIA BASTOS grava pouco. Talvez porque escolhe e refina repertório à altura de sua capacidade de cantar. Um disco a cada três anos, em média.

Vai de JOSÉ MIGUEL WISNIK e MILTON NASCIMENTO, a DOMINGUINHOS e RITA LEE. Flertou, inclusive, com versões de COLE PORTER.

E tudo perfeitamente colocado, estudado; para que a emoção interponha-se, mas sem macular a técnica. VANIA BASTOS é “quente” e cristalina. E seus arranjadores e acompanhantes trabalham em função do melhor realce possível para seu estilo e talento.

VÂNIA BASTOS é a minha cantora brasileira favorita.

À parte o “certo quê” no ver o mundo, que gente como eu Rodrigo Marques Nogueira, e a turma que passou pela FFLCH da USP sempre identificamos uns nos outros.

Sua discografia é composta por 11 discos (será que você gravou algum outro que eu não tenha? )e 1 DVD, até agora. Infelizmente eu não consegui ainda o CLARA CROCODILO, do ARRIGO…

Eu os acho gravações imperdíveis e colecionáveis. Todos eles! E são por questões de mercado mais baratos do que mereceriam.

Escrevi essa postagem ouvindo BELAS E FERAS, DE 1999.

VÂNIA faz, eu suponho, um resumo de sua percepção de ser mulher através de músicas de outras autoras. É muito bom!

Ouçam a VÂNIA, minha quase contemporânea nas CIÊNCIAS SOCIAIS da USP – só que em outro campus. Ela enriquece a alma!

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