BUDISTAS – DUAS HISTÓRIAS: MONJA COHEN, E O “NOSSO” MONJINHO.

Quando o meu dileto amigo JEAN YVES DE NEUFVILLE faleceu, anos atrás, fui comunicado por sua namorada de que ele seria CREMADO no CEMITÉRIO de VILA ALPINA, em São Paulo.

A morte do Jean, jornalista e crítico de música, me pegou de surpresa. Angela e eu ficamos desolados. ÉRAMOS AMIGOS de fazer CHURRASCO de MADRUGADA ouvindo CHARLIE PARKER, e conversar sobre as inúmeras voltas que a música dá. E a vida, também.

Jean não era religioso, que eu soubesse. Mas, sua ex-esposa e filhos eram BUDISTAS da linha ZEN.

A cerimônia foi conduzida pela MONJA COHEN. Personalidade marcante, carismática, de vida rica e experienciada ao máximo. Por motivos que, acho, somente ela sabe converteu-se e assumiu o zen-budismo integralmente. Buscou o caminho do meio e de algum jeito o encontrou em sua vida atribulada, terrena, explícita.

SUA FORÇA PESSOAL IMPRESSIONA; e a cerimônia antes da cremação foi de simplicidade exuberante. Efetiva, bela e reconfortante eu diria. Meu amigo partiu em paz.

Eu acredito em conversões autênticas por experiências pessoais ou religiosas radicais. Confio ser possível atingir profundidades ou amplitudes na alma, pelos que conseguem sair do cotidiano e adentrar por um mundo misterioso e mais rico. Achar outra vivência aflorada na pedra – que é a vida.

O BUDISMO É UMA SABEDORIA SUI-GENERIS.

Você chega a ele através de seu lado filosófico. Pelo aprendizado de que a impermanência de tudo é a regra básica da vida. E, também, a constatação de que todos sofrem: portanto, desenvolver a compaixão, conceito sofisticado, espécie de compreensão incondicional e não egoísta e não exclusivista, sobre as mazelas e misérias do outro independentemente da circunstância, é qualidade pessoal imprescindível de ser desenvolvida.

É luta árdua!

Para isso, é necessário buscar o caminho do “meio” pela meditação disciplinada e o despojamento.

Os que ultrapassam esta barreira, com o tempo percebem que o lado religioso do budismo se abre com seus ritos e mitos; verdades e “poderes”. “A long way” mais restrito, mais secreto, quase monástico.

Ser um budista de verdade é muito difícil! E o caminho fica longe…

Isso tudo para contar-lhes outra historinha recente, descrita por pessoas lúcidas, cultas e de minha absoluta confiança. Um grupo fechado que pratica e estuda o budismo da linha tibetana em alto nível – e muito além do rudimentar e filosófico, há mais de trinta anos.

Angela, minha mulher, participa desde o início e também testemunhou o fato.

São orientados por um LAMA butamês idoso, sábio, trabalhador incansável, e que vive no Brasil há mais de trinta anos:

O “MONGINHO”, como carinhosamente o tratam, ficou doente. Foi levado a um Hospital de primeira linha. Fizeram exames, constataram a necessidade de uma operação. A Shanga – comunidade budista – se cotizou para pagar as despesas.

Pois bem, dias depois retornou ao hospital para fazer novos exames pré-operatórios e deu-se o seguinte fato e diálogo:

MÉDICOS: ” Mas, o senhor não tem mais nada, sumiram os problemas nos exames de agora!!!”;

LAMA: “Eu não quero ser operado e coloquei tudo no lugar dentro de mim”, disse modestamente.

MÉDICOS: “Isso é um absurdo, não pode ocorrer, o senhor é médico?”

LAMA: “Não sou. Mas, eu ainda não quero morrer. Meditei e me tratei. Faço sempre…”

Eram três médicos, o mais “brasileiro” entre eles começou a rir e disse aos outros:

“Também acho impossível. Mas, a gente precisa estudar o caso” … Sei lá, todos somos prifissionais e já vimos coisas incríveis…Talvez não tanto quanto essa”.. e continuou:

“Mas, LAMA conta pra gente que história é esta de controlar a própria morte?

LAMA: “É assim: quando eu perceber que quero morrer, vou reunir os mais próximos e comunicar que entrarei em estado de meditação profunda e morrerei. Foi assim que aprendi e assim vou fazer. Mas, ainda vai demorar…”

Pra concluir, o LAMA continua trabalhando, rindo, e tranquilo em seus ninguém sabe ao certo quantos anos de idade. O que se sabe, e até já apareceu em filmes, é que essas coisas acontecem…

Eu dou fé. Conheço os que estavam lá. Mistérios da vida. Inclusive controlar a própria morte.
PUBLICAÇÃO REVISTA, 2023

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