AS BELAS DA TARDE PERDIDA NO TEMPO

HISTORINHAS QUE O TIO SÉRGIO LEMBRA

Uma tarde, paulistana tarde, em bairro próximo a bairro nobre da zona sul da Capital de São Paulo, eu e o então meu amigo Ricardo visitamos outro amigo dele. Evento perdido no tempo. Talvez há uns 49, 50 anos.

Era um cara legal e mais velho do que nós dois. Italiano e algo reservado; arquiteto em fase de projeção que, depois, tornou-se famoso. Morava em casa moderna e ampla que havia construído. Intrigante, cool!

Tinha discos, mas o som não era essas coisas…

O que “eram” demais – e se me recordo, um tanto a mais do que demais!!!! – eram as duas namoradas que coabitavam fazendo um Power Trio harmônico, excitante, fora das normas: uma negra e outra branca. Belas. Mas, nada esfuziantes! Naturalmente integradas aos comportamentos que rolavam no anno domini de 1972, por aí…

A dobradinha literalmente sem bucho incendiou minha imaginação, que perscrutava hipóteses, técnicas, táticas, capítulos e integrações possíveis entre aqueles três. Moderno ao cúmulo; mas, improvável pelo que eu conhecia na prática da vida.

Chegamos lá, recepção casual, sem bebidas ou antipatias, mostraram para nós a aranha capturada dentro da casa. Enorme; perigosa, mas rejeitada em vidro de maionese. Era parte da decoração, um contraponto incômodo.

E veio o cachorro, de raça, talvez pastor alemão. Grande, mas abilolado por uma brincadeira que vi, tempos após, em um estúdio de rádio durante o programa “KALEIDOSCÓPIO”, do Jaques Sobretudo Gersgorin, em meados dos anos 1970:

O pessoal fumava maconha e soltava a fumaça no focinho dos bichos! Eu garanto: cachorro voa; aqueles pobres, ao menos, voavam…Maldade, ontem; e crime, hoje em dia…mas, parte do underground, da contestação periférica à caretice da ditadura…

Este pessoal era da ala psicodélica da esquerda…

A visita foi para bater papo, distrair o ócio. Coisas entre vizinhos, que Ricardo, o meu amigo, e o arquiteto eram.

O quarteto fumou maconha; eu não. Odeio a erva. E ficou a observação do natural improvável; e, depois disso, os perfeitamente possíveis trios, ou quartetos, quintetos, múltiplas escolhas e conúbios que sempre aconteceram e acontecem…Sexo é banal…

O tempo passou, nunca mais ouvi falar do Ricardo. Sobre o arquiteto famoso eu soube, mas não falo; das moças não sabia e jamais soube.

Discrição e naturalidade são meios de se penetrar no âmago dos pequenos segredos. Quem fofoca não é convidado. E, antes de tudo, eu sempre fui um cavalheiro…

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