ALVARENGA E RANCHINHO E AS BASES DO COUNTRY ROCK.

Muita gente atribui ao álbum Sweetheart of the Rodeo, dos Byrds, o marco zero do country rock americano. O que essa muita gente não sabe é que tudo começou mesmo foi no palco do Cassino da Urca, no Rio de Janeiro, na década de 40.

Nessa época o governo americano estreitava sua política de boa vizinhança com a América Latina e, em especial, com o Brasil, cujos políticos no poder tinham lá suas quedinhas pelos almofadinhas de Hitler. Nessas missões diplomáticas, além de Walt Disney e Orson Welles, vários empresários americanos vieram para o nosso país dar início a acordos comerciais. Um deles foi Ingram Cecil, apelidado Coon Dog, um famoso e condecorado ás da aviação que esteve em Pear Harbor durante o bombardeio japonês. Ele representava a família de sua esposa Avis Connor, maiorais da citricultura no Estado da Geórgia.

Durante sua estada no Rio de Janeiro, Coon Dog virou arroz de festa dos shows do Cassino da Urca, onde assistiu e se apaixonou pela dupla caipira Alvarenga e Ranchinho, frequentadora da casa desde que os dois se mudaram para o Rio em 1936 vindos de São Paulo. Uma sólida amizade nasceu entre Alvarenga e Dog que não findou com a volta do empresário para os EUA, carregado de discos e partituras autografadas da dupla.

Em 1946, Avis Connor deu à luz o filho do casal, Ingram Cecil Connor III, que durante a infância adorava ouvir do pai suas aventuras na guerra e no Brasil, ao som dos discos de Alvarenga e Ranchinho. Alvarenga, aliás, foi convidado pelo orgulhoso pai para ser padrinho da criança, mas compromissos inadiáveis da dupla, em fase de muito sucesso no rádio e no cinema, impediam que qualquer um deles saísse do Brasil. Uma enorme correspondência, entretanto, foi trocada entre Brasil e EUA, com outros vários discos da dupla sendo enviados para alegria do pequeno Ingram que, desde cedo, tinha evidente inclinação para a música.

Dois fatos, porém, mudaram a vida do garoto na segunda metade dos anos 50. Uma foi a descoberta de Elvis Presley que, junto de Alvarenga e Ranchinho, estava entre suas maiores influências musicais. A outra foi a morte do pai, que se suicidou poucos dias antes do Natal de 1958 depois de uma prolongada depressão agravada pelo alcoolismo. A mãe, também alcoólatra, não demorou muito para se casar com Robert Parsons, cujo sobrenome foi adotado por Ingram.

Ao longo da metade da década de 60, o jovem Ingram Parsons (que logo mais encurtaria o nome para Gram) e Alvarenga ainda trocaram fotos e alguma correspondência. O jovem então morava na Flórida e estudava na Bolles School, já se dedicando à música e formando grupos com seus colegas. Em 1965, ano de sua formatura, sua mãe pagou o preço de anos de alcoolismo e morreu de cirrose. Nunca mais Alvarenga recebeu notícias de Gram Parsons.

Parsons ainda estudou um semestre de teologia na Universidade de Harvard, mas estava mais interessado em folk music e tinha acabado de conhecer o som country de Merle Haggard que, segundo ele, tinha muita semelhança com o que ouvia na infância nos discos de Alvarenga e Ranchinho. Resolvido a virar músico, forma a International Submarine Band e muda-se para Los Angeles em plena psicodelia onde, em 1967, grava o disco Safe at Home que só seria lançado em 1968, após o término da banda.

Nesse ano, após a saída de David Crosby e Michael Clarke, os remanescentes da banda The Byrds, Roger Mc Guinn e Chris Hillman, renovam seu contrato com a Columbia e começam audições com novos músicos candidatos a integrar a banda. Foi nessas que Gram Parsons acabou sendo recrutado por Hillman. Quando a nova formação, acrescida de Kevin Kelley, entrou em estúdio para a gravação de Sweetheart of the Rodeo, lá foi Gram Parsons com seus discos de Merle Haggard e antigos bolachões 78 rotações de Alvarenga e Ranchinho.

O resto é história.

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· Responder · 7m

Sérgio de Moraes

Cara, é indescritível a minha surpresa!!!!!! Que história improvável e maravilhosa. Permita que eu ache um jeito de arquivá-la e, por favor, repasse nos grupos junto com o Alvarenga e Ranchinho. Eu sou cheio de recordações, vivências e memórias. Mas, esta? Talvez seja a melhor que li!!!!!!
POSTAGEM DE UM AMIGO, FABULOSA RESENHA FICCIONAL DE 20/03/2020

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