EU, O GARÇOM E O AÉCIO NEVES

Aprendi com o meu tio Tonico, o Antonio Garini, jornalista conhecido em SAMPA a ponto de ter se tornado nome de rua, que é preciso saber beber – principalmente quando se bebe até cair.
Garini dizia que existe ética nessa profissão existencial de fé: quem gosta de beber algumas diversas várias a mais, precisa escolher um dia neutro, num horário neutro, e em local onde não encha o saco de ninguém. Sempre levei isto a sério, se bem que exagerar pra valer deixou de ser o meu barato há décadas.
E aconteceu assim: hoje, 18 de setembro de 2018, uma terça feira, em meio a um mês só agitado por causa das eleições, fiz como sempre faço. Fui no final da tarde a um dos lugares onde gosto de estar para tomar umas cervejas, comer alguma coisa e ler.
Meu ritual é simples, gosto de beber sozinho.
Quatro horas da tarde, lendo a Folha de São Paulo, entra no restaurante um senhor de meia idade, bem vestido e cumprimenta a todos que lá estavam. Pouca gente: eu, os garçons, o dono, e o cara da churrasqueira. Muito simpático e à vontade, tira o paletó, chama o garçom e pede Whisky. Chivas 12 anos. Pede mais outro e termina tomando quatro doses caprichadas. Ele é bom de copo. Não largou o celular o tempo inteiro.
Esse lugar é o típico restaurante de bairro, confortável, boa comida, em avenida aprazível e próximo ao Aeroporto de Congonhas, aqui em SAMPA. Diriam os salientes que é bom para encontros sem ser molestado. Nitidamente esperava por alguém.
Eu que não ia embora, fiquei de vez. Ver no que daria. E só imaginando: será mulher? Ou será político? Ou seria ele como eu? Final de tarde, um tempo vago entre compromissos, então por que não tomar algumas?
Fiquei na dúvida se era o AÉCIO NEVES mesmo. Um tanto mais gordo, rosto muito branco, lépido, voz bem empostada, conversava com o garçom da mesma forma que conversou com o JOESLEY BATISTA, naquele fatídico telefonema. Uma certa proximidade um tanto artificial, gentileza profissional. Falta a ele o que sobra em Lula, ser naturalmente um cara do povo.
AÉCIO, não. É claramente da elite. Por isso as grosserias íntimas que trocou com JOESLEY caíram tão mal. Ele não é isso, mas fala assim mesmo com os … digamos… mais simples.
Lá pelas cinco e quinze pediu a conta. O garçom trouxe a máquina do cartão de crédito e ele pagou. Deixou ao que parece uma caixinha legal. Passou por mim e cumprimentou.
Chamei o garçom e perguntei: É o AÉCIO NEVES? O garçom respondeu: parece, né? Eu disse: Tenho certeza, veja lá no comprovante do cartão de crédito…
O garçom: Não. Ele pagou em dinheiro…
POSTAGEM ORIGINAL: 2019

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