Meu falecido grande amigo, JEAN YVES DE NEUFVILE, era a cara do STING, o que lhe rendia suspiros femininos por onde passasse. Foi um excelente resenhista, e crítico musical atuante na imprensa, durante os anos 1990 e a primeira década deste século.
Ele sempre dizia: “Pô, Sérgio, eu acho que não é querer demais que façam discos pop audíveis e com alguma qualidade! Não estou exigindo obras de arte instantâneas e frequentes. Apenas uns disquinhos para ouvir e comentar!!!”
Alguma dúvida?
A queixa contra a falta de qualidade é ancestral, permanente, e talvez perpétua. Vejam os festivais, as rádios e seus hits inomináveis, recheando cérebros e ouvidos de incautos. É prestar atenção no gosto médio, e os subgêneros primários que encharcam o pântano cultural. É quase um ataque terrorista em grande escala contra a sensibilidades dos mais exigentes.
Eu e o JEAN costumávamos fazer churrascos noite adentro ouvindo CHARLIE PARKER, COLTRANE, e muitos diversos vários, incluindo efêmeros da hora. Eu geralmente nas cervejas e ele no vinho.
JEAN adorava JAZZ, mas escrevia mais sobre POP e ROCK. Tinha curiosidade infinita e tolerância limitada para o medíocre. Foi dos primeiros a exercitar o aprendizado crítico estendendo os focos para diversos gêneros além do POP-ROCK.
É muito difícil conseguir fazer isto!
Mesmo que tudo seja música, os diferentes gêneros têm peculiaridades; exigem aprendizados mais específicos. Mas é bom tentar, porque amplia o espectro e a tolerância.
É conveniente esclarecer que são raros os “críticos” de música popular. Há vários resenhistas. E, entre eles, poucos são os que entendem o que passa durante o “ACONTECIMENTO MUSICAL”. E pouquíssimos são “ALFABETIZADOS EM MÚSICA”.
Ainda assim, é possível fazer uma apreciação mais crítica sobre o que se escuta, se forem considerados históricos e épocas. O que possibilita digressões e induções comparativas com a produção que se quer compreender e analisar.
É preciso ouvir bastante para formar um acervo musical “interior” que embase, com a leitura e a vivência, o que realmente se pode conhecer.
Considerando isto, mergulho fundo no que ouço e vejo.
Eu me acostumei a ter boa vontade permanente e curiosidade – mesmo que instantânea – pelo que aparece. Não sou indulgente com o medíocre e o irrelevante. Mas procuro situar o que comento em seu tempo e estética, evitando o que não me agrada. E respeito mesmo aquilo de que não gosto, ou acho medíocre ou irrelevante. Mas evito comentar, levar a conversa a frente.
É um jeito de reter sanidade; guardar espaço para o que talvez tenha valor e potencial de relevância.
E as coisas estão mais difíceis a cada dia…
Enfim…
POSTAGEM ORIGINAL: 2019
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