Anos atrás, no apto de um amigo, aqui no Guarujá, eu conheci o Floriano. Sim, ele fez questão de ser chamado assim.
Papo veio e conversa foi, passamos uma tarde inteira tomando vinhos e comendo peixes. Melhor impossível.
Em quatro na mesa, a maioria aposentados, a prosa foi de música a praia, vivências, convivências, gentes e variedades que os muito rodados são capazes de botar na mesa.
Lá pelas tantas, aquele senhor jovial, lúcido, conversador, que nos acompanhou nos pratos e copos, contou que tinha 98 anos!!!! E que ainda pretendia comprar uma casa em Portugal e viver “um pouco” por lá. Morava sozinho, com empregada, cozinheira e motorista; independente, sem parentes para mandar, era dono de sua própria política!
Esteve em ação do governo Vargas em diante. Criou indústrias, empreendeu, viajou, fez filhos, viveu intensamente, como até agora…Uma filha sua é militante sincera de esquerda, conhecida, e vive em Paris… Sobre os outros eu não soube.
Floriano ia aonde desse na telha e meu amigo, entre outros, o levassem. Frequentava a praia todos os dias, batia perna e papo.
Noite dessas, novamente tomando algumas juntos, eu soube por meu amigo que o Floriano fora levado para SAMPA. A família achou mais conveniente manter um ícone vital como ele vivo, aos 100 anos, e cuidado durante esses tempos perigosos e bicudos.
Ele foi. Mandou foto de recordação para o meu amigo: em Londres, nos anos 1960/1970, a bordo de um “Rolls Royce”! Continua seguro e ativo como sempre. E disse que volta para o Guarujá assim que o bichinho da COVID e a família deixarem.
Quem se pensa eterno, desdenha o fim enquanto a vida durar.