A extrema direita em geral sempre existiu. Vez por outra preponderou, mas talvez com menos visibilidade do que hoje.
Essa gente sempre me fascinou! São inabsorvíveis; sempre viveram em guetos específicos, fechados em si mesmos; porém, exportando alguns dos seus para o poder do momento.
Conheço um montão de histórias.
Eu sempre os li com muita curiosidade, perplexidade e certo desprezo. Durante a década de1970, havia os religiosos e os simplesmente reacionários. E, como hoje, pessoas que pretendiam ideologizar e representar a “Revolução de 1964” – quer dizer, o Golpe. Um deles, era o professor JORGE BOAVENTURA, que escrevia na FOLHA DE SÃO PAULO. Legou sua visão, por exemplo, para o ex-deputado ENEAS CARNEIRO. Mas deixa pra lá, por hoje.
BOAVENTURA rendeu para mim uma das “notas dez” que consegui na FFLCH, da USP, na cadeira da excelente professora MARIA LÚCIA, que nos ensinava sobre questões políticas brasileiras. Qualquer hora eu volto a este assunto.
Mas legal, mesmo, eram os religiosos integristas da TFP, A TRADIÇÃO, FAMÍLIA e PROPRIEDADE. Incomparáveis! Uma cabeça de ponte medieval em meio da modernização conservadora dos milicos de 1964.
Pois bem, lá por 1977/78, eu descobri onde os caras se reuniam para comer pizza. Era em uma padaria/pizzaria semi – xexelenta no começo da Av. Rangel Pestana, logo depois do largo da Concórdia, em São Paulo.
O dono lá só usava farinha autenticamente argentina. E PLÍNIO CORREIA DE OLIVEIRA, o aiatolá da TFP, ia lá com hora marcada e padaria com lugares reservados para que o velho reaça, et caterva, pudessem comer in – loco a tal pizza. Eu os vi. Bebiam comedidamente.
A TFP, para os que não a conhecem, era uma organização política fechada, de extrema direita religiosa. Eram católicos integristas; e funcionava como milícia militarizada. Vez por outra, saíam para as ruas fazendo passeatas. Todos de terno e cabelo cortado à escovinha – que voltou à moda, anos depois, por motivos puramente estéticos.
Os TEFEPISTAS portavam estandartes vermelhos. Urravam palavras de ordem execrando o comunismo. Era um RITUAL RIDÍCULO E MEDIEVAL. EXORCIZANTE, talvez.
Quando começou a guerrilha urbana, em 1968, depois da decretação do AI-5, os caras entraram em êxtase!
A modernização conservadora dos milicos era… progressista, urbana, industrial e capitalista. A TFP tinha a sua base social no mundo rural. E era, obviamente, contrária à reforma agrária; uma reivindicação popular contra a concentração de terras e propriedades nas mãos de poucos.
Porém, a revolução agrícola, da década de 1970 em diante, de certa forma inibiu as reformas na propriedade da terra. E, ao mesmo tempo, destruiu o poder da velha aristocracia rural! E sem a velha base social, a TFP mais ou menos encolheu-se no limbo da História brasileira.
Mas continuando, contei para alguns colegas e os incitei para irmos à tal padaria em grupo, e fazer observações sociológicas!!!! Quer dizer: pretexto para beber e concluir contra alvo tão óbvio.
Claro, eu já havia ido antes, umas duas vezes e sozinho, para ver o que rolava, e se dava pra beber. O chope era xoxo, e muitas vezes completado com “jacarés” – uma jarra cheia de sobras e espumas tiradas de chopes, que eles recuperavam e completavam as tulipas que iam saindo. Engodo, roubo mesmo…
Eu reclamei. Fui olhado como… tá, comunista – o que nunca fui, mas era… – se vocês me entendem. Comi a tal pizza. Achei palatável, porém nada demais. TIO SÉRGIO sempre gostou de sair da normalidade, ir para outros mundos, e ver o que rolava.
Bom, a minha turma na USP se recusou terminantemente! Não quiseram ir de maneira nenhuma! Houve, por parte dos mais chegados, a desconfiança de que eu, um… “esquerdizado não comunista”, portanto avis – rara na USP dos anos 1970, estava derivando para lados insalubres e imperdoáveis.
Eu não estava; jamais transgredi a tal ponto…
Anos depois, já estudando na FUNDAÇÃO CASPER LÍBERO, tive colega de classe, Mônica, excelente aluna, muito reprimida e excelente pessoa – foi, inclusive, em meu casamento -; e contou-me que o pai dela, militante direitista, era dono e alugava um casarão no Jardim São Bento para a TFP.
Aliás, até o final dos anos 1970, a FUNDAÇÃO CASPER LÍBERO E a “FOLHA DE DE SÃO PAULO” eram considerados “Diário Oficial da TFP”. Tive aula com alguns poucos professores saídos da “milícia medieval”. Aliás, foi por lá que o grupo LÍNGUA DE TRAPO criou e gravou o HINO OFICIAL DA T.F.P. Uma palhaçada sensacional, que desnudava o cerne do pensamento da “ORG”. Lembra disso@Ayrton Mugnaini Jr?
Anos depois, intermediando um negócio imobiliário tive contato com um advogado, aliás grande profissional, que também contribuía para a TRADIÇÃO, FAMÍLIA E PROPRIEDADE. Que, parece, está em remissão, entocada, mas ainda viva…
O Brasil melhorou muito. Mas, recaídas autoritárias estão sempre no radar dos que pensam e observam nossa política. Então, BOLSONARO e sua pretensa “cristandade” não me assustam. Porém, o que é muito marcante é a substituição das elites cristãs religiosas. Parece que estamos a caminho da troca dos católicos pelos evangélicos. E os católicos, mesmo os mais radicais, são mais cultos e estudados. E essa troca poderá trazer diferenças fundamentais na vida política e social do BRASIL.
POSTAGEM ORIGINAL: 13/08/2021
POSTAGEM ORIGINAL: 13/08/2021