Por volta de 1962, acho, descobri mundo novo jogando botão. Foi uma catarse que iluminou minha curta, mas promissora, vida de vagabundo.
Foi promissora porque desconcentrei gigante dos afazeres de aluno para imersão ( uma expressão atual, heim! ) total no universo da bola.
Fiz o que pude para comprar times de botão e tentar colecioná-los.
E consegui usando metodologia delitiva que repeti com a minha paixão por discos, uns dois anos depois.
Lavei louça adoidado; pedi por aí. troquei tampas (lentes?) de relógio com amigos. E deixei de tomar lanche no recreio no GINÁSIO ESTADUAL RUY BLÖEN, que ainda existe por lá, em SAMPA, no bairro de Mirandópolis.
Quer dizer, fiz de tudo para economizar e investir nos times que tenho até hoje, mas sob outro formato: estavam expostos como fossem quadros, em nosso apto, aqui no Guarujá. Agora, mandei revertê-los em times e vou guardá-los com carinho.
A carreira promissora na vagabundagem desvelou entropia quando tomei pau na primeira série do ginásio, em 1964.
O principal motivo foi cabular aulas, e “estudar” o tempo inteiro as potencialidades do meu time. Reduzindo: foi por causa dos jogos e times de botão.
Eu era fissurad@o em futebol. E me recordo, por exemplo, quando o ZAGUEIRO CENTRAL MAURO saiu do SÃO PAULO e foi jogar no SANTOS, acho que em 1960. E ajudou a compor aquele timeco com PELÉ, ZITO, MENGALVIO, LIMA, PEPE, COUTINHO, etc…que todos reconhecem até hoje. Minha fissura desmedida por futebol e times de botão era total.
Só que houve reação da cavalaria doméstica, pai e mãe aliados se uniram para devastar minha INTENTONA DELITIVA: só não usaram canhão e armamento de guerra. No mais, valeu tudo de bronca a safanão; passando por castigos, gritos e ameaças de porradas várias. Enfrentei galhardamente. E sucumbi.
Mas, guerrilheiro e rebelde, passei a solapar as bases da disciplina achando outro motivo igualmente deletério: cismei de aprender a jogar futebol já que, perna de pau irrecuperável, sempre fui escolhido para não entrar em campo. Nisso, meus amigos e colegas concordavam. SÉRGIO DE MORAES não entrava em campo nem faltando três para compOr o time. Isto sim era sabedoria coletiva, claro…
Mas, insisti. Adiantou quase nada, e reanimou novamente o vagabundo tenaz que havia em mim: tomei pau de novo, na terceira série, em 1966…
A lei seguiu seu destino e fui executado em prisão doméstica por meus pais que radicalizaram geral.
Eis o veredito:
1) Vai passar a estudar à noite e trabalhar de dia; 2) será passado em máquina de fazer salsichas se tomar pau de novo; 3) não ouse desrespeitar essas democráticas decisões familiares, senão em vez de máquina de fazer salsicha vai para o moedor de carne duas vezes – como geralmente pedem as senhoras no açougue do mercado.
Vida vagabunda deletada, fui me tornando o que sou.
Em 1969, entrou seriamente mulher na parada, a ANGELA. E aí todo mundo sabe o que acontece: passei de projeto em em degenerescência a regenerado.
De “brasiliano dissoluto” em bom menino responsável. Rapidamente.
Memórias vivas resguardas sob chibata.