A SOCIALDEMOCRACIA NECESSÁRIA: AS MENINAS VOADORAS E O LADRÃO GRANDÃO!!!

Algum tempo atrás, meu sobrinho e amigo TOI pediu para vir até nosso apartamento, porque onde estava hospedado a INTERNET não funcionava, e ele precisava trabalhar.
Como sempre, foi um grande prazer! E chegaram ele e uma colega de trabalho, THAÍS. Ambos jovens, perto dos trinta anos entraram e foram para mesa com seus computadores. Tudo certo, deixei-os à vontade.
THAÍS, menina alta, magérrima, cabelo “afro”, acho, partido ao lado como o do ROBERT SMITH do THE CURE. Vestia-se com total informalidade elegante, jeans e casaco de couro. Ela é discreta, calada, algo tímida e talvez “misteriosamente estranha”.
Fui cozinhar. Adoro cozinhar para os amigos.
Eles trabalharam sem parar, cada um em sua atividade, silentes e concentrados. Estão à vontade com as novas tecnologias e as formas de trabalho atuais, mais autônomas. Umas 5 ou 6 horas depois, fomos jantar Angela, eu e os dois.
Antes, mostramos o apto para eles. Na minha sala de som percebi vivacidade desperta em THAÍS. Olhou para os discos concentrada e enigmática, e comentou que a mãe dela tinha o PINK FLOYD das VACAS, o “ATOM HEART MOTHER”; mostrei os meus e fiz comentários de colecionador.
Ela disse que gostava de música, mas tudo virtual; guardadas em sua “super caixa” de ferramentas, o Computador.
Durante o jantar, começamos a conversar. Aqueles prolegômenos tradicionais, tipo quem é você, etc… e tal. E percebemos que, vez por outra, ela se ausentava. Olhou uns quadros, penetrou neles profundamente, fez poucos e pertinentes comentários, e voltou à tona. Meio sem jeito, explicou que “viajara para dentro deles”.
E papo vai, papo volta…, vinho aberto e descontração. E perguntei para THAÍS sobre dela formação. E começaram as surpresas:
“EU SEI FAZER AVIÕES. É que me formei em ENGENHARIA AERONÁUTICA E ESPACIAL!”
Continuou, “Mas, não trabalho diretamente com isso, como os colegas de faculdade, hoje todos na EMBRAER ou pelo mundo afora”. “Eu não quis, disse. Sou consultora; faço projetos de alta tecnologia para empresas; consultorias diversas”; expôs com naturalidade.
Surpreendente, para dizer o mínimo! E o papo seguiu, entre uma introspecção e outra da menina. Ela é de classe média do interior, norte de Minas, e foi estudar na UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS.
Discretamente, soubemos que ela é superdotada. Foi contratada pela empresa de consultoria onde trabalha, em São Paulo, por causa do altíssimo Q.I., nível intelectual e de formação que tem! Cria projetos e dá aula para os engenheiros, e ao próprio chefe. Um gênio brasileiro que despontou por causa do acesso que teve a educação, e da facilidade com que aprende e lida com ela…
E pensei na RAYSSA LEAL, sim, a menina medalha olímpica de prata no SKATE. Não esqueçam a performance deslumbrante dela na OLIMPÍADA! Mas foquem no vocabulário, desembaraço, habilidade para relacionamento!
RAYSSA veio do nordeste. Menina de família pobre, quase remediada, nascida em cidade pequena, foi descoberta na escola, e “andava” de SKATE se divertindo, como vimos extasiados!
Ela e a japonesinha MUMIJI, medalha de ouro, têm a mesma idade, 13 anos. São duas superdotadas, certamente! Mas RAYSSA “vale mais”. Teve menos condições para desenvolver-se! Mas fez, dedicou-se, aguentou o tranco, chegou lá e permanece crescento no esporte!!!!
Uma vez, conversando com meu amigo Sergio Cardoso sobre racismo e outras “improbidades morais” que ainda nos assolam, ele reparou que MACHADO DE ASSIS, o maior escritor brasileiro, e até hoje não superado, “também não era loirinho”!!!!
Pois é, o SÉRGIO CARDOSO, a RAYSSA e a THAIS, também não são…Todos tiveram oportunidades, em meio da desigualdade que por aqui reina, e trabalharam com afinco e dedicação.
Os três simbolizam a vitória do “indivíduo” e do talento, que deve ser a finalidade ótima de qualquer sociedade mais equilibrada.
Tornaram-se o contrário do adolescente enorme e bem alimentado que “atuou” no último assalto que sofri, há uns 10 anos. O jovem era o reflexo de nossa ultrajante desigualdade social, e da contínua falência e quebra de valores fundamentais que temos observado há décadas…
Mas, os quatro têm em comum, paradoxalmente, a melhora nas condições de vida dos brasileiros. São frutos de uma sociedade que preserva iniquidades insuportáveis, enquanto tenta a passos de quelônio construir uma socialdemocracia mais inclusiva e sem preconceitos.
Apesar de outro branquinho grandalhão, que até o ano passado dava expediente no Planalto Central…

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