Insone nada virtuoso que sou, vez por outra a macaca preta me pega e fico mais aceso do que forno de pizzaria.
Tá bom, em língua de gente o sono some; não rola; e o tio aqui se estatela sob influência das criaturas da noite: antigos fracassos, situações não resolvidas, agenda não concluída; e medos variados que assolam em hora imprópria.
Solução? Se houvesse, alguém já teria ficado bilionário.
Em tempos de televisão no quarto ou internet no computador, a solução que substitui a leitura é dilatar o cérebro frente às novas luzes – que ofuscam a mente; nos preenchem de azul-escritório; e nos remetem ao café, que elimina o dormir necessário, mantendo o cansaço e o torpor no dia seguinte.
Não caras, meninas, e quaisquer orientações por bem houvessem: não sejam insones na vida! É projeto altamente destrutivo…
Mas tio Sérgio é bem humorado e, vez por outra, topa com filmes que gostaria de ter visto, ou ver. Essas coisas de sub – intelectual criado nos 1970…
E dei de cara com “BONITINHA, MAS ORDINÁRIA”, dirigido ( muito mal, diga-se ) por BRAZ CHEDIAK, em 1984.
Tentei ler alguma coisa do NELSON RODRIGUES fora as frases de efeito que o tornaram famoso. Antes de tudo, Nelson escreve bem, jornalisticamente falando. É claro, conciso.
Seus folhetins, crônicas diárias do Brasil anos 1950, se tornaram famosos. Em minha opinião, ele é raso e possivelmente ignorante sobre os assuntos que aborda.
No sentido de que a psicologia de seus personagens é pobremente definida, muito embaralhada; gratuitamente torpe e forçadamente sexualizada, para criar algum tesão nos reprimidos e nada pudicos brasileiros da época – principalmente os homens…
NELSON era, antes de tudo, machista e reflexo de seu tempo na limitação do indivíduo que se pretende artista. Mas é um ótimo cronista e observador dos costumes. Porém, sem o instrumental de análise para categorizá-los e mais bem explicá-los. O que TIO SÉRGIO, AQUI acha imprescindível para erguer texto artisticamente mais refinado…
Claro, escrevi o que está longe de ser consenso mínimo. É mera opinião pessoal. Intelectuais importantes e de vários espectros políticos o adoravam. PAULO FRANCIS, RUY CASTRO e ARNALDO JABOR gostavam de NELSON, porque viam nele uma escrita teatral, oral o suficiente para ser filmada ou encenada.
Sem falar dos incontáveis artistas, diretores e perpetuadores do mito. Entre eles, os que acham sexo gratuito liberdade artística. Mas não se aprofundam na leitura de um texto. Em tudo cabe opinião.
No entanto, há quem não goste.
O jornalista SÉRGIO AUGUSTO, por exemplo. Homem culto, crítico cultural e de cinema até hoje em atividade. Com educação e refinamento, ele faz ressalvas ao talento de NELSON. Estou com ele: aprendo nada, percebo nada toda a vez em que me defronto com uma criação de ou baseada em RODRIGUES.
Em BONITINHA…, tudo é inverossímil e pouco estruturado. Você pode imaginar o JOSÉ WILKER sendo grosseiro com mulher; gritando e ameaçando estuprar a VERA FISHER – que, no filme, gostou…? Basta pensar em sua atuação em “DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS”…Não rola. WILKER era bom na coisa; gostava das moças…
JORGE AMADO era um realista. Entendeu a extensão sexo – vida – e a brasilidade talvez promíscua.
NELSON RODRIGUES, não! E talvez tenha sido um dramaturgo precipitado, e mediocremente definido pela prática e leitura diária de um certo tipo de jornalismo, que usa como matéria prima escândalos e taras.
O enredo, no filme, é lamentável e as tomadas de cena, mais ainda. Os atores emulando um SHAKESPEARE na vizinhança de escolas de samba, gritam, expõem taras, dizem coisas incompreensíveis…Mas, não convencem.
A sequência e o final são improváveis, costurando a história sem propósito que dá em nada. Se alguém quiser ver o que é traduzir a linguagem do teatro para o cinema é só pegar filmes de INGMAR BERGMAN, nos
1960/70 . Lá não tem bordão incompreensível no contexto como “mineiro só é solidário no câncer”…
Enfim, moralismo à parte, a sociedade brasileira tentou, e na época até conseguiu erguer uma indústria cinematográfica através do incentivo estatal. Os temas eram “transgressivos e os filmes transgressores”; e a imensa maioria enfocando “valores e repressão comportamental”, mas querendo no fundo fazer um protesto político.
Financiar a Boca do Lixo, ou o luxo perdulário, tipo “BONITINHA , MAS ORDINÁRIA” , com dinheiro público foi um escárnio que mereceria uma “Operação Lava a Boca “.
E, só pra não esquecer: CELSO AMORIM, o ex-ministro das Relações Exteriores, nos governos petistas, foi um dos PRESIDENTES DA EMBRAFILME, na época da ditadura FIGUEIREDO…
Uma das frases mais lúcidas que ouvi nos tempos dos milicos dizia mais ou menos o seguinte: “AS DITADURAS FECHAM A POLÍTICA; E RECOMEÇAM ABRINDO PELOS COSTUMES”.
Inclusive por arte subsidiada e medíocre
POSTAGEM ORIGINAL: JULHO 2017
POSTAGEM ORIGINAL: JULHO 2017