COLIN VALLON TRIO – RRUGA – ECM RECORDS – 2011

 

Este é um dos discos mais bonitos que ouvi nos últimos dez anos!

Os que me conhecem devem saber que eu gosto muito do conceito, sonoridade, ética e princípios musicais da gravadora ECM. Eles vão fundo e sem preconceitos.

O critério é a qualidade artística e técnica, e certa compatibilidade com a percepção musical estendida, mas compreensível, pela cultura ocidental.

A ECM não é e nunca foi uma gravadora de WORLD MUSIC estrito senso.

De PAT METHENY a EGBERTO GISMONTI, passando por KEITH JARRETT e ARVO PART, navegam e prospectam em quaisquer cantos do mundo, onde a quase infindável quantidade de bandas e propostas se cruzem ou manifestem.

O exótico sempre se mantém. Mas, compreensível o tempo inteiro, porque comunicável através da riqueza propiciada pela estrutura do JAZZ e da MÚSICA EXPERIMENTAL; e até do POP desenvolvidos no ocidente. É o estranhável comunicado sem pastiche, redução ou simplismo mistificador. É sempre novo!

Aqui, mais um exemplo das fronteiras expandidas. COLIN VALLON, ótimo pianista; PATRICE MORET, um baixista que sabe garantir o andamento sutil; e SAMUEL ROHRER, baterista diferenciado. São jovens e suíços, e compuseram o repertório do disco.

O três têm vivências acompanhando jazzistas e músicos populares de arredores próximos e longínquos. Vão da cantora JAZZ – FOLK albanesa, ELINA DUNI; ao saxofonista suíço CYRILLE BUGNON. Eles pesquisaram até o FOLK TURCO substanciado e arranjado em JAZZ, em uma das faixas. E MORET é fã do RADIOHEAD!

Tudo isto perfaz um compósito original, melódico, sofisticado e belo! É “tudo junto ao mesmo tempo agora” – e novo!

RRUGA, algo como jornada, caminho, em língua albanesa, é o primeiro disco deles gravado para a ECM. Traz aquela paz inquieta, mas não a inquietude e urgência que, por exemplo, a música de MILES DAVIS nos transmite!

Se consigo descrever, afirmo que são composições intelectualmente muito bem desenvolvidas. Não há fios deixados soltos. Tudo foi ensaiado; nada parece improvisado, mesmo sendo a música livre, melódica, harmônica e ritmicamente desenhada para voar sem repetições ou “motivos” muito claros.

É obra construída por quem teve tempo para pesquisar, fazer e criar cada passo. Não há exageros; os andamentos são mais lentos, e tudo é costurado pela ação e interdependência entre os três ótimos músicos!

Não é o FREE e nem JAZZ EXPERIMENTAL. Quem sabe um tipo de MULTI-FUSION?

No disco, se observa um baterista de imenso repertório rítmico, quem sabe emulando o atual KING CRIMSON e suas três baterias afinadas diferentemente para também fazer “melodias”, e não somente acompanhar…

SAMUEL ROHRER constrói melodias e sonoridades para contrapontuar a melodia e harmonia do piano tocado por COLIN VALLON. E o faz com tal estilo, controle e destaque, como poucos que conheci. É um músico diferenciado, um grande baterista, que vale a pena observar! O resultado em cada faixa é mágico, quando percebemos a bateria transitando para o melódico, além do percussivo.

Mas, em momento algum há virtuosismo explícito e exacerbado de nenhum dos músicos. Elegância pode ser uma boa aproximação para a música que escutamos aqui.

Este é o único disco de VALLON gravado com a participação de ROHRER – que partiu para carreira solo. É muito possível que não tenha existido espaço para dois protagonistas desse nível em um trio…

A única contraindicação é você não ouvir o quanto antes esse disco irrepreensível. Um ótimo presente para ganhar no natal!

THE STORY OF JAMAICAN MUSIC – 1958/1993 -BOX COM 4 CDS

Tempos atrás, passei horas escutando este box de minha coleção. Ele está comigo há duas décadas ou mais e, confesso, nunca dei muita bola.

Dia desses, comentei que o REGGAE e estendo para a música jamaicana em geral, como o SKA, DUB, ROCK STEADY… são de chatice abissal.

Minha opinião não mudou muito, porém quando se escuta em sequência e sob uma perspectiva histórica, outras nuances e características vêm à tona.

O “BOX” tem quatro CDS e abrange de 1958 até 1993. Portanto, a nata do que foi criado no gênero está contemplada.

A música jamaicana melhora bastante a partir dos anos1970, com estúdios de gravação melhores e músicos mais refinados. O resto, é questão de gosto.

E se escuta nitidamente quando gente como SLY DUMBAR E ROBBIE SHAKESPEARE introduziram maior qualidade ao GÊNERO, com baixo e bateria mais pesados, variados, negros e dançantes, em meados dos 1980.

A coleção neste box é muito bem organizada, com ótimo livreto explicativo e interpretativo e, mesmo pegando em sua maior parte o acervo da GRAVADORA ISLAND, fica nítida a evolução dos diversos estilos, que mantêm como cerne o ritmo e a característica base de guitarras. O que nos dá a permanente sensação da unidade, um tanto óbvia e previsível, atravessando desde a transformação de um RHYTHM´N´BLUES quase tradicional americano; e caminhando lentamente para os ritmos jamaicanos e suas derivações. Tudo é dançável, festeiro, CLARO!l!

São 95 músicas, entre elas o primeiro grande HIT INTERNACIONAL que notei, o excepcional e até hoje delicioso e animador de festas “MY BOY LOLLIPOP,” um SKA cantado por MILLIE SMALL, no início dos anos 1960!

Tem “ISRAELITES”, com DESMOND DEKKER, mega hit em 1968; há “THE HARDER THEY COME “, com o lendário JIMMY CLIFF, quase hino de 1972. Está lá, também, “NO WOMAN NO CRY”, com BOB MARLEY, gravação ao vivo de 1975, em show histórico em Londres, entre tantas várias.

E não se pode esquecer que I SHOTT THE SHERIFF, com ERIC CLAPTON, que obviamente não está na caixa, trouxe o REGGAE para o público do ROCK. E daí em diante, a porteira se abriu!

Nos anos 1980, a MÚSICA JAMAICANA tomou conta das pistas de dança mundo afora. E frequentou inclusive FESTIVAIS DE JAZZ, ao redor do planeta. Os mais velhos talvez se recordem do “histórico e histérico” show de PETER TOSH, no FREE JAZZ FESTIVAL, de SAMPA!

Na época, a REVISTA ISTO É observou que o público presente havia FUMADO UM ALQUEIRE DE MACONHA durante o evento…

Mas, hoje não é somente a música que surgiu na JAMAICA. Se dermos olhada no cenário político, ele expandiu-se quando a globalização econômica e o multiculturalismo se tornaram presentes ( e até hoje ). E, com eles, eclodiu a chamada WORLD MUSIC, denominação para artistas de várias culturas, nacionalidades e localidades colocarem seus trabalhos para o mundo observar e consumir.

De BOB MARLEY a EGBERTO GISMONTI; de MILTON NASCIMENTO a GILBERTO GIL – o nosso REGGAEMAN! -; De NUZRAT FATEH ALI KHAN e FELA KUTI, a incontáveis músicos africanos, do leste europeu e Ásia todos tiveram sua hora.

A MÚSICA JAMAICANA têm DNA forte e identificável. Se olharmos de perto o BLUES e o SAMBA, percebemos que são vastos e característicos, também.

É impossível deixar de observar que, de certa forma, as tendências musicais desse…digamos… VASTÍSSIMO CARIBE , que vai do GOLFO DO MÉXICO à BAHIA, e passando por tanta coisa díspar e diferente, tem em comum um senso de ritmo dançante e sensual, e se comunica intensamente.

Do REGGAE ao AXÉ e o FORRÓ; da GAJIRA à CUMBIA, e etc.. são ritmos que põem o povo pra dançar, e ajudam a congregar pessoas e culturas.

São notáveis algumas técnicas e tecnologias para respaldar a diversão. O “SOUND – SYSTEM”, por exemplo, inventado nos anos 1950, nada mais é do que um D.J. com PICK UP ou CD PLAYER cercado por amplificação e caixas. É tocando em cada esquina da JAMAICA, e se comunica com as RADIOLAS do nordeste, e com os TRIOS ELÉTRICOS BAIANOS.

SÃO TECNOLOGIAS A SERVIÇO DA “MAGIA CULTURAL” PARTICIPANTE.

Em resumo: se a música jamaicana tem pouco a ver comigo; é muitíssimo desejada e curtida em todo o PLANETA TERRA ( quem sabe em outros, também… ). No gênero, tenho certeza de que este BOX histórico é excelente pedida. Um ótimo guia para começar a colecionar os vários subgêneros – que é repleto de discos raríssimos e muito disputados internacionalmente.

Portanto, divirtam-se e respeitem os “Januários” do Pop!

BLUES PROJECT & SEATRAIN – 1965/1972 O BLUES FORA DO ÓBVIO E MUITO ALÉM…

 

HOUVE TRÊS NOMES DE BANDAS QUE SEMPRE ME IMPRESSIONARAM : “ELECTRIC PRUNES”, “THE MUSIC EXPLOSION” E…”THE BLUES PROJECT”. NOMES FORTES, MAGNÍFICOS, EXPRESSIVOS, EU ACHO…

VOCÊS SABIAM QUE QUATRO “GUITAR – HEROES’ DA PESADA SÃO DE ORIGEM JUDAICA? VAMOS LÁ: “PETER GREEN”, INGLÊS. E TRÊS MERICANOS: “THAT FAT GUY FROM QUEENS”, COMO DIZIAM NOS ANOS 1970 SOBRE “LESLIE WEST”, CONSAGRADO NO MOUTAIN. E “MIKE BLOOMFIELD” E … “DANNY KALB”.

Mas tio Sérgio, quem é o honrado e último mencionado por sua impertinência?

Eu conto: “DANNY KALB” era o guitarrista dos “BLUES PROJECT”. Dedilhar minimalista, cuidadoso, com estilo identificável a cada audição.

😮 “BLUES PROJECT” foi um grupo espetacular, de vida curta e errática; criado em Nova York, em meados dos anos 1960 e, curiosamente, os integrantes eram todos descendentes de judeus…

Além de KALB, um craque explícito, passaram por lá “STEVE KATZ” e “AL KOOPER”, que ajudaram a fundar outro enorme, histórico e consagrado grupo americano, o “BLOOD, SWEAT & TEARS”, em 1969. A participação de ambos foi marcante!

O “BLUES PROJECT” esteve além da repetição dos STANDARDS DO REPERTÓRIO FOLK DA ÉPOCA. E das tradicionais características dos gêneros pelos quais transitou.

Criou um BLUES verdadeiro, amalgamado ao FOLK com pitadas de JAZZ, COUNTRY, algo de ROCK, mas sempre de vanguarda. Mais para a linha do que fizeram os ingleses a partir de 1966/1967, do que a tradição americana.

Eram PROGRESSIVOS? Certamente, se observarmos os aspectos de vanguarda na música deles.

“Ma non tropo”! Apenas faziam FUSIONS diversas entre elementos de músicas do dia-a-dia. Competentes.

Aqui estão alguns discos que fizeram. Uma coletânea dupla esplêndida, conjugando faixas dos seis Lps da banda. São todos interessantes – eu garanto.

E outros originais de estúdio, já com a formação alterada, mas não muito longe da linha original.

Entre os destaques o vital, cult e imprescindível “LIVE AT THE CAFE AU GO GO: show de técnica, feeling e calor! É pauleira brava!

Você jamais ouvirá uma gravação de “SPOONFUL” tão espetacular como a deles! Sem contar “BACK DOOR MAN”, “JELLY, JELLY BLUES” e “WHO DO YOU LOVE”, inesquecíveis, originais, pesadas e, quem sabe, ainda não superadas!!!!

Para os que colecionam informo que este LONG PLAY saiu no Brasil, em 1966, pela VERVE FORECAST. Eu tive. Consegui, por volta de 1969. Sei que dois dos nossos por aqui@Aldo Portes de FrançaLuiz Sérgio Do Espírito Santo também têm! Portanto, lição de casa para quem não sabia: conseguir uma cópia em vinil ( Quá, duvi-d-o= do!!! ). Tá bom, ao menos procurem em Cds, vale além da pena!!!

Indico, também, curiosidade imperdível: dois discos do “SEATRAIN”, uma dissidência dos “BLUES PROJECT”, gravados em 1971; e que trazem atrativo muito instigante: foram produzidos por “GEORGE MARTIN”!

Sim, aquele senhor fleumático que produziu, também, aquele grupo inglês…ahnnn “THE BEATLES”, quem sabe…

Ah, foi isso mesmo…

“MARTIN” fez um trabalho de produção espetacular para uma banda surpreendentemente boa, que mescla COUNTRY, BLUES e fortes pitadas de ROCK PROGRESSIVO.

As gravações são de clareza absoluta; límpidas; deixando de lado uma talvez esperada aspereza BLUESY. É um trabalho de primeiro nível!

Poucas vezes você ouvirá um violino em música popular tão bem tocado, como fez “RICHARD GREENE”. Performance verdadeiramente mágica; e corretamente integrada com teclados sutis, mas sem perder a referência do BLUES e do FOLK. São dois discos raros e preciosos.

Como sempre, seria possível continuar expondo curiosidades, mas será legal se vocês forem procurar saber também desses moços.

Vale o esforço, porque em troca haverá prazer de ouvir e, quem sabe, colecionar.

Tio SÉRGIO garante!

GENE VINCENT e EDDIE COCHRAN: LET´S ROCK WITH

 

GENE VINCENT, EDDIE COCHRAN e BUDDY HOLLY formaram a trágica trindade do “Rock and Roll”, na segunda metade dos anos 1950.

Sucesso, influência e vidas curtas demais. Seguiram e consolidaram o ROCKABILLY, a forma inicial e original do lado “branco” do rock americano.

Nem é preciso dizer que eram fãs de ELVIS PRESLEY. E principalmente EDDIE E GENE emulavam o jeito e tom de voz do ídolo.

Talvez os não tão jovens recordem a excelente banda americana dos anos 1980, STRAY CATS, quem sabe o principal nome de um crossover entre o PUNK e o ROCKABILLY, que rolou forte 40 anos atrás, por aí. Pois bem, mesclaram com arte e força EDDIE COCHRAN e GENE VINCENT. Aliás, fizeram um ROCK portentoso citando em pot-pourri trechos das músicas desses dois, e BRIAN SETZER é guitarrista que precisa ser lembrado. Vez por outra ainda toca em rádios. Imperdíveis!

Desastres automobilísticos marcaram a vida desses dois. GENE VINCENT sofreu um atropelamento tão sério, em 1955, que os médicos quiseram amputar sua perna. Mas, duro na queda, como o Dr, HOUSE da série famosa, recusou. Aguentava dores lancinantes e longos períodos de internação, e mesmo assim construiu fama e carreira – mesmo curta por causa do físico.

E para não dizer que o destino não vigia certas almas, VINCENT estava no carro que levava EDDIE COCHRAN e outra cantora para o Aeroporto de Londres, em 1960, quando houve a trágica derrapagem, que jogou para fora EDDIE, e o matou, aos 21 anos e apenas 4 anos de carreira. GENE VINCENT jamais recuperou-se do trauma. Jogo duríssimo.

EDDIE COCHRAN era bom cantor e guitarrista, mas gravou muito pouco. Em vida apenas um LP, SINGING TO MY BABY, em 1957.

Mas a influência dos singles no ROCK mais pesado que se fez, dos anos 1960 para frente, é monumental: SUMMERTIME BLUES e seus vários overdubs de violão elétrico toca até hoje, porque moderno ao extremo. Lembrem-se da versão ao vivo que fez THE WHO, pesada como determina a tradição. Há outras, inclusive a noise-psicodélica feita pelo BLUE CHEER, em 1968. Gritante!

Há várias músicas cults e outros standards inesquecíveis como TWENTY FLIGHT ROCK, C´MON EVERYODY, SOMETHING ELSE e o que se pensar. EDDIE COCHRAN vive!

GENE VINCENT também era bom cantor e teve a sorte de contar no início de carreira, entre 1956 e 1958, com um dos melhores guitarristas da história do ROCK: CLIFF GALLUP, timbre único, sonoridade clara, solos consagrados. GENE legou ao ROCK AND ROLL os classicos BE-BOP A LULA, RACE WITH THE DEVIL, entre várias.

A fase áurea da carreira de VINCENT começou a decair em 1958. Ele gravou alguns outros discos, e faleceu em 1971 de cirrose e consequências da vida trágica e doentia que teve.

Mas fez em Londres, em 1961, no ABBEY ROAD STUDIO, I´M GOING HOME ( to see my baby…), recriada em cima de uma composição de BO DIDDLEY, e acompanhado por um dos bons grupos instrumentais ingleses da era pré-BEATLES, THE SOUNDS INCORPORATED.

Pois bem, para os velhões como eu, a versão arrepiante do TEN YEARS AFTER, no festival de WOODSTOCK, em 1969, é a base para um fantástico show de ALVIN LEE, na guitarra, transformando em HARD-ROCK trechos de clássicos dos anos 1950, em performance histórica.

É por essas e outras que vamos ao rock com GENE & EDDIE.

Tente.

E lágrimas e preces para os dois

WALTER FRANCO – E A POESIA DAS SENSAÇÕES PERTURBANTES.

 

Eu procurei em minha discoteca os dois discos seminais de WALTER FRANCO. Eu tenho, e agora os encontrei “OU NÃO” e REVOLVER, talvez mais pertinentes ao que escrevi, do que “VELA ABERTA” Mas, fiz assim mesmo…

Não à toa WALTER FRANCO causava tumultos.

Eram tempos de “suposta racionalidade explícita”, que vazava pelos poros e desembocava em política militante.

Era inadmissível alguém lúcido, à esquerda, consciente de Brasil e suas mazelas, criar música e arte não declaradamente engajada.

A música brasileira de qualidade, em 1972, estava dominada por CAETANO, CHICO, GIL E TOM JOBIM. É possível argumentar que o cenário não mudou.

São os mesmos faz 50 anos! E com mais força ainda! GILBERTO GIL, por exemplo, está na ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS…

São cinco décadas de um latifúndio produtivo, bem cultivado e politicamente correto. Mas, latifúndio ainda é. E ninguém tasca!

WALTER FRANCO foi um radical. Desafiou isso tudo arquitetando experimentalismo sonoro deslavado, conjugado a letras repletas de sensações sobre o viver e coisas não tão definidas. Nada é explícito em suas músicas perfeitamente compostas.

A poética de WALTER é construída em cima do que ele sente sobre o que pretende expressar. Ele fala e escreve pouco. É sintético; e o resto é ouvinte que interpreta ou tenta desvendar a intenção do autor.

Mas, isto incomoda; e muito! Porque não se coaduna à nossa cultura racionalista e verborrágica. WALTER era o anti-Dylan; o anti-CHICO; o anti-GIL.

Talvez haja na música dele aspectos convergentes a CAETANO. O revolucionário e destemido ARAÇÁ AZUL, de 1973, foi nitidamente inspirado por CABEÇA, um “KRAUTROCK ELETROACÚSTICO”, totalmente experimental, que concorreu em um FESTIVAL sob vaias, ameaças, apupos e adorações. E foi incluído em OU NÃO (1973)

CAETANO VELOSO é também um racionalista, que sabe trabalhar com o sensível elaborado, e é menos conservador na forma do que seus companheiros de geração.

Hoje, WALTER FRANCO certamente seria um anti-RAP e contra o falatório POP imperante na música.

A cultura brasileira é barulhenta demais para um cara reflexivo até quando faz um ROCK PESADO e incômodo.

Quando apresentou CANALHA em outro FESTIVAL, em 1980, foi mais uma comoção.

ZIRALDO, o grande cartunista e artista gráfico, era o excelente MESTRE DE CERIMÔNIAS. E quando foi anuncia-lo, sorriu irreverente: Xiiiiii, agora vamos ver o que acontece!!! Aqui, no palco, um iconoclasta único. E era; e sempre foi!

CANALHA tem letra tão boa, sui-generis e impactante, que você a decora e viaja perseguindo e praguejando contra essa dor de alma indefinida, sorrateira, mau caráter, CANALHA!

Eu me recordo quando entrei na FFLCH da USP, em 1974, aconteceu um seminário com luminares da política, sociologia, artes, psicologia, etc… Foi um passaporte para outro universo ao mesmo tempo integrado e paralelo ao Brasil.

Quem falou quase sob vaias sobre música foi a jornalista e crítica ANA MARIA BAHIANA, na época detentora de legitimidade.

Questionada sobre censura e outras violências do regime militar, ela propôs: “se as palavras, as letras das canções, estão fragilizadas, censuradas, impedidas; então, por que não focar mais na construção da “música” para expressar o protesto?”

Imaginem o bacobufo que ela causou!!!!

Se bem o interpreto, WALTER FRANCO fez isso. E conjugou a experimentação sonora à não explicitude racionalista de suas mensagens. Viagens contínuas.

Ele antecedeu a ARRIGO BARNABÉ, outra persona non grata e imprescindível! E ambos tornaram-se incômodos quase invisíveis, mas onipresentes, perceptíveis…

Afinal de contas, nem a MÚSICA CONCRETA é tão palpável assim!

REVOLVER…

…OU NÃO?

CID FRANCO, PRISCILLA ERMELL E OUTROS RECALCITRANTES, INVENTIVOS OU SIMPLESMENTE EVAPORADOS

 

Eu sou recalcitrante.

E que porra é isso, tio Sérgio, seu “VAGO LUME DEAMBULANTE” ?

Nonada…quero dizer: porra nenhuma.

Tenho dificuldade em adequar-me; resisto a obedecer cegamente.

E gosto de um ritual: se os tempos vão à esquerda, eu os espreito à partir da direita, mas sem aderir plenamente a nada.

E vice-versa; porque o vício sempre versa… Tenho críticas quase sempre; e isto eu acho bom. Concordo comigo quase sempre.

Então, o TIO SÉRGIO aqui trouxe para vocês coisas um tanto quanto oblíquas que mantenho na discoteca.

Discos estranhos, entranhados em minh ‘alma, que estão comigo há anos. E a maioria permanecerá.

Será?

Eu garanto que são todos de alguma forma interessantes. Parte deles apenas pelo fato de existirem e trazerem um quê qualquer. Outros, porque feitos por gente criativa, não conformista e nem conformada. A maioria não é para ser ouvida direto, o tempo todo. E alguns, uma vez só já foi bom demais…

Vamos lá;

CID CAMPOS, filho do poeta AUGUSTO DE CAMPOS, músico e produtor, é culto e bem formado.

Ele saiu da turma do TEATRO LIRA PAULISTANA, em São Paulo, fábrica informal de contestações, propostas, ideias não alinhadas ao sistema, e que aconteceram no princípio dos 1980.

CID é da mesma geração de ARRIGO BARNABÉ, VANIA BASTOS, GRUPO RUMO, LÍNGUA DE TRAPO e etc…

“NO LAGO DO OLHO” saiu em 2001. Foi susto POP sofisticado. Por injunções imprescindíveis, também está na gravação ARNALDO ANTUNES. É garantia de boa poesia. E a produção do disco estava em dia com a vanguarda: instrumentação eletrônica e o vasto etc…. daqueles tempos.

Se cruzar com isto compre.

Eu conheci PRISCILLA ERMEL. Fomos rigorosamente contemporâneos na FFLCH da USP. Entramos em 1974 e nos formamos em 1979. Convivemos, mas nos falamos pouco. Eu estudava a noite e ela de tarde.

PRISCILLA é muito inteligente e criativa, e era muito querida pelos colegas. Ela se dirigiu prioritariamente para a ANTROPOLOGIA; e eu para a CIÊNCIA POLÍTICA.

Hoje, ela é pós doutora, dá aulas de ETNOMUSICOLOGIA, e sobre as várias integrações possíveis entre a antropologia, a música, e as artes visuais.

Além de textos acadêmicos, ela fez uma peça de teatro infantil, BOI BONIFÁCIO.

Gravou, também, discos do que hoje chamamos NEW AGE / WORLD MUSIC. Tudo bem pesquisado, interessante, bonito e musicalmente relevante.

Aqui, uma coletânea retirada de seus três primeiros LPs, lançada em 1994. Se encontrarem, não percam. Este ficará comigo para sempre. E espero um dia saber da PRISCILA, eu cruzarmos nas redes sociais.

Na linha de PRISCILLA, há o interessante disco de MAY EAST, ex-GANG 90 E ABSURDETES, grupo CULT formado por JÚLIO BARROSO em plena NEW WAVE pátria.

TABAPORA foi lançado pelo meu amigo@Rene Ferri em sua gravadora WOP BOP, em meados dos 1980.

MAY EAST “simplesmente” inventou a WORLD MUSIC!!!!Hoje, também tem vida acadêmica e é referência internacional em sustentabilidade.

A minha edição é de 2000, e vai continuar comigo. E, se encontrarem outra por aí, devorem. Não tenham pudores…

E mais três recalcitrantes:

MARCONI NOTARO, compositor, escritor e vida torta, fez esta pedra basilar do colecionismo, em 1973: NO SUB – REINO DOS METAZOÁRIOS”.

Está entre os discos que foram para o ralo, quando uma inundação destruiu a imensa maioria em estoque, no depósito da gravadora ROSEMBLIT, no Recife.

Inclusive o mítico PAEBIRU, de LULA CÔRTEZ e ZÉ RAMALHO.

MARCONI é alguma coisa tipo juntar RAUL SEIXAS com SAMBA “ANÁRQUICO”. O disco tem letras bem escritas e instigantes.

O vinil você não encontrará, e talvez nem este CD…É de coleção, mesmo.

WALTER FRANCO?

Bem, é WALTER FRANCO. O álbum “OU NÃO”, de 1973, traz CABEÇA, um “KRAUT talvez ROCK” totalmente experimental. Coisas também certamente

inspiradas pela obra de nossa “compositora-gênio alternativa”, JOCY DE OLIVEIRA.

“CABEÇA” foi vaiada pela turba “MPBÓIDE” radical, em um festival de música, no ano de 1972, aqui em PANDEBRAS.

Os alemães começaram com isso, pioneiros da música ELETROACÚSTICA, na década 1950, com STOCKHAUSEN e outros.

E, depois, com o KRAUTROCK no final da década de 1960, e hoje estilo consagrado e cheio de decendências e consequências. WALTER FRANCO trouxe para cá e CAETANO caiu de cabeça dentro da nova perspectiva por ele aberta., com ARAÇÁ AZUL, 1973.

É obra Imperdível e imperdoável!

Mais recente, outra gravação fora do óbvio. O encontro ao vivo, em 2015, de ARRIGO BARNABÉ, LUIZ TATIT e a cantora LÍVIA NESTROVSKY. E com tudo o que você tem direito em letras não convencionais, instrumentação experimental e estranhamento explícito.

É muito legal! Mas para poucos orgasmos. É conhecer, ter, e vez por outra retomar.

Favor não esquecer do verso definidor e definitivo em BABEL:

“Ser humano é tudo igual

É bem bom mas é falho;😀😀

Ser humano é cerebral

CEREBRAL, O CARALHO!”

Alguém duvida?

E vamos prosseguir;

FREE BOSSA é obra fora do esquadro do NOUVELLE… hã… CUISINE.

É disco criativo, mesclando eletrônica e instrumentos convencionais. Vai de “I LOVE YOU PORGY” a “MULHER RENDEIRA”. E passa por um delicioso quase hit recôndito: “SAIR DO AR”. Excelente!

NEYDE FRAGA?

Sim, “MAIS BALANÇO” é um disco mesclando SAMBA, BOSSA, SWING – JAZZ, e com direito a câmara de eco e reverberação em uma das músicas! É de 1965!!

Pois, é; por isso está na coleção.

MORENA BOSSA NOVA”, é de 2003. CLARA MORENO é filha de JOYCE E NELSON ANGELO, e fez disco agradável de NEW BOSSA dançável e moderninha. Mescla BOSSA NOVA com MÚSICA ELETRÔNICA. Dá festa!

Por falar em dançar, pulem com DAÚDE. “SIMBORA”, 1999, é TECHNO SAMBA-POP com PERCURSÃO AFROBAIANA.

Tudo junto, tio SÉRGIO? Será?

É.

Artefato excelente, anima qualquer rastapé; e é muito, mas muito mais legal do que IVETE SANGALO et caterva. DAÚDE é diferenciada.

Para encerrar, o BATACOTÔ, traz BRASILIDADES AFRO em música de primeira linha.

Estão no projeto os convidados DIONNE WARWICK, GILBERTO GIL, ERNIE WATTS, LENINE e o violinista JERRY GOODMAN, ex – MAHAVSHNU ORCHESTRA! Todos acompanham um grupo sui-generis em disco inusitado, sofisticado e algo difícil de encontrar.

Pra exemplificar a zoeira, um verso de “QUITAMBÔ”:

” No meio do mês de maio

É festa do véio laio

que inventou a gandaia

que toca tambô na praia

pra gente qui num trabaia

Pra gente da tua laia

Por isso é que nóis num faia…”

Se encontrar por aí vai ser baratinho. E num faia!

Mas, quem “faiou fui eu”. Acabei vendendo este exemplar e o disco da DAUDE…

Pois é, turma: postei verdadeira seleção de recalcitrantes e inesperados. Gente que disse “NÃO” para várias coisas. Mas, a caminho de um “SIM” muito mais interessante!

JOSHUA REDMAN – WISH – 1993 – WARNER RECORDS

 

CRAQUES EMULANDO CRAQUES. NA IDEIA GERAL, UM QUÊ DE JOHN COLTRANE ( REDMAN ), CONSTRUÍDO COM GUITARRA À WES MONTGOMERY ( METHENY ), E SOBRE A SOFISTICADA BASE DE HADEN E HIGGINS, NO BAIXO E NA BATERIA, AMBOS FORÇAS DINÂMICAS DO FREE JAZZ.

E TUDO FUNCIONA PORQUE TRABALHAM, DE FATO, BUSCANDO UM JAZZ MELÓDICO E CONTEMPORÂNEO, SEM GRANDES INVENCIONICES.

MAS, CHEGA-SE À FAIXA SETE, “TEARS IN HEAVEN”, UM DOS LAMENTÁVEIS MOMENTOS DA ILUSTRE CARREIRA DE ERIC CLAPTON.

É CANÇÃO COMPREENSIVELMENTE CHOROSA E EMOCIONAL.

A MÚSICA É EM TAL GRAU SIMPLISTA E RUIM, QUE FOI IMPOSSÍVEL PARA QUATRO MESTRES SALVÁ – LA!

COMEÇA E ACABA RÁPIDO, POIS NÃO DA’ PRA FAZER JAZZ COM BASE HARMÔNICA TÃO RUDIMENTAR.

O DISCO É RUIM? NÃO. TALVEZ PRECISASSE DE MAIS CUIDADOS, REFLEXÃO SOBRE OS CAMINHOS ENCONTRADOS.

O RESULTADO SOA PRECIPITADO, E POUCO PLANEJADO. TRANSPARECE A JUNÇÃO OPORTUNISTA DE GRANDES TALENTOS OCUPADOS DEMAIS PARA CRIAR ALGO MAIS SUBSTANTIVO.

MARISA MONTE: MAESTRINA DE SUA PRÓPRIA POLÍTICA E CRIAÇÃO

 

MARISA MONTE é um elo curioso entre a tradição da música brasileira e a vanguarda que a excede e transcende.

A nova MPB e o POP NACIONAL contemporâneo têm parte da genética trazida por ela, e cultivados milimetricamente por sua estratégia de carreira. O bom gosto, a calma e muita paciência.

Para uma cantora excelente, versátil e talentosa, com 34 anos de sólida reputação; e de grande sucesso de público, crítica e comercial, MARISA gravou pouco e esparsamente.

Apenas doze discos, alguns DVDs, e participou de projetos e coletâneas. Mas fez shows, muitos shows, todos de sucesso enorme.

Fiquei intrigado que tenha vendido em torno de dez milhões de álbuns, em tanto tempo de carreira. É pouco demais. Seria?

MARISA MONTE soube colocar-se no ápice do mercado: é simultaneamente lúdica e lúcida; cult e popular; um mito sem permitir que se transforme em ícone expostos à luz do templo, e à “sanha” das massas.

Ela começou muito jovem, 19 anos., gravou MM, 1989, disco ao vivo em que demonstra seu potencial e talento. Vai do jeito GAL COSTA de cantar, passa por algo BLUESY no vocal, repertório eclético, de samba a PORGY and BESS. Foi muito bem sucedida inclusive graças à produção de NELSON MOTTA. Dali, foi hit atrás do outro.

MARISA é carioca típica, mas discreta. A gente percebe o acento inconfundível daquele RIO DE JANEIRO sofisticado, classe média alta. E vou tomar emprestados dois verbos para tentar definir: “escandindo” tradições, e “instilando” vanguardas e novidades. MARISA MONTE conjuga esses dois polos que ela, também, tornou complementares.

No passado, NARA LEÃO transitou da BOSSA NOVA para o alto do morro. E, de lá, ajudou a trazer a grande tradição popular do SAMBA para os jovens, a classe média emergente, e o confirmado respeito intelectual.

O magnífico SAMBA, também foi veículo de resistência àqueles tempos duros, nos 1960/1970.

E, não esqueçamos: foi NARA quem defendeu os novos compositores, as doideiras da TROPICÁLIA, em 1967; o uso de guitarras elétricas, e a nova fusão que se intrometia entre o ROCK DE FORA e a mais legítima MÚSICA BRASILEIRA.

Sob esse aspecto, NARA é precursora de MARISA.

MARISA justapõe e às vezes mescla a verdadeira música de raiz brasileira.

Incentivou, sem clubismo, as grandes ESCOLAS DE SAMBA do Rio. Produziu e gravou os compositores da PORTELA, e da MANGUEIRA, também. E ambos em discos diferentes, e em seus próprios ambientes. Resumindo: respeito, dedicação e reverência.

Além de moça elegante e bela, têm como parceiro a mais completa tradução de competência, gentileza e arte das tradições cariocas: PAULINHO DA VIOLA. Credencial e passaporte insubstituíveis!

Compondo seu próprio mosaico, MARISA tem muito critério e discernimento na seleção de parceiros.

Incentiva arranjos diferenciados, e mantém o pensamento focado em fazer de cada disco uma obra única e, se possível, prima! Conseguiu?

Não vou enfrentar essa discussão.

Mas há tratamentos inusitados em cada obra, como TUBA em lugar do BAIXO; HARPA, CUÍCA, RECO-RECO e SINTETIZADORES. E até um “BABY SITAR” – que mal consigo pensar que porra seja essa, a não ser… todos juntos e muito bom gosto a bordo como resultado.

Fez dessas e outras mais.

MARISA convocou gente da VANGUARDA JAZZÍSTICA AMERICANA para os seus discos. O saxofonista JOHN ZORN; o guitarrista MARC RIBOT; o produtor cantor ARTO LINDSEY; o cultuado compositor e cantor DAVID BYRNE…, todos experimentalistas.

E não esqueceu gente mais FUNK. como o tecladista BERNIE WORRELL, mito da BLACK MUSIC.

E todos mesclados com músicos brasileiros, e moderados pelo talento em produzir da própria Marisa, foram amalgamando e criando um som pessoal, novo, contemporâneo a cada disco realizado.

Aqui, a tradição cedeu lugar ao novo.

E tudo junto ao mesmo tempo agora, aliou-se à vanguarda do ROCK PAULISTA.

Os TITÃS preenchem outro lado na tela do mosaico criativo de MARISA. Em NANDO REIS conseguiu um ar juvenil, um POP SOFISTICADO, mas não muito cabeça. Coisa da hora, para recuperar expressão pertinente.

Mas, com ARNALDO ANTUNES, o POETA que ela trouxe para chamar de “seu”, a química soa perfeita.

À precisão e poder incisivo da linguagem poética de ARNALDO, temperado com – vou chutar – a sensibilidade feminina de MARISA e a delicadeza de seu canto; juntam-se a urgência POP à vasta possibilidade que a língua portuguesa permite em algumas dezenas de versos raros, claros, musicais e musicados.

Da poesia à composição musical.

A parceria de MARISA MONTE e alguns TITÃS é anterior. Mas tornou-se efetiva nos TRIBALISTAS, à partir de 2002, com ARNALDO e CARLINHOS BROWN – percursionista classe mundial.

Houve um rejuvenescimento POP, às vezes pouco mais do que adolescente, e foi aos poucos tomando lugar da experimentação mais escancarada.

Em seu último disco, “O QUE VOCÊ QUER SABER DE VERDADE”, isto fica nítido. Inclusive com as críticas não tão favoráveis como antes.

Eu confesso não gostar da interação vocal entre ANTUNES e MARISA. Acho a voz dele seca, antimelódica, e para mim feia. Um baixo barítono lembrando o atual DYLAN. Um tanto diferente para alguém que emulava PETER MURPHY….Mesmo assim, o dueto é inusitado.

Mas, o que realmente importa é a alta qualidade média dos discos e a efetivação de uma dupla linguagem, quase sempre distintas: o respeito à TRADIÇÃO e o POP brasileiro moderno assumido. E MARISA navega sobre os dois com igual competência.

Em 2020 ela trocou de gravadora. Deixou 32 anos de EMI e foi para a SONY.

Talvez reflexo de algum estancamento criativo na carreira, já um tanto perceptível. Há cinco anos mais ou menos no mesmo sentido e algum marasmo. Talvez, quem sabe, pela própria mesmice da música popular em geral.

Há novidades com um projeto chamado CINEPHONIA, em 2020.

Marisa lançou, também, o disco PORTAS, em 2021. De certa maneira, continuidade ao que vinha fazendo, mas com foco mais nítido sobre o POP, sua linguagem mais bem definida. Melodias bonitas, as parcerias tradicionais, e mais outras.

Muitos reclamaram que ela fez mais do mesmo. Eu também achei. Mas, por que exigir dela experimentações, descobertas novas em terreno cego e mal arado, como andam as nossas paragens musicais?

Prefiro que ela fique livre cultivando o belo, dando um tempo.

Veremos no que dará. Da minha parte, vou observar e continuar gostando, prometo…

Mas não deixem de curtir MARISA, porque é pra lá de prazeroso!

VYTAS BRENNER – LA OFRENDA – 1973: ROCK PROGRESSIVO DA VENEZUELA

 

 

Apenas um rapaz latino-americano, com uma ideia na cabeça, algum dinheiro no bolso, e instrumentos de ROCK nas mãos?

Ele é mais do que isso!

Imagine alguém como tantos, fascinado pelo YES, intrigado pela percussão latina do SANTANA; banhado por JETHRO TULL, e ouvindo a reviravolta ao ROCK PROGRESSIVO que THE WHO conseguiu em “Who’s Next”, lá por 1971!?!?

Depois, tempere com uns toques de KRAUTROCK, e pense o tempo inteiro em RICK WAKEMAN.

Pois bem: desse coquetel monte uma banda mesclando teclados, guitarras e instrumentos latinos. Organize tudo isso baseado na sonoridade que emana dos ANDES, em concertação de bom gosto, mas tangenciando clichês – quer dizer flertando com a “EXOTICA”…

E você terá um excelente álbum de ROCK PROGRESSIVO!

Foi isto que o remoto, implausível e quase desconhecido tecladista VYTAS BRENNER fez, em 1973!

As “CHAVES” que fecharam a VENEZUELA esqueceram um rock MADURO no passado! ( hummm…, piadinha infame, né TIO SÉRGIO? )

O Long Play original é raro, precioso e colecionável! O CD também é difícil encontrar. E quem o tocava muito, em meados da década de 1970, era o Jaques Sobretudo Gersgorin, em seu pioneiro e inesquecível KALEIDOSCOPIO, programa de rádio furor entre os esquisitos e amantes do ROCK naqueles tempos.

Procurem conhecer VYTAS BRENNER. Os que não gostarem ganham foto autografada do KIM JONG UN dançando RUMBA! Ou um sorriso amarelo do MESSI, depois do jogo contra a ARÁBIA SAUDITA.

Quem sabe os dois.

TIO SÉRGIO recomenda.

BLUE NOTE – COLLECTOR’S EDITION – 25 CDS BOX – LIVRO “THE COVER ART OF BLUE NOTE”

BLUE NOTE – COLLECTOR’S EDITION – 25 CDS BOX – LIVRO “THE COVER ART OF BLUE NOTE”

Coleções a gente amplia buscando a literatura adequada, a memorabilia compatível e qualquer objeto que expanda sua abrangência.

O LIVRO e o BOX foram comprados separadamente, não formam combo. Com 240 páginas, o livro é a coleção de capas criadas pelo designer REID MILES, em conceito um tanto indefinível. mas captando o MOOD, o SOUL o HIP que perpassa o acervo magnífico de LONG PLAYS lançados pela BLUE NOTE RECORDS, principalmente entre os anos 1950 e 1960.

E os CDs?

Estão no BOX OS 25 principais e fundamentais discos da gravadora BLUE NOTE!

Estão lá GRANT GREEN, THELONIOUS MONK, ART BLAKEY, JOHN COLTRANE, SONNY CLARK, JIMMY SMITH, DEXTER GORDON, SONNY ROLLINS, KENNY BURRELL, CANNONBALL ADDERLEY, LEE MORGAN, MILES DAVIS…

Em princípio, são edições atualizadas, buscadas nos “MASTERS ORIGINAIS”. E as capa são MINI-LPS, com faixas bônus. E acompanha o LIBRETO falando sobre cada disco, ficha técnica e vasto etc…

É um artefato muito bonito, feito no Japão, mas simples. E a preço bastante popular quando fou lançado, há uns doze anos.

Paguei menos de R$ 500,00 mandacarus, R$ 20,00 por Cd, cerca de $ 4 dólares cada disco. O som é muito bom!

A MÚSICA?

A Nata da produção dos caras. Um panorama sobre a importância e o significado artístico da gravadora.

Pode ser o princípio ou a essência de uma coleção de discos de JAZZ, que poderá expandir- se e muito.

É objeto CULT e COLECIONÁVEL ao infinito!

Está em alto nível, como diversos outros, feitos por gravadoras como PRESTIGE, VERVE, e por aí adentro.

Jeito adequado de apreciar quitutes incomparáveis.

Vale tentar!