Uma das características da boa música instrumental contemporânea é estar além – rótulos e “pré – conceitos”. Exibe alta qualidade sem restringir-se a estilos ou gêneros. E, quando bem estruturada, revela sofisticação em harmonia, melodia, ritmo e andamento.
Assim, as fronteiras entre o POP, o CLÁSSICO e o JAZZ tornaram-se mais permeáveis, fluidas e mutantes. O que vislumbra perspectivas inéditas e mais ricas para quem aprecia.
Porém, restará o eterno problema de como classificar. Talvez bobagem frente à amplitude que alcança. Mas chateação essencial para os que têm discoteca, ou coleções, e podem se perder frente às prateleiras.
BRAD MEHLDAU é pianista de altíssimo nível técnico, artístico e de criatividade. Tem obra em expansão contínua, e já numerosa; e sempre eclética e instigante. Gravou em estúdio com trios, quartetos, grupos mais amplos e piano solo. Fez discos ao vivo, também.
Criou em parceria com gente sólida, como o guitarrista PAT METHENY – outro superdotado -, com quem fez dois discos imperdíveis, também para a NONESUTCH RECORDS: “METHENY MEHLDAU”, em 2006 (acho que saiu no Brasil ). E “METHENY MEHLDAU QUARTET”, lançado em 2007. Busque por aí, porque vale a pena!
Uma das características de MEHLDAU é a coragem, ousadia e ambição! O cara enfrenta os desafios para tornar mais ampla, e sofisticada, obras de compositores como NICK DRAKE, e da banda RADIOHEAD. Além de encarar ícones como GERSHWIN, COLE PORTER, THELONIOUS MONK e MILTON NASCIMENTO. Só para ficar em alguns…
É nítido: MEHLDAU é, também, compositor expressivo e extenso. No presente disco, gravado ao vivo com a ORPHEUS CHAMBER ORCHESTRA, BRAD emula e ondula sobre a música erudita (para mim clássica) em formato contemporâneo, que ele compôs tendo como inspiração “AS VARIAÇÕES” de BACH (GOLDEBERG); e BEETHOVEN (DIABELLI ) – ele
explica no livreto.
BRAD MEHLDAU criou as 15 faixas, todas correlacionadas entre si por um tema principal, que deambula modificado por toda a execução. Há traços perceptíveis de CONFORTABLY NUMB, do PINK FLOYD, por exemplo e, no entremeio, de sonoridades enterradas no pré-sal da memória dos que gostam de música. Ouça e observe. O efeito é mágico!
O trabalho da orquestra é de beleza explícita. É moderno sem ser chato ou hermético, e servindo de base harmônica para o soberbo trabalho de piano. É bonito do começo ao final, mesmo nada longo.
A melancolia a que MELHDAU se refere tem o caráter da resignação algo BLUESY da música negra. E seu piano incorpora, e expressa o tempo inteiro, o jeito “JAZZISTICO” de tocar, embalado pelo “clássico contemporâneo” – se é que bem decifrei a pretensão.
É música sofisticada, sim. Mas impenetrável, nunca!
Vai bem para a turma do JAZZ e da MÚSICA CLÁSSICA; e até da NEW AGE, do LOUNGE e do ROCK PROGRESSIVO. É trabalho agradavelmente inclassificável.
E ainda bem!
O ponto negativo nesta edição americana, é a porcaria de material reciclável com que é feita a capa/embalagem do CD!!!! É frágil, feia, mal dimensionada – muito estreita, fere o disco!
Verdadeiro desrespeito ao consumidor!!!, que paga a peso de urânio por um produto de alto nível artístico, como geralmente são os discos da NONESUTCH, mas embalado em lixo mal tratado.
Mesmo assim, não deixe de ouvir. Eleva e reconforta espírito e mente.
POSTAGEM ORIGINAL: 20/08/2021

POSTAGEM ORIGINAL: 20/08/2021
