TIO SÉRGIO E OS “SEBENTOS”: E TRÊS PRECIOSIDADES EM VINIL EDITADAS NO BRASIL

Eu, tu, nós, eles… que apreciamos coisas velhas, somos frequentadores de SEBOS. Catadores de relíquias, velharias, e tudo o que preserve legados, ilumine o passado, nos aproxime do eterno. É HOBBY delicioso e instrutivo.
Esta semana, fui a um antigo SEBO na região do CAMPO BELO, bairro nobre de SAMPA, um dos lugares onde giro com alguma frequência.
Bom; quem garimpa em sebos, feiras, lojas, etc… sabe o que interessa. E, por isso mesmo, a experiência nos atenta para presepadas; e nos faz ficar com duas de nossas quatro patas atrás, em alerta…
O TIO SÉRGIO aqui, mesmo de quadrúpede semialfabetizado, tem noção das coisas. Porque cata latas desde os 14 anos; quer dizer, faz 58 unidades ahhh… anais… oopss, quero dizer anuais, mais ou menos… Por isso, aprendi o quanto as “latas” podem valer…
Pois bem! Os álbuns na foto pintaram na minha frente no SEBO. Fato talvez inspirado pelos “céus”. Examinei, constatei o estado lamentável, “cheios de navalhadas na carne”; riscos, valetas intransponíveis. E aparência “molamba” fruto de quem torturava os pobres com agulhas deterioradas; dedos imundos, e outros acepipes encontráveis em masmorras de ditaduras. Mas, eles foram cheirados, olhados, apreciados, vistoriados e cheguei a conclusão de que não estavam em condições de uso…
Fazer o quê? Perguntar o preço, claro. A primeira resposta foi ofensiva. Não havia preço no produto. Então, foram consultar o dono que, como é “normal”, olhou em minha cara e deu o veredito: “Eu posso fazer R$ 50 reais cada um”. TIO SÉRGIO, que é grandalhão, iluminou o diálogo e respondeu: “Mas de jeito nenhum! São imprestáveis” – e são mesmo! – “Eu ofereço R$ 80,00 reais por todos! ” É pegar ou largar! “O cara fez muchocho, reclamou e acabou pegando.
Os dois BYRDS, mas em compactos duplos, eu havia recebido de presente de meus pais, no natal de 1966! São edições brasileiras da CBS: MR. TAMBOURINE MAN saiu aqui, em 1965; e TURN! TURN! TURN, em 1966! As capas estavam mal conservadas, mas recuperáveis. O vinil? Dá dó!
Quanto aos YOUNG RASCALS, o Long Play saiu em 1967 – e foi dos primeiros que comprei com o dinheiro do meu próprio salário! A capa exigiu operação drástica. Por sorte, mantive umas capas sem uso de vinis. Tirei cópia do original, dei um jeito de colar, e transformei em outro objeto não xexelento. Hoje, limpei, lavei, consertei o que foi possível. Continuam inaudíveis; mas estão apresentáveis. Comprei pelo valor sentimental.
Em defesa do “sebento”, eu afirmo que acabou por “preservar” três raridades. Fazer a intermediação para alguém que poderia recuperar ao menos para guardar, conservar o objeto histórico.
É isso. Será que eu fiz bem?
POSTAGEM ORIGINAL: 15/02/2025
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FRANK ZAPPA, ROBERT FRIPP E DAVE CLARK. ARTISTAS QUE ASSUMIRAM O CONTROLE DA PRÓPRIA CARREIRA E COM SUCESSO.

O QUE TÊM EM COMUM OS TRÊS? DO PONTO DE VISTA ARTÍSTICO, AS PROPOSTAS DE CADA UM É ORIGINAL, IDENTIFICÁVEL E ADMIRÁVEL EM SEU NICHO DE MERCADO. MAS DA PERSPECTIVA EMPRESARIAL, TANTO “DAVE CLARK”, QUANTO “FRANK ZAPPA” OU “ROBERT FRIPP” SOUBERAM TOMAR CONTA DA CARREIRA, E DA PRÓPRIA VIDA DE JEITO COMPETENTE.
CONSEGUIRAM PRODUZIR, GANHAR DINHEIRO, ESTABELECER RENDAS E ACERVOS PARA O FUTURO. E TIRAM PROVEITO DESSA LIBERDADE RARA.
O PRIMEIRO A CONSEGUIR ISSO FOI O “DAVE CLARK 5”. UM RETUMBANTE SUCESSO ENTRE 1964 E 1969. VENDERAM MILHÕES DE DISCOS MUNDO AFORA, E PRINCIPALMENTE NOS ESTADOS UNIDOS.
O “DC5” CHEGOU A GRAVAR 4 LONG PLAYS POR ANO! TODOS MAIS CURTOS DO QUE DISCOS DE “JOÃO GILBERTO”: EM TORNO DE 23 MINUTOS, NO TOTAL!!!!
FORAM MAIS VEZES DO QUE OS “BEATLES” AO GRANDE PROGRAMA DA TELEVISÃO AMERICANA EM MEADOS DA DÉCADA DE 1960, O “ED SULLIVAN SHOW”. E RECEBIAM CACHÊS 50% MAIOR! EXCURSIONARAM MUITO PELO PLANETA COM A LOTAÇÃO ESGOTADA.
DETALHE FUNDAMENTAL: A NEGOCIAÇÃO ERA FEITA DIRETAMENTE COM ‘DAVE CLARK”, BATERISTA, PRODUTOR E DONO DA BANDA. PORTANTO, A PARTE DO LEÃO TAMBÉM FICAVA COM ELE!
JAMAIS FORAM EXPLORADOS PELA GRAVADORA, E DAVE FINACIAVA A PRODUÇÃO DOS DISCOS, CONTROLANDO DESDE SEMPRE TODA A DISCOGRAFIA, RELANÇAMENTOS, LICENCIAMENTOS.
EM 1968, “DAVE CLARK” JÁ MORAVA EM UM “PENTAHOUSE” EM MAYFAIR, BAIRRO CHIQUE DE LONDRES. NA MESMA ÉPOCA, OS “BEATLES” FALIRAM; E OS “ROLLING STONES” NÃO ERAM OS DONOS DO QUE PRODUZIRAM NA FASE ÁUREA – O RESULTADO FOI APROPRIADO DURANTE DÉCADAS POR “ALEIN KLEIN”, EMPRESÁRIO NADA ESCRUPULOSO.
“ROBERT FRIPP”, É DONO DE TUDO NO “KING CRIMSON”, HÁ MAIS DE 40 ANOS. É SUCESSO ARTÍSTICO ININTERRUPTO, E ESTÁ CERCADO POR CUIDADOS PARA MANTER O ACERVO E A INDEPENDÊNCIA.
FRIPP É VISTO COMO DÉSPOTA ESCLARECIDO, E UM LÍDER E CONVINCENTE. ROBERT CUNHOU A FRASE DEFINITIVA SOBRE A INDÚSTRIA MUSICAL: “A HISTÓRIA DO POP É A CRÔNICA DO ROUBO, DA USURPAÇÃO E DO DESRESPEITO.” BASTA LER BIOGRAFIAS DOS GRANDES ASTROS, SEUS IMPASSES E MARTÍRIOS PARA CONCORDAR.
COM ELE, NÃO!
“FRANK ZAPPA” TAMBÉM NÃO SE DEIXAVA ENGANAR. E CONTOU, CERTA VEZ, QUE EM TURNÊ VIU “DUKE ELLINGTON” IMPLORANDO PARA O EMPRESÁRIO COMPRAR UM SANDUÍCHE!!!!!!
ZAPPA FICOU TÃO HORRORIZADO QUE PASSOU ELE MESMO A CONTROLAR TUDO; DA GRANA À PRODUÇÃO ARTÍSTICA. CONCLUIU E DISSE: “SE FAZEM ISSO COM UM DOS GRANDES GÊNIOS DA MÚSICA, O QUE FARIAM DE MIM?!?!
TRÊS GRANDES ARTISTAS E CARAS LÚCIDOS E REALISTAS! SEUS ENSINAMENTOS SERVEM PARA CADA UM DE NÓS: É PRECISO TENTAR SER O INSTRUMENTO DE “SUA PRÓPRIA POLÍTICA”. ADMINISTRAR A PRÓPRIA VIDA É MUITO DIFÍCIL! MAS É MANDATÓRIO!!!
POSTAGEM ORIGINAL: 23/02/2023
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HARMONIA + ENO: TRACKS AND TRACES AMPLIADO, 1976, LANÇAMENTO EM VINIL E ANDANÇAS E VIAGENS DE ALGUNS CRIATIVOS PELOS HANGARES E RADARES DO KRAUTROCK, E DA EXPERIMENTAÇÃO MUSICAL: 1973/1979

Fiquei sabendo que PHILLIP GLASS terminou e lançou em 2022, a sua DÉCIMA SEGUNDA SINFONIA, completando a trilogia BERLIM de DAVID BOWIE, que junta três discos seminais da saga criativa do ROCK através dos tempos.
GLASS havia acertado com BOWIE que também comporia sobre o terceiro o disco, LODGER, original de 1979. Já havia feito magnificamente sinfonias baseadas em LOW, em 1993; e HEROES, em 1996.
Agora, esse triatlo artístico de grande fôlego e pertinência já está disponível.
Não percamos. É obrigatório; e DAVID e PHILLIP merecem.
O histórico e pioneiro do ROCK PROGRESSIVO nas rádios de São Paulo, Jaques Sobretudo Gersgorin, dizia no KALEIDOSCÓPIO, o seu programa,😀 que ROCK era o encontro da “MAGIA COM A TECNOLOGIA”.
E a tecnologia recuperou a magia desenvolvida por um SUPERGRUPO alemão de KRAUTROCK formado em 1973.
O HARMONIA foi um trio em coalisão – colisão? – que juntava MICHAEL ROTHER, guitarrista e multi-instrumentista, que iniciou a carreira emulando KINKS, HENDRIX e o THEM. E, depois, os desconstruiu no NEU, a dupla CULT que formou com KLAUS DINGER, outro fora de esquadro.
Para construir o HARMONIA vieram mais dois músicos com sobrenomes que parecem retirados de algum alfarrábio escrito em latim:
HANS-JOACHIM ROEDELIUS, e DIETER MOEBIUS, ambos em teclados, percussão e instrumentos eletrônicos vários, formavam desde 1971 o CLUSTER, dupla que subsistiu longamente em idas e vindas, associações, e vasto etc… existencial.
Para simplificar, NEU + CLUSTER = HARMONIA, nome que escolheram quase ironicamente, tanto por causa da beleza de FORST, no interior da ALEMANHA onde viviam, quanto pela tensão criativa gerada pelos três, quase um amor à primeira vista, brincavam.
Em frase brilhante que li sobre eles, os três sabiam perfeitamente que a ALEMANHA OCIDENTAL não era o QUINQUAGÉSIMO PRIMEIRO ESTADO AMERICANO!
Portanto, desfigurar, reconstruir, e recriar um ROCK à imagem e semelhança da sólida e independente cultura ALEMÃ, era mais do que ESTÉTICA. Ladeava com a ÉTICA!
Vocês recordam BELCHIOR quando canta que um TANGO ARGENTINO LHE CAÍA BEM MELHOR DO QUE UM BLUES?
Pois, é!
STOCKHAUSEN e a MÚSICA DE VANGUARDA falava aos meninos. E dava o tom para quase a totalidade do KRAUTROCK, visto como ROCK PROGRESSIVO alemão de características próprias:
É PLENO DE ELETRÔNICA, IMPROVISAÇÃO e POLIRITMIA. E vai da MÚSICA ESPACIAL à NEW AGE; comporta percussão inspirada em diversos lugares do mundo. E, nele viajam do TANGERINE DREAM, ao CAN, passando pelo KRAFTWERK e incontáveis e apreciados militantes…
O KRAUTROCK não é um modismo, e nem movimento xenófobo.
Ao contrário, é um enorme criadouro cultural. Um compósito versátil de ROCK, WORLD MUSIC e o PROGRESSIVO tradicional. Abrange e integra o FOLK, o HEAVY, e o BEAT; e articula elementos do JAZZ de VANGUARDA e da música CLÁSSICA.
Todos combinados, ou não, misturaram-se a essa estética poderosa e produtiva, que se instalou na EUROPA, e mantem-se.
O tempo e a criatividade perfuraram as camadas que se abriram para o ROCK INDUSTRIAL, o TECHNO e o GOTHIC ROCK. E, vertiginosamente fertilizou o RAP, e as diversas variações da MÚSICA POP ELETRÔNICA atual.
ENO disse que o HARMONIA era o “melhor grupo do mundo, entre 1973 e 1975”!!!!
Mas, duraram apenas 3 discos, nenhum sucesso de público, e terminaram!
Porém, juntaram-se por umas semanas, em 1976, para fazer “TRACKS AND TRACES”, por iniciativa de BRIAN ENO, que levou para a ALEMANHA um gravador de 4 pistas e o histórico sintetizador VCS3.
Gravaram tudo em fita cassete, e o produto final resultou em baixa qualidade técnica.
Os tapes se extraviaram!
E quase perdemos esse disco lindo, que mistura a crueza do ROCK ELETRÔNICO alemão à concepção melódica da AMBIENT MUSIC – que ENO já vinha desenvolvendo, e intensificou à partir dali.
Os tapes só foram localizados mais de vinte anos depois! Mas, a MAGIA DA TECNOLOGIA atual possibilitou recompor tudo, e utilizar faixas extras, também feitas durante onze dias de gravação e convivência entre os quatro músicos.
O produto está aí. E, para os mais curiosos, existe BOX com 7 CDS e tudo o que o HARMONIA gravou. Para mim, é overdose. Para muitos, um importante reconhecimento histórico!
Mas, tio SÉRGIO, e o BOWIE, como entrou nisso?
Perfeitamente:
Vou acrescentar o IGGY POP na equação, também!
BOWIE e ENO eram fãs e ouviam muito KRAUTROCK . Ambos gostavam do HARMONIA, do CLUSTER e do KRAFTWERK. Perceberam a importância da nova música que estava sendo feita na ALEMANHA, desde o início dos 1970.
Antes da fase BERLIM, os indícios de outra mudança na carreira de BOWIE já despontavam.
O LP “STATION TO STATION”, 1976, pode ser considerado o primeiro da fase eletrônica de BOWIE. A influência do KRAFTWERK é notória!
Em 1977, BOWIE produziu dois discos para IGGY POP, e excursionou com ele para promover os discos tocando teclados meio na penumbra dos palcos.
“THE IDIOT” é, também, claramente marcado pelo KRAUTROCK, e LUST FOR LIFE, mais pesado, segue por ali.
Logo depois da gravar com o HARMONIA, adivinhem o que ENO fez?
Encontrou-se com BOWIE e TONY VISCONTI em BERLIM e gravaram “LOW”. Metade é instrumental, KRAUTROCK eivado por AMBIENT MUSIC.
ENO participou intensamente dos três discos da TRILOGIA BERLIM, arranjando, compondo, etc. E consolidou sua marca e criação.
As produções foram de TONY VISCONTI, parceiro de DAVID desde sempre.
A bem da exatidão histórica, HEROES, 1977, foi gravado na FRANÇA. E a guitarra “icônica” é tocada por ROBERT FRIPP, do KING CRIMSON, outro fã das vanguardas musicais, e participante com ENO em discos criativos e ousados de música eletrônica.
LODGER, 1979, o último da trilogia, foi gravado em NOVA YORK. E a guitarra é de ADRIAN BELEW, muito próximo de FRIPP ao longo da vida, e integrantes de várias bandas que BOWIE montou.
Uma perspectiva histórica mais correta consideraria a TRILOGIA BERLIM uma “TETRALOGIA”.
E a isso tudo é bom parear as duas produções de BOWIE para IGGY POP. E tratar os discos instrumentais de ENO, por exemplo ANOTHER GREEN WORLD, como pioneiros daquela modernidade em ebulição.
E dou meu pitaco final: o HARMONIA “harmoniza” muito bem com isso tudo!
Tentem, vale a pena conhecer.
POSTAGEM ORIGINAL FEVEREIRO 2022
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ELETRONICA: MENTES – A INTRODUÇÃO AOS FEITOS DE UMA GÊNIO BRASILEIRA: JOCY DE OLIVEIRA. E INDIVIDUAL INDUSTRY : POP ELETRÔNICO BRASILEIRO DE VANGUARDA, ANOS 1990.

A memória trai e atrai; a frase é um possível simplismo e jogo de palavras. Mas dia desses assisti no CANAL CURTAS, um documentário muito interessante sobre a música eletrônica brasileira, abrangendo dos “CLÁSSICOS/ERUDITOS” ao meramente POP/ROCK. Uma recuperação da importância de um cenário nada marginal, mas apocalíptico e integrado simultaneamente, por assim dizer.
Assistir ao filme trouxe à memória o histórico das vanguardas musicais não convencionais do século XX. Gente como LUCIANO BERIO, KARLHEINZ STOCKHOUSEN, IANNIS XENAKIS, LUCAS FOZZ, JOHN CAGE, CLAUDIO SANTORO; e uma pletora de “exóticos” vinculados de alguma forma à música elétrica e eletrônica, ou seja: não identificados com a modernidade da música “CLÁSSICA” mais conhecida.
Por assim dizer, eles formavam a nova concorrência outsider dos grandes “CLÁSSICOS – vá lá, ERUDITOS MODERNOS” – , gênios como ARNOLD SCHOEMBERG ou STRAVINSKY; e muito além de DEBUSSY, RAVEL ou mesmo OLIVIER MESSIAEN. Todos esses, claro, acústicos. Gente ousada por meios de expressão ainda bem tradicionais.
Seriam?
E, neste enorme ESPAÇO/TEMPO abrangido pelas duas macrotendências destaca-se a participação de uma das maiores artistas e teóricas da música contemporânea: a criativa professora, grande pianista, poetisa, e compositora brasileira JOCY DE OLIVEIRA, ainda viva e influente aos 86/7/8 anos!!!! E que os deuses a preservem!
Não vou me estender. Porque a estatura de JOCY é de tal magnitude, que estou fascinado estudando o que me é compreensível de sua multifacetada obra. Voltarei especificamente à mestra, qualquer outro dia…
Mesmo assim, vão aqui uns “parangolés” sobre JOCY. Vou apenas fazer duas citações:
1) JOCY gravou cantando e tocando piano, em 1958, o primeiro LONG PLAY de MPB DE TRANSVANGUARDA da história: “A MÚSICA SÉCULO XX DE JOCY DE OLIVEIRA”. Eu arriscaria dizer que é a “ANTI-BOSSA NOVA”. Disco inimaginável pelo conteúdo musical sofisticado e as letras não convencionais; e sobre o qual pretendo abordar outro dia.
2) Ela é o grande nome brasileiro da música “ELETROACÚSTICA”, designação apropriadíssima a parte da vanguarda musical, que surgiu na década de 1940. JOCY é uma teórica complexa; artista MULTIMÍDIA, compositora de “digamos”, ÓPERAS – porque ela mesma discorda do termo” – e outras invenções.
A sua primeira composição nesta linha, “APAGUE O MEU SPOTLIGHT” foi encenada em 1961, e sacudiu o TEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO durante dez dias. Depois, viajou mundo afora.
A obra foi regida pessoalmente por LUCIANO BERIO, coautor com JOCY. No elenco, FERNANDA MONTENEGRO, FERNANDO TORRES, SÉRGIO BRITO e um “ENSEMBLE” criado para isso, tendo JOCY no piano. Foi a vulcânica introdução da nova música de vanguarda no BRASIL… JOCY é a grande inspiradora, no BRASIL, para o surgimento da CENA ELETRÔNICA no erudito e no POP!
Há uns dez anos, promovi um bota-fora seletivo e controlado de um monte de música eletrônica. Ter coisas demais excede ao controle possível; abre arestas e desperdícios. Mas, a parte ruim é que avaliações posteriores sempre trazem arrependimentos.
Naquela “razia” mandei para a cachoeira dos tempos, eletrônicos de vanguarda mais ligados à música pesada e dançável.
E por dois motivos:
Ganharam a concorrência contra sons mais intimistas; viraram “sal” na lista de produtos: baixo valor e “consumo inelástico”; ou seja, música superficial, que não vou escutar novamente.
Fiquei, portanto, com a vanguarda eletrônica mais cerebral; herdeiros do KRAUTROCK, anos 1970, e dos clássicos eletrônicos tipo STOCKHAUSEN, PIERRE HENRI, etc..; que são indutores de tendências dos anos 1980/1990: GÓTICOS, COLD-WAVE, NEW WAVE, ETHEREAL, DREAM POP, e o que se imaginar que possa trazer um pouco de melodias e criatividade ao POP.
ALEX TWIN, que hoje é dono da WAVE RECORDS, foi um dos visionários incrustado no underground paulistano. Eu o conheci quando era dono da a “MUSIC” – grafada em grego -, lá por 1994. Foi das primeiras lojas e distribuidoras a operar com a vanguarda eletrônica europeia. Fui lá por curiosidade; e acabei fascinado!
Ele e o sócio, ENÉAS NETO, as trouxeram para o Brasil em suas duas tendências: os “FRIOS”, e os “PESADOS” – e muitos dançáveis. ENÉAS produziu para a GRAVADORA ELDORADO, na década de 1990, coletâneas abrangendo as duas tendências eletrônicas.
E TWIN fez mais: entrou na tendência com seu projeto “INDIVIDUAL INDUSTRY”. Frequentemente, um trio com MAURÍCIO BONITO e as cantoras oscilantes – LILIAN VAZ e DANIELA ROCHA. Trabalharam com alma e garra na tendência internacional mais vanguardesca daquele tempo. Todos estão citados no filme, “ELETRONICA: MENTE”.
É bom constatar o pioneirismo da obra nos escaninhos geográficos onde habitamos. Eu gosto muito; tenho os discos e os manterei. Foram construídos, forjados em cima do fogo, na hora em que tudo acontecia. Estão em nível com a concorrência lá de fora.
Por isso, trago para vocês curtirem. É viagem no tempo para universos muito próximos.
É bom notar que essa mesma vanguarda que partiu da EUROPA, passou por JOCY, e desembocou na música eletrônica mundial, influenciou certos horrores contemporâneos que nos assolam.
As meninas e meninos do “PROTO DANCE GLÚTEO RETAL” não devem ter ideia de quem foi JOCY DE OLIVEIRA.
Quem sabe um dia aprendam.
TEXTO ORIGINAL: 09/02/2022
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