POSTAGEM ORIGINAL: 28/10/2019





Dia negro! Há 9 anos morreu JACK BRUCE.
Graças aos deuses, eu consegui vê-lo com sua BIG BLUES BAND juntamente com meus amigos Silvio Dean e Álvaro Soares Pinto Fernandes, aqui em São Paulo. Tenho o ingresso, mas esqueci de publicá-lo..
JACK já estava doente do câncer no fígado que veio a retirá-lo de cena – e de nossas vidas.
Mas permanecia em forma. Trouxe banda firme e talentosa – como sempre! – para acompanhá-lo. Cantou bem, sempre assessorado pelo guitarrista da banda, e percorreu o repertório vasto e imprescindível. Lá pelas tantas, JACK aumentou o som do baixo acima da média para marcar uma característica, e um dos pontos de discórdia com os que o acompanharam pelos palcos e a vida artística! É atitude agressiva demais…
Porém, a turma adorou! Havia na plateia fanáticos por ele! Dançaram, pularam e se manifestaram como fãs verdadeiros em face do ídolo.
Eu estava em uma frisa lateral ao palco. Deu para assistir legal! Passei o tempo todo mesmerizado pela figura de BRUCE – aliás, um personagem que a vida inteira assombrou a minha existência!. Durante o concerto, dei um “grito mudo e parado no ar”: “JOHN SIMON ASCHER BRUCE!!!!” – o impressivo nome de batismo dele. Claro, não consegui transgredir minha natural contenção!
Infelizmente!
Em minha opinião, além de cantor memorável e de voz algo “BLUESY”, na linha de RAY CHARLES e STEVE WINWOOD, JACK BRUCE foi o maior baixista da história do ROCK e ponto. Mesclava BACH a CHUCK BERRY! Foi do R&B ao JAZZ, à FUSION, ao HARD ROCK e, claro, ao BLUES.
JACK Testou vários tipos de vanguardas. Por aqui um disco feito com o percursionista KIP HANRAHAN e o pianista DON PULLEN, raro e bastante esquisito. E o clássico da vanguarda britânica dos anos 1970, “ESCALATOR OVER THE HILL”, com a pianista e arranjadora CARLA BLEY e um monte de craques, hoje impossível de serem reunidos! A curiosidade é que JACK BRUCE não toca no disco. Mas canta!!!! Porque também aí era diferenciado e inconfundível. Era um workaholic, irremediável e incontível…
Acho que BRUCE talvez só tenha perdido para a honorável CAROL KAYE, americana, e a baixista de estúdio perfeita!
Mas aí é covardia! TIA CAROL tem mais de 10.000 mil sessões de gravações comprovadas no currículo!!! Escreveu e gravou tutoriais para baixo e guitarra. É respeitada incondicionalmente em todos os recantos da música popular americana!
CAROL KAYE esteve em discos de SINATRA a RITCHIE VALENS ( em LA BAMBA, a guitarra identificável é dela!!!! ); prestou serviços dos BEACH BOYS aos ELECTRIC PRUNES; ensinou rudimentos para o baixista do KISS… ahhh, aquela entrada de baixo icônica em THESE BOOTS ARE MADEN FOR WALKING, de NANCY SINATRA, é a TIA CAROL desfilando estilo e classe!
Mas voltemos a JACK BRUCE, que excursionou a vida toda, e gravou muito. Esteve com todos os grandes de JOHN McLAUGHLIN ao baterista JOHN MARSHALL; passou por GRAHAN BOND e seu pioneirismo no R&B. inglês. Fez discos com LESLIE WEST (BRUCE & LAING ); KENJI SUZUKI – astro da guitarra japonês. E, também, com GARY MOORE, e GINGER BAKER (B.B.M), em uma retomada, nos anos 1990 da tradição do CREAM. Sem falar em ALLAN HOLDSWORTH e ROBIN TROWER e até BLUES SARACENO. Currículo e companhias que poucos – muito poucos! – se aproximaram!
JACK não se furtou a tocar, praticar, ousar com quase todos que cruzou, em 50 anos de carreira intensa e controvertida.
Esteve, também, com JOHN MAYALL, MANFRED MANN, MICK TAYLOR e outros do BEAT/R&B dos anos 1960 ao quê se imaginar – e até morrer!
Nem vou me aprofundar, mas não posso esquecer do CREAM, ou de sua relação com ERIC CLAPTON – que fugiu para fazer o BLIND FAITH, pois não aguentava mais JACK e GINGER BAKER – o maior baterista de ROCK que A Grã Bretanha nos legou – ambos brigando a tapas o tempo inteiro desde sempre e para sempre…
BRUCE E BAKER não se davam; mas reciprocamente se complementavam tocando; e se admiravam, como grandes músicos que foram. A mulher de BAKER gostava muito de BRUCE, e, sempre tentava dar um jeito para que ambos vez por outra tocassem juntos…
E assim foi; e daqui rumamos ao passado, para redescobrir ao longo do tempo obra difícil de apreender – e até encontrar pelaí. Parafraseando o nome de música dele, o que me restou foram “DESERTED CITIES OF THE HEART”….
JACK BRUCE foi direto para o céu, e sem escalas! Apesar do imenso sofrimento que as drogas lhe impingiram, e da loucura nem sempre tolerável de seu comportamento, que o tornaram um homem torturado, intenso; difícil. Ele é um grande artista ainda não totalmente mapeado e decifrado!
Preces, compaixão e lágrimas para JACK BRUCE, um pobre diabo como todos nós mortais; mas gênio sofrido que permanecerá à espreita!
POSTAGEM ORIGINAL: 25/10/2021





