SUN RA – THE HELIOCENTRIC WORLDS – 1965

Ao contrário do FREE JAZZ, de ORNETTE COLEMAN, onde a liberdade para improvisar era total, a proposta AVANT GARDE de SUN RA é uma construção/desconstrução ativa, mesmo que não-programada, de uma obra musical que requer disciplina, técnica e sensibilidade.

SUN RA é um arquiteto do caos sonoro inteligível. Ele intervinha nas gravações trocando músicos durante a execução dos trechos. Dava o tom, a ideia, e se não gostasse do som de um trombone, digamos, fazia o trompetista, por exemplo, executar aquela parte do jeito que quisesse.

Se RA concordasse, ia juntando, gravando tudo de acordo com a sua percepção e gosto.

SUN RA acrescentava ou retirava instrumentos, ideias, frases; e o resultado é uma colagem sonora com liberdade vigiada, livre ‘ma, non tropo”.

Fica estranho, mas é coeso e musicalmente instigante. A metáfora que me ocorre, é consertar o motor do avião em pleno voo…

SUN RA subverteu e rompeu a ideia inicial do FREE JAZZ, e está nas raízes da FUSION, e DO ROCK PROGRESSIVO; e é o precursor “AFRO-FUTURISMO” jazístico. SUN RA é espécie de compositor, arranjador, maestro maluco, que dirige sua orquestra ao sabor de si mesmo.

Diferentemente do FREE JAZZ, onde cada um tocava sua parte sem a censura de outros, nos discos dele o comandante supremo é SUN RA. Ele é o diretor de obras do caos. Não sabia onde queria chegar, mas chegava prospectando, caminhando, perscrutando, tocando, construindo, destruindo, mudando a música.

Depois de gravada, claro, restava a música composta: original, intuitiva, provavelmente não repetível, mas obra “organizada”, porque “petrificada” em disco.

Se o FREE JAZZ é obra coletiva, o AVANT – GARDE parece um produto individual: o conceito é do artista.

A história da música popular é um caminho tortuoso, desruptivo, e, ao mesmo tempo, previsível. Muita coisa díspar convive ao mesmo tempo.

Para muitos, o ápice da sofisticação na música popular foi a GRANDE CANÇÃO AMERICANA, de GERSHWIN, COLE PORTER…, na voz de ELLA, BILLIE, SINATRA, entre vários. E a BOSSA NOVA talvez tenha sido o último ato da grandeza musical “tradicional conservadora”. E tudo isto culminando no final dos anos 1950 do século passado!

No mesmo espaço/tempo, o R&B e o ROCK AND ROLL comiam solto feito por incontáveis grupos de DOO-WOP, ELVIS PRESLEY e contemporâneos.

E nem vou citar as experiências radicais na MÚSICA CLÁSSICA contemporânea – como a MÚSICA ELETROACÚSTICA – também em curso subvertendo o gosto tradicional, e acrescentando mais elementos de ruptura fundamental.

Talvez a década de 1950 tenha sido o período histórico onde ocorreram as mais significativas erupções e terremotos estéticos.

SUN RA não existiria sem este amplo painel, composto por contradições procurando sínteses e saltos à frente.

A entropia foi o FREE JAZZ, sucedido por uma quase-reorganização da vanguarda com o AVANT-GARDE. Ao mesmo tempo, vieram os BEATLES e os formatos tradicionais simplificados tomaram a cena novamente.

Até que…

ROBERT SMITH – THE CURE – AO VIVO EM SÃO PAULO, 03/12/23

ROBERTINHO! ROBERTINHO! ROBERTINHO! Gritavam milhares de pessoas, no final do espetacular e antológico CONCERTO dado por “THE CURE”, no FESTIVAL PRIMAVERA SOUNDS, no autódromo de INTERLAGOS, em São Paulo, ontem à noite!

O afetivo ROBERTINHO apelidado pela multidão foi em reconhecimento à performance longa, perfeita, e que fez valer cada centavo, minuto e diversão que ROBERT SMITH e BANDA entregaram ao público.

Foi pura emoção mesclada com profissionalismo e respeito aos que deles gostam. THE CURE nunca nega fogo, e jamais pratica estelionato contra o consumidor!

E quase todos gostam da banda, mundo afora, nesses 45 anos de criatividade e ROCK honesto.

A presente turnê mundial é sucesso retumbante. Eu assisti a alguns dos Shows; de Nova York, no CARNEGIE HALL; Chicago, Buenos Aires, Santiago, e etc… Exuberantes!

THE CURE vem, desde o início deste século, transitando do ROCK ALTERNATIVO para um híbrido mais pesado entre o GOTHIC e o que passou a ser chamado de “PROG ROCK”. O álbum WISH já apresenta isso.

Em 2012, entrou para o grupo REEVES GABRELS, excelente guitarrista que esteve com DAVID BOWIE no TIN MACHINE, craque em sutilezas e timbres. O som de GABRELS ressalta a sonoridade das guitarras de SMITH.

E, agora ao vivo, mais outro multi – instrumentista foi agregado, PERRY BAMONT. Ontem, em certos momentos do SHOW houve sinergia total entre três guitarras e o emblemático contrabaixo de SIMON GALLUP – que sempre dá a impressão de estar um “átimo” de segundo atrasado no andamento!

O excelente baterista, JASON COOPER é preciso, dinâmico e pleno de vitalidade.

E somado ao teclado, às guitarras e ao baixo compõe sonoridade original, mesmo sem perder as características históricas que os distinguem.

O resultado é um “ROCK PROGRESSIVO” “suis generis”, sofisticado, algo triste, mas viajante, e que envolve e acolhe o SHOW inteiro.

A parte instrumental deste renovado THE CURE está melhor do que sempre!

ROBERTINHO é um “case” de sucesso a ser estudado. Aos 64 anos, está cantando melhor ainda. Manteve a voz, o timbre e, pasme!!!, prescinde de BACKIN VOCALS, aguentando duas horas e meia de performance sem titubear ou desafinar! Disciplina é liberdade, escreveu RENATO RUSSO…

ROBERTINHO desfila aquele jeito de bebê chorão, resmungão, que o tornou ímpar e reconhecível com a eficiência inalterada!!!

As interpretações que faz em canções de amor são emocionantes, sinceras, sentidas, algo frágeis…E a gente percebe isso em PICTURE OF YOU, e mesmo em CHARLOTTE SOMETIMES…entre várias. São detalhes só perceptíveis em gente que realmente descobriu alguém para amar – e ser amado.

Ele e MARY POOLE, sua mulher, estão juntos desde a adolescência. E o clássico LOVESONG foi escrito para ela.

A canção tem 311 covers feitos por outros artistas! E está em mais de 50 trilhas sonoras de filmes!!! É uma das canções mais regravadas de todos os tempos!

O SET LIST do SHOW foi perfeito, adequado a cada momento. E as músicas mais pesadas, como A FOREST, ou depressivas como THE END SONG… sempre funcionam.

E da mesma forma que os HITS inevitáveis, BOYS DON’T CRY, THE WALK, IN BETWEEN DAYS, e incontáveis que tocaram…

A reconhecida proficiência da banda a gente comprova pelo número de gravações ao vivo: São 4 álbuns, e 5 VÍDEOS / DVDS!!!

A turma gosta e vai vê-los.

Ontem, os gritos de ROBERTINHO, quando o SHOW acabou, e ele ficou um bom tempo no palco agradecendo, revelaram o imenso afeto dos fãs.

É mais do que isso: ROBERTINHO é quase da família!

ED LINCOLN, O REI DOS BAILES

De uns tempos para cá, o conceito de “OLDIES” vem sido redefinido por revistas especializadas e colecionadores de discos.

Até recentemente, OLDIES englobava tudo produzido antes da década de1980, talvez. Mas, como a impermanência é característica suprema da existência; então, a vida muda e a “Pomba-Gira”…epa…

Hoje, o considerado OLDIES deslocou-se para um intervalo entre o surgimento do GRUNGE, mais ou menos 1990, recuando para os primórdios do ROCK PSICODÉLICO, aproximadamente 1965.

Dalí para trás, a nova nomenclatura é VINTAGE.

ED LINCOLN foi baixista, pianista e organista. Trabalhou nesse pré-sal da modernidade na música: início dos 1960 em diante.

Fazia o chamado EASY LISTENING, um “tutti-fruti” de SAMBA modernizado e diluído, BOSSA NOVA, gotas de JAZZ e outros ritmos, executados na sensação pop da época, o ÓRGÃO HAMMOND.

ED LINCOLN não esteve só. Seguiu o caminho de WALTER WANDERLEY – o nosso JIMMY SMITH -; e WALDIR CALMON, pianista POP famoso e com dezenas de discos gravados, que incorporou ao SET um instrumento chamado SOLOVOX – espécie de pré-sintetizador.

Essa turma, que no geral gravava sucessos e CLÁSSICOS DO POP da época, conhecia música e tocava bem. E, o que é mais difícil ainda: fazia todo mundo dançar!

ED LINCOLN animou a geração pré -1967, o ano em que fui ao meu primeiro bailinho para tentar descobrir o que as garotas escondiam. Os bailes eram uma espécie de ritual de iniciação.

Na minha adolescência o som já era outro. Mesmo que, simultaneamente a JOHNNY RIVERS, ainda se dançasse sob a batuta do maestro RAY CONNIFF, e das baladas de JOHNNY MATHIS, por exemplo.

Eram tempos mais “elegantes”. Quase todo mundo já havia descoberto que o sexo, aposta do capeta para desencaminhar os jovens, já “tinha sido inventado” muito antes…

Então, procurem saber do ED LINCOLN e aquela turma toda. Principalmente velhões como eu@ Nelson Rocha Dos SantosAntonio Molitor,e diversos vários por aqui. É nostalgia pura, mas são muito divertidos!

A MORTE DE JIM MORRISON – 03-07-1971

JIM MORRISON FOI UM DOS QUE INSPIRARAM EM MIM O INTERESSE PELO POP, PELA REBELIÃO POLÍTICA, E POR VIVER, INTELECTUALMENTE, DE MANEIRA INTENSA.

SOU OBSERVADOR DO REAL. MAS, SEM TALENTO PRA MILITÂNCIAS.

DOIS MOMENTOS TORNARAM-ME ADOLESCENTE: EM 1965, QUANDO ESCUTEI “MR . TAMBOURINE MAN”, COM THE BYRDS; E O INÍCIO DE 1967, QUANDO O RÁDIO TOCOU “LIGHT MY FIRE”! ACREDITEM: FORAM MEUS RITOS DE PASSAGEM!

JIM MORREU EM 1971. E EU “COMETI” ESTA COLAGEM EM 1977.

FOI O MEU PRIMEIRO QUADRO. É ARTISTICAMENTE RUIM, MAS CONCEITUALMENTE CORRETO: JIM APARECE EM MEIO AS SUAS DECLARAÇÕES E FRASES, EM FORMATO DE UMA EXPLOSÃO ATÔMICA, QUE SURGE DE UMA BANDEIRA AMERICANA DILASCERADA; E SOBRE UM MAPA AMERICANA RASGADA EM PEDAÇOS E LAVADA EM SANGUE.

É INGÊNUO E POPULISTA. MAS, AINDA HOJE REFLETE OPINIÕES E SENTIMENTOS SOBRE OS GRINGOS…

EU PRETENDI UMA VISÃO DO CONFLITO DE GERAÇÕES EM MEIO À GUERRA FRIA, E DURANTE A DITADURA BRASILEIRA.

JIM TINHA VOZ PORTENTOSA, DE UM BELO TIMBRE, E ALCANCE BARÍTONO.

MAS ERA CANTOR MEDÍOCRE. A RIGOR, SÓ CANTOU RAZOAVELMENTE NO PRIMEIRO LP, THE DOORS, 1967.

NOS RESTANTES, CAPENGOU. E VOLTOU A FAZER TALVEZ A SUA MELHOR GRAVAÇÃO NO ÚLTIMO ÁLBUM, L.A. WOMAN, 1971.

MAS, NINGUÉM LIGOU. O CARISMA NO PALCO E NA VIDA SEGURAVA SUAS PERFORMACES.

SEMPRE QUE VEJO, OU LEIO, ALGO SOBRE MORRISON EU FICO EMOCIONADO. POUCOS ÍDOLOS SIMBOLIZARAM TÃO BEM O QUE ERA SER JOVEM, EMOCIONALMENTE ENVOLVIDO COM O VIVER, COMPROMETIDO COM A MUDANÇA, E CONTRA O REACIONARISMO DA SOCIEDADE.

E TUDO SOB O PONTO DE VISTA DE UM INDIVÍDUO DONO DE SI, E INSTRUMENTO DE SUA PRÓPRIA RAZÃO E POLÍTICA.

A PERSPECTIVA DE JIM MORRISON ERA A DE UM ARTISTA, E NÃO A DE UM MILITANTE POLÍTICO.

EU MUDEI UM POUCO; ENVELHECI COM LUCIDEZ – ACHO. MAS, PERMANEÇO LIBERTÁRIO INCONDICIONAL. SAÚDO CRITICAMENTE A VIDA E OS INCONFORMISTAS QUE LUTAM PARA QUE ELA SEJA MELHOR, MENOS MEDÍOCRE E MAIS JUSTA!

E, RECORDO PEDACO DE FRASE EM UMA CANÇÃO DOS DOORS: “I WATCH THE RIVER FLOW”…

SUN RA – E A MÚSICA DE VANGUARDA EXPERIMENTAL

 MUITO ALÉM DE “THE HELIOCENTRIC WORLDS! Tive paciência e consegui mais ou menos saber quantos discos gravou SUN RA e sua ARKESTRA: foram 136. Quer em bom português? Contei cento e trinta e seis discos!

Entre os mitos que o cercam está o de ter criado a própria gravadora, “EL SATURN RECORDS”, prá lá de singular. E quase-famosa por ter feito LPS sem grandes sofisticações gráficas, mas artisticamente instigantes e muito difíceis de serem encontrados pelaí!

SUN RA foi um dos primeiros independentes.

Colecionador sortudo e destemido será quem achar algum daqueles discos. São raros e preciosos!

Quem se interessar pelo “MAGO” deve, também, dar uma olhada na produção do cara por outras gravadoras, como a também cult ESP, e a IMPULSE.

Mas, pode ir direto para as reedições em CDS, da suíça EVIDENCE MUSIC, que vem mapeando a carreira do cara com zelo e respeito.

SUN RÁ era de ecletismo total! Mas, à sua maneira peculiar e subversiva. Teve carreira longa e impressionante.

Começou na década de 1940, e trabalhou compulsivamente por mais de 50 anos! Era superdotado e workholic como JOHN MAYALL ou MILES DAVIS.

Acompanhou grupos de DOO-WOP; gravou BE-BOP; deu canjas várias na transição da música negra dos anos 1940 ao R&B em voga.

Envolveu-se com todo tipo de JAZZ, do RAG ao ROCK; gravou BLUES; meteu o criativo bedelho em mil coisinhas excêntricas e esotéricas.

DIZZY GILLESPIE e THELONIOUS MONK eram fãs se SUN RÁ.

Em 1956 gravou, inclusive, com um “esperma ensandecido” (PORRA-LOCA, para os menos recatados) chamado “YOCHANAN, A SPACE AGE VOCALIST”… um híbrido de cantor de R&B, Proto-RAPPER, ou simplesmente um preto maluco! Tudo isso está no CD duplo “SINGLES”, aqui na postagem!!!!

SUN RA propôs e conseguiu um jeito novo de “re-rever” a música de formas diferentes e nunca feitas! Era criativo, insistente e desbravador. Usou teclados eletrônicos ainda nos anos 1950; abusou de sintetizadores e tudo o que fosse ligado às vanguardas musicais esvoaçantes, ou que o ligasse às coisas cósmicas, míticas, místicas, ou simplesmente fora do eixo… e antes que o PINK FLOYD pensasse nisso…

SUN RA era uma METAMORFOSE GALOPANTE, foi um dos criadores do AFRO-JAZZ.

Ao contrário do FREE JAZZ, de ORNETTE COLEMAN, onde a liberdade para improvisar era total, a proposta AVANT GARDE de SUN RA é uma construção/desconstrução ativa, mesmo que não-programada, de uma obra musical que requer disciplina, técnica e sensibilidade.

SUN RA é um arquiteto do caos sonoro inteligível. Intervinha nas gravações, trocando músicos durante a execução dos trechos. Dava o tom, a ideia; e se não gostasse do som de um trombone, digamos, fazia o trompetista, por exemplo, executar aquela parte do jeito que quisesse. E, se RA concordasse, ia juntando, gravando tudo de acordo com a sua percepção e gosto.

SUN RA acrescentava ou retirava instrumentos, ideias, frases; e o resultado é uma colagem sonora com liberdade vigiada, livre ‘ma, non tropo”. Fica estranho, mas é coeso e musicalmente instigante. A metáfora que me ocorre, é consertar o motor do avião em pleno voo…

Ele rompeu e subverteu a ideia inicial do FREE JAZZ, e está nas raízes da FUSION, DO ROCK PROGRESSIVO, e é precursor do “AFRO-FUTURISMO” jazístico. SUN RA é um compositor, arranjador, maestro maluco, que dirige sua orquestra ao sabor de si mesmo.

Diferentemente do FREE JAZZ, onde cada um tocava sua parte sem a censura de outros; nos discos dele o comandante supremo é SUN RA. Ele é o diretor de obras do caos. Não sabia onde queria chegar, mas chegava prospectando, caminhando, perscrutando, tocando, construindo, destruindo, mudando a música…

Depois de gravada, claro, restava a obra composta: original, intuitiva, provavelmente não repetível, mas “organizada”, porque “petrificada” em disco.

Se o FREE JAZZ é obra coletiva, o AVANT – GARDE parece, em geral, produto individual: o conceito é do artista.

A história da música popular é um caminho tortuoso, desruptivo, e, ao mesmo tempo, previsível. Muita coisa díspar convive ao mesmo tempo.

Para muitos, o ápice da sofisticação na música popular foi a GRANDE CANÇÃO AMERICANA, de GERSHWIN, COLE PORTER…; e na voz de ELLA, BILLIE, SINATRA, entre vários.

A BOSSA NOVA talvez tenha sido o último ato da grandeza musical “tradicional conservadora”. E, tudo isto, culminando no final dos anos 1950 do século passado!

No mesmo espaço/tempo, o R&B e o ROCK AND ROLL comiam solto com incontáveis grupos de DOO-WOP, ELVIS PRESLEY e contemporâneos.

Além das experiências radicais na MÚSICA CLÁSSICA contemporânea, a ELETROACÚSTICA, por exemplo; à época estavam em curso subvertendo o gosto tradicional, e acrescentando elementos de ruptura.

No BRASIL, em 1959, a compositora JOCY DE OLIVEIRA, contestara sarcasticamente a BOSSA NOVA, em seu LP.

Mas, em 1961, executou no TEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO a primeira obra de música ELETROACÚSTICA do BRASIL. JOCY esteve e está além de seu tempo…

Talvez a transição entre a década de 1950 e a de 1960 tenha sido o período histórico onde ocorreram as mais significativas erupções e terremotos estéticos.

SUN RA não existiria sem esse amplo painel, composto por contradições procurando sínteses, e de saltos à frente. A entropia foi o FREE JAZZ, sucedido por uma quase-reorganização da vanguarda com o AVANT-GARDE.

Ao mesmo tempo, vieram os Beatles e os formatos tradicionais simplificados tomaram a cena novamente.

Até que…

SUN RA morreu aos 79 anos, em 1993, mas sua ARKESTRA continuou sob a direção, talvez até hoje, do saxofonista MARSHALL ALLEN, que já a trouxe ao Brasil.

Quando eu morrer, vou-me embora pra SATURNO, de onde SUN RA disse que veio. Porque lá sou amigo do Rei…

RASCALS – ECLÉTICOS SELETIVOS

OTIS REDDING: “NÃO ACREDITEI QUE FOSSEM BRANCOS! ENTREI NO ESTÚDIO PARA CONFIRMAR”. EZEQUIEL NEVES EM RESENHA CRÍTICA EM 1971: “ESSES CARAS NÃO SABEM O QUE QUEREM FAZER: SE SÃO R&B, PSICODÉLICOS, BEAT, SEI LÁ. ..”

E TIO SÉRGIO, ETERNO FÃ: “É POR ISSO QUE ADORO A BANDA. FIZERAM DE TUDO COM EXTREMA QUALIDADE”.

THE YOUNG RASCALS, POR VOLTA DE 1967 SIMPLIFICARAM O NOME PARA RASCALS, E GRAVARAM OITO LPS, DEZENAS DE SINGLES, E FORAM SUCESSO ABSOLUTO ENTRE 1966 E 1970!

A CARREIRA DUROU OITO ANOS E MARCOU O POP. ESTÃO CONSAGRADOS NO “ROCK AND ROLL HALL OF FAME”.

ERAM DE NOVA YORK. TRÊS DESCENDENTES DE ITALIANOS O CANTOR E ORGANISTA FELIX CAVALIERI; DINO DANELLI, BATERISTA, E EDDIE BRIGATTI, CANTOR.

E GENE CORNISH, DESCENDENTE DE IRLANDESES, TOCAVA E GUITARRA.

ELES FORAM OS PIONEIROS DO CHAMADO BLUE EYES SOUL, COMO O “SIMPLY RED” E “DARYL HALL & JOHN OATES”, ENTRE TANTOS…

FELIX CAVALIERE CONTINUA CANTOR TÃO BOM E IDENTIFICÁVEL QUANTO ANTES. PROCUREM OS DOIS DISCOS RELATIVAMENTE RECENTES GRAVADOS COM O LENDÁRIO STEVE CROPPER – UM “GUITARRISTA DOS GUITARRISTAS”.

FELIX CONTINUA REFERÊNCIA DA FUSION R&B/ROCK/ E ALGUM JAZZ. FAZ MÚSICA POPULAR DE QUALIDADE!

VÂNIA BASTOS – VOZ DE LUZ E CRISTAL

A primeira vez que a escutei VÂNIA fazia backing vocal na BANDA SABOR DE VENENO, de ARRIGO BARNABÉ, em tumultuado festival no final de 1979 / início dos anos 1980. Foi televisionado.

E “SABOR DE VENENO” foi tão vaiado quanto SABIÁ, de CHICO BUARQUE e TOM JOBIM, no FESTIVAL DA CANÇÃO, em 1967, acho – aquele onde GERALDO VANDRÉ ficou em segundo lugar com “PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE FLORES “.

Os motivos das vaias foram muito diferentes: CHICO e TOM concorreram com música totalmente fora do clima político da época, pleno de mudanças e radicalismos.

ARRIGO, ao contrário , estava na absoluta VANGUARDA MUSICAL: quebra de ritmos e andamentos, arranjo anárquico e atonal, letra fora do comum, e tudo o mais que macacos como eu adoraram! Mas, a média da plateia obviamente, não!

VÂNIA se destacava. Voz cristalina tinindo agudos com técnica e alguma anarquia. Contestatária e irônica, numa apresentação cheia de sarcasmos.

Corte.

VÂNIA foi por outra vertente em sua carreira. Sempre moderna, jamais abdicou de seu inigualável talento!

A VOZ DE CRISTAL E LUZES, sua dicção perfeita e a capacidade vocal de ir ao extremo agudo sem jamais perder a afinação.

Além das interpretações sublimes que faz ao transitar por toda a riqueza da nossa MPB.

VÂNIA BASTOS grava pouco. Talvez porque escolhe e refina repertório à altura de sua capacidade de cantar. Um disco a cada três anos, em média.

Vai de JOSÉ MIGUEL WISNIK e MILTON NASCIMENTO, a DOMINGUINHOS e RITA LEE. Flertou, inclusive, com versões de COLE PORTER.

E tudo perfeitamente colocado, estudado; para que a emoção interponha-se, mas sem macular a técnica. VANIA BASTOS é “quente” e cristalina. E seus arranjadores e acompanhantes trabalham em função do melhor realce possível para seu estilo e talento.

VÂNIA BASTOS é a minha cantora brasileira favorita.

À parte o “certo quê” no ver o mundo, que gente como eu Rodrigo Marques Nogueira, e a turma que passou pela FFLCH da USP sempre identificamos uns nos outros.

Sua discografia é composta por 11 discos (será que você gravou algum outro que eu não tenha? )e 1 DVD, até agora. Infelizmente eu não consegui ainda o CLARA CROCODILO, do ARRIGO…

Eu os acho gravações imperdíveis e colecionáveis. Todos eles! E são por questões de mercado mais baratos do que mereceriam.

Escrevi essa postagem ouvindo BELAS E FERAS, DE 1999.

VÂNIA faz, eu suponho, um resumo de sua percepção de ser mulher através de músicas de outras autoras. É muito bom!

Ouçam a VÂNIA, minha quase contemporânea nas CIÊNCIAS SOCIAIS da USP – só que em outro campus. Ela enriquece a alma!

PINK FLOYD – THE PIPER AT THE GATES OF DAWN – E SINGLES -1967/1968

DIGAM O QUE DISSEREM, AQUI ESTÃO OS DISCOS SEMINAIS DA PSOCODELIA INGLESA.

NADA SE COMPARA!

ABSOLUTAMENTE RADICAL E NOVO. FOLK+EXPERIMENTAÇÃO EM ROCK PSICODÉLICO.

E HOUVE “ARNOLD LAYNE” E “SEE EMILY PLAY”, TAMBÉM COM SYD BARRET. DOIS SINGLES DEFINIDORES DO CHAMADO “ROCK ESPACIAL”, QUE ELES AMPLIARIAM À PARTIR DA METADE DO LP SEGUINTE: “A SAUCERFULL OF SECRETS”, DE 1968, MAS COM DAVID GILMOUR, NA GUITARRA.

O PINK FLOYD COM SYD BARRETT ERA OUTRO CONCEITO. HÁ QUEM NÃO GOSTE OU COMPREENDA. MAS, QUANDO OUVI O “SEE EMILY PLAY”, HOJE RARÍSSIMA EDIÇÃO DA FERMATA BRASILEIRA EM 1967, OUTRO MUNDO POSICIONOU-SE PARA MIM.

AS EDIÇÕES EM CD AQUI POSTADAS TAMBÉM SÃO LUXO PURO. ALGO DIFÍCEIS E PRECIOSAS.

SEMPRE HOUVE INTELIGÊNCIA VIVA NESSA BANDA IMPRESCINDÍVEL!

LASCAS DE MEMÓRIAS 2013: MUDAR DE APTO E A QUEBRA DA ESTABILIDADE

Interessante, em 2013 passei por mudanças radicais. Simplesmente eu e a Angela invertemos os pontos de estabilidade, nossas casas, e saímos de nosso apartamento grandão nos Jardins, para outro menor na Rua Oriçanga, perto da Praça da Árvore, também em São Paulo.

E, ao mesmo tempo, fomos para um apto maior ainda no Guarujá. Mudar é semelhante a demolir uma parede: você não imagina o quanto de “entulho” tem de remover.

Casa arrumada, com tudo no lugar, é uma coisa. Abrir os armários e começar a encaixotar dá desespero. É a desorganização de uma história de vida.

E fazer isto com 61 anos de idade, e em dezembro, é pior ainda, já que o natal nos remete à estabilidade emocional – principalmente.

Ficamos contentes e felizes pela ousadia mas, de qualquer maneira, nos sentimos talvez como dois sem-teto: desalojados, mesmo que momentaneamente.

O substrato de espiritualidade pela aproximação do natal permaneceu. Mesmo que, hipocritamente, soubéssemos que o vício do consumo é homenagem à virtude de pensar no próximo e talvez em Deus…

Nossa vida mudou bastante. Cinco anos depois, deixamos definitivamente São Paulo. E nos instalamos “definitivamente” no Guarujá.

Eu adoro advérbios. Principalmente quando intuo que a palavra definitivo não expressa conceito que se aplique automaticamente a nós dois.

THE TBM SOUNDS – COLETÂNEA EM ULTRA HD

Paciência, perfeccionismo e gosto apurado ao extremo tem TAKESHI TEE FUJI, o criador da gravadora THREE BLIND MICES , a cult, cara e espetacular TBM. Um caldeirão dos feiticeiros da técnica de alguns dos mais perfeitos discos já gravados ou transcritos!

TEE, como gosta de ser chamado, fundou a gravadora em 1970, na expectativa de gravar e produzir JAZZ, no Japão, com artistas talentosos e desconhecidos.

Fez; não ganhou dinheiro, mas desenvolveu técnica de equalização do que foi gravado de que, quando transcrita, a música não perdia “nada” do que estava contido no master original. Um prodígio!

Eu sei de alguns discos por eles produzidos. Consegui esta coletânea com gravações a maioria realizada entre 1973 e 1977. São vários artistas sensacionais, com catálogo bem recheado, e até cantora fazendo clássicos eternos do JAZZ.

A qualidade é divinamente indescritível! Mais de 43 anos de ultra fidelidade exposta.

A produção gráfica e a edição da JVC japonesa são, também, de primor tangível.

Certa vez, ouvi outro disco desta série em uma loja de equipamentos de som. A MÚSICA literalmente invadia o cérebro vinda de algum lugar entre o teto e as caixas! Subia e descia pelas paredes!

Dá medo tentar descrever o que havia lá e o que postei aqui.

Eu falo de gravações com mais de 40 anos, captadas e trabalhadas no estado da arte! Desconfio que não seriam superadas pelas técnicas atuais de nossos amiguinhos de olhos puxados.