MÚSICAS E DISCOS PARA AQUECER O INVERNO. PENSANDO MELHOR, SÓ PARA CURTIR NO FRIO…

A memória profunda não se prospecta com sondas, furando para ver se jorra conteúdos encobertos. É preciso escavar com pás, cuidadosamente, camada por camada, revolvendo entulhos e preservando fragmentos.
Vez por outra, dou de cara com pepitas, ou coleções autônomas de possíveis preciosidades, que pedem observação minuciosa.
É imprescindível fazer espécie de arqueologia da própria alma: reconstruir o passado de si mesmo; juntar os cacos significativos, e os significantes para outras escavações. Depois, tentar extrair sentidos – talvez efêmeros…
É também necessário esquecer convicções. Falando claro, já venho deixando de lado as minhas no processo de viver. Meu modo preferido de expressão é a escrita sobre as músicas que escuto e gosto. Tento deslindar o aproveitável para mim, e talvez para outros.
Dias mais frios trazem à memória certos discos e sensações que, penso, expressam suposta profundidade. E aqui estão alguns, e em vários deles apenas certas músicas. Foram escavados com pás, cuidadosamente, ao longo do tempo. Vou repassar as pepitas a vocês.
Mas, “nonada”, é tudo impressão pessoal:
1) LOVE, “Forever Changes”, 1967. Lindo e triste, mesmo quando evoca um certo SUNSHINE POP da época. Tenham e ouçam inteiro. Mas, repitam “ad infinitum” “ALONE AGAIN OR”.
2) STEVE MILLER BAND, “Recall the Begining… a Jorney from Eden”, lançado em 1972. É considerado disco menor da banda – mas eu não acho! Ouçam “Nothing Lasts” e “Journey from Eden”. Retrogosto de nostalgia, e frio na alma.
3) DAVID CROSBY, “If I Could Only Remember My Name”, 1972. Disco lindo, triste, sinuoso e sofisticado. CROSBY é personagem enfurnado em si mesmo, desde quando perdeu a namorada em acidente de trânsito no preciso dia em que o clássico DJAVU, do CROSBY, STILLS, NASH & YOUNG, 1971, chegou ao primeiro lugar na parada americana! Lúgubre.
4) PAT METHENY GROUP, “American Garage”, de 1979. É maravilhoso, preciso, e “falso-radiante”! O resquício de tristeza decorre da produção “nórdica” de MANFRED EICHER, na gravadora ECM. É álbum imperdível. Ah, a opinião sobre temperaturas e humores é absolutamente pessoal do TIO SÉRGIO aqui!
5) GENE CLARK, em quaisquer de suas excelentes gravações. Aqui, nas 60 faixas da portentosa coletânea tripla “COLLECTED”, de 2021. CLARK sempre dá pena e compaixão quando canta! Era criatura tão desolada que sempre dizia estar indo ao encontro de GRAM PARSONS, um dos precursores do COUNTRY ROCK, que estevem com os BYRDS, e era seu amigo. Ele morreu de overdose…
Há música de CLARK na obra dos ingleses do THIS MORTAL COIL – gente alegre como o velório do melhor amigo…
6) LOU REED… Ora!!!??? É preciso explicar? Ouçam a “solar” “Perfect Day”, no álbum TRANSFORMER, de 1972. Deixa qualquer um em lágrimas…
7) JONI MITCHELL, “The Hissing of Summer Lawns”, saiu em 1975. Para mim, é o melhor entre os memoráveis discos que sempre fez!!! Pois, bem: JONI é a grande dama da carência afetiva; mestra em discutir a relação; poetisa de imagens precisas, delicadas; como as pinturas que faz. E, sempre, a voz doce e bem postada nas melodias soberbas que compõe.
JONI é canadense. E lá, calorosas somente lareiras e eventuais fogueiras. Ou, quem sabe, o abraço de urso polar… Para terminar, ela teve poliomielite perto dos 50 anos de idade…Infeliz!
😎 STRAWBERRY ALARM CLOCK, “Anthology”, 1971. Banda psicodélica americana de algum sucesso nos 1960. Normalmente são “alto astral”. Porém, contudo, todavia, procurem e ouçam uma das mais belas canções do “SUNSHINE POP”, a melodicamente nostálgica e sofisticada “Pretty Song from Psyched – Out”. O vocal muito bem arranjado, para canção nada cálida e nada aconchegante. É ouro puro!
9) PEARLS BEFORE SWINE, “The Use of Ashes”, 1970. O líder do grupo, TOM RAPP, desativou a banda depois de sete álbuns e sumiu! Virou “Case Pop”. Dia incerto, foi reencontrado em um Fórum nos Estados Unidos pelo advogado da parte contrária, que o reconheceu, e divulgou o fato ao mundo.
TOM RAPP havia vencido um certo ROBERT ZIMMERMAN, em concurso de poesias, no início dos 1960. Anos depois, fundou o P.B.S e fez discos ótimos, cults e colecionáveis. Depois, pulou fora, foi estudar economia, e tornou-se advogado de direitos civis.
RAPP é musicalmente tão caloroso, que tem música incluída em repertório do já citado “THIS MORTAL COIL”. Procurem conhecê-lo.
Espero que vários discos aqueçam vocês neste inverno, e muitos outros subsequentes. E que tudo o mais vá para o inferno!
POSTAGEM ORIGINAL: 05/06/2022
Pode ser uma imagem de 1 pessoa

BLOW – UP – 1966 – O GRANDE FILME DE MICHELANGELO ANTONIONI E SUA TRILHA SONORA EMBLEMÁTICA.

ANTONIONI gostava de JAZZ CONTEMPORÂNEO, conhecia ALBERT AYLER, estudou economia política, e antes de se tornar cineasta fez críticas de filmes.
Nada mais “COOL” e relevante no mundo intelectual do ocidente, lá por 1960 e 1970, do que estudar e admitir o cinema como arte de inovação, renovação e até esclarecimento popular. Alguns o pensaram como aliado das revoluções políticas vindouras…
Tornar-se um cineasta foi glamour contemporâneo ao de ser publicitário ou “modelo”. No desenvolvimento do capitalismo contemporâneo, tornaram-se duas profissões imprescindíveis na comunicação de massa para a divulgação de produtos, ideias, serviços e as benesses do consumo.
Aqui estão os dois paradigmas que definirão os personagem centrais de BLOW-UP, título original do filme, vertido horrendamente para o português brasuca para “Depois daquele Beijo” : publicidade e moda.
BLOW-UP, em fotografia, hoje significa ZOOM! A aproximação total em detalhes de uma imagem. O cerne do (talvez?) aparente mistério do filme.
Mas, o sub – tema principal relevante é outro: a mudança de costumes explodindo uma sociedade tradicional, que se atualiza em contraponto à caretice “imutável” aceita como característica da Inglaterra do pós-guerra. A Londres em meados dos anos 1960, mais pobre do que se pensaria, fervia quase indiscretamente em contestação aos valores, uso de drogas, sexo, indecisão moral e liberdades sem foco. Alienação, falta de habilidade no trato pessoal e hedonismo completavam o cardápio. Algo tipo um existencialismo errático e sem finalidade.
O personagem central, THOMAZ, interpretado por DAVID HEMMINGS, fotógrafo de moda assediado, disputado e bem remunerado, certo momento cisma em adquirir um antiquário apenas por comprá-lo. Desiste, porque no fundo tanto faz…
A trama de BLOW UP, baseado em um conto do escritor argentino JULIO CORTAZAR, cult na época, é conhecida por sua modernidade sem respostas; inconclusiva, nublada e DARK como a fria Inglaterra. Um enigma? Acho que não, porém…
Enfim, fotografando a esmo num parque THOMAZ flagra o que seria um assassinato. E aí entra em cena VANESSA REDGRAVE… Deixo para vocês verem como a trama se desenvolve. Talvez o mostrado não seja o que realmente aconteceu. Porém, como tudo no filme, também tanto faz…
Quem sabe seja possível definir o filme como “REALISMO ABSTRATO” – li por aí; e sei lá que isto significaria… No final, THOMAZ se mescla e se evapora na névoa onírica – existencial, que é o filme.
A trilha sonora é de HERBIE HANCOCK. Contratado por MICHELANGELO ANTONIONI, disse que ficou fascinado porque o diretor conhecia JAZZ MODERNO e de VANGUARDA.
Então, montou banda para fazer a TRILHA SONORA com a elite da modernidade americana daqueles tempos: FREDDIE HUBBARD, PHIL WOODS, JOE HENDERSON, PAUL GRIFFIN, JIM HALL, RON CARTER, JACK DEJOHNETTE e, claro, ele HANCOCK. Vejam por aí o que cada um toca. Foi tudo gravado em Nova York, em 1966.
Boa música, obviamente!
É interessante ouvir como HANCOCK fez tudo soar à “VERVE RECORDS”, com sotaque à “BLUE NOTE”. Se isto é possível – ou se entendi corretamente ao escutar… Há evidente inspiração em JIMMY SMITH e seu FUNK-JAZZ para cenas cruciais. Alguém disse que fotografar moda combina com o som dele. E a turma do ROCK ouvia JAZZ DANÇANTE…Portanto, bingo!
O momento mais agitado do filme foi gravado em um simulacro cênico do “RICKY-TIKY”, club de rock londrino. A cult e seminal participação dos YARDBIRDS, com JIMMY PAGE e JEFF BECK, nas guitarras, em rompimento total do clima do filme, é onde a SWINGING LONDON se expressa musicalmente, com sua irreverência, falta de limites e rebelião sonora.
A guitarra que JEFF BECK quebra agredindo um amplificador foi construída em papelão. Caos no palco e a plateia quieta, inexplicavelmente atônita, o contrário do que geralmente acontecia…
Mas, quem deveria ter feito a cena seria STEVE HOWE, do YES, à época guitarrista do sofrível TOMORROW, que também está na trilha sonora…
Para sorte de todos, e a eficácia do filme, nem THE WHO – também sondado para a cena – teria expressado melhor o que foram aqueles tempos.
TIO SÉRGIO acha culturalmente imprescindível assistir ao filme. E, se possível, conseguir a trilha sonora. As fotos da postagem refletem o que você verá!
Recomendo com entusiasmo!
POSTAGEM ORIGINAL: 06/06/2020
Nenhuma descrição de foto disponível.

OREGON – THE MOON AND MIND – VANGUARD – 1979

“TIO SÉRGIO” NÃO CONHECIA O DISCO. PLENAMENTE JUSTIFICÁVEL EM VISTA DA IMENSA DISCOGRAFIA DA BANDA, E A DIFICULDADE PARA SE TER ACESSO; SÃO ARTEFATOS raros, ESCASSOS, E CAROS!
ESTE ÁLBUM É UM POUCO DIFERENTE DOS ANTERIORES EM ORGANIZAÇÃO. EM NENHUMA DAS FAIXA TOCAM OS QUATRO CONJUNTAMENTE – E TALVEZ PELA PRIMEIRA VEZ.
MAS, SERIA PARA REALÇAR A INDIVIDUALIDADE E O TALENTO ENORME, EXPRESSIVO, DE CADA UM DELES?
CERTAMENTE.
O GRANDE “RALPH TOWNER”, VIOLONISTA DE ALTO NÍVEL, AQUI TAMBÉM ESTRAÇALHA NO PIANO. E QUASE EQUIPARANDO-SE AO NOSSO “EGBERTO GISMONTI” – PARA QUEM RALPH PERDE, PORQUE NÃO SABE CANTAR…
AS MÚSICAS SÃO, COMO SEMPRE, INCLASSIFICÁVEIS. EXUBERANTES E BELAS; NO EXTREMO DO BOM GOSTO MELÓDICO, HARMÔNICO E RÍTMICO.
PARA TENTAR DEFINIR, “TIO SERGIO” PROPÕE QUE SEJAM “NÃO – JAZZ JAZZIFICADO”… HUMMMM! “NÃO – FOLK”; “BUCÓLICAS”, “CAMERÍSTICAS” E “NÃO – TRISTES”. VIAJANTES SEM SEREM “LOUNGE”; “PROGRESSIVAS” , MAS NÃO “ROCKS”. INTEGRADAS POR PROXIMIDADE À “WORLD MUSIC”… QUE TAL?
O “OREGON” TANGENCIA UMA ESPÉCIE DE “FUSION – NEW AGE”, MAS LONGE DE SIMPLISMOS E REDUÇÕES COMUNS NO SUB-GÊNERO.
O GRUPO EXISTE HÁ DÉCADAS. FOI CRIADO NA UNIVERSIDADE DO OREGON – SURPREEENDENTE, NÃO! – NOS “SIXTIES”. SÃO MÚSICOS DE FORMAÇÃO ACADÊMICA; GENTE ESTUDADA E CULTA.
“PAUL McCANDLESS” TOCA INSTRUMENTOS DE SOPRO NÃO METÁLICOS. É MUSICO ESPETACULAR! “GLEN MOORE” É BAIXISTA DE ALTA PERFORMANCE ARTÍSTICA. E “COLIN WALCOTT” É RITMISTA MÚLTIPLO. TAMBÉM TOCA SITAR E INSTRUMENTOS ORIENTAIS DE PERCUSSÃO. “COLIN” + O TROMPETISTA DE JAZZ, “DON CHERRY”, + O POLI-RITMISTA BRASILEIRO, “NANÁ VASCONCELOS”, FIZERAM DOIS ÁLBUNS EXPERIMENTAIS MEMORÁVEIS, NA DÉCADA DE 1980, PARA A GRAVADORA E.C.M: “CODONA 1 E 2”. MUITO CONHECIDOS!
O “OREGON” GRAVOU DIVERSOS PARA A “ECM RECORDS”! É BANDA CULT E ULTRA COLECIONÁVEL.
ELES E “EGBERTO GISMONTI” REPRESENTAM, NITIDAMENTE, A “IMAGEM SONORA” DA ” ECM”, PORQUE MEIO ESTRANHOS, NADA CONVENCIONAIS. MAS SE BEM OBSERVADOS, A GENTE PERCEBE DE ONDE VIERAM…
AHHH, E SÓ PRODUZEM MÚSICA DE ALTÍSSIMA QUALIDADE! E, SEMPRE, COM O TEMPERO E RETROGOSTO DO PRODUTOR E CRIADOR DO SELO, “MANFRED EICHER”.
“TIO SÉRGIO” NÃO TEM INVEJA DE NINGUÉM. MAS DE “MANFRED EICHER” EU TENHO! AH, SE TENHO! VAI SER COMPETENTE E PRODUTIVO ASSIM LÁ… NO MUNDÃO, NO UNIVERSO…. ESTÁ BEM?
ENTÃO, MERGULHE COM ESPÍRITO, E DE CABEÇA. “OREGON” É A TRADUÇÃO PERFEITA DESSAS DUAS POSSÍVEIS IMERSÕES!
POSTAGEM ORIGINAL: 04/06/2021
Nenhuma descrição de foto disponível.
Todas as reações:

Nelson Rocha Dos Santos, Paulo Ricardo e 1 outra pessoa

ARCHIE SHEPP, “FOUR FOR TRANE”, 1964 . DON CHERRY, SYMPHONY FOR IMPROVISERS, 1966.

TIO SÉRGIO GOSTA DELES, E OS COLECIONA. MAS HOJE NÃO OS PREFERE…
A  AUSÊNCIA DE MELODIA MAIS EXPLÍCITA E IDENTIFICÁVEL; DE SINTAXE HARMÔNICA MAIS ESTÁVEL; O EXCESSO DE IMPROVISAÇÕES, MUITAS VEZES COM INSTRUMENTOS E TIMBRES APARENTEMENTE “NÃO CONJUGÁVEIS”, ANDA DESORGANIZANDO A MINHA SENSIBILIDADE – GERALMENTE CURIOSA, OUSADA E VANGUARDISTA. QUALQUER HORA, TALVEZ A IMPLICÂNCIA SE DILUA. A VER!
POIS BEM, COMPREI OS CDS JÁ USADOS. E SOUBE QUE O ANTIGO DONO É ESCRITOR E USAVA O “FREE JAZZ”,  E ADJACÊNCIAS,  PARA INSPIRAR-SE. MAS SÃO PORTOS INÓSPITOS! MESMO QUE PROFUNDOS E ATRACÁVEIS.
O CARA TROCOU OS CDS POR “NIRVANA”, “PEARL JAM”, ‘GREEN DAY” E QUE TAIS: ROCK DE ENERGIA PURA; MAS FEITO POR MÚSICOS DE CÉREBROS MENOS ARGUTOS… PELO JEITO, O ESCRIBA TAMBÉM ENJOOU…
ENTÃO, ELES POUSARAM EM MINHA DISCOTECA. EU TOPEI E APLAUDO: PORQUE MUITO LEGAIS! NO ENTANTO, SÃO ARTEFATOS QUE TENDEM A FICAR ADORMECIDOS – JÁ QUE VÍRUS PERIGOSOS… E HORA QUALQUER, TALVEZ DESPERTEM E INVADAM O MEU SISTEMA.
AFINAL, TIO SÉRGIO NÃO ESTÁ IMUNIZADO, DEU UMA PAUSA, MAS CONTINUA INTERESSADO NO DIFÍCIL E DURO DE OUVIR.
E VOCÊ?
POSTAGEM ORIGINAL: 03/06/2019
Nenhuma descrição de foto disponível.

YARDBIRDS EM METÁSTASE, OS PROGRESSIVOS: RENAISSANCE, ILLUSION E ANNIE HASLAN SOLO

THE YARDBIRDS foi excelente banda dos “sixties”, contemporânea dos BEATLES, e principalmente dos ROLLING STONES, com quem compartilhavam um viés para o BLUES e o R&B.
Histórica e fundamental, lançou três ícones da guitarra: ERIC CLAPTON, JEFF BECK e JIMMY PAGE. Está nas bases do HEAVY METAL e do HARD ROCK, com PAGE e o LED ZEPPELIN. E menos verticalmente com o JEFF BECK GROUP.
Porém, é menos lembrado que esteve na gênese da PSICODELIA INGLESA, com várias gravações entre 1965 e 1967. E, mais importante, ajudou a consolidar o desenvolvimento do ROCK PROGRESSIVO, quando o baterista JIM McCARTHY e o vocalista KEITH RELF deram origem à primeira formação do RENAISSANCE, também consequência do mesmo espólio.
Quando os YARDBIRDS entraram em colapso, em 1968, McCARTHY e RELF experimentaram outros caminhos com JANY RELF, irmã de KEITH, cantora de estilo e voz mais lúgubre. E trouxeram o pianista JOHN HAWKEN e o baixista LOUIS CENNAMO. Aliás, a mesma base que retomou o PROGRESSIVO em 1977/1978, com o ILLUSION, na cola do sucesso feito pelo RENAISSANCE remodelado.
Voltando à história, o pulo do tigre, para a primeira versão do RENAISSANCE, foi a FUSÃO de FOLK INGLÊS e MÚSICA CLÁSSICA DE CÂMARA. Gravaram dois álbuns interessantes, embrionários: RENAISSANCE, 1970; e ILLUSION, 1971, em que o guitarrista MICHAEL DUNFORD, já participa.
Mas bem longe da experiência SOLAR, e de grande sucesso que o grupo totalmente modificado passou a viver à partir de PROLOGUE, 1972, com a icônica vocalista ANNIE HASLAN; o próprio DUNFORD, o tecladista JOHN TOUT; JOHN CAMP no contrabaixo, e o baterista TERRY SULLIVAN.
A ascensão do RENAISSANCE foi vertiginosa, com discos sempre melodiosos, bem produzidos, muitas vezes excessivamente melífluos, mas colecionáveis e inesquecíveis. ASHES AR BURNING, 1973; TURN OF THE CARDS, 1974; SCHEHERAZADE, 1975; LIVE AT CARNEGIE HALL, 1976; NOVELLA, 1977, são os que tenho e postei. Há outros.
Quem curte ROCK PROGRESSIVO SINFÔNICO não deixa de notar a inspiração que o RENAISSANCE buscou nos MOODY BLUES, por exemplo. E está, também, no vértice com a NEW AGE MUSIC, disseminada e autônoma décadas para cá.
ANNIE HASLAN sempre teve luz e carreira próprias. Inspirou KATE BUSH e ENYA. E é nítida a influência dela em FLORENCE & THE MACHINE e seu progressivo contemporâneo light. Deixou, inclusive, certo retrogosto em LANA DEL REY…
HASLAN gravou discos instigantes, como ANNIE IN THE WONDERLAND, produzido, em 1977, por ROY WOOD, seu ex-“namorido”; notório e CULT “maluco beleza”, e um dos criadores dos britânicos THE MOVE, e ELECTRIC LIGHT ORCHESTRA, na década de 1970.
Em 1989, ela gravou para a EPIC outro disco memorável, chamado simplesmente ANNIE HASLAN. A versão de “MOONLIGHT SHADOW”, original de MIKE OLDFIELD; e “THE ANGELS CRY”, com a participação de JUSTIN HAYWARD, dos MOODY BLUES, são deliciosas.
Vale relembrar mais outro artefato CULT e RARO: “UNDER THE BRAZILIAN SKY”, gravado em PETRÓPOLIS, na concha acústica do PALÁCIO IMPERIAL. Não sei precisar se é o mesmo que vi em edição PIRATA, com FLAVIO VENTURINI e BANDA. Mas, é, também, disco imperdível e colecionável.
ANNIE, pessoa carismática, aberta e simpática, e o RENAISSANCE, excursionaram no BRASIL não muito tempo atrás, com outra “banda discípula”: o CURVED AIR, de SONJA CHRISTINA – cantora mais na linha de … JANE RELF – nada SOLAR.
Os CDs na foto são da minha coleção. A maioria em edições japonesas. O RENAISSANCE é Imprescindível para compreender e gostar de algumas belas e sofisticadas tendências do ROCK na década de 1970: o PROGRESSIVO SINFÔNICO E SUAS ADJACÊNCIAS.
POSTAGEM ORIGINAL REVISTA DE 01/06/2022
Pode ser uma imagem de 2 pessoas e texto que diz "RENAISSANCE"

JANIS SIEGEL E FRED HERSCH – “ECLÉTICOS – SELETIVOS” OURIVES DA MÚSICA

Ela foi parte do excelente JAZZY/POP grupo vocal americano MANHATAN TRANSFER. Quatro cantores sofisticados e talentosos, capazes de elevar em nível máximo COLE PORTER, JONI MITCHELL, DJAVAN, SLY & THE FAMILY STONE, TOM JOBIM, e tantos outros. Eles sabiam cantar tudo! E os arranjos esfuziantes e moderníssimos não deixam quietos quem curte um som, ou quer dançar. Eles animam qualquer festa ou reunião entre amigos!
JANIS tem carreira solo tão virtuosa e versátil quanto em grupo. Vai muito bem com trios, quartetos e outras formações. E ajusta em estado da arte a sua voz expressiva e controlada, bela e quente, com o piano de FRED HERSCH.
Os discos aqui postados são todos recomendáveis. Relaxantes sem serem vulgares; e melódicos sem pieguices. Gravações de alto nível artístico e técnico – seguramente!
O meu predileto é “SLOW HOT WIND”, de 1989, em que SIEGEL & HERSCH dão à luz compositores modernos como JAMES TAYLOR, JULIA FORDHAN, JUDY COLLINS entre vários. Escolheram músicas e repertório pouco usuais. E muito interessantes, eu garanto.
Aliás, tenham o prazer em conhecer FRED HERSCH. É músico e artista de altíssima qualidade. Arranjador de bom gosto, capaz de realçar repertórios extensos e inusitados, dando-lhes tintura jazzística pessoal, imprescindível e adequada.
HERSCH tem sólida formação musical, e carreira como pianista tão cintilante quanto a de JANIS SIEGEL. Esteve com ART FARMER, JOE HENDERSON, LEE KONITZ, STAN GETZ e CHARLIE HADEN, só para citar alguns. E gravou intensamente tanto solo como em grupo. Ele recebeu um GRAMMY, e sua extraordinária versatilidade é aclamada pelo público, e também pela crítica.
Postei os discos que tenho de FRED; muito poucos – por enquanto: “PLAYS JOBIM”, 2009; “PLAYS RODGERS & HAMMERSTEIN”1996; “AT MAYBECK”, 1994; e o extraordinário “THE FRED HERSCH TRIO”, lançado em 1994, com repertório que vai de ORNETTE COLEMAN a HERBIE HANCOCK, passando por WAYNE SHORTER, MILES DAVIS, e reluzentes de igual nível.
FRED HERSCH gravou muito mais, é só procurar. E há pelo menos mais dois que me põem a babar para a LUA: “SILENT, LISTENING”, 2024, feito para a ECM RECORDS; e “SONGS FROM HOME”, 2020, onde há músicas de JONI MITCHELL, PAUL McCARTNEY, JIMMY WEBB e por aí vai… É considerado talvez o seu melhor álbum entre tantos irrepreensíveis…
FRED E JANIS são dois instigantes bálsamos nesses tempos vorazes e doentios.
Descubram e curtam! Valem a pena!
POSTAGEM REVISADA: 01/06/2024
Pode ser uma imagem de 1 pessoa e texto
Curtir

 

Comentar
Enviar

FRANGOS, UMA REFLEXÃO. E A TRILHA SONORA POSSÍVEL: CHICKEN SHACK, ATOMIC ROOSTER, E OS ROLLING STONES

Eu adoro! Assado, grelhado, cozido, a passarinho, numa bela canja, por aí… É bicho gordurento, mas tanto faz: humanos dão conta disso…
Pensando bem, que pobre bichinho! Há bilhões e bilhões deles espalhados pelo mundo. Valem nada; e crescem para os nossos prazeres e alimentação. Vivem sob nossos desígnios e poderes. São, metaforicamente, os chineses e os hindus, os africanos e os miseráveis do mundo… Custam barato.
O nascimento é uma sentença de morte: 60 e poucos dias e ponto. Sem história, e nem glória. São precários por necessidade e condicionamentos que o homem lhes impõem… Talvez sejam os maiores oprimidos do reino animal! São devastados e repostos continuamente…
Esses dias, comprei um peito para fazer canja. Não reparei, mas o bicho estava crescido: era um galo quando foi abatido. E se vingou de mim e minha panela de pressão: carne dura, e sem sabor…
Poucas vezes reclamei deles. Mas achei um descaso o bicho estar tão sem gosto. Então, eu o algoz do bicho, pensei comigo: nunca mais! Toda a vez em que for buscar o pobre galináceo vou dar uma geral, e ver se tem o tamanho máximo; e se tenro para o meu deleite.
Eu, você e o mundo somos cruéis com criatura tão útil e indefesa. Hoje, hipocritamente faço orações quando meu prato chega. E, quem sabe, ele reencarne homem ou bicho menos vulnerável.
Para se ter uma ideia do “quê” somos basta verificar a nossa posição na cadeia alimentar.
O resultado não é lisonjeiro.
Ah, fui buscar na coleção alguns discos e artistas que tenham relação com o nobre e supliciado bichinho, estão na foto:
CHICKEN SCHACK ( galinheiro ); ATOMIC ROOSTER (galo atômico), e os ROLLING STONES no clássico ‘LITTLE RED ROOSTER”, de Willie Dixon.
Có, có, có, cocoreco, có, có!!!!!!!!!
POSTAGEM REVISTA: 31/05/2025
Pode ser uma imagem de 9 pessoas e texto

QUEENS LOGIC – TRILHA SONORA – 1990 MÚSICAS LEGAIS E UMA PÉROLA ESCONDIDA

O FILME não é grande coisa. Foca em jovens nem tão jovens, de classe média bem média do BROOKLIN, em NOVA YORK.
Mostra suas pequenas aventuras e amores, a mediocridade esperada; a vida comum.
Vez por outra, passa nas TVS.
A TRILHA SONORA é, digamos, sociologicamente interessante. Mistura SOUL, com MARVIN GAYE, EMOTIONS e DELPHONICS. Estão lá, R&B e “DISCO”, sucessos de EARTH WIND AND FIRE, SLY & FAMILY STONE, EDDIE MONEY, WILD CHERRY, CHERYLL LYNN. E o toque fino do bolo: VAN MORRISON e sua absoluta distinção artística.
Não faltam ROCKS presentes com ARGENT, CHEAP TRICK e MOTT THE HOOPLE.
Tudo bem legal, dançável e emblemático. Era o que a turma ouvia em rádios, e dançava em clubes e bailes; o som POP do meio pro final da década de 1970, início dos 1980.
Nem tudo aqui é bem gravado, mas é gostoso de ouvir. Animado sem ser esfuziante.
Porém, há um grande sucesso inesperado: “FOOLED AROUND AND FELL IN LOVE”. A composição e gravação original é de ELVIN BISHOP, excelente guitarrista, que participou do lendário PAUL BUTTERFIELD BLUES BAND.
Quando foi completar seu sétimo disco solo, STRUTTIN´MY STUFF, 1975, o produtor de nome impronunciável, BILL SZYMCYZK , percebeu que tinha espaço para mais outra faixa.
Revira daqui, busca ali, e BISHOP sugeriu essa música, muito longe do estilo e repertório que ele fazia.
Porém, “FOOLED AROUND AND FELL IN LOVE” é um grande e marcante POP/ SLOW DANCE; delicioso, jovial, com um quê de macho pegador; e o final inevitável, quando o “mocinho” cai de quatro por uma … “presa”. A letra combina com a música.
Mas, ainda havia mais um problema: para ele cantar não dava. Sua voz é algo BLUESY/INSOSSA e inadequada. E ficou para um dos membros da banda, MICKEY THOMAZ – bom cantor que, depois, substituiu com sucesso MARTY BALIN, no STARSHIP. E assim, BISHOP obteve o maior HIT de sua carreira bem construída e ainda ativa.
O curioso é que a trilha abre com “FOOLED AROUND AND FELL IN LOVE”, em versão feita pelo obscuro HENRY LEE SUMMER, mas com JOE WALSH , na guitarra. Só! Diferencial berrante!
E, se você bobear, acaba confundindo com a original tal a proximidade entre os vocais e o arranjo! “É igual, mas é diferente”, hum…. epistemologicamente definindo…
Há outras versões. ROD STEWART fez uma AO VIVO, adequadamente boa, dentro daquele estilo dele, que combina falta de capricho com despretensão. E a cantora COUNTRY / POP MIRANDA LAMBERT também gravou, e pôs seu pitaco… sei lá…
Eu adoro ouvir esse POP extraordinário, um clássico nas FMS americanas de OLDIES. E sigam o conselho de ELVIN BISHOP: cuidado para não pular a cerca e se apaixonar..
POSTAGEM ORIGINAL: 29/05/2022
Pode ser uma imagem de 6 pessoas

ELTON DEAN – DOIS MOMENTOS DO JAZZ INGLÊS DE VANGUARDA, ANOS 1970 / 1980

TIO SÉRGIO está envelhecendo, e continua resguardando.
Uso máscaras, tenho antitérmicos e caixas de “Parabucetamol”, oooopppsss. Tudo pra fugir do COVID 19.
Agora, estou à espreita da VARÍOLA DO MACACO. Mas já estou vacinado (contra o MACACO, não, pô…).
Só falta a antirrábica, pra aguentar a vida e a política.
Porém, uns anos 40 anos atrás, TIO SÉRGIO esteve todo pimpão com a patroa no “TEATRO CULTURA ARTÍSTICA, em SÃO PAULO, que passou por incêndio destruidor, e lá assistimos a um show do mito inglês do SAX, ELTON DEAN, e sua banda de craques! O ticket do ingresso está na foto.
Detalhes marcam a memória: ELTON subiu no palco com chinelos tipo havaianas, em quente noite de março. Foi em 1986.
Na banda, o incrível e complexo BATERISTA, JOHN MARSHALL, exposto fielmente por Fernando Naporano, em artigo na FOLHA de SÃO PAULO, como a “MÁQUINA PERCUSSIVA”. Ele é, mesmo, um espetáculo, e mostrou os porquês!
Meninos, meninas e intervalos de orientação sexual entre um polo e outro: esteve por aqui a VANGUARDA JAZZÍSTICA INGLESA daquele momento! EMPOLGANTES e ANTI-ÓBVIOS deram aula sem monotonia. Sensacional!
Aqui, estão exemplos da arte incrustada em discos por ELTON DEAN. Experimentos PÓS-FREE JAZZ, mas com suas tradições e cacoetes:
O quarto álbum do SOFT MACHINE, de 1971. E outro de seus filhotes, o quarteto composto pelo baixista HUGH HOPPER; ELTON DEAN; o pianista de vanguarda KEITH TIPPETT; e o baterista JOE GALLIVAN, em “CRUEL BUT FAIR”.
Ambos discos recomendáveis de montão para a turma que transita pelas aerovias siderais da FUSION RADICAL.
Aos que assistiram ao filme-biografia do “REGINALDO” DWIGHT, também conhecido por ELTON JOHN, vou esclarecer: seu nome artístico é homenagem ao xará ELTON DEAN, de quem é fã e com ele tocou. E o JOHN é referência ao “BLUESMAN” inglês LONG JOHN BALDRY, e não ao BEATLE “LENNON”, como foi insinuado.
Referências refinadas, heim pessoal?
Então, mergulhem de cabeça na obra de ELTON DEAN! O arrependimento vai matar quem não fizer…
POSTAGEM ORIGINAL: 30/05/2020
Nenhuma descrição de foto disponível.

LORD SUTCH – ENTRE O ENIGMA E O CULT COLECIONÁVEL!

MAL SEI POR ONDE COMEÇAR.
ENTÃO, VOU PELO CAMINHO ESCORREGADIO PERCORRIDO POR FARSANTES, OPORTUNISTAS OU SIMPLESMENTE PERSONAGENS ESQUISITOS, IMPROVÁVEIS E CLAUDICANTES QUE LOTAM AS VEREDAS DO SHOW BUSINESS.
EM MEUS “ALFARRÁBIOS” ENCONTREI UMA ENTREVISTA DO REFINADO PRODUTOR CHRIS THOMAZ (PROCOL HARUM, ENTRE VÁRIOS ARTISTAS ), SOBRE A SESSÃO DE GRAVAÇÃO QUE O EMPRESÁRIO “MALCOLN MC LAREN” CONTRATOU PARA FAZER O PRIMEIRO DISCO DOS “SEX PISTOLS”, “NEVER MIND THE BULLOCKS”, EM 1976.
AUDIÇÃO E VEREDITO:
THOMAS: “TÁ LEGAL! A BANDA DEIXA PRA LÁ. EU TENHO O MEU TIME NO ESTÚDIO E A GENTE FAZ TUDO ISSO AÍ COM UM PÉ NAS COSTAS”. MAS O CANTOR ( JOHNNY ROTTEN ) NÃO TEM JEITO! ARRUMA OUTRO, PORQUE NÃO HÁ CONDIÇÕES DE FAZER ESSE CARA CANTAR!”
E DEPOIS DISSERAM QUE “LORD SUTCH” NÃO SABIA CANTAR!!!!
NÃO SABIA. MAS, E DAÍ?
DAVID SUTCH sempre foi muito pobre. Trabalhou como auxiliar de mecânico de automóveis; foi encanador; e desenvolveu outra obsessão: o ROCK AND ROLL.
O LORD era híbrido mal feito de “quase – cantor” de ROCK; “quase – ator” ;- e performer aloprado. Contradição explícita para um sujeito “quase tímido”, reservado, e que não saía do quarto durante as turnês. Ele nunca tomou drogas ou passou dos limites. E morava com a mãe e a cachorra.
Por suas bandas, sempre efêmeras, passaram alguns históricos: RITCHIE BLACKMORE, depois guitarrista do DEEP PURPLE; o pianista NICKY HOPKINS; e o organista MATHEW FISHER
( PROCOL HARUM ). Ele gravou alguns SINGLES produzidos pelo histórico doidivana e produtor JOE MEEK. Mas, sem qualquer sucesso.
LORD SUTCH já conhecia SCREAMING JAY HAWKINS, “BLUES-SINGER” e performer americano, que entrava no palco dentro de um caixão junto com uma cobra de borracha… Mas legou ao mundo “I PUT SPELL ON YOU”, 1956, clássico do R&B gravado por muitos, como NINA SIMONE e o CREEDENCE CLEARWATER RIVIVAL…
Baseado nas performances de HAWKINS, em 1961 SUTCH, acompanhado por uma banda de ROCK, começou a desenvolver JACK THE RIPPER, um “GRAND GUIGNOL” sobre o famoso estripador e serial killer inglês. De certa forma, ele tornou-se o antecessor de ALICE COOPER, IGGY POP, ARTHUR BROWN e outros malucos “histórico/histéricos” do ROCK. O show do LORD era anarquia e non – sense puros. As fotos do público assistindo testemunham a paralisia frente ao caos!
É argumentável que seu “espectro de insanidade” e contestação também influenciaram o PUNK-ROCK! Afinal, seus “não – atributos” artísticos tornaram-se a essência do LOW-FI ALTERNATIVO; que ditou regra, em vários casos, de meados dos 1970 em diante…
Em meio a tudo isso, LORD SUTCH meteu-se em política e ajudou a bagunçar o REINO UNIDO com o inacreditável partido que fundou, em 1963:
O “NATIONAL TEENAGE PARTY” tinha um lema: “VOTE FOR INSANITY. YOU KNOW, IT MAKES SENSE”, frase típica dos movimentos “político – nefelibatas”, que desaguaram em 1968…
O partido cativou os mais jovens, porque propunha voto aos 18 anos; e descriminalizar as rádios clandestinas, que desafiavam o monopólio da estatal B.B.C.
LORD SUTCH participou de incontáveis eleições e jamais foi eleito. Ele e seu partido foram escorpiões no sapato da elite inglesa.
O nosso “Lorde de araque” atazanou – e muito – a vida da futuro Primeiro – Ministra MARGARETH THATCHER.
Por caminhos não bem explicados começa o foco maior de nosso interesse nele. No início de 1969, LORD SUTCH andava esquecido no mundo do ROCK, e resolveu tentar carreira nos Estados Unidos. Claro, não deu certo!
Mas gravou um disco contestado, de popularidade e aceitação ciclotímica, mal compreendido – ou muito bem compreendido, alegam outros… Horroroso, ou… e inevitavelmente CULT?
LORD SUTCH & THE HEAVY FRIENDS, produzido por JIMMY PAGE, foi eleito o pior disco da história pela BBC, quando lançado em 1970! E ganhou o GUINESS como um “BRILHANTEMENTE INAUDÍVEL CLÁSSICO”. A maioria dos participantes tentaram “esquecer” que lá estiveram, tal o julgamento que à época foi feito…
Porém, TIO SÉRGIO pergunta: como pode ser ruim um disco em que a banda tem a seguinte formação básica?
Estão preparados? JIMMY PAGE e JEFF BECK, nas guitarras; NICK HOPKINS, no piano; JOHN BOHNAN, na bateria; e NOEL REDDING (JIMI HENDRIX ) no baixo; e sem falar em outros músicos de estúdio experientes, e todos no auge da forma artística e técnica?
Vamos em frente:
O segundo álbum, gravado ao vivo em estúdio pelos HEAVY FRIENDS, em 1971, “HANDS OF JACK THE RIPPER”, traz uma sequência esfuziante de ROCK AND ROLL CLÁSSICO, como “ROLL OVER BEETHOVEN”, “GREAT BALLS OF FIRE”, e similares…
Está lá, inclusive, a hilária e estravagante “performance integral ” ao vivo de “HANDS OF JACK THE RIPPER”, com mais de dez minutos de gritos, assassinatos, urros e flatulências. E a inestimável contribuição na algazarra de KEITH MOON ( AHHH vocês sabem quem é ) berrando insanamente ao fundo!
Mais um complemento, a banda que foi ao palco era: RITCHIE BLACKMORE, na guitarra; KEITH MOON, na bateria; NOEL REDDING, no baixo e MATHEW FISHER, no teclado. E mais uns 6 músicos profissionais de estúdio e de outras bandas…
É algazarra beirando a música. É muito legal, sim, majestades!
Eu acho que a má recepção do primeiro disco deveu-se a ele estar totalmente fora do contexto artístico da época. Em 1970, o nascente ROCK PROGRESSIVO ditava as regras. Portanto, o esmero na produção já era indispensável.
Mas os dois álbuns são de ROCK´N`ROLL PESADO PURO E SIMPLES, sem alusões vanguardistas ou vanguardeiras. Não são HARD ROCK; e nem HEAVY METAL E sem quaisquer firulas ou produção mais acurada. Quase LOW-FI! ROCK, e ponto!
De alguns tempos para cá, foram resgatados grupos das décadas de 1960/1970, à época desconhecidos, com a marcante característica de serem básicos, chão duro. Ouçam um deles, o hoje “CULT”: JOSEPHUS!!!!
No primeiro disco dos HEAVY FRIENDS, a banda toca completa em duas faixas, e a dobradinha BECK/PAGE é inesquecível. Nas demais, JIMMY PAGE testa mil coisas, como wah-wahs, delays e câmaras de eco, com liberdade total. Eu diria que são preâmbulos de futuro muito próximo!
Há, também, “BOHNAN” e “REDDING” além do parâmetro básico. E participações excelentes com BECK na guitarra e KENT HENREY, guitarrista do BLUE IMAGE e do STTEPPENWOLF, tocando o fino pesado, também.
Sou suspeito para dizer. Mas este é um dos MELHORES DISCOS DE ROCK QUE OUVI NA VIDA! E a cotação digamos… artística… vem subindo ao longo do tempo.
No último relançamento, há uns dez anos, a RECORD COLLECTOR já deu quatro estrelas para o álbum. E vários elogios, também… Há uma foto histórica nessa postagem: JEFF BECK e JIMMY PAGE no estúdio juntamente com o LORD SUTCH.
Para complicar, observem um aspecto intrigante sobre a “pessoa” do LORD: Os companheiros de banda contavam que se houvesse alguma encrenca, a simples presença dele acalmava os ânimos dos policiais. Os ingleses, sempre formais, o respeitavam por aquilo que ele “representaria”…
DAVID SUTCH foi encontrado morto pela namorada, em junho de 1999. Ele havia se enforcado em casa. Era bipolar, e não aguentou a morte da mãe e da cachorra. Morreu de solidão…
No seu funeral, em LONDRES, estavam centenas de pessoas. E foi a primeira e última vez que se cantou “ROLL OVER BEETHOVEN”, na SAINT PAUL CHURCH.
REST IN PEACE – ou “PIECES”? – LORD DAVID SUTCH!
POSTAGEM ORIGINAL: 29/05/2021
Nenhuma descrição de foto disponível.