ELETRONICA: MENTES – A INTRODUÇÃO AOS FEITOS DE UMA GÊNIO BRASILEIRA: JOCY DE OLIVEIRA. E INDIVIDUAL INDUSTRY : POP ELETRÔNICO BRASILEIRO DE VANGUARDA, ANOS 1990.

A memória trai e atrai; a frase é um possível simplismo e jogo de palavras. Mas dia desses assisti no CANAL CURTAS, um documentário muito interessante sobre a música eletrônica brasileira, abrangendo dos “CLÁSSICOS/ERUDITOS” ao meramente POP/ROCK. Uma recuperação da importância de um cenário nada marginal, mas apocalíptico e integrado simultaneamente, por assim dizer.
Assistir ao filme trouxe à memória o histórico das vanguardas musicais não convencionais do século XX. Gente como LUCIANO BERIO, KARLHEINZ STOCKHOUSEN, IANNIS XENAKIS, LUCAS FOZZ, JOHN CAGE, CLAUDIO SANTORO; e uma pletora de “exóticos” vinculados de alguma forma à música elétrica e eletrônica, ou seja: não identificados com a modernidade da música “CLÁSSICA” mais conhecida.
Por assim dizer, eles formavam a nova concorrência outsider dos grandes “CLÁSSICOS – vá lá, ERUDITOS MODERNOS” – , gênios como ARNOLD SCHOEMBERG ou STRAVINSKY; e muito além de DEBUSSY, RAVEL ou mesmo OLIVIER MESSIAEN. Todos esses, claro, acústicos. Gente ousada por meios de expressão ainda bem tradicionais.
Seriam?
E, neste enorme ESPAÇO/TEMPO abrangido pelas duas macrotendências destaca-se a participação de uma das maiores artistas e teóricas da música contemporânea: a criativa professora, grande pianista, poetisa, e compositora brasileira JOCY DE OLIVEIRA, ainda viva e influente aos 86/7/8 anos!!!! E que os deuses a preservem!
Não vou me estender. Porque a estatura de JOCY é de tal magnitude, que estou fascinado estudando o que me é compreensível de sua multifacetada obra. Voltarei especificamente à mestra, qualquer outro dia…
Mesmo assim, vão aqui uns “parangolés” sobre JOCY. Vou apenas fazer duas citações:
1) JOCY gravou cantando e tocando piano, em 1958, o primeiro LONG PLAY de MPB DE TRANSVANGUARDA da história: “A MÚSICA SÉCULO XX DE JOCY DE OLIVEIRA”. Eu arriscaria dizer que é a “ANTI-BOSSA NOVA”. Disco inimaginável pelo conteúdo musical sofisticado e as letras não convencionais; e sobre o qual pretendo abordar outro dia.
2) Ela é o grande nome brasileiro da música “ELETROACÚSTICA”, designação apropriadíssima a parte da vanguarda musical, que surgiu na década de 1940. JOCY é uma teórica complexa; artista MULTIMÍDIA, compositora de “digamos”, ÓPERAS – porque ela mesma discorda do termo” – e outras invenções.
A sua primeira composição nesta linha, “APAGUE O MEU SPOTLIGHT” foi encenada em 1961, e sacudiu o TEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO durante dez dias. Depois, viajou mundo afora.
A obra foi regida pessoalmente por LUCIANO BERIO, coautor com JOCY. No elenco, FERNANDA MONTENEGRO, FERNANDO TORRES, SÉRGIO BRITO e um “ENSEMBLE” criado para isso, tendo JOCY no piano. Foi a vulcânica introdução da nova música de vanguarda no BRASIL… JOCY é a grande inspiradora, no BRASIL, para o surgimento da CENA ELETRÔNICA no erudito e no POP!
Há uns dez anos, promovi um bota-fora seletivo e controlado de um monte de música eletrônica. Ter coisas demais excede ao controle possível; abre arestas e desperdícios. Mas, a parte ruim é que avaliações posteriores sempre trazem arrependimentos.
Naquela “razia” mandei para a cachoeira dos tempos, eletrônicos de vanguarda mais ligados à música pesada e dançável.
E por dois motivos:
Ganharam a concorrência contra sons mais intimistas; viraram “sal” na lista de produtos: baixo valor e “consumo inelástico”; ou seja, música superficial, que não vou escutar novamente.
Fiquei, portanto, com a vanguarda eletrônica mais cerebral; herdeiros do KRAUTROCK, anos 1970, e dos clássicos eletrônicos tipo STOCKHAUSEN, PIERRE HENRI, etc..; que são indutores de tendências dos anos 1980/1990: GÓTICOS, COLD-WAVE, NEW WAVE, ETHEREAL, DREAM POP, e o que se imaginar que possa trazer um pouco de melodias e criatividade ao POP.
ALEX TWIN, que hoje é dono da WAVE RECORDS, foi um dos visionários incrustado no underground paulistano. Eu o conheci quando era dono da a “MUSIC” – grafada em grego -, lá por 1994. Foi das primeiras lojas e distribuidoras a operar com a vanguarda eletrônica europeia. Fui lá por curiosidade; e acabei fascinado!
Ele e o sócio, ENÉAS NETO, as trouxeram para o Brasil em suas duas tendências: os “FRIOS”, e os “PESADOS” – e muitos dançáveis. ENÉAS produziu para a GRAVADORA ELDORADO, na década de 1990, coletâneas abrangendo as duas tendências eletrônicas.
E TWIN fez mais: entrou na tendência com seu projeto “INDIVIDUAL INDUSTRY”. Frequentemente, um trio com MAURÍCIO BONITO e as cantoras oscilantes – LILIAN VAZ e DANIELA ROCHA. Trabalharam com alma e garra na tendência internacional mais vanguardesca daquele tempo. Todos estão citados no filme, “ELETRONICA: MENTE”.
É bom constatar o pioneirismo da obra nos escaninhos geográficos onde habitamos. Eu gosto muito; tenho os discos e os manterei. Foram construídos, forjados em cima do fogo, na hora em que tudo acontecia. Estão em nível com a concorrência lá de fora.
Por isso, trago para vocês curtirem. É viagem no tempo para universos muito próximos.
É bom notar que essa mesma vanguarda que partiu da EUROPA, passou por JOCY, e desembocou na música eletrônica mundial, influenciou certos horrores contemporâneos que nos assolam.
As meninas e meninos do “PROTO DANCE GLÚTEO RETAL” não devem ter ideia de quem foi JOCY DE OLIVEIRA.
Quem sabe um dia aprendam.
TEXTO ORIGINAL: 09/02/2022
Pode ser uma imagem de 1 pessoa

ORNETTE COLEMAN, FREE JAZZ, 1961: A MAIS RADICAL EXPERIÊNCIA DA MÚSICA POPULAR

Ontem, acordei com a macaca preta e fui dar uma repassada em alguns discos “relaxantes”. Comecei com MILES DAVIS em “KIND OF BLUE”, disco elegante, mas nervoso como todo o BE-BOP.
Depois, fui direto para o ORNETTE COLEMAN e a mais avassaladora experiência musical
até aqueles tempos, 1961!
Ainda seria?
É curioso; a música popular moderna havia chegado a seu ápice técnico e de bom gosto, com as grandes cantoras e cantores americanos fazendo os ciclos de compositores como GERSHWIN, COLE PORTER e diversos vários. E, quase ao mesmo tempo, o JAZZ instrumental vivia um refinamento estético brilhante; JOHN COLTRANE, MILES, DIZZY, CHARLIE PARKER e infinidade mais.
O interessante é que ao invés de expandir-se e repetir-se houve implosão: a DESCONSTRUÇÃO RADICAL da MELODIA, a SUBVERSÃO DA HARMONIA e RECONCEITUAÇÃO do RITMO.
Pareando, mas sem comparar, foi o equivalente à aparição de STOCKHAUSEN na música clássica moderna, após SCHOEMBERG e DEBUSSY.
Em poucas palavras, o advento do caos após revoluções quase radicais?
COLEMAN teve a ideia libertária e libertadora de propor a IMPROVISAÇÃO TOTAL. E foi além: juntou dois quartetos de formação igual com sax, trompete, baixo e bateria. Os músicos são todos de primeira linha e com recursos técnicos e formação para compreender a VANGUARDA DA ÉPOCA.
No estúdio havia dois gravadores registrando o que estava sendo feito. Combinaram alguns pontos pré-definidos onde todos tocavam ao mesmo tempo. E a”coisa (des) andou” por 38 minutos, em take único. E cada músico tocando no ANDAMENTO, RITMO ou MELODIA que quisesse. Radical mesmo!
Resultado: O caos?
Não!
O que resultou é obra com início, meio e fim. E simplesmente porque, depois de gravada, se consolida um produto que se mantém intacto para a eternidade; portanto lógico, autossuficiente e coeso em si mesmo.
“FREE JAZZ, A COLLECTIVE IMPROVISATION”… é obra revolucionária e libertária ao mesmo tempo. Mas, pronta e acabada para quem vier ouvi-la a qualquer tempo e época!!!!
Imprescindível.
Nenhuma descrição de foto disponível.

INSÔNIA COM PROCOL HARUM, GRATEFUL DEAD e THE PIXIES

“In the autumn of my madness, when my hair is turning gray”…canta GARY BROOKER, em uma das faixas do disco “SHINE ON BRIGHTLY”, 1968, do genial, subavaliado e não repetível “PROCOL HARUM”.
Clássico do rock em transição entre o PSICODÉLICO e o PROGRESSIVO, é acessível para quase todos os paladares musicais. É lindo, e é triste. A construção das letras é sublime. Eles mantinham um letrista exclusivo, KEITH REID; sofisticadíssimo! Ouçam; é marcante!
Quase sempre me vem à cabeça esta faixa, quando a insônia recorrente assola e desencadeia os medos, paranoias, e as desconexões entre os fatos objetivos… Talvez por isso, realce o lusco-fusco sonolento que tranca o raciocínio, e me faz sofrer antecipadamente por algo que, talvez, jamais ocorra.
É parte do outono da minha vida – loucura? – Não; estou envelhecendo!
Claro, aproveitei e trouxe outros discos gravados por eles; também ótimos, porém menos badalados: “SOMETHING MAGIC”, 1977, já sem ROBIN TROWER, que foi substituído por MICK GRABHAM, um guitarrista bem menos luminoso, porém circunstante na turma deles.
E, posto um projeto sinfônico gravado entre 1994 e 1995, com a LONDON PHILHARMONIC ORCHESTRA, revezando com LONDON SYMPHONY ORCHESTRA.
Estão reunidos a formação da época: GARY BROOKER, o líder e dono incontestável; e o marcante GEOFF WHITEHORN, na guitarra; e outros convidados, entre eles, TROWER. E, fiquem assustados!, TOM JONES canta a lúgubre e tétrica SIMPLE SISTER! Fez sentido, acreditem…
O PROCOL HARUM é das melhores atrações ao vivo da História do ROCK. Procure os vídeos e DVDS. E é das raras bandas capaz de conjugar-se a orquestra sem soar “FAKE”. O repertório é exuberante – só para variar!!!! É minuciosamente escolhido para justificar possuir este “THE LONG GOODBYE”. Não perca!
Certa vez li, no “Estadão”, que BILL KREUTZMANN, baterista e fundador do GRATEFUL DEAD, estava lançando um livro de memórias…
As que ficaram, sobreviventes do excesso de drogas, álcool, sexo e tudo o mais que mitificou os doidos anos 1960; da cultura hippie à contestação política e comportamental.
BILL não se lembra dos concertos, “JAM SESSIONS” ininterruptas, “RAVES SEM D.Js.” JERRY GARCIA, mito do ROCK, líder e guitarrista, e também fundador do GRATEFUL DEAD, morreu durante um processo de desintoxicação.
Sintomático, ou emblemático? Ele teve um infarto aos 53 anos, EM 1995. Preferiu ser livre e se drogar indefinidamente. Ele não teve tempo de escutar o professor, filósofo e historiador, LEANDRO KARNAL, que recentemente ponderou: “é preciso ter cuidados nesse debate sobre a liberação das drogas. Porque todo viciado é um dependente”.
Mais claro, impossível.
O GRATEFUL DEAD é certamente a banda americana de ACID-ROCK, também conhecido como PSICODELIA, mais famosa da época. Hoje, é uma empresa que produz, vende e mantém o mito em movimento. E quem não faz isso é explorado e morre. Mito sem rito contínuo enfraquece a fé dos fãs!
Eles começaram como todos. Inspirados nos Beatles, Stones e na turma do country e do blues. O primeiro disco é bastante convencional. Do segundo em diante, para usar a expressão da época: desbundaram. E nunca mais rebundaram!
O charme do GRATEFUL DEAD é a constante improvisação, principalmente nos discos ao vivo. Lembra resquícios de FREE-JAZZ pela tentativa de expandir a música “ad-infinitum”.
Mas, percebe-se nitidamente alguma limitação técnica e repetição no desempenho dos músicos. É forma livre de ver e executar as música, que mesclam BLUES, ROCK, e algo de JAZZ; e exalam, sempre, um quê da COUNTRY MUSIC.
Estão aqui duas reedições de originais famosos:
“AOXOMOXOA”, não se percam por causa do PALÍNDROMO… É duplo: O primeiro disco traz o MIX original, de 1969, e um REMIX feito em 1971. No segundo, show ao vivo em duas sessões no AVALON BALROOM, em SÃO FRANCISCO, realizadas em janeiro de 1969.
O outro álbum é famoso: GRATEFUL DEAD, 1971. Gravado ao vivo, e muito mais dinâmico e pesado. São apresentações variadas pelos Estados Unidos. E, o disco dois foi gravado em um dos templos prediletos da banda e dos “DEAD HEADS” – o extenso e leal fã clube que os idolatra acima de tudo: o FILLMORE WEST, em São Francisco. Ainda preciso ouvir essas reedições… Não tive tempo…
Confesso que entre os contemporâneos e concorrentes, eu prefiro o JEFFERSON AIRPLANE, também americano da Califórnia. É mais enxuto e musical. Faz ROCK experimental na medida certa; e é tão desviante comportamental e filosoficamente quanto o DEAD. Ambos faziam ROCK com estilo imediatamente identificável. Um charme indiscutível.
Por causa da insônia acabei assistindo a show dos PIXIES, feito em 2006. É a diferença entre o pato e o sapato. É ROCK, claro. Mas de outra estirpe. Talvez seja a banda que mais bem definiu a expressão ROCK ALTERNATIVO. Brilharam entre 1987 e 1991, e influenciaram decisivamente a geração GRUNGE, e bandas como o NIRVANA (US) e todo o novo ROCK que decolou de lá e resiste até hoje.
Já estiveram por aqui. E continuam por aí … impunes.
É interessante notar que são o inverso tanto do GRATEFUL DEAD quanto do PROCOL HARUM. Eles criam música dura, curta, visceral, mas bem tocada.
FRANK BLACK, o vocalista gorducho e gritalhão, rebatizado BLACK FRANCIS, é lenda no PUNK e no GRUNGE; assim como KIM DEAL, a baixista; e o guitarrista JOEY SANTIAGO, também.
O digamos cantor BLACK FRANCIS é improvável misto de querubim e rebelde sem nenhuma, mas nenhuma causa mesmo! Vocifera frases desconectadas, que contam fragmentos de histórias ou sensações de alguma vivência. A vida em estado bruto, quem sabe…
Se BOB DYLAN “KNOCKS ON THE HEAVEN´S DOOR”; e LOU REED espreita os portais do inferno urbano; FRANCIS BLACK et caterva parecem saídos de um curso para dragões, e cospem fogo para todo lado!
O público, muito jovem, adora. A gritaria que surge de repente casa com o instrumental insinuante e nem sempre óbvio; são enérgicos, íntegros! E fazem show legal para assistir…
Mas será que eu gosto disso? Tenho dúvidas…E acabei pegando no sono; dormitei e acordei – como está óbvio! Mas a vida nem sempre é óbvia! E ainda bem!
TEXTO REVISADO: 25/01/2025
Pode ser uma arte pop de texto

JERRY LEE LEWIS (1935/2022) – “CONFUSION WILL BE MY EPITAPH”!!!!!!

Talvez JERRY LEE LEWIS não tenha se apercebido da existência do KING CRIMSON, e menos ainda de seu letrista, PETE SINFIELD. Pensando melhor, quem sabe, sim. Porque na geração de ROCKERS que o sucederam, literalmente todos são seus fãs…
Agora, a capacidade que JERRY LEE demonstrou a vida inteira para criar confusões, não pode ser subestimada.
Sempre esteve onde a onda quebra. Às vezes, surfou; geralmente se afogou; foi socorrido; foi estigmatizado; mas voltou.
Bebeu muito; rezou mais ainda; quase foi em cana por causa de Impostos não pagos, fugindo da AMÉRICA por 4 anos, até conseguir resolver seus rolos.
Ele gostava de armas, e deu uns tiros pelaí; chegou a ameaçar ELVIS PRESLEY de morte! E foi preso em frente à GRACELAND, em 1976. Eles eram amigos!
E acabou falindo, mesmo sobrevivendo…
Enfim, a vida de JERRY LEE LEWIS foi um compêndio de insensatez mesclada com certa genialidade artística, e talentos explícitos. Era quase um autodidata no piano – que tocava com estilo e proficiência!
Se você recordar de ELTON JOHN, no início de carreira, verá alguém tentando barbarizar no piano, fazer malabarismos cênicos…
KEITH EMERSON, ELTON, e até LITTLE RICHARDS!, eram meninos comportados perto de JERRY LEE LEWIS – que tocava com os pés, as mãos, o ombro, pulso e qualquer parte do corpo disponível. Subia no instrumento, espancava o teclado, chegando próximo do que fazia na guitarra PETE TOWNSHEND. E tudo isso sem perder o senso musical…Era um showman fantástico!
JERRY LEE LEWIS conseguiu a proeza de mesclar o R&B dos negros, através de sua esfuziante mão esquerda, a responsável pelo BOOGIE dançante que imprimia ao piano. Ela o integrava ao COUNTRY e o HILLBILLY dos brancos, criando híbrido que é a quintessência do ROCK AND ROLL clássico; sua mão direita era ROCK puro! Ele tinha uma apurado senso melódico.
JERRY LEE sempre foi cantor excelente, de voz belíssima e clara; potente, afinadíssima e versátil, que se adaptava com perfeição ao ROCK, ao GOSPEL, ao BLUES; e, obviamente à COUNTRY MUSIC !
Em resumo bastante defensável, JERRY LEE LEWIS e CHUCK BERRY juntos já seriam suficientes para definir tudo o que é o ROCK AND ROLL
Chamar o nosso “preclaro’ e amado de contraditório, complexo, ou quaisquer definições que pudessem trazer alguma coerência para defini-lo em poucas palavras, é uma impossibilidade aguda.
Eu vou tentar aproximação cautelosa.
JERRY LEE LEWIS era cristão. Conhecia a Bíblia, e a lia reverencialmente. Ele e ELVIS PRESLEY eram da ASSEMBLEIA DE DEUS. Sabiam cantar as músicas gospel. Já ROY ORBISON E CARL PERKINS e JOHNNY CASH eram BATISTAS…
JERRY LEE era primo de JIMMY SWAGGART, um dos primeiros “Malafaias”…ooopps, “tele-evangelistas” … nas TVS americanas.
Era profundamente religioso e temente a Deus! Um americano branco, bastante ignorante, que certamente hoje votaria em DONALD TRUMP.
Porém, JERRY L. LEWIS vivia em crise existencial. Dizia ter criado, e fazia um tipo de música furiosa que, achava ele, iria carregá-lo para o inferno! Compensou gravando muita música GOSPEL.
Faz sentido? “DEFINITIVAMENTE TALVEZ”, responderiam os irmãos LIAN e NOEL GALLAGHER, que não transmitiam qualquer paz de espírito, mesmo tendo montado uma banda turbulenta chamada contraditoriamente…OASIS…
JERRY LEE LEWIS gravou a primeira vez, em 1952. Tinha 16 anos! Explodiu na cena POP entre 1956 e 1958, com alguns dos 30 TOP TEN HITS, que teve durante a carreira: CRAZY ARMS, WHOLE LOTTA SHAKIN´GOING ON, GREAT BALLS OF FIRE…
JERRY meteu-se em confusões insólitas com mulheres. A saga começou muito cedo. Ele teve sete esposas, algumas “simultaneamente”; e casos e causos vida adentro…
Casou-se aos 16 anos, em 1952, com a filha de um pastor. E largou a mulher por causa de música e farras. Foi para o altar novamente meses depois “encorajado” pelos irmãos da “outra” noiva, JANE MITCHUM, que o escoltaram até a Igreja com uma SHOTGUN, aquela espingarda de dois canos e bem… vocês imaginam…
Ainda não divorciado, lá por 1957 casou-se secretamente com a prima-irmã de 13 anos, que ele dizia ter quinze. Mas, jornalistas ingleses descobriram durante turnê, em 1958, que ela tinha 13 anos mesmo! Espoleta o nosso JERRYNHO, heimmm ?!?!?!
E deu em confusão: ela com quinze anos poderia ter casado, se ele estivesse “desimpedido”… Ele estava com 22! E assim, JERRY LEE foi o primeiro artista “cancelado” da música moderna. Uns doze anos antes do SIMONAL; e uns trinta antes do LOBÃO – que também, amalgamou-se à prima menor de idade; mas dançou por causa de política, e porque é boquirroto …
Ahhh, MAYRA GAILE BROWN, a priminha, era filha do baixista da banda! E, anos depois, teve seu livro sobre a relação dos dois filmado: THE GREAT BALLS OF FIRE, com DENNYS QUAID e WYNONA RYDER – adivinhe no papel de quem?
Passou mundo afora, em 1989, foi um grande sucesso, e alavancou mais uma vez a carreira de JERRY LEE. A trilha é algo insossa. E o repertório em boa parte foi regravado.
Tudo considerado, “Bacobufos” iam e vinham, mas ele recuperou-se entre 1960 e 1970. E reinventou-se.
Em 1964, gravou em HAMBURGO, na Alemanha, onde os BEATLES e várias bandas inglesas tocaram antes da fama, um disco reverenciado como entre os melhores shows ao vivo da História da música POP/ROCK, e etc…!
JERRY LEE LEWIS LIVE AT HAMBURG STAR CLUB é fogo, suor e ROCK AND ROLL. Em plena forma, JERRY LEE e os ingleses NASHVILLE TEENS incendeiam a plateia em performance avassaladora!!!!
Alguém escreveu que “não era um disco ao vivo”. “Mas, a cena de um crime!” Um massacre; uma convulsão contínua!!!!
Lá por 1968, LEE LEWIS entrou de cabeça na COUNTRY MUSIC, e teve, no decorrer da carreira, nada menos do que 17!!! TOP TEN na parada da revista BILBOARD!
Críticos disseram que JERRY é o criador do “HARD COUNTRY”, que tem nada a ver com pauleira. É música “não-neandernthalesca”; letras, canções e produção de melhor qualidade, comparativamente ao ramerrão simplório que infesta a música COUNTRY americana, e sua irmã postiça, e nosso “encosto pátrio”, a “SERTANEJA-FAKE”…
( Cala a boca, tio SÉRGIO, e vai atazanar os “bolsonarentos” e “PeTizes”. Porque de música você entende nada…)
Mas, em 1973 ele foi a LONDRES consagrado e gravou um dos melhores “Discos-Tributos” já feitos: JERRY LEE LEWIS – THE LONDON SESSION, originalmente um vinil duplo, que também saiu no Brasil. É um verdadeiro conclave da nata do ROCK INGLÊS!
Os que participaram estavam no auge, ou chegando a ele. PETER FRAMPTON, RORY GALLAGHER, MATHEW FISHER, KENNY JONES, ALVIN LEE, GARY WRIGHT e ALBERT LEE, para citar alguns. E, claro, o próprio KILLER, também em boa forma.
Talvez o último momento memorável da longuíssima carreira de JERRY LEE tenha sido em “THE CLASS OF ´55”, que reuniu os quatro grandes sobreviventes do ROCK AND ROLL CLÁSSICO: JERRY LEE LEWIS, CARL PERKINS, ROY ORBISON E JOHNNY CASH.
Foi gravado em 1986, e com a participação de JOHN FOGERTY, DAVE EDMUNDS, JUNE CASH CARTER, RICK NELSON e músicos de primeira linha do COUNTRY. É muito agradável, bem produzido e gravado no estúdio da SUN RECORDING. Põe CULT e EMBLEMÁTICO nisso!
Em algum momento da década de 1990, eu o assisti no antigo PALACE, casa de shows em São Paulo. Foi bagunça memorável! Teve gente subindo e sendo expulsa do palco, enquanto a banda enganava esperando JERRY, que deu um show curto e mediano. O KILLER estava completamente alcoolizado!
Houve confusão na plateia.
Na minha frente, uma garota subiu no ombro do namorado.
E um moço, com certeza sobrinho de “ÁTILA, O HUNO”, deu ultimatum pra folgada.
O namorado não gostou, e respondeu torto.
O emissário do “MONGOL” não teve dúvidas: dedo indicador em riste, mirou no… no… no… “Marquês do Rabicó” da malcriada e deu-lhe “dedada” exemplar!
Um berro! moça colocada no chão! e começou briga quase generalizada. Os seguranças “ajudaram” o filhote de Átila e o namorado indignado a pensar um pouco melhor na próxima vez!!! (se houve…)
Vejam só: comecei com PETE SINFIELD e terminei quase no pátio da penitenciária!!!
Realmente, “CONFUSION WAS HIS EPITAPH”.
É estonteante trilhar ou tentar buscar tudo o que JERRY LEE LEWIS gravou ou fez. Foram 121 ÁLBUNS ORIGINAIS; 290 EPS e SINGLES; 660 COLETÂNEAS e 22 VÍDEOS! Que tal?
A veneranda e espetacular gravadora BEAR FAMILY tem os seguintes BOXES do KILLER: SUN RECORDS, com 18 CDS e 623 FAIXAS; SMASH RECORDS: 166 FAIXAS concentradas em 8 CDS. E MERCURY RECORDS, 10 CDS e 226 TRACKS!!!! São 1015 MÚSICAS compiladas!!!!
É overdose até para fanático! Porque coligem “apenas” mais ou menos as fases áureas…Mas, com a morte de JERRY, certamente haverá material para trazer à luz nos tempos vindouros.
Para mim, bastam os discos que postei, e destaco o da primeira foto em cima, lançado pela BEAR FAMILY, na coleção ROCKS, com as 33 faixas essenciais!!!
É coletânea espetacular, e abrange todas as fases, gravações ao vivo e etc…
Para o céu JERRY LEE LEWIS certamente irá. Não sem antes
circundar o purgatório, fazer um bate-e-volta, só para pegar impulso e ascender ao PARAISO.
Que ele finalmente sossegue, e tenha paz. Ele é inesquecível!!!!
Amém!
POSTAGEM ORIGINAL: 04/11/2023
Pode ser uma ilustração de 5 pessoas e texto

JORGE DEGAS – XIAME – BAIXISTA NOTÁVEL – FUSION

JORGE FOI BRASILEIRO, MAS NATURALIZOU-SE DINAMARQUÊS. É EXCELENTE BAIXISTA DE FUSION – JAZZ, E TEM CARREIRA PROLÍFICA E BEM AVALIADA PELA CRÍTICA – A EUROPEIA, PRINCIPALMENTE.
CRIOU UM ESTILO TÉCNICO E MUITO LÍRICO DE TOCAR. FUNDE A MÚSICA BRASILEIRA COM O FOLK DA ESCANDINÁVIA E JAZZ NA LINHA DA GRAVADORA E.C.M..
MUITO INTERESSANTE, É SOFT E AGRADÁVEL DE ESCUTAR, FAZ ALGUMAS EXPERIMENTAÇÕES NOTÁVEIS, MAS NÃO AGRESSIVAS.
OS DISCOS DA FOTO FORAM GRAVADOS O PRIMEIRO NA DINAMARCA, O OUTRO NA ALEMANHA.
O JORGE DEGAS QUARTET ESTÁ DISPONÍVEL POR AÍ A UM PREÇO ACESSÍVEL, CERCA DE r$ 15,00 E RECOMENDO AOS CURIOSOS DE BOM GOSTO.
POSTAGEM ORIGINAL: 4/11/2018
Nenhuma descrição de foto disponível.

THE BRITISH INVASION – HISTORY OF BRITISH ROCK – 9 CDS BOX SET – RHINO – 1991

Um dos tesouros da coroa do Tio Sérgio!
Os SINGLES de artistas britânicos que fizeram sucesso na América, entre 1963 e 1969! Quase todos estão aqui, menos os três notórios muquiranas que mais bem administravam os próprios acervos: BEATLES, ROLLING STONES E DAVE CLARK FIVE.
Cada faixa é uma história. Pensou nos HOLLIES, ou PROCOL HARUM? Ahhh, mudou para o DONOVAN, PETER & GORDON, ou SMALL FACES? Todos entraram!
São 180 gravações originais com a qualidade técnica da RHYNO RECORDS, em um BOX matador! A produção gráfica é de alto nível; inclui um livro de verdade com fotos e texto! É artefato raro e preciso, que faz colecionador uivar pra lua!
Penso que o revival para muitos dos artistas iniciou-se por aqui. Portanto, está claro porque jamais foi reeditada: o preço dos royalties seria proibitivo!
Então, quem tem, tem; os que não conseguiram tomam cerveja ou pagam um estupro em dólares no e-bay – se conseguirem.
Existiram alguns discos deste BOX lançados individualmente. Mas, sumiram. Despencaram na cachoeira dos tempos, para discotecas mundo afora….
Ah, enquanto escrevia esta resenha eu escutava “HURDY GURDY MAN”, com DONOVAN – dizem que há outra versão com JEFF BECK na guitarra, mas jamais comprovaram. Pus pra tocar “ITCHICOO PARK”, com SMALL FACES; “PICTURES OF MATCHSTICK MAN, do STATUS QUO, todos clássicos da psicodelia inglesa.
Agora, vou escutar DUSTY SPRINGFIELD, THEM, MANFRED MANN, TREMELOUS; e LULU, CILA BLACK, WALKER BROTHERS, WAYNE FONTANA…
Um mundo VINTAGE que se recusa a ter fim.
Eu tomo algumas por vocês.
POSTAGEM ORIGINAL: 10/11/2019
Nenhuma descrição de foto disponível.

HERBIE HANCOCK – COMPLETE COLUMBIA 31 ALBUM COLLECTION: 1972/1988 – 34 DISCOS

A obra de HERBIE HANCOCK é sideral para dizer o mínimo. Abrange inúmeras formas do JAZZ. Do HARD-BOP às FUSIONS eletrônicas; das incursões na MÚSICA AFRICANA ao piano CLÁSSICO; de MILES DAVIS a TOM JOBIM e JONI MITCHELL; do JAZZ ACÚSTICO às diversas VANGUARDAS pela qual transitou sua espetacular carreira e talento imenso.
Gravou na BLUE NOTE, na WARNER, na COLUMBIA entre algumas. Quantos discos? Não contei. Eu tenho mais de 40 e faltam alguns muitos…Pretendo ouvir e possuir todos!
Não vou numerar ou nomear a turma com quem tocou. É estelar e incontável. E cito um projeto paralelo: a trilha sonora do seminal filme BLOW – UP, 1968, dirigido por MICHELANGELO ANTONIONI, que também é dele.
Prolífico, profícuo, moderno e genial músico!
Para ter ideia da versatilidade do cara, HERBIE tocou, usou e gravou com 48 tipos de teclados eletrônicos diferentes!
Criou conexões e anexos que, futuramente, foram usados nos sintetizadores Rhodes.
Ele era fluente nos instrumentos. E não por acaso: além de músico soberbo e ator eventual, HANCOCK era ENGENHEIRO ELETRICISTA. Sabia o que estava fazendo!
Trata-lo como superdotado é o minimo que se pode admitir!
A caixa da COLUMBIA, aqui presente, é parte central da obra dele; eclética ao extremo! HERBIE gravou e fez de tudo em apenad 16 anos na gavadora.
O BOX é, digamos, simultaneamente popular, sofisticado e muito bem produzido.
As capas de cada CD estão em formato de MINI-LPS. E, acompanha o BOX livreto ultra informativo com perto de duzentas páginas!!!
As gravações sempre em nível CBS/ COLUMBIA: alta qualidade na CAPTAÇÃO, MIXAGEM e na MASTERIZAÇÃO.
Quando saiu essa maravilha imperdível, em 2013, consegui trazê-la via “FADINHA MASTERCARD” e Amazon por $70 dólares!
Hoje, nem ouso contar quanto estão pedindo…
Pasmem! Eu ainda não a escutei todinha. Faltam vários discos que tentarei ouvir durante o restante da minha vida.
Agora, se você gosta de piano acústico, HANCOCK é dos mais completos e técnicos.
Se quiser um “maluco” inventor de sonoridades e influências em SAMPLERS de D.Js; no FUNK-JAZZ; ou em FUSIONS múltiplas e contemporâneas, apresento a vocês “o cara”:
HERBIE HANCOCK é superdotado e completinho…
NÃO PERCA!!!
POSTAGEM ORIGINAL: 02/11/2019
Nenhuma descrição de foto disponível.

LANA DEL REY – ANGUSTIADA E BELA; CRAVO E CANELA

LANA DEL REY é a “IMPERATRIZ DA ANGST”, disse a revista RECORD COLLECTOR.
ANGST é a definição para um estado de espírito que mistura medo e apreensão antecipada por algo, ruim ou não, que vai ou possa acontecer. Um estado de solidão e ansiedade .
Seu último disco, “DID YOU KNOW THAT THERE´S A TUNNEL UNDER OCEAN BOULEVARD?”, lançado recentemente, tem quase 78 minutos de duração. Há muito eu não vejo disco original tão longo em único CD!!!
A capa saiu em 3 versões diferentes, à escolha do freguês, ou todas juntas em um BOX com três Compact Discs. Os LONG PLAYS devem estar, também, em álbuns duplos, e capas diferentes. Eu ainda não conferi.
LANA é moça de pulcritude indiscutível. Mostrou sua bela e instigante “CARTOGRAFIA” na capa de uma das três versões em que o disco foi lançado. Exatamente a que eu possuo.
A exposição do relevo da fronteira entre vales, colinas e os picos que os consagram, tem despertado exames acurados de observadores. A vista é muito bonita…
Ela esteve por aqui recentemente, retomando a carreira de shows. Disseram que os cinco anos que passou sem excursionar a tornaram menos delgada, mais cheinha. LANA DEL REY teria extrapolado a silhueta que apresentava em 2013, aos 27 anos, na primeira vez em que deu concerto no Brasil.
Certamente há exagero. Não é possível que tenha se esvaído feito um ARCO-ÍRIS, aquele magnífico espécime que deixou em êxtase meninos, meninas e meninex, os gratificando com simpatia descendo à plateia logo no início da performance para dar autógrafos, fazer selfies; e, apesar da segurança que a acompanhava, suportar até beijos roubados!!!???
A capa do disco comprova a maledicência. LANA continua bela.
Eu li, na RECORD COLLECTOR, que este disco é muito bom. Talvez o mais bem realizado dentro de seu estilo algo recorrente e perto do repetitivo no andamento e nas melodias. LANA é cantora reconhecível porque suas canções mantêm características…hum já testadas e conhecidas…( minha nossa!!! A que ponto cheguei???!!! )
Eu já a conhecia. E desta vez LANA conseguiu fazer melhor. Tipo construir algo além, mais refinado, e que consagra um jeito de cantar, compor e postar-se enquanto artista. Não é inovador, mas é o ápice de uma proposta.
Eu ouvi o disco diversas vezes. E com muito interesse e prazer. É belíssimo.
A sonoridade, em minha opinião, busca e mescla elementos do DREAM POP e tem muito do FOLK PROGRESSIVO MODERNO.
Ela conseguiu ultrapassar o ROCK ALTERNATIVO, do qual é mais ou menos parte. É, também, contemporânea do HIP-HOP, e a presença no disco de JON BATISTE, quase-astro em ascensão, serve à diversificação necessária elegantemente encaixada.
Há um condimento explícito e onipresente de JAZZ/BLUES/GOSPEL que permeia as músicas. Além de algumas experimentações adequadas, mas sem exageros.
O ritmo e andamento continuam lentos, como em tudo o que dela escutei. E o clima sombrio, DARK, envolve feito placenta o transcorrer da obra, e se revela paulatinamente. É fascinante!
A voz distinta e delicada de LANA DEL REY, uma contralto de timbre encorpado, é simultaneamente melodiosa e seca. Talvez lembre LIZ FRAZER, do COCTEAU TWINS. Mas com a doçura e o lirismo de KATE BUSH nas brumas de seus versos uivantes. Porém, quando no limite do grave, recorda MARIANNE FAITHFULL por sua aspereza.
Ela tem jeito e porte de artista de FILME NOIR, mas transposto e atualizado para o presente. LANA é sensual sem ser vulgar. Assume o jeito de uma garota não tão recatada que parece reter, ou controlar, uma explosão vulcânica de sexo e desejos.
Quem sabe ela esteja construindo personagem magnífico! Mas, até que ponto seria ela mesma?
Infelizmente, as letras não acompanham o CD. Uma perda e um empecilho para mais bem compreendê-la. Mesmo assim, tudo combinado resultou em trabalho amplo, pensado e coeso.
Algo neste último disco recorda os arranjos de ANGELO BADALAMENTI para a trilha sonora da série TWIN PEAKS: uma languidez nervosa, componente de certa ANGST…
A senhorita ELIZABETH WOOLRIDGE GRANT nasceu em NOVA YORK, é filha de dois publicitários que entraram em BURNOUT ( estresse total ), e resolveram mudar para uma pequena cidade vizinha que, segundo LANA – oooopsss – lembra a fictícia “TWIN PEAKS”.
E os GRANT refizeram suas vidas e profissões.
LANA DEL REY, é um pseudônimo, ela cresceu por lá. É moça de classe média, estudou filosofia, gosta de escrever, e lê gente alternativa como NABOKOV, de quem emula falsamente uma quasi-LOLITA. Ela é madura demais para posar de ninfeta. Já disse gostar de homens mais velhos… Há fotos comprovando…
LANA é, também, fã da poesia da geração BEAT. Mas, leu outros poetas americanos, como WALT WHITMAN e SILVIA PLATT. Assistiu a filmes NOIR. E gostou de CIDADÃO KANE…
Ela diz ter sido inspirada pelo GRUNGE. Principalmente o NIRVANA, de quem empresta aquela ansiedade explosiva – e nela apenas latente. Tornou-se muito amiga de COURTNEY LOVE, a mulher de KURT COBAIN. Mas, claro, LANA artisticamente foi por outros caminhos. É madura, e compõe como tal. Mesmo quando age feito adolescente.
Eu procurei ouvir os SINGLES de sucesso de sua carreira. São bons. Ela tem um jeito pessoal de compor letras que viajam do explicitamente romântico flertando com o idilicamente trágico – como despedidas dolorosas de namoros, vistas como pequenas mortes, ou suicídio anunciados. Há sempre um quê de incestuoso rondando suas letras. Que fazem menções a drogas, e a sexo às vezes explicitamente.
A solidão, outra constante, é descrita para e do ponto de vista da geração dela. Deixa a impressão imprecisa de “estar sempre vestida para ir a lugar nenhum”…
Depressiva? Quem sabe. Solitária ela certamente é. Solitude?
Há o fascínio pela vida bandida, e por marginais e Bad Boys. Mas, visto de um ponto de vista das garotas educadas e de classe média, que eventualmente se envolvem com o perigo… Acho que ela não se expôs, mas flertou, excitou-se com isso. E escreveu.
Talvez essa criatividade revele apenas estilo, letras ousadas de menina sonhadora. Mas, quem sabe seja estrutura de um projeto de marketing (seus pais eram publicitários), como jeito de consolidar sua já peculiar persona artística.
As músicas de LANA incorporam parte da mitologia americana do indivíduo livre, indomável, fora do sistema. Há um quê de BRUCE SPRINGSTEEN, e aquela vontade de fugir das amarras da sociedade – um fascínio pelo BORN TO RUN; ou, como em um dos hits dela, BORN TO DIE…
É também possível identificar influências de LOU REED; alguma irreverência à ALANIS MORRISETTE, e um não sei o quê de SINEAD O´CONNOR… Escavei pelaí a urgência ansiosa de ALISON MOYET (lembram dela? )
Se bem compreendi, é um ótimo COMBO, talvez um GUMBO artístico…
No seu primeiro SHOW em São Paulo, no FESTIVAL PLANETA TERRA, em 2013, a garotada urrava enquanto LANA desfilava no palco sua elegância de modelo, o corpo escultural, e o rosto hummm…. angelical.
Ela ria e brincava com a banda; e todos pareciam adorar estar ali, apresentando a irreverência construída que LANA criou.
Para mostrar a quê veio e provocar, o SET abre com música dizendo explicitamente que a VAGINA dela tem gosto de PEPSI COLA!
E LANA enfatiza que é verdade, e que foi um namorado quem constatou… Aquilo deixou onanistas à beira de uma “PAN ESPERMIA”!
Tá bom;
Se tem gosto de PEPSI COLA, então: LANA, ANGUSTIADA E BELA; CRAVO e CANELA!
Tentem; mesmo sob tentação….
POSTAGEM ORIGINAL: 26/06/2023
Pode ser uma imagem de 1 pessoa e texto

TERJE RYPDAL, “MELODIC WARRIOR” , 2013: O DISCO MAIS INTERESSANTE QUE OUVI EM 2022!

É comum eu escrever sobre certos músicos, músicas ou discos, em que tenho a impressão de tocar a epiderme do acontecimento musical. E, também, de estar apenas no início para compreender a profundidade composta ou executada à minha frente.
Vou tentando acondicionar um presente para eu mesmo, e para o leitor. Tento descrever percepções que não penetram na carne técnica da obra, cuja beleza muitas vezes recôndita, e outras explícitas e luminosas, vem com tal carga de sofisticação que exigiria, talvez, exegese para qual não estou habilitado.
Para mim, no entanto, o belo tem mais a ver com a melodia. Sempre a cara do amor à primeira vista!
Claro, música é compósito de vários elementos, harmonia, ritmo, tempo, arranjos e vasto etc… Eu tento fugir do simplismo, mesmo alcançando pouco além do primeiro subsolo do encantamento.
TERJE RYPDAL quando criança estudou piano e instrumentos de sopro. Com o tempo, passou a tocar guitarra inspirado em HANK MARVIN, guitarrista dos SHADOWS.
RYPDAL tem 76 anos, portanto é da mesma geração de CLAPTON, BECK, PAGE, HENDRIX, GILMOUR e ZAPPA… Ele é norueguês. Estudou musicologia e composição na UNIVERSIDADE DE OSLO. E dedicou-se, paulatinamente, à música de vanguarda em diversas vertentes.
O repertório estilístico de RYPDAL conjuga elementos do ROCK PROGRESSIVO, da FUSION JAZZ/ROCK, e principalmente da MÚSICA CLÁSSICA e do JAZZ CONTEMPORÂNEO.
A geração de jazzistas e músicos clássicos de vanguarda descendentes da música mais livre do final da década de 1950 em diante, foi se desenvolvendo no sentido da pesquisa de timbres, harmonias e ritmos elaborados.
É comum a proeza técnica sustentando um fascínio pelo “não melódico” trazer resultados muitas vezes desagradáveis ( para o meu gosto, claro!!!). BRANFORD MARSALIS tem muito disso.
Eu percebo na música de TERJE RYPDAL uma inflexão em direção à beleza melódica nítida. Não é o belo convencional, mas traz elementos da tradição. E tudo o que ele faz aponta para o agradável, o viajante, para um som bem cuidado e elegante – por assim dizer.
Seu trajeto artístico passou pelos grupos de GEORGE RUSSELL – pianista, compositor e professor americano, autor do primeiro MÉTODO DE HARMONIA BASEADO EM JAZZ, e não na MÚSICA EUROPEIA.
Estão postados aqui 4 CDS dos conjuntos de RUSSELL, gravados entre 1983 e 1985, onde TERJE e o saxofonista JAN GARBAREK tocaram com outros músicos da gravadora ECM.
Pesquisando pelaí, encontrei 47 discos de RYPDAL – ou com sua participação. O primeiro deles para a POLYDOR, em 1968. Ele permanece ativo.
Sua técnica e criatividade foi desenvolvida na gravadora alemã ECM, sob a direção do mago MANFRED EICHER. Ambiente ideal para sua música sofisticada, viajante e não restrita a rótulos facilmente definíveis.
Por lá, TERJE participou em discos de GARBAREK, KETIL BYORNSTAD e JOHN SURMAN, pra ficar em poucos. E foi acompanhado por músicos em nível de MIROSLAV VITOUS, JACK DeJOHNETTE, JON CHRISTENSEN e ARILD ANDERSEN. É a tal constatação imprecisa: “dize-me com quem andas, e eu te direi… Etc… E tal”!
Ao longo dos tempos, TERJE desenvolveu técnica para tocar longas notas delicadamente sustentadas; “sem ataque”. Se houver alguma comparação estilística e musical possível, TERJE RYPDAL “lembraria” DAVID GILMOUR, do PINK FLOYD. E, algumas vezes, JEFF BACK na fase BLOW BY BLOW.
Sua guitarra é climática, melancólica, cerebral, nórdica e fria; sempre plena de estilo e imaginação. E está inserida no que se poderia chamar ‘EXPERIMENTAL MELÓDICO”…
Ele faz uma FUSION DE VANGUARDA, ou como li, a “DISSOLUÇÃO DAS FRONTEIRAS ENTRE GÊNEROS MUSICAIS” que aplica, também, em suas incursões na música clássica contemporânea:
“UNFINISHED HIGH BALLS”, composição dele, foi gravada ao VIVO , em 1976, com a SWEDISH RADIO JAZZ GROUP; e a sua ampla sessão de metais, que abarca vários timbres e registros, além de melotron, celesta e percussão. É uma beleza!
TERJE RYPDAL compôs, inclusive, cinco sinfonias.
Entre elas, MELODIC WARRIOR, gravada com o sensacional coro HILLIARD ENSEMBLE, e a BRUCKNER ORCHESTER LINZ, dirigidos por DENNIS RUSSELL É o melhor disco que escutei em 2022!
Vou tentar descrever um pouco esta obra de arte.
Eu adoraria “ver” como a partitura foi escrita; sua disposição interna, já que não sei ler música. É por causa da sonoridade complexa. Gostaria de saber como se expõe, por escrito, uma “treta” daquelas!
É um vasto BLEND que incorpora das “intenções” do ROCK PROGRESSIVO até as composições CLÁSSICAS DE VANGUARDA!
A guitarra de TERJE RYPDAL se integra à escrita para CORAL e à ORQUESTRA, onde fica evidente a capacidade das vozes expressarem-se circundadas por esses dois meios (coral e orquestra).
Não é um DUELO, mas uma ARQUITETURA onde várias vozes simultâneas, e polifonicamente arranjadas, parecem afirmarem-se acima de qualquer possível criação instrumental.
O resultado é mágico!!! Extremamente belo!!!! Se é que bem compreendi; ou pude expressar – me através de palavras.
TERJE RYPDAL é um INTEGRADOR DE ESTILOS, um “DISSOLVEDOR DE FRONTEIRAS. Grande artista suficientemente prolífico e instigante para deixar de ser notado.
Tentem! Já!
POSTAGEM ORIGINAL: 06/11/2022
Nenhuma descrição de foto disponível.

DOIS ALBUNS CONCEITUAIS PIONEIROS: MANHATTAN TOWER , de GORDON JENKINS, 1956. E NIRVANA UK (1967-1971) THE STORY OF SIMON SIMONPATH

A busca pelo paraíso pôs em choque os dois NIRVANAS.
Quando o NIRVANA AMERICANO, aquele de KURT COBAIN e DAVE GROHL, surgiu em 1987 no Estado de Washington, e invadiu o planeta; o NIRVANA INGLÊS já havia sido recolhido aos verbetes de enciclopédias do ROCK.
O sucesso do primeiro despertou a ganância do segundo. Processo, indenização de 100 mil dólares e um acordo para os dois usarem o mesmo nome. Os ingleses acrescentaram o UK…
Havia motivos, apesar dos ingleses terem aparecido pouco, gravaram um disco hoje CLÁSSICO DO ROCK CONCEITUAL, por assim dizer: “THE STORY OF SIMON SIMOPATH”, 1967. Aqui, em excelente versão com bônus, livreto e etc.
É uma história “infantil” muito bem contada. Tem início, meio e fim; e bom entrecho onde cada música refere-se a um momento da narrativa.
Em linhas gerais, fala de um garoto que desejava ter asas para poder voar. E terminou encontrando a garota ideal em um outro mundo, onde tornaram-se rei e rainha do Paraíso Perdido…
É bobagem, claro. Mas o desenrolar da coisa é interessante.
O disco é musicalmente bom? Mais ou menos, em minha opinião. As músicas são bastante óbvias e os cantores medianos demais.
Porém, tem o “sabor doce” da época: SUNSHINE POP mesclado por ROCK-BARROCO, alguma orquestra, uns toques de FOLK INGLÊS e PSICODELIA. É mais para colecionadores do que para os habitantes mais exigentes do mundo POP-ROCK.
No entanto, há um motivo “histórico” : o disco é mais um entre os tidos como “o primeiro” disco conceitual, já que saiu um mês antes do “THE DAYS OF FUTURE PASSED”, dos MOODY BLUES, 1967 – o que é irrelevante, já que a gestação deste levou muito tempo até desaguar). E, claro, foi lançado antes de TOMMY ( THE WHO ) ARTHUR ( KINKS), discos artística e historicamente importantíssimos.
Mas, interessante mesmo é observar que o PRIMEIRO DISCO digamos CONCEITUAL, é um misto de JAZZ, POESIA e GRANDE CANÇÃO AMERICANA, concebido aos poucos, e com versão definitiva gravada em 1956, pelo autor e maestro GORDON JENKINS, e foi batizado por MANHATTAN TOWERS. E conta história da vida de um jovem, seu cotidiano, e a vida no condomínio onde morava, um conjunto de prédios em NOVA YORK.
É disco totalmente inovador, há música variada, monólogos, diálogos e efeitos sonoros acerca do tema. E o mais surpreendente: foi gravado em 78RPM, depois em SINGLES e, no advento do LP, foi completada e definitivamente lançada. É o disco da postagem
Há também uma gravação do grande cantor MEL TORMÉ , nos anos 1950…
A versão de JENKINS está sendo considerada o PRIMEIRO DISCO CONCEITUAL DA HISTÓRIA DA MÚSICA POPULAR. Recomendo que procurem nas plataformas virtuais e ouçam…É muito instigante e surpreendente.
É mais uma prova de que, mesmo sem querer, quase tudo o que está por aí deriva de algo original já concebido no passado.
MANHATTAN TOWER é essencial.
Tente!
POSTAGEM: 02/11/2022ESE