THELONIOUS MONK, ALFRED BRENDEL e JOÃO DONATO, PIANISTAS: PONTOS DE CONFLUÊNCIA

SAUDAÇÕES COTOVELARES! Por causa da pandemia:
Não tenho medo de voar. Seja por avião ou pensamentos; ou especulações em cima de assuntos que aprecio e suponho saber um pouco.
Dia desses, eu estava selecionando discos aprisionados em minha discoteca de música brasileira. Passei pente grosso em um cipoal de coisas que, suponho, estavam deslocadas do foco de meus interesses. Separei uns 40 para vender, trocar… sei lá!
Eu não lembrava bem de JOÃO DONATO e o porquê de sua importância e fama rediviva, aqui e lá fora.
Escutei discos e gostei. Mesmo quando pré-Bossa Nova, onde ele mistura música latina – boleros – com música brasileira em seu piano excelente, mas ainda não tão pessoal.
TOM JOBIM começou carreira na gravadora ODEON selecionando, em 1956, repertório para “CHÁ DANÇANTE, o disco de JOÃO DONATO. Miscelânea de coisas dançáveis, lounge, comerciais e belas.
O DONATO que mais nos importa começa em 1958, quando gravou duas músicas de JOÃO GILBERTO: MINHA SAUDADE e MAMBINHO. Depois, excursionou com ele pela Europa.
JOÃO DONATO foi para os EUA em 1959, e pertenceu às orquestras de MONGO SANTAMARIA, TITO PUENTE…onde refinou seu repertório latino.
Em 1963, já em plena BOSSA NOVA, instalou-se de vez na AMÉRICA e ficou por lá gravando com NELSON RIDDLE, HERBIE MANN, CHET BAKER…artistas consagrados. Ele foi pianista requisitado.
Quando retornou ao Brasil, em 1973, já havia consolidado seu estilo sincopado de tocar piano; as frases curtas que estancam repentinamente. Ele trabalha muito com o ritmo; e tem o SILÊNCIO como parte estrutural da música.
Este é o JOÃO DONATO – um péssimo cantor – que ressuscitou para as novas gerações, e é “sampleado” de montão. Ouçam os discos LEILÍADAS, 1986; e QUEM É QUEM, 1973; onde os diferenciais estão nítidos.
THELONIOUS MONK é de tal forma seminal que merece postagem única e mais bem estudada. Mas, não hoje.
Porém, SPHERE (Sim, é também parte do nome dele!!) tem características que ressaltam. MONK é outro grande operador do SILÊNCIO como integrante da música. Seu fraseado é curto e “duro”. O piano tocado quase nota por nota, com certa agressividade e força, emite sons sempre mais altos do que se espera da maioria dos jazzistas.
Eu acho THELONIOUS nada sutil. Ele toca usando muita dissonância e de maneira totalmente pessoal. É um GÊNIO da música, um estilista moderníssimo. Tudo fica bastante perceptível nas faixas solo. E muito evidente em sua fase na COLUMBIA RECORDS, (1962/1968), onde as gravações são de alto nível técnico e artístico, como sempre a hoje SONY MUSIC fez e faz.
ALFRED BRENDEL é austríaco e ainda vivo. Está entre os grandes pianistas de música clássica dos anos 1950 em diante. Um virtuose superdotado de obra extensa e importante. Ele é especialista em MOZART e SCHUBERT, e referência em BEETHOVEN. Suficiente, você não acha?
VON KARAJAN gravou três vezes o ciclo completo para PIANO e ORQUESTRA da obra de BEETHOVEN.
BRENDEL fez quatro vezes o mesmo ciclo! E três vezes a integral das 32 sonatas compostas pelo gênio!!!! Ele teve imaginação, empenho e determinação como poucos!
Curiosamente, ALFRED BRENDEL pertence à escola dos pianistas que procuram executar a música de acordo com as indicações e partituras originais do compositor. Ele defende que obras magistrais são de inesgotável densidade. Por isso, comportam infinitas leituras, por cada um ou por vários artistas; e não se esgotarão jamais!
BRENDEL é um intelectual, professor e pesquisador incansável, com vários livros publicados!!! Está aposentado das salas de concerto. Tem 96 anos.
Ele é um estilista, e seu dedilhar é perfeito. A gente escuta nota por nota, em tempo e ritmo precisos; ele não usa muito os efeitos dos pedais. Tudo isso o ajuda a construir e controlar o SILÊNCIO e as pausas, entendidos como recursos musicais.
ALFRED BRENDEL faz uso massivo e denso de acordes nos registros baixos. E sua interpretação vai do barulho desconcertante à suavidade extrema; sempre com pertinência, e elegância elevada. É um intérprete exímio e pianista de técnica apuradíssima.
Aliás, é o meu pianista predileto!
Mas TIO SÉRGIO, o que te trouxe à pretensão e arrogância de escrever sobre três músicos tão excepcionais e diferentes entre si?
Talvez a minha percepção seja incompleta e simplista. Mas vejo em DONATO, THELONIOUS E BRENDEL o domínio do SILÊNCIO e das PAUSAS como parte integrante e ativa da concepção e da execução musical.
Mal comparando, se os três jogassem futebol pertenceriam àquela estirpe de craques que sabem jogar sem a bola; e dominam o espaço, o tempo, e se deslocam magicamente pelo campo.
No caso desse trio, a música e a “não música” se complementam integradamente.
TALVEZ?
POSTAGEM REVISTA, ORIGINAL 02/05/2021
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JEFF BECK – LIVE! DVDS e CDS – SHOW DE ECLETISMO, TÉCNICA E ORIGINALIDADE

Dia qualquer, entrei na padaria perto de casa e pedi Coca Cola e um sanduíche de alguma Mortadela razoável – tem de todo tipo, algumas lixo puro. Preço: R$ 21,00!!! Estava mais ou menos…
Fim de semana seguinte fui à POPS DISCOS, a loja que frequento e das poucas que sobrou em São Paulo, e comprei o BLUE RAY do JEFF BECK, “LIVE IN TOKYO”, gravado em 2014. Custou R$ 25,00.
Um produto completamente original e lacrado, som e imagens de primeira qualidade. Pra resumir, a tecnologia, os impostos, o desenvolvimento de produto, a performance espetacular de um gênio e seus músicos; mais a durabilidade quase indefinida do objeto, e tudo o mais que é preciso para fazer um artefato desse nível, custou um dólar a mais!
Como dizem os economistas versados em Shakespeare, algo de muito podre acontece no reino dos preços relativos no Brasil…
Nesse DVD, JEFF BECK continua o que talvez algum ouvinte desatento diga ser mais do mesmo. Não é. A nova banda que ele montou com os excelentes JONATHAN JOSEPH, bateria; NICOLAS MEYER, guitarra; e RONDHA SMITH, a excepcional ex-baixista que acompanhava o PRINCE, tocam parte do repertório clássico de BECK. Porém, sem os teclados. O que deixa o som fica mais compacto e pesado.
Em linhas gerais, é um mergulho ampliado, agora em teatro imenso, o TOKYO DOME CITY HALL. Um concerto sob o silêncio e atenção dos japoneses, que respeitam os artistas, e aplaudem muito somente ao final de cada música.
É o contrário do que acontece por aqui. No show de JACK BRUCE, em São Paulo, outro músico de gênio, um bando de bocós berrava e avançava sobre a fileira de cadeiras e o corredor central do Teatro Bradesco, cena de agressividade típica de torcida organizada em campos de futebol. Coisa de gente boçal!
Se comparados à outra performance espetacular do mago, no clássico “PERFORMING THIS WEEK AT RONNIE SCOTT´S”, lançado em 2009, as diferenças ressaltam. A performance é mais JAZZY. Os excepcionais VINNIE COLAIUTA, baterista; a quase menina TAL WILKENFELD no baixo, e o tecladista JASON RABELLO criam estrutura mais sutil, mais voltada à FUSION; e talvez com abertura para o PROGRESSIVO. E vamos incluir a presença de ERIC CLAPTON; de JOSS STONE, excelente cantora de R&B; e da “muito diferente” IMOGEN HEAP, uma estilista cantando! É show inesquecível!!!! Portanto, DVD imperdível!
Conheci o som de JEFF BECK em 1967, na casa do meu amigo SILVIO DEAN, quando por aqui foi lançado o “HAVING A RAVE-UP”, dos YARDBIRDS. Disco/evento imperdível!!!
No lado A do LONG PLAY está BECK na guitarra solo. E o primeiro SINGLE que ele gravou com com o grupo: “HEART FULL OF SOUL”, 1965. E mais outras músicas imperdíveis. No segundo lado quem toca é ERIC CLAPTON, ao vivo, em outra performance antológica, lançada em 1965 como “FIVE LIVE YARDBIRDS” – um E.P. cult e colecionável:
THE YARDBIRDS Foi a primeira banda inglesa que adorei à beira do fanatismo. Ainda idolatro, e sempre os colecionei. Acho que fui o primeiro a escrever sobre eles, no Brasil, lá por 1977…
JEFF BECK é um eclético soberbo! Ele pode tocar “TUDO”. Simplesmente. Procurem o DVD “JEFF BECK ROCK´N´ROLL PARTY, honouring LES PAUL”. Para quem está acostumando com ele na FENDER, precisa ver o que faz ao vivo com uma “GIBSON LES PAUL”!
O DVD é show no “IRIDIUM JAZZ CLUB, NOVA YORK”, em 2010. BECK é o convidado principal, claro. A banda de apoio é excelente. Vão do ROCKABILLY ao R&B. E JEFF vai de SHADOWS a GENE VINCENT; passa por montes de músicas de “LES PAUL”, e acompanha uma cantora e intérprete sensacional que eu só conhecia de nome: IMELDA MAY! A moça arrasa no ROCKABILLY, com estilo e voz adequados! E arrebenta no R&B!!! O show além de uma festa de ROCK AND ROLL clássico, explica os caminhos que JEFF BECK cruzou, e porque chegou em nível tão alto!
Antes de tudo, JEFF BECK FOI um guitarrista de ROCK – e “BEYOND” – originalíssimo, que reinventa e domina seu instrumento a cada performance. Foi um criador de sons e sonoridades. Seu “FINGERPICKING GUITAR”, tocar só com os dedos e sem palheta, é perfeito. Em concerto ele se concentra totalmente. Daí, as execuções brilhantes. JEFF foi profissional de altíssima performance. E um artista que combinava, equilibrava, peso e lirismo.
Em 1973, BECK juntou-se ao baixista TIM BOGERT e ao baterista CARMINE APPICE, ex-integrantes do CACTUS, banda de HARD ROCK AMERICANA. Era intenção antiga que não havia progredido porque BECK sofrera sério acidente de automóvel, que o deixou fora de atividade por um ano e meio.
Quando ele se recuperou, gravaram um CD controvertido. A ideia era mais ou menos seguir o que fizera o CREAM e o WEST, BRUCE & LAING, mas cruzando R&B, HARD ROCK e resquícios da PSICODELIA. Eu acho que não deu certo, porque nenhum dos três conseguia cantar.
Porém, gravaram um álbum duplo ao VIVO, no JAPÃO, que se tornou CULT e colecionável. A insuficiência dos vocais foi compensada pela performance instrumental exuberante. O BECK, BOGERT & APPICE serviu para BECK dar a guinada definitiva na carreira.
Em 1975 GEORGE MARTIN, famoso por sua ligação com os BEATLES, produziu para a EPIC RECORDS o álbum “BLOW BY BLOW”, que levou JEFF BECK a outra perspectiva artística.
O interessante é que a EPIC era filiada à COLUMBIA RECORDS, que desenvolvia projetos com FUSION JAZZ e outras vanguardas, como o ROCK PROGRESSIVO.
Estavam no “CAST” da COLUMBIA artistas em nível de MILES DAVIS, WEATHER REPORT e a MAHAVSHNU ORCHESTRA, do guitarrista JOHN McLAUGHLIN. BECK foi orientado para a FUSION. E os discos que gravou são todos principalmente instrumentais. Em 1977, foi lançado JEFF BECK with JAN HAMMER GROUP – músicos da CENA FUSION e próximos a McLAUGHLIN. O disco exemplifica bem o estilo da época e a opção do artista.
BECK circulou por todos os cantos da modernidade musical, do FUNK à SOUL MUSIC; ao HEAVY, e à FUSION; do R&B ao BLUES; ao PROGRESSIVO ao ELETRÔNICO. Ele cita compositores CLÁSSICOS em várias de suas composições ou performances. Procurem escutar o que ele fez em 1968 com “LOVE IS BLUE”, a baba orquestral de PAUL MAURIAT. Mas, não sem antes ouvir o “seu” BECK´S BOLERO ( de RAVEL). E aproveite para ouvir com atenção “NESSUN DORMA”, de PUCCINI, no CD EMOTION & COMMOTION, 2010. É o articulado ecletismo de JEFF em demonstração explícita.
Em minha opinião, JEFF BECK há muito ultrapassou HENDRIX em técnica e inventividade. A obra dele não é muito extensa, mas é importante e original. E o estilo e sonoridade que criou foram seminais para a evolução do ROCK antes de HENDRIX. Eu tenho a impressão de que muitas vezes BECK realizava fusões dentro das fusões que fazia. Mudava a direção dos solos, dos ritmos, de um estilo musical para outro; criava coisas novas inesperadamente…
JEFF BECK foi um gênio produtivo e operante. Ele está duas vezes no “ROCK AND ROLL HALL OF FAME”. A primeira com os YARDBIRDS. A outra pela carreira solo. Além da música, ele gostava, entendia e colecionava automóveis. E montava carros de corrida e competição. Tinha oficina em casa; e era respeitado no meio automobilístico por seu conhecimento de motores, veículos, essas coisas…
Ele morreu quase repentinamente de MENINGITE BACTERIANA aos 78 anos, em janeiro de 2023. JOHNNY DEPP com quem ele vinha gravando e excursionando o acompanhou até o final.
E nós sentiremos a falta dele pela eternidade.
POSTAGEM ORIGINAL: 30/04/2024
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DISCO MUSIC E SEU TEMPO. DANÇAR? QUEM? EU?????

Lá por volta de 1975, daí e por ali TIO SÉRGIO, “gostante” do ROCK e do BLUES, e estudando CIÊNCIAS SOCIAIS na USP, encarnava ( ou será “ENKARMAVA”) um projeto de intelectual esquerdista, e devidamente “achante” de sua superioridade.
Claro, fazia parte do meu suposto charme um quê de arrogância, e concessão aos “não conscientes” e aos “não iniciados” em meus saberes e relutantes convicções.
Então, como é que eu poderia gostar de um troço daqueles?
“Nor fucking, man”, se é que dá pra escrever assim! Podiam me passar na máquina de fazer salsichas que eu não iria a uma DISCOTHEQUE!!! E não fui mesmo! E a Angela também odiava tais ambientes…
Lembro que em meio a papos-cabeça, certo dia na mesa de um bar próximo da USP, um colega defendeu a tese de que a BATIDA “DISCO” tinha sido “cientificamente planejada” pelos americanos para alienar a classe trabalhadora!!!
Daí, o mundo de JOHN TRAVOLTA e o vasto etc… POP não passaria de lixo fulgurante, gestado na “GRINGOLÂNDIA” para entorpecer a juventude, e manter o imperialismo urbe et orbe! Éramos assim! Ingênuos, militantes e bem intencionados!
Claro, o mundo inteiro, de norte a sul, de cabo a rabo, do Oiapoque a Marilena Chauí – na frase memorável do falecido jornalista DANIEL PIZA – ouvia e dançava aquilo. Menos eu, …ahnnn…nós…
Eu resisti bravamente; fanaticamente! E a tal ponto que um dos primeiros artigos que escrevi para a REVISTA MÚSICA, onde eu colaborei, na década de 1970, foi uma resenha largando a lenha em RUMOURS, do FLEETWOOD MAC!!!!
Tenho vergonha até hoje só de lembrar! Fiz uma catilinária burra, mal pesquisada e mal escrita, sobre um dos maiores clássicos da MUSICA POP em todos os tempos!
E os caras publicaram! Meu Santo Colombino!!!! Eles publicaram!!!
“RUMOURS” vendeu como chicletes – nas palavras de um crítico americano. E continua vendendo. Merecidamente. E eu devo a mim mesmo fazer outra resenha, e avaliar com mais correção e sobriedade um disco adorável e imperdível!! E, claro, limpar a minha consciência.
Mas, TIO SÉRGIO, que porra era aquilo de DISCO MUSIC?
Ora, apenas uma das formas possíveis e dançáveis do RHYTHM´N’ BLUES. Elementos de música negra acoplados àquela batida repetitiva e identificável; vez por outra acrescido de instrumentação eletrônica, como fizeram no chamado EURODISCO, do final dos anos 1970 Mas que se expandiu “ad-infinitum” com reflexos até hoje, no POP.
Você se recordam de GIORGIO MORODER? E do MEGA-HIT das pistas de dança, DON´T LET ME BE MISUNDERSTUD, com o SANTA ESMERALDA? E da sempre dançante e adorável DONNA SUMMER – hoje ícone inconteste?
E melhor ainda, lembram-se da espetacular “SELF CONTROL”, em suas várias mixagens e SAMPLERS? Canção legal, ritmada e ultra dancável; e com letra climática, descritiva e bem – feita? Mais do que isto: sociológica: porque elucidativa da cultura DISCO e seus curtidores. É ONE HIT WONDER e clássico de LAURA BRANIGAN!
E, talvez, a melhor música da época?
Mas, a batida DISCO viajou bem mais longe. Está em HEART OF GLASS, com o BLONDIE; em I COULD´NT GET IT RIGHT, com a CLIMAX BLUES BAND; e, também, no sensacional CHIC, de NILE RODGERS e BERNARD EDWARDS. Ou em faixas do multissucesso SILK DEGREE, 1976, de BOZZ SCAGGS.
Também inesquecível em várias músicas do RUMORS, do FLEETWOOD MAC!!! E nas faixas DISCO que ressuscitaram os BEE GEES; e deixaram ROBERT STIGWOOD, também grande produtor de MARLEY a CLAPTON, mais rico ainda!!!
Quando assisti entediado a “OS EMBALOS DE SÁBADO A NOITE”, em algum canto repeti o que havia lido de um “resenhador” de filmes: TRAVOLTA seria um sub ator. E que tudo o mais, ele incluído, fosse para o inferno!
Errado! O TRAVOLTA já era bom; e depois se tornou grande ator.! Outra vergonha evidente e memorável que passei…
Mas, o tempo vai e a gente também… hoje, eu adoro “tudo isso que está aqui postado”. E mais um monte! Melhor, quase tudo… Recordo que a RHYNO RECORDS lançou, décadas atrás, BOX com vários CDS dedicados à DISCO MUSIC. Sumiram do mercado. Mas, quem sabe um dia eu ainda consiga pra mim. Tenho esperança…
Depois desse bafão por aqui, podem levar o TIO SÉRGIO para o frigorífico e passar na máquina de fazer salsichas!!!!
Vai sair Salsicha gorda…e ruim.
POSTAGEM ORIGINAL: 30/04/2022
Pode ser uma imagem de 7 pessoas e texto que diz "CHIC COULDN'T GET D BAND BLUES CLIMAX Plus EDITION COLLECTORS CHIC Vela"

SEARCHERS – 1959/2019 – A SEGUNDA BANDA MAIS POPULAR DE LIVERPOOL

Acabaram de vez, em 2019.
Também, pudera! 60 ANOS aí, quase sempre em atividade. Os dois remanescentes, o guitarrista JOHN McNALLY, fundador do grupo; e o baixista FRANK ALLEN, por lá desde 1964, aposentaram-se por tempo de serviços prestados ao ROCK. Bons serviços!
THE SEARCHERS gravaram pouco, mas foram seminais para o BEAT ROCK. Tiveram influência direta nos BYRDS, nas BANGLES, e no BRIT-POP.
Trouxeram o som melódico das guitarras “RICKENBACKER” para o ROCK. Antes, eram muito usadas no FOLK e na COUNTRY MUSIC. ROGER McGUINN e sua turma…, os BYRDS, vieram depois.
Tiveram, também, fortes conexões com os RAMONES – grandes fãs da banda. MARK RAMONE tocou e gravou algumas coisas com eles.
Os SEARCHERS foram os “segundões” em Liverpool, entre 1962 e 1965, perdendo em fama apenas para…ahhh… vocês sabem quem!
Aliás, cometeram erro estratégico na carreira ao se recusarem a ser administrados por BRIAN EPSTEIN, empresário dos… ah vocês conhecem… No pacote, viria música composta por GEORGE HARRISON, e certinha para eles gravarem: “Don’t Bother Me”.
Paciência; perderam a oportunidade. Inclusive por isso mal sobreviveram ao BEAT. Gravaram ótimos SINGLES de transição, que se poderia chamar de PRÉ-PSICODÉLICOS – como quase todos os grandes concorrentes.
Porém, HOLLIES, MANFRED MANN, YARDBIRDS, STONES e os próprios BEATLES suplantaram o basicão e fizeram História em outras tendências do POP. Os SEARCHERS estancaram por ali.
Gosto e sempre gostei deles. Estiveram na ALEMANHA, no início dos anos 1960, como os BEATLES e tantos outros. E têm disco ao vivo gravado no “STAR CLUB” de HAMBURGO. Vibrantes!
Os SEARCHERS legaram DISCOGRAFIA PEQUENA e respeitável, parte dela na foto. Gravaram DEZENAS DE SINGLES e E.P.s – alguns de sucesso mundial; todos estão dispostos aqui em algumas COLETÂNEAS bem adequadas. E em todos os “CDS originais” de carrerira, há faixas bônus, B-sides, Out Takes, e versões de alguns HITS para outras línguas.
Fizeram poucos álbuns. “TAKE ME FOR WHAT I´M WORTH”, de 1965, é o meu disco predileto de todo o BEAT INGLÊS. E está entre os dez dos quais mais gosto. Não preciso dizer que os DISCOS DE VINIL dos SEARCHERS são colecionáveis e valiosos. As primeiras edições dificilmente são encontradas por aí! Estão nas mãos de colecionadores mundo afora.
No final dos 1970, rumaram para um tipo de PUB ROCK, e nele mantiveram a carreira em cassinos, pequenos teatros, cabarés e turnês de “oldies”. Permaneceram até encerrarem, em 2019, com show comemorativo.
Experimentem.
POSTAGEM ORIGINAL 28/04/2022
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BLACK MUSIC CONTEMPORÂNEA: ARTISTAS E DISCOS QUE VALEM A PENA CONHECER!

AMY WINEHOUSE ERA TALENTO PROMISSOR.
ERA.
FEZ TRÊS DISCOS. O PRIMEIRO, “FRANK”, EU MANDEI PRA FRENTE, PORQUE NÃO ERA O TIPO DE CERVEJA QUE EU GOSTO DE TOMAR. ENFATIZANDO, NÃO ERA VINHO PARA O MEU CÁLIX.
O segundo, “BACK TO BLACK” , é bastante bom. Tem arranjos para mim mais palatáveis. É SOUL MUSIC E O R&B clássicos. A banda trabalha muito bem, e AMY canta expressiva e corretamente daquele jeito que alguns acham emular a BILLIE HOLIDAY. Mas, TIO SÉRGIO, o chato de óculos, acha que AMY lembra mais DINAH WASHINGTON.
O disco seguinte e final, “LEONESS HIDDEN TREASURES” tem repertório agradável, seguindo mais ou menos o anterior, com algumas modernizações. Só que se percebe nitidamente que ainda não estava pronto.Em todos, aparece a foto da menina esquálida, viciada, e derretida por drogas.
Nos dois primeiros, ela está cantando algumas insanidades que compôs, experiências da vida jogada no lixo, e sem a poesia de um LOU REED que justificasse o desperdício.
Sobre a pessoa de AMY, cabe paráfrase: “Pobre menina, não tem ninguém”…, que um dia cantaram LENO E LILIAN, destruindo de vez o clássico “HANG ON SLOOPY” ou “LOUIE LOUIE” – tanto faz, são a mesma melodia -; um BEAT clássico, famoso e chato, dos anos 1960…
Em 1994, entraram em minha loja, a CITY RECORDS, na Avenida Paulista, em SAMPA, duas clientes conhecidas. Estava rolando no CD-player, o segundo e ótimo disco do SEAL.
Eu as deixei à vontade, e fui verificar outra coisa. Mas, percebi que as moças olhavam a foto daquele preto enorme, atlético e carismático; e comentaram baixinho entre elas sobre como seria “NAVEGAR AQUELE DESTROIER” ; as dimensões do “instrumento” e como aconchegar o “mastro” em suas respectivas marinas! Quase não disfarçaram o entusiasmo…
Eu percebi tudo, e disse nada, claro…
SEAL foi um elo entre a melhor BLACK MUSIC e o POP comercial. De certa forma substituiu, aqui no Brasil, o gosto e alguma preferência por JOE COCKER, nesse mercado meio indefinido.
Seria?
No início dos anos 1990, SEAL ajudou a revitalizar o R&B e a SOUL MUSIC em geral, com sua voz pessoal, diferenciada, de preto, quase rouca e aveludada.
O estilo de compor e cantar recuperava a tradição da melodia POP, com arranjos modernizados; sutil gosto de vanguarda, e um travo único que só os ingleses conseguem.
Os três discos aqui são excelentes. Tem gente do calibre de JEFF BECK, TREVOR RABIN (YES), e incontáveis tocando, e ampliando o espectro. A produção é de alto nível pelo mago de estúdio TREVOR HORN. Discos imperdíveis, eu acho!
SEAL é nigeriano, com ascendentes africanos e brasileiro. Foi adotado por ingleses e desenvolveu LUPUS, doença degenerativa que deixou as cicatrizes que o marcam.
O negão continua sucesso firme e sólido.
As moças compraram os discos dele. Dois para cada uma… SEAL daria conta delas, tranquilamente…hummmm!!!!
TERENCE TRENT D`ARBY mudou de nome. Desde o fracasso do segundo disco, “NOR FISH OR FLESH”, virou SANANDA MAITREYA. E continua por aí.
Em 1987, ele era a bola da vez na música negra.
Americano, serviu ao exército, na Alemanha, no mesmo batalhão em que ELVIS PRESLEY esteve “lotado”, na década de 1950… É só História, e nada se comunica, é claro!
Lá, começou a cantar, coisa e tal, e migrou para a Inglaterra, onde seu primeiro disco, “INTRODUCING THE HARD LINE”, foi gravado e tornou-se um clássico do R&B moderno.
D`ARBY tem voz rascante, potente, identificável, talvez entre os timbres de MARVIN GAYE e um jeito do STEVIE WONDER cantar. Subiu feito foguete. Depois, caiu feito um míssil! Continua gravando. Já esteve por aqui. Seja como for, o primeiro disco é, sim, muito legal!!!
RIHANA: Quem não ouviu e não gosta de DIAMONDS, sucesso retumbante de uns anos atrás, não captou a essência POP única que só os negros conseguem transmitir. É moça charmosa, bela, com o jeito meio descolado dos marginais de boutique.
Canta muito legal! A menina tem voz límpida, clara; e seu disco, “UNAPOLOGETIC”, 2012, também virou um clássico. É POP no último gole de vodka com energético…
TIO SÉRGIO curte. E de montão! Os arranjos eletrônicos são bem dosados; há melodias agradáveis, e joga a turma na pista de danças para pular, ou roer o pescoço da (o) parceira (o). .. Hummm, TIO SÉRGIO está décadas distante desta hipótese!
Resumindo, é bem legal ouvir; e eu mantenho a pretinha atrevida e suas baforadas de maconha, fotografadas na capa, em minha discoteca.
Não fujam desse TRIO!
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DAVID BOWIE E MARC BOLAN 1967/1974. O GÊNIO DEFINIDOR E O CHATO DEFINITIVO

BOWIE morreu consagrado. BOLAN em decadência paulatina.
São absolutamente contemporâneos, teceram carreiras paralelas que, nada paradoxalmente, se cruzaram entre 1971 e 1974. Compartilharam várias vezes o produtor TONY VISCONTI, e foram as duas figuras chaves do chamado GLITTER, ou GLAM ROCK. Histeria elevada ao cubo e contrastante com o ambiente compartilhado com o ROCK PROGRESSIVO, o HARD e o HEAVY METAL – também ascendentes.
GLITTER É POP e dançar é preciso. Então, a Parada de Sucessos era deles. No primeiro Long Play, 1967, na foto, BOWIE dava ideia do excelente e versátil melodista que sempre foi. Ainda não é o DAVID BOWIE que reconhecemos, mas abre pistas.
Na encarnação enquanto TYRANOSSAURIOUS REX, em quatro long plays, MARC BOLAN mostrou o vocal sempre insuficiente gravando um FOLK PSICODÉLICO meio sem rumo… Até que TONY VISCONTI deu um jeito, e seus HITS mascados e dançantes dominaram a Mídia.
BOWIE, também. Mas, seu talento, energia e versatilidade o levaram muito, mas muito além, até o final da vida.
DAVID BOWIE ajudou a definir a estética musical de seu tempo.
DAVID GILMOUR, do PINK FLOYD, se lembrava de MARC BOLAN no escritório da banda assediando a recepcionista, JUNE CHILDS, com quem se casou.
Aliás “BOLAN-CHILDS”, tornou-se a plaquinha na porta do apto dos dois; e se tornou ÍCONE POP naqueles tempos antigos.
Prefiram BOWIE. Mas, ouçam alguns SINGLES do T.REX. Principalmente GET IT ON e METAL GURU. Arte, diversão e frescuras disseminadas. POP ROCKERS até final.
POSTAGEM ORIGINAL: 27/04/2019
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MIROSLAV VITOUS, UM SUPERDOTADO! BAIXO ACÚSTICO GENIAL EM VANGUARD JAZZ E FUSION

Em cena no “making-of” do DVD “Me and Mr Johnson”, ERIC CLAPTON aponta para o tamanho dos dedos de ROBERT JOHNSON, e comenta sobre o alcance físico do negão no braço e nas travas do violão. Os dedos enormes possibilitavam tocar as notas e os acordes, que certamente o distinguiram na história do BLUES.
Eu acrescento: ainda bem que o JOHNSON não foi urologista…
MIROSLAV VITOUS é um sujeito grandalhão. Se apropria e se aconchega facilmente ao enorme BAIXO ACÚSTICO. É, também, caso raro de superdotado em duas atividades: aos 6 anos tocava violino; aos 9 piano; e aos 14 baixo acústico. Resumindo o “PROLEGÔMENO”, o cara estava graus e graus acima da normalidade.
E, para referendar, MIROSLAV FOI NADADOR DE ALTÍSSIMA PERFORMANCE. Participava da equipe olímpica da antiga Tchecoslováquia! Só não foi para as Olimpíadas porque escolheu fazer música!
Sorte nossa e do mundo inteiro!
VITOUS, como outro artista de dimensão histórica – o bailarino russo RUDOLF NUREYEV, para citar em mesmo nível – aproveitou a excelência da educação física e do ensino das artes propiciada pelos Estados comunistas da EUROPA ORIENTAL, principalmente durante a guerra fria. Na música, ele se destacou a tal ponto que, aos 19 anos, já gravara com artistas populares locais!
EM 1966, VITOUS foi aprovado para cursar a BERKLEE SCHOOL OF MUSIC, em Nova York. Quem o escolheu em concurso foi o tecladista JOE ZAWINUL. Só!
No livreto que acompanha otima edição da BGO inglesa, para THE BASS; um clássico “underground” originalmente batizado por “INFINITE SEARCH”, VITOUS conta que, em PRAGA, na década de 1960, era muito difícil encontrar discos de JAZZ ou do bom POP internacional. No entanto, a rádio FREE EUROPE era ouvida por lá, e sua formação jazzística veio de alguns excelentes programas veiculados. Ele estudava e praticava com as informações que obtinha.
VITOUS conta experiência pela qual eu também passei várias vezes, como colecionador e ouvinte interessado em JAZZ e ROCK: Já nos E.U.A, MIROSLAV perguntava para pessoas ligadas à música se conheciam certos discos e gravações. E a resposta era normalmente “não”. Eu cansei de fazer isso com estrangeiros e ouvir a mesma coisa… Ele conclui que sabia mais de JAZZ morando em Praga, do que a turma do primeiro mundo. Eu digo o mesmo morando a vida toda no Brasil… E não sou o único, com certeza…
MIROSLAV tocou uns tempos com MILES DAVIS, que já estruturava sua FUSION ELÉTRICA. Mas, não era o que a banda necessitava. Ele toca BAIXO ACÚSTICO. E sua grande contribuição foi seguir a tradição de SCOTT LA FARO, um dos “libertadores” do contrabaixo para improvisar e liderar a música dentro de um grupo: LA FARO está, por exemplo, em FREE JAZZ, de ORNETTE COLEMAN…
VITOUS é um solista de vanguarda e não apenas um provedor de ritmos e andamentos. É, também, um dos grandes no uso do ARCO no instrumento. E foi desse contato com a banda de MILES DAVIS que, em 1969, MIROSLAV gravou para a EMBRYO, gravadora de vanguarda, um grande clássico batizado por “INFINITE SEARCH”.
O álbum foi produzido pelo flautista HERBIE MANN, que aproveitou a base do grupo de MILES DAVIS substituindo WAYNER SHORTER no sax.
Estão aí a guitarra de JOHN McLAUGHLIN, já grande músico, que ainda não havia levado seu fraseado curto ao estado da arte; JACK DeJOHNETTE e a sua bateria cheia de estilo, ton-tons e pratos; HERBIE HANCOCK ás no piano elétrico; e o sax de JOE HENDERSON, formado na sonoridade clássica da BLUE NOTE, e exportado para as fronteiras do JAZZ EXPERIMENTAL.
O quinteto é ousadia plena e, ao mesmo tempo, melódico!
Soa europeu? Quem sabe? Mas, nada do chato pedante masturbatório que circunda gênios de fato e, também, os FAKES. Então, junte aos acústicos os eletrificados e você terá um disco denso e consistente, na tradição da melhor “FUSÃO JAZZÍSTICA”, até hoje com lugar marcado na história e nas discotecas mais sofisticadas.
O movimento seguinte de VITOUS foi participar da fase inicial do WEATHER REPORT, com WAYNE SHORTER e JOE ZAWINUL – o seu “descobridor”.
MIROSLAV disse, certa vez, que foi “forçado” a sair substituído por ALPHONSUS JOHNSON, o antecessor do mítico JACO PASTOURIOUS, quando a FUSION da banda tornou-se mais linear e decididamente elétrica, em 1974. Aqui estão dois dos quatro álbuns que gravou com o WEATHER REPORT: SWEETNIGHTER, 1977; e I SING THE BODY ELECTRIC, 1974.
Desse ponto em diante o gigante disciplinado, metodicamente transgressor, praticante incansável do “DOUBLE BASS”, entra em nova etapa. Firme, forte e desafiador como o NADADOR de ponta que também foi.
Ele como todos que dão certo esforçou-se. Procurou um caminho e estilo. Em uma sapecada geral, levantei entre 48 e 58 álbuns de estúdio onde era, ou estava, entre os protagonistas. Há participação em mais 228 discos como artista convidado ou contratado. Nada mal! Concordamos, né?
MIROSLAV VITOUS gravou muito pela E.C.M., de MANFRED EICHER. Discos SOLO eu tenho na foto “MIROSLAV VITOUS GROUP”, 1980, com JOHN SURMAN, soprano; KENNY KIRKLAND, piano e JON CHRISTENSEN, na bateria. E, também, “JOURNEY´S END”, 1983, com a mesma turma, e JOHN TAYLOR substituindo KENNY no piano. Há também, “UNIVERSAL SYNCOPATIONS”, 2003, com CHICK COREA, JOHN McLAUGHLIN e JACK De JOHNETTE….Ahhhhh, vocês todos sabem o que eles tocam….
E há dois do diferenciado guitarrista norueguês TERJE RYPDAL, com MIROSLAV e DeJOHNETTE, lançados em 1979 e 1981. E mais um do saxofonista JAN GARBAREK e o baterista PETER ERSKINE, em1991. Sei que há outros diversos, na ECM, gravadora que é a “CARA” de MIROSLAV VITOUS, além de muitos, muitos outros catálogos afora…
VITOUS não parou, continua em atividade, e, dizem, soberbo! Inclusive em “aventuras” orquestrais. Mas, aí, já extrapola o texto.
Enfim, pesquisar essa gente toda é quase impossível, e as conexões espalham-se mundo e vida afora. Então, convido a todos começar por aqui. É música exuberante feita por gente de alta qualidade técnica e artística.
Procurem saber.
POSTAGEM ORIGINAL: 29/04/2023
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CELLY E TONY CAMPELLO, E O DILEMA DE ESTAR ENTRE DUAS GERAÇÕES

Noite incerta, no meio da quase madrugada, assisti a “BROTO LEGAL” , filme expondo o período de nascimento e quase glória do ROCK BRASILEIRO.
Claro, tio SÉRGIO, o chato, observa que faltou ao roteiro alguma sofisticação sociológica; questionamentos pertinentes, mesmo que não tão estridentes ou militantes.
Reviver aqueles tempos, incentiva o “viajante” a reflexões mais amplas.
E eu vou tentar.
O BROTO LEGAL, entre 1958 e 1962, foi CELLY CAMPELLO. Cantora talentosa, voz delicada e dicção clara e perfeita. E a imagem da menina jovial, “virginal” e de família, mas recatada na medida certa. Ela era SIGNO de um tempo que rumava célere para a extinção…
TONY CAMPELLO, seu irmão, e coadjuvante também talentoso, cantava em bailes, na região de TAUBATÉ, SP. Em 1956, veio trabalhar no SESC, em São Paulo. Foi o antídoto encontrado pelos pais para evitar que ele enveredasse em vida desregrada… Mas, com as noites vagas, descolou jeito de continuar cantando.
Nessas, ele cruzou com o grupo de MARIO GENARI FILHO; músico, produtor, e talvez o primeiro a tentar introduzir, no BRASIL, o ROCK AND ROLL, sucesso da hora, na AMÉRICA.
Ele convidou TONY para cantar em um 78 RPM que pretendia lançar, pela ODEON. CAMPELO gravou o lado A. Mas, para o lado B, o ideal seria uma cantora. Testaram esquecida veterana – eu não sei quem. Quase rolou…quase.
Foi quando TONY sugeriu a irmã, CELLY, de 15 anos! Mas, já apresentando programa na rádio CACIQUE de TAUBATÉ! E causando um pequeno agito regional!
CELLY deu conta do recado muito além do que esperavam! E TONY convenceu o relutante pessoal da ODEON a gravar versão de um HIT mundial da cantora CONNIE FRANCIS: e “ESTÚPIDO CUPIDO” foi explosão instantânea , em 1958!
CELLY virou sucesso arrasador. Excursionou pelo BRASIL; e gravou e vendeu discos, até 1962, quando desistiu da carreira para casar-se com o namorado de adolescência, JOSÉ EDWARD CHACON. Ela tinha 20 anos, gravou mais alguns discos, até 1965. E saiu de cena.
No início da década de 1970, houve certo “REVIVAL” com a novela “ESTUPIDO CUPIDO”. Mas CELLY não voltou a desenvolver carreira. Ela e o marido permaneceram casados até a morte dela, em 2003.
Entre os CDs na postagem, está um CD DUPLO dedicado aos dois, que faz parte da COLEÇÃO BIS, da gravadora EMI – que relançou, em, 2000, coletâneas da turma da JOVEM GUARDA. Mas, todos os CDS foram mal concebidos, e não trazem quaisquer informações sobre artistas e obras.
No repertório, estão 28 músicas, em qualidade técnica aceitável. Porém, CELLY mereceria algo feito pela BEAR FAMILLY RECORDS, especialista no POP/ROCK dos 1950/60. Certamente, os alemães dariam tratamento adequado tanto às músicas, quanto na parte gráfica e textos.
CELLY CAMPELLO foi a primeira TEEN IDOL brasileira. Era contemporânea de outra teenager, também baixinha e superdotada: BRENDA LEE, que forjou carreira de imenso sucesso, saindo do POP indo para o COUNTRY e até o GOSPEL; e continua viva… Postei aqui.
Sem dúvidas, CELLY CAMPELLO influenciou ELIS REGINA que, em 1961, lançou “VIVA A BROTOLÂNDIA”. Certamente, CELLY inspirou RITA LEE, PAULA TOLLER e, talvez, SANDY; entre diversas cantoras que, se repararmos bem… Dizem as boas línguas que TOM JOBIM gostava do jeito de CELLYcantar…
É interessante notar que os TEEN IDOLS explodiram para valer anos depois: STEVIE WONDER, STEVIE WINWOOD e PETER FRAMPTON; e sem focar nas BOYS BANDS tipo MENUDOS, BACK STREET BOYS, NSYNC. Ou, também, os meninos coreanos de agora, e tantos e tontos outros, ao longo das décadas. Opa!!! , não vamos esquecer MICHAEL JACKSON, o maior deles todos!
Há um detalhe “histórico e sociológico” fundamental. CELLY, como NEIL SEDAKA, PAUL ANKA, BRENDA e CONNIE, os TEEN IDOLS da década de 1950, são frutos de uma geração intermediária de artistas. Estão entre o ROCK AND ROLL clássico de ELVIS, CHUCK, JERRY LEE LEWIS, e BUDDY HOLLY.., e a emergência do BEAT, na Inglaterra e nos E.U.A..
Quando CELLY desistiu, em 1962, os BEATLES, os STONES, DYLAN e os BEACH BOYS estavam se firmando, e mudando completamente o panorama da música popular no mundo inteiro!
CELLY não topou fazer a JOVEM GUARDA com ROBERTO e ERASMO CARLOS, em 1966. Ela estava casada e com dois filhos. Preferiu cuidar da família. O lugar que seria dela foi para WANDERLEIA. Com certeza, CELLY não tinha noção do momento histórico. Porém, acertou: ela e TONY tinham nada a ver com o projeto do programa!!! Eram de outra geração e, possivelmente, teria sido um fracasso.
É curioso, CELLY gravou versão de “AS TEARS GO BY”, clássico CULT dos STONES, de 1965, e também vertido por FRED JORGE, o profissional predileto para fazer as versões do POP estrangeiro daquele momento. Ficou algo romântico demais, e ao estilo do que era feito na década de 1950. O que dá a medida dos desafios que CELLY teria, caso enfrentasse as mudança na moda e nos comportamentos. Ela não participou da era BEAT. E não tinha perfil para encarar os novos tempos de completo desregramentos.
“AS TEARS GO BY” é música de transição para o ROCK PSICODÉLICO, e fala de depressão. Em tese, não é para jovens esperançosas e alegrinhas. Eu especulo se a decisão apaixonada, conservadora e imprevista que CELLY tomou, não acabou por favorecer o seu MITO? Mas é muito possível; talvez bem provável!!!
Décadas atrás, eu conheci e me tornei amigo de TONY CAMPELLO. É um excelente sujeito. Aberto, discreto e bem-humorado – um cavalheiro!
Certa vez, na mesa de um bar, na Avenida Paulista, eu contei pra ele que, na primeira vez que andei sozinho de ônibus, em 1959, tocava no rádio “O CANÁRIO “, música singela, bonita e gentil, cantada em dupla por TONY e CELLY. Eu jamais esqueci do momento, da sensação, do bem estar e liberdade que estava provando ao me locomover sem a presença de minha mãe ou do meu pai. E a música transmitia o afeto e a empatia, que só os realmente talentosos conseguem passar.
Enquanto eu pesquisava para o texto, depois de anos, toquei novamente a música. E aqueles instantes únicos voltaram com a emoção e a nitidez de 60 e tantos anos atrás!
TONY CAMPELO se referia sobre a morte da irmã de um jeito delicado e apropriado. Ele não dizia que CELLY havia morrido. E, sim, que estava viajando por um lugar muito melhor!!!
Ele foi, além de cantor, um produtor musical interessante. Lançou SÉRGIO REIS, já no pós – JOVEM GUARDA; E produziu, entre várias outras músicas, PANELA VELHA, talvez o marco inicial desse misto de COUNTRY MODERNO, MÚSICA CAIPIRA, GUARÂNIA, etc…, batizado de SERTANEJO! TONY contribuiu para que essa música híbrida se tornasse o verdadeiro POP do Brasil. Gostemos ou não, é um fato.
TONY também organizou, para a B.M.G, ótima coleção de “CAIPIRAS” de raiz. E fez reviver uma série de “DUPLAS” do passado tidas como artisticamente relevantes. Ele trabalhou, e viveu de música a vida inteira. E conhece muito o POP ROCK da década de 1950 e início dos 60; e a música verdadeiramente popular feita por aqui.
Faz muito tempo que não o vejo. Infelizmente. E, hoje, ele é o decano dos ROCKEIROS brasileiros, com perto dos 90 anos de idade! CELLY e TONY CAMPELO são parte relevante da HISTÓRIA MUSICAL BRASILEIRA, e merecem o nosso respeito, e o resguardo de suas memórias!
POSTAGEM ORIGINAL: 29/04/2023
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PUB ROCK: ISTO AQUI É ROCK’N’ROLL!

Em 1976, o PUNK espalhou – se pelo ROCK, e a imprensa e os relações públicas os venderam como iconoclastia radical “contra tudo aquilo que estava ali “; uma rebeldia inédita em busca pelo “LOW-FI” – o basicão mal acabado.
Um contraste às grandes bandas, à turma do PROGRESSIVO, e ao POP bobinho de sempre – todos desertores e traidores do verdadeiro ROCK ‘ N ‘ ROLL, na opinião de muita gente.
Os PUNKS foram ou tentaram ser tudo isso. Mas como a vida ensina, o buraco pode ser outro, mais específico, e de características híbridas. É bom saber que o tempo todo há outras crateras e orifícios que vivem, concorrem e sobrevivem à pandemia da hora.
Fora da grande mídia sempre houve bom ROCK de verdade; variado e sem regras rígidas, oscilante e acontecendo junto ao modismo do momento.
Saiu o GLAM e assumiu o PUNK? Sim, entre várias sobrevivências, eu complemento.
O ROCK básico sempre esteve rolando. Na Inglaterra, com o final do BEAT, em meados dos 1960, sobreviveram muitas bandas, e surgiram outras levando a bandeira do ROCKABILLY, do R&B e do BEAT modificado. Tocaram em PUBS, CLUBES, RÁDIOS, e entraram para coleções.
Todas foram juntadas sob o nome genérico de PUB ROCK. E aqui estão seis artistas, sendo um deles uma sugestão do tio Sérgio.
DAVE EDMUNDS talvez seja o pioneiro. Grande guitarrista, sobrevivente do BEAT, mas com talento e discografia suficiente para influenciar os STRAY CATS, ELVIS COSTELLO e produzir e incentivar diversos outros.
Esta coletânea é ROCK PURO, e tem faixas desde os anos 1960 com o “LOVE SCULPTURE” , sua banda original. E há, também, com NICK LOWE – outro ícone – e CARLENE CARTER, filha de JOHNNY CASH. Os colecionadores podem procurar o VINIL de EDMUNDS lançado por aqui em 1979, “Repeat when Necessary “. Pau puro!
DR. FEELGOOD é a essência do PUB ROCK. Pesados e simples sem serem simplistas; são básicos, não rudimentares. Por aqui, foram editados discos deles em VINIL, na década de 1970. Quem ainda não ouviu “Roxette” “She does it right” ou “Going back Home” está esquecendo ROCKS. São imperdíveis! Nesse BOX, 49 músicas lançadas apropriadamente em SINGLES.
Vamos dar meia volta para o futuro: imperdível e muito fácil de achar é o Cd gravado em 2014 por WILCO JOHNSON – guitarrista do DR. FEELGOOD e ROGER DALTREY, vocalista do THE WHO, o mais PUB-ROCKER entre os grandes vocalistas do ROCK CLÁSSICO. O disco é uma delícia, foi gravado na CHESS RECORDS, e simbolismo melhor impossível.
Aqui, também, o meu predileto entre eles todos: GRAHAN PARKER & THE RUMORS. Misto de R&B, DOO-WOP, com retrogosto de SKA e ROCK AND ROLL tradicional de primeira linha, trazidos para o clima PUB em meados dos anos 1970. PARKER é um cantor “PUNK” circundado por uma excelente banda de R&B! Original, pesado, algo sutil nas letras e festa garantida.
HEAT TREATMENT, na foto é, para mim, o disco ápice dessa mescla. E, na coletânea, o primeiro disco é ROCK da melhor qualidade. O segundo já encontra o PARKER “compositor”. Algo meio chato entre BRUCE SPRINGSTEEN e BOB DYLAN. “Vai” de gosto, mas eu “fico”…
TIO SÉRGIO “what porra it´s that”? As BANGLES por aqui?
Eu defendo que sim. Nesse “Different Lights” , as meninas revivem a sonoridade, e “quase são” os também ingleses SEARCHERS, banda BEAT ícone dos anos 1960/1970.
Elas tocariam o repertório delicioso em qualquer PUB da época.
E os SEARCHERS, até 2020 faziam o circuito PUB – pequenos clubes. E se aposentaram com “60 anos de contribuições ao ROCK”.
Não percam!
POSTAGEM ORIGINAL: 26/04/2020
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NOVIDADES NOVAS E VELHAS, QUE SE ACONCHEGARAM EM MINHA ESTATANTE.

FRUTOS DE ROLOS ENTRE AMIGOS, E QUE SERÃO APRECIADOS COM O TEMPO. ALIÁS, A MAIORIA EU JÁ CONHECIA; MAS EDIÇÕES JAPONESAS CONFIRMAM O MUST DO COLECIONISMO; ENTÃO…
1) “VASHTY BUNIAN”, 1970, ANOTHER DIAMOND DAY: CULT FOLK DA GRÃ BRETANHA. PEÇA ESSENCIAL DO COLECIONISMO DE DOIDOS COMO O “TIO SÉRGIO”, AQUI…
2) “SPOOKY TOOTH & PIERRE HENRY” CERIMONY, 1969: Rock ‘ELETROACÚSTICO”, emulando coisas do KRAUTROCK, e feito pela consagrada banda inglesa e um compositor francês de vanguarda. O vinil, que eu também tive, é CULT até o último pato morto no embornal….
3) DOORS: THE SINGLES, 2017: Tá, dispensa comentários; é duplo!
4) JOE SATRIANI, FLYING IN A BLUE DREAM, 1989: o atleta da guitarra em estado puro, mas em disco bem trabalhado nas melodias. É o meu predileto do cara! Que, se superou tecnicamente em cada obra lançada, tornando-se “GUITAR HERO” incontrastável. Pra mim, basta este álbum!
5) MOUNTAIN, OVER THE TOP, 1995: Coletânea dupla abrangente da banda do “FAT BOY FROM QUEENS”…, o LESLIE WEST. Está aqui tudo o que é relevante, e algo mais… É o suficiente desse cantor gritalhão, de voz enorme; um botijão de gás peripatético e guitarrista de sutilezas e delicadeza incomparáveis! Vou manter os dois primeiros discos deles, e curtir esse aqui de montão!!!!
6) THE WHO, THE ULTIMATE COLLECTION, 2002: Por aqui, o essencial reproduzido em estilo e qualidade, como os nossos irmãozinhos do extremo oriente costumam fazer. Tudo é de classe; a começar pelo estojo do CDS – aliás, são dois cds! Enfim, irresistível. Fortalece a coleção da banda…
7) HUMPLE PIE, THUNDERBOX, 1974: a banda clássica, mas sem o PETER FRAMPTON. No lugar, está o ótimo guitarrista DAVE CLEMPSON. É Hard Rock /Blues na veia, como se espera. E um dos que faltavam na coleção do TIO SÉRGIO. Enfim;
8/9 KING CRIMSON: LIVE IN TORONTO, 2016 e LIVE IN CHICAGO, 2017. AMBOS DUPLOS. Pois, é!!! A formação e estética do novo CRIMSON, com as três baterias. É o que eu desejava, e muito!!!! Vou apreciar. Eu já escrevi sobre esta fase ultra espetacular, para mim além da crítica; diferenciada e vanguardista. Está próxima do extremo de sofisticação que o ROCK, ou seja lá o que isto for, pode nos brindar. Vai maturar mais um tempo na “adegadiscoteca” pro TIO SÉRGIO se sentir um pouco mais capaz para decifrar os acepipes.
Só por esses dois duplos, eu já me sinto PIMPÃO e VIAJANTE!
Quem sabe, no futuro eu dê notícias sobre essa trempa toda!
É isso!
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