ROBERT SMITH – THE CURE – AO VIVO EM SÃO PAULO, 03/12/23

ROBERTINHO! ROBERTINHO! ROBERTINHO! Gritavam milhares de pessoas, no final do espetacular e antológico CONCERTO dado por “THE CURE”, no FESTIVAL PRIMAVERA SOUNDS, no autódromo de INTERLAGOS, em São Paulo, ontem à noite!

O afetivo ROBERTINHO apelidado pela multidão foi em reconhecimento à performance longa, perfeita, e que fez valer cada centavo, minuto e diversão que ROBERT SMITH e BANDA entregaram ao público.

Foi pura emoção mesclada com profissionalismo e respeito aos que deles gostam. THE CURE nunca nega fogo, e jamais pratica estelionato contra o consumidor!

E quase todos gostam da banda, mundo afora, nesses 45 anos de criatividade e ROCK honesto.

A presente turnê mundial é sucesso retumbante. Eu assisti a alguns dos Shows; de Nova York, no CARNEGIE HALL; Chicago, Buenos Aires, Santiago, e etc… Exuberantes!

THE CURE vem, desde o início deste século, transitando do ROCK ALTERNATIVO para um híbrido mais pesado entre o GOTHIC e o que passou a ser chamado de “PROG ROCK”. O álbum WISH já apresenta isso.

Em 2012, entrou para o grupo REEVES GABRELS, excelente guitarrista que esteve com DAVID BOWIE no TIN MACHINE, craque em sutilezas e timbres. O som de GABRELS ressalta a sonoridade das guitarras de SMITH.

E, agora ao vivo, mais outro multi – instrumentista foi agregado, PERRY BAMONT. Ontem, em certos momentos do SHOW houve sinergia total entre três guitarras e o emblemático contrabaixo de SIMON GALLUP – que sempre dá a impressão de estar um “átimo” de segundo atrasado no andamento!

O excelente baterista, JASON COOPER é preciso, dinâmico e pleno de vitalidade.

E somado ao teclado, às guitarras e ao baixo compõe sonoridade original, mesmo sem perder as características históricas que os distinguem.

O resultado é um “ROCK PROGRESSIVO” “suis generis”, sofisticado, algo triste, mas viajante, e que envolve e acolhe o SHOW inteiro.

A parte instrumental deste renovado THE CURE está melhor do que sempre!

ROBERTINHO é um “case” de sucesso a ser estudado. Aos 64 anos, está cantando melhor ainda. Manteve a voz, o timbre e, pasme!!!, prescinde de BACKIN VOCALS, aguentando duas horas e meia de performance sem titubear ou desafinar! Disciplina é liberdade, escreveu RENATO RUSSO…

ROBERTINHO desfila aquele jeito de bebê chorão, resmungão, que o tornou ímpar e reconhecível com a eficiência inalterada!!!

As interpretações que faz em canções de amor são emocionantes, sinceras, sentidas, algo frágeis…E a gente percebe isso em PICTURE OF YOU, e mesmo em CHARLOTTE SOMETIMES…entre várias. São detalhes só perceptíveis em gente que realmente descobriu alguém para amar – e ser amado.

Ele e MARY POOLE, sua mulher, estão juntos desde a adolescência. E o clássico LOVESONG foi escrito para ela.

A canção tem 311 covers feitos por outros artistas! E está em mais de 50 trilhas sonoras de filmes!!! É uma das canções mais regravadas de todos os tempos!

O SET LIST do SHOW foi perfeito, adequado a cada momento. E as músicas mais pesadas, como A FOREST, ou depressivas como THE END SONG… sempre funcionam.

E da mesma forma que os HITS inevitáveis, BOYS DON’T CRY, THE WALK, IN BETWEEN DAYS, e incontáveis que tocaram…

A reconhecida proficiência da banda a gente comprova pelo número de gravações ao vivo: São 4 álbuns, e 5 VÍDEOS / DVDS!!!

A turma gosta e vai vê-los.

Ontem, os gritos de ROBERTINHO, quando o SHOW acabou, e ele ficou um bom tempo no palco agradecendo, revelaram o imenso afeto dos fãs.

É mais do que isso: ROBERTINHO é quase da família!

ED LINCOLN, O REI DOS BAILES

De uns tempos para cá, o conceito de “OLDIES” vem sido redefinido por revistas especializadas e colecionadores de discos.

Até recentemente, OLDIES englobava tudo produzido antes da década de1980, talvez. Mas, como a impermanência é característica suprema da existência; então, a vida muda e a “Pomba-Gira”…epa…

Hoje, o considerado OLDIES deslocou-se para um intervalo entre o surgimento do GRUNGE, mais ou menos 1990, recuando para os primórdios do ROCK PSICODÉLICO, aproximadamente 1965.

Dalí para trás, a nova nomenclatura é VINTAGE.

ED LINCOLN foi baixista, pianista e organista. Trabalhou nesse pré-sal da modernidade na música: início dos 1960 em diante.

Fazia o chamado EASY LISTENING, um “tutti-fruti” de SAMBA modernizado e diluído, BOSSA NOVA, gotas de JAZZ e outros ritmos, executados na sensação pop da época, o ÓRGÃO HAMMOND.

ED LINCOLN não esteve só. Seguiu o caminho de WALTER WANDERLEY – o nosso JIMMY SMITH -; e WALDIR CALMON, pianista POP famoso e com dezenas de discos gravados, que incorporou ao SET um instrumento chamado SOLOVOX – espécie de pré-sintetizador.

Essa turma, que no geral gravava sucessos e CLÁSSICOS DO POP da época, conhecia música e tocava bem. E, o que é mais difícil ainda: fazia todo mundo dançar!

ED LINCOLN animou a geração pré -1967, o ano em que fui ao meu primeiro bailinho para tentar descobrir o que as garotas escondiam. Os bailes eram uma espécie de ritual de iniciação.

Na minha adolescência o som já era outro. Mesmo que, simultaneamente a JOHNNY RIVERS, ainda se dançasse sob a batuta do maestro RAY CONNIFF, e das baladas de JOHNNY MATHIS, por exemplo.

Eram tempos mais “elegantes”. Quase todo mundo já havia descoberto que o sexo, aposta do capeta para desencaminhar os jovens, já “tinha sido inventado” muito antes…

Então, procurem saber do ED LINCOLN e aquela turma toda. Principalmente velhões como eu@ Nelson Rocha Dos SantosAntonio Molitor,e diversos vários por aqui. É nostalgia pura, mas são muito divertidos!

A MORTE DE JIM MORRISON – 03-07-1971

JIM MORRISON FOI UM DOS QUE INSPIRARAM EM MIM O INTERESSE PELO POP, PELA REBELIÃO POLÍTICA, E POR VIVER, INTELECTUALMENTE, DE MANEIRA INTENSA.

SOU OBSERVADOR DO REAL. MAS, SEM TALENTO PRA MILITÂNCIAS.

DOIS MOMENTOS TORNARAM-ME ADOLESCENTE: EM 1965, QUANDO ESCUTEI “MR . TAMBOURINE MAN”, COM THE BYRDS; E O INÍCIO DE 1967, QUANDO O RÁDIO TOCOU “LIGHT MY FIRE”! ACREDITEM: FORAM MEUS RITOS DE PASSAGEM!

JIM MORREU EM 1971. E EU “COMETI” ESTA COLAGEM EM 1977.

FOI O MEU PRIMEIRO QUADRO. É ARTISTICAMENTE RUIM, MAS CONCEITUALMENTE CORRETO: JIM APARECE EM MEIO AS SUAS DECLARAÇÕES E FRASES, EM FORMATO DE UMA EXPLOSÃO ATÔMICA, QUE SURGE DE UMA BANDEIRA AMERICANA DILASCERADA; E SOBRE UM MAPA AMERICANA RASGADA EM PEDAÇOS E LAVADA EM SANGUE.

É INGÊNUO E POPULISTA. MAS, AINDA HOJE REFLETE OPINIÕES E SENTIMENTOS SOBRE OS GRINGOS…

EU PRETENDI UMA VISÃO DO CONFLITO DE GERAÇÕES EM MEIO À GUERRA FRIA, E DURANTE A DITADURA BRASILEIRA.

JIM TINHA VOZ PORTENTOSA, DE UM BELO TIMBRE, E ALCANCE BARÍTONO.

MAS ERA CANTOR MEDÍOCRE. A RIGOR, SÓ CANTOU RAZOAVELMENTE NO PRIMEIRO LP, THE DOORS, 1967.

NOS RESTANTES, CAPENGOU. E VOLTOU A FAZER TALVEZ A SUA MELHOR GRAVAÇÃO NO ÚLTIMO ÁLBUM, L.A. WOMAN, 1971.

MAS, NINGUÉM LIGOU. O CARISMA NO PALCO E NA VIDA SEGURAVA SUAS PERFORMACES.

SEMPRE QUE VEJO, OU LEIO, ALGO SOBRE MORRISON EU FICO EMOCIONADO. POUCOS ÍDOLOS SIMBOLIZARAM TÃO BEM O QUE ERA SER JOVEM, EMOCIONALMENTE ENVOLVIDO COM O VIVER, COMPROMETIDO COM A MUDANÇA, E CONTRA O REACIONARISMO DA SOCIEDADE.

E TUDO SOB O PONTO DE VISTA DE UM INDIVÍDUO DONO DE SI, E INSTRUMENTO DE SUA PRÓPRIA RAZÃO E POLÍTICA.

A PERSPECTIVA DE JIM MORRISON ERA A DE UM ARTISTA, E NÃO A DE UM MILITANTE POLÍTICO.

EU MUDEI UM POUCO; ENVELHECI COM LUCIDEZ – ACHO. MAS, PERMANEÇO LIBERTÁRIO INCONDICIONAL. SAÚDO CRITICAMENTE A VIDA E OS INCONFORMISTAS QUE LUTAM PARA QUE ELA SEJA MELHOR, MENOS MEDÍOCRE E MAIS JUSTA!

E, RECORDO PEDACO DE FRASE EM UMA CANÇÃO DOS DOORS: “I WATCH THE RIVER FLOW”…

SUN RA – E A MÚSICA DE VANGUARDA EXPERIMENTAL

 MUITO ALÉM DE “THE HELIOCENTRIC WORLDS! Tive paciência e consegui mais ou menos saber quantos discos gravou SUN RA e sua ARKESTRA: foram 136. Quer em bom português? Contei cento e trinta e seis discos!

Entre os mitos que o cercam está o de ter criado a própria gravadora, “EL SATURN RECORDS”, prá lá de singular. E quase-famosa por ter feito LPS sem grandes sofisticações gráficas, mas artisticamente instigantes e muito difíceis de serem encontrados pelaí!

SUN RA foi um dos primeiros independentes.

Colecionador sortudo e destemido será quem achar algum daqueles discos. São raros e preciosos!

Quem se interessar pelo “MAGO” deve, também, dar uma olhada na produção do cara por outras gravadoras, como a também cult ESP, e a IMPULSE.

Mas, pode ir direto para as reedições em CDS, da suíça EVIDENCE MUSIC, que vem mapeando a carreira do cara com zelo e respeito.

SUN RÁ era de ecletismo total! Mas, à sua maneira peculiar e subversiva. Teve carreira longa e impressionante.

Começou na década de 1940, e trabalhou compulsivamente por mais de 50 anos! Era superdotado e workholic como JOHN MAYALL ou MILES DAVIS.

Acompanhou grupos de DOO-WOP; gravou BE-BOP; deu canjas várias na transição da música negra dos anos 1940 ao R&B em voga.

Envolveu-se com todo tipo de JAZZ, do RAG ao ROCK; gravou BLUES; meteu o criativo bedelho em mil coisinhas excêntricas e esotéricas.

DIZZY GILLESPIE e THELONIOUS MONK eram fãs se SUN RÁ.

Em 1956 gravou, inclusive, com um “esperma ensandecido” (PORRA-LOCA, para os menos recatados) chamado “YOCHANAN, A SPACE AGE VOCALIST”… um híbrido de cantor de R&B, Proto-RAPPER, ou simplesmente um preto maluco! Tudo isso está no CD duplo “SINGLES”, aqui na postagem!!!!

SUN RA propôs e conseguiu um jeito novo de “re-rever” a música de formas diferentes e nunca feitas! Era criativo, insistente e desbravador. Usou teclados eletrônicos ainda nos anos 1950; abusou de sintetizadores e tudo o que fosse ligado às vanguardas musicais esvoaçantes, ou que o ligasse às coisas cósmicas, míticas, místicas, ou simplesmente fora do eixo… e antes que o PINK FLOYD pensasse nisso…

SUN RA era uma METAMORFOSE GALOPANTE, foi um dos criadores do AFRO-JAZZ.

Ao contrário do FREE JAZZ, de ORNETTE COLEMAN, onde a liberdade para improvisar era total, a proposta AVANT GARDE de SUN RA é uma construção/desconstrução ativa, mesmo que não-programada, de uma obra musical que requer disciplina, técnica e sensibilidade.

SUN RA é um arquiteto do caos sonoro inteligível. Intervinha nas gravações, trocando músicos durante a execução dos trechos. Dava o tom, a ideia; e se não gostasse do som de um trombone, digamos, fazia o trompetista, por exemplo, executar aquela parte do jeito que quisesse. E, se RA concordasse, ia juntando, gravando tudo de acordo com a sua percepção e gosto.

SUN RA acrescentava ou retirava instrumentos, ideias, frases; e o resultado é uma colagem sonora com liberdade vigiada, livre ‘ma, non tropo”. Fica estranho, mas é coeso e musicalmente instigante. A metáfora que me ocorre, é consertar o motor do avião em pleno voo…

Ele rompeu e subverteu a ideia inicial do FREE JAZZ, e está nas raízes da FUSION, DO ROCK PROGRESSIVO, e é precursor do “AFRO-FUTURISMO” jazístico. SUN RA é um compositor, arranjador, maestro maluco, que dirige sua orquestra ao sabor de si mesmo.

Diferentemente do FREE JAZZ, onde cada um tocava sua parte sem a censura de outros; nos discos dele o comandante supremo é SUN RA. Ele é o diretor de obras do caos. Não sabia onde queria chegar, mas chegava prospectando, caminhando, perscrutando, tocando, construindo, destruindo, mudando a música…

Depois de gravada, claro, restava a obra composta: original, intuitiva, provavelmente não repetível, mas “organizada”, porque “petrificada” em disco.

Se o FREE JAZZ é obra coletiva, o AVANT – GARDE parece, em geral, produto individual: o conceito é do artista.

A história da música popular é um caminho tortuoso, desruptivo, e, ao mesmo tempo, previsível. Muita coisa díspar convive ao mesmo tempo.

Para muitos, o ápice da sofisticação na música popular foi a GRANDE CANÇÃO AMERICANA, de GERSHWIN, COLE PORTER…; e na voz de ELLA, BILLIE, SINATRA, entre vários.

A BOSSA NOVA talvez tenha sido o último ato da grandeza musical “tradicional conservadora”. E, tudo isto, culminando no final dos anos 1950 do século passado!

No mesmo espaço/tempo, o R&B e o ROCK AND ROLL comiam solto com incontáveis grupos de DOO-WOP, ELVIS PRESLEY e contemporâneos.

Além das experiências radicais na MÚSICA CLÁSSICA contemporânea, a ELETROACÚSTICA, por exemplo; à época estavam em curso subvertendo o gosto tradicional, e acrescentando elementos de ruptura.

No BRASIL, em 1959, a compositora JOCY DE OLIVEIRA, contestara sarcasticamente a BOSSA NOVA, em seu LP.

Mas, em 1961, executou no TEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO a primeira obra de música ELETROACÚSTICA do BRASIL. JOCY esteve e está além de seu tempo…

Talvez a transição entre a década de 1950 e a de 1960 tenha sido o período histórico onde ocorreram as mais significativas erupções e terremotos estéticos.

SUN RA não existiria sem esse amplo painel, composto por contradições procurando sínteses, e de saltos à frente. A entropia foi o FREE JAZZ, sucedido por uma quase-reorganização da vanguarda com o AVANT-GARDE.

Ao mesmo tempo, vieram os Beatles e os formatos tradicionais simplificados tomaram a cena novamente.

Até que…

SUN RA morreu aos 79 anos, em 1993, mas sua ARKESTRA continuou sob a direção, talvez até hoje, do saxofonista MARSHALL ALLEN, que já a trouxe ao Brasil.

Quando eu morrer, vou-me embora pra SATURNO, de onde SUN RA disse que veio. Porque lá sou amigo do Rei…

RASCALS – ECLÉTICOS SELETIVOS

OTIS REDDING: “NÃO ACREDITEI QUE FOSSEM BRANCOS! ENTREI NO ESTÚDIO PARA CONFIRMAR”. EZEQUIEL NEVES EM RESENHA CRÍTICA EM 1971: “ESSES CARAS NÃO SABEM O QUE QUEREM FAZER: SE SÃO R&B, PSICODÉLICOS, BEAT, SEI LÁ. ..”

E TIO SÉRGIO, ETERNO FÃ: “É POR ISSO QUE ADORO A BANDA. FIZERAM DE TUDO COM EXTREMA QUALIDADE”.

THE YOUNG RASCALS, POR VOLTA DE 1967 SIMPLIFICARAM O NOME PARA RASCALS, E GRAVARAM OITO LPS, DEZENAS DE SINGLES, E FORAM SUCESSO ABSOLUTO ENTRE 1966 E 1970!

A CARREIRA DUROU OITO ANOS E MARCOU O POP. ESTÃO CONSAGRADOS NO “ROCK AND ROLL HALL OF FAME”.

ERAM DE NOVA YORK. TRÊS DESCENDENTES DE ITALIANOS O CANTOR E ORGANISTA FELIX CAVALIERI; DINO DANELLI, BATERISTA, E EDDIE BRIGATTI, CANTOR.

E GENE CORNISH, DESCENDENTE DE IRLANDESES, TOCAVA E GUITARRA.

ELES FORAM OS PIONEIROS DO CHAMADO BLUE EYES SOUL, COMO O “SIMPLY RED” E “DARYL HALL & JOHN OATES”, ENTRE TANTOS…

FELIX CAVALIERE CONTINUA CANTOR TÃO BOM E IDENTIFICÁVEL QUANTO ANTES. PROCUREM OS DOIS DISCOS RELATIVAMENTE RECENTES GRAVADOS COM O LENDÁRIO STEVE CROPPER – UM “GUITARRISTA DOS GUITARRISTAS”.

FELIX CONTINUA REFERÊNCIA DA FUSION R&B/ROCK/ E ALGUM JAZZ. FAZ MÚSICA POPULAR DE QUALIDADE!

VÂNIA BASTOS – VOZ DE LUZ E CRISTAL

A primeira vez que a escutei VÂNIA fazia backing vocal na BANDA SABOR DE VENENO, de ARRIGO BARNABÉ, em tumultuado festival no final de 1979 / início dos anos 1980. Foi televisionado.

E “SABOR DE VENENO” foi tão vaiado quanto SABIÁ, de CHICO BUARQUE e TOM JOBIM, no FESTIVAL DA CANÇÃO, em 1967, acho – aquele onde GERALDO VANDRÉ ficou em segundo lugar com “PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE FLORES “.

Os motivos das vaias foram muito diferentes: CHICO e TOM concorreram com música totalmente fora do clima político da época, pleno de mudanças e radicalismos.

ARRIGO, ao contrário , estava na absoluta VANGUARDA MUSICAL: quebra de ritmos e andamentos, arranjo anárquico e atonal, letra fora do comum, e tudo o mais que macacos como eu adoraram! Mas, a média da plateia obviamente, não!

VÂNIA se destacava. Voz cristalina tinindo agudos com técnica e alguma anarquia. Contestatária e irônica, numa apresentação cheia de sarcasmos.

Corte.

VÂNIA foi por outra vertente em sua carreira. Sempre moderna, jamais abdicou de seu inigualável talento!

A VOZ DE CRISTAL E LUZES, sua dicção perfeita e a capacidade vocal de ir ao extremo agudo sem jamais perder a afinação.

Além das interpretações sublimes que faz ao transitar por toda a riqueza da nossa MPB.

VÂNIA BASTOS grava pouco. Talvez porque escolhe e refina repertório à altura de sua capacidade de cantar. Um disco a cada três anos, em média.

Vai de JOSÉ MIGUEL WISNIK e MILTON NASCIMENTO, a DOMINGUINHOS e RITA LEE. Flertou, inclusive, com versões de COLE PORTER.

E tudo perfeitamente colocado, estudado; para que a emoção interponha-se, mas sem macular a técnica. VANIA BASTOS é “quente” e cristalina. E seus arranjadores e acompanhantes trabalham em função do melhor realce possível para seu estilo e talento.

VÂNIA BASTOS é a minha cantora brasileira favorita.

À parte o “certo quê” no ver o mundo, que gente como eu Rodrigo Marques Nogueira, e a turma que passou pela FFLCH da USP sempre identificamos uns nos outros.

Sua discografia é composta por 11 discos (será que você gravou algum outro que eu não tenha? )e 1 DVD, até agora. Infelizmente eu não consegui ainda o CLARA CROCODILO, do ARRIGO…

Eu os acho gravações imperdíveis e colecionáveis. Todos eles! E são por questões de mercado mais baratos do que mereceriam.

Escrevi essa postagem ouvindo BELAS E FERAS, DE 1999.

VÂNIA faz, eu suponho, um resumo de sua percepção de ser mulher através de músicas de outras autoras. É muito bom!

Ouçam a VÂNIA, minha quase contemporânea nas CIÊNCIAS SOCIAIS da USP – só que em outro campus. Ela enriquece a alma!

PINK FLOYD – THE PIPER AT THE GATES OF DAWN – E SINGLES -1967/1968

DIGAM O QUE DISSEREM, AQUI ESTÃO OS DISCOS SEMINAIS DA PSOCODELIA INGLESA.

NADA SE COMPARA!

ABSOLUTAMENTE RADICAL E NOVO. FOLK+EXPERIMENTAÇÃO EM ROCK PSICODÉLICO.

E HOUVE “ARNOLD LAYNE” E “SEE EMILY PLAY”, TAMBÉM COM SYD BARRET. DOIS SINGLES DEFINIDORES DO CHAMADO “ROCK ESPACIAL”, QUE ELES AMPLIARIAM À PARTIR DA METADE DO LP SEGUINTE: “A SAUCERFULL OF SECRETS”, DE 1968, MAS COM DAVID GILMOUR, NA GUITARRA.

O PINK FLOYD COM SYD BARRETT ERA OUTRO CONCEITO. HÁ QUEM NÃO GOSTE OU COMPREENDA. MAS, QUANDO OUVI O “SEE EMILY PLAY”, HOJE RARÍSSIMA EDIÇÃO DA FERMATA BRASILEIRA EM 1967, OUTRO MUNDO POSICIONOU-SE PARA MIM.

AS EDIÇÕES EM CD AQUI POSTADAS TAMBÉM SÃO LUXO PURO. ALGO DIFÍCEIS E PRECIOSAS.

SEMPRE HOUVE INTELIGÊNCIA VIVA NESSA BANDA IMPRESCINDÍVEL!

THE TBM SOUNDS – COLETÂNEA EM ULTRA HD

Paciência, perfeccionismo e gosto apurado ao extremo tem TAKESHI TEE FUJI, o criador da gravadora THREE BLIND MICES , a cult, cara e espetacular TBM. Um caldeirão dos feiticeiros da técnica de alguns dos mais perfeitos discos já gravados ou transcritos!

TEE, como gosta de ser chamado, fundou a gravadora em 1970, na expectativa de gravar e produzir JAZZ, no Japão, com artistas talentosos e desconhecidos.

Fez; não ganhou dinheiro, mas desenvolveu técnica de equalização do que foi gravado de que, quando transcrita, a música não perdia “nada” do que estava contido no master original. Um prodígio!

Eu sei de alguns discos por eles produzidos. Consegui esta coletânea com gravações a maioria realizada entre 1973 e 1977. São vários artistas sensacionais, com catálogo bem recheado, e até cantora fazendo clássicos eternos do JAZZ.

A qualidade é divinamente indescritível! Mais de 43 anos de ultra fidelidade exposta.

A produção gráfica e a edição da JVC japonesa são, também, de primor tangível.

Certa vez, ouvi outro disco desta série em uma loja de equipamentos de som. A MÚSICA literalmente invadia o cérebro vinda de algum lugar entre o teto e as caixas! Subia e descia pelas paredes!

Dá medo tentar descrever o que havia lá e o que postei aqui.

Eu falo de gravações com mais de 40 anos, captadas e trabalhadas no estado da arte! Desconfio que não seriam superadas pelas técnicas atuais de nossos amiguinhos de olhos puxados.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PAUL REVERE & THE RAIDERS – 1963/1975 – ROCK DE GARAGEM E GRANDE SUCESSO.

A MINHA DISCOTECA TEM PECULIARIDADES. ALGUMAS QUASE EXCÊNTRICAS, POR EXEMPLO: EU JUNTO BEAT COM ROCK DE GARAGEM.

E POR QUÊ? PORQUE A GARAGEM É “IRMÃ SIAMESA”DO BEAT, MAS TAMBÉM “IRMÃ GÊMEA” DA PSICODELIA – QUE, EM MINHAS ESTANTES, TEM NICHO E DEFINIÇÃO EM SEPARADO.

ENTENDERAM?

“NÃO, TIO SÉRGIO; SEU QUASE “CHACRINHA” DO POP, QUE VEM AQUI PARA CONFUNDIR E NÃO PARA ESCLARECER”!!!

DEPONHA, SOB VARA, E JÁ!

Então, tá. Eu consigo explicar e para isso vou usar o bom nome desta excelente banda absolutamente POP, campeã de vendas, longe do ROCK sofisticado, mas submersa na diversão imprescindível.

PAUL REVERE & THE RAIDERS passaram raspando, ou colidindo, com tudo o que se fez de POP dos anos 1960 até a metade dos 1970. Eram americanos, e longe do epicentro pop: IDAHO!!!

Formados no final dos1950, quando PAUL REVERE, tecladista, e MARK LINDSAY, vocal, juntaram “fraquezas” pra ver no que daria. Foram do RHYTHM´N´BLUES ao SURF; e usaram o SAX como o DAVE CLARK FIVE fez depois com enorme sucesso.

Falaram de carros como os BEACH BOYS, caíram de boca no BEAT dos ingleses BEATLES, STONES, todos – escolham…

E mostraram o indefectível órgão ( Farfiza, suponho ) em todos os discos. Aos poucos juntaram fãs, principalmente a meninas inebriadas por MARK LINDSAY, que foi o que JON BONJOVI se tornou muito depois, e compraram revistas teen até cansar.

Em 1967, já tinham conseguidos disco de ouro em três LONG PLAYS!

Bela performance, heim?

Aqui na postagem está um CD triplo com 66 músicas, os 33 singles gravados na COLUMBIA RECORDS!

Isso mesmo, eles eram, antes de tudo, uma banda de SINGLES, como seus concorrentes diretos, na década de 1960!

Eram pau a pau nas paradas de de sucesso com os RASCALS, os GRASS ROOTS, TOMMY JAMES & THE SHONDELLS, ASSOCIATION. E com a turma da música negra da MOTOWN, SRAX, ATLANTIC; ou quem viesse do BUBBLE GUM – outra praia em que nadaram, venderam e fizeram nome.

Estiveram próximos ao SUNSHINE POP – e, claro, militaram por lá, também!

Gravaram, inclusive, um LONG PLAY “PSICODÉLICO”, o amarelinho da foto “SOMETHING HAPPENING”,1968. E ousaram clonar, em 1966, a ideia dos BEATLES em ELEANOR RIGBY: escutem “Undecided Man”, um BARROQUE POP sem tirar e nem por, lançado como B side!

Em 1967, já eram o maior sucesso da gravadora COLUMBIA, com direito a produção de TERRY MELCHER, que fez os dois primeiros LPs dos BYRDS. Vendiam mais do que os BYRDS e BOB DYLAN!

“INDIAN RESERVATION”, mega hit da banda, em 1970, com mais de 6 MILHÕES de unidades, foi o SINGLE da COLUMBIA que mais vendeu, nos dez anos seguintes!!!

Quando ouvir falar em MICHAEL JACKSON, EAGLES, e vasto etc… posterior, não esqueçam que houve gente de enorme sucesso, antes. Mas, é história para outra postagem.

No início da década de 1970, a COLUMBIA investiu mundos e fundos em MARK LINDSAY, como artista solo. Começou bem, mas não segurou a onda. Outros tempos; o exigido para um SINGER-COMPOSER era muito mais do que ele conseguia entregar. MARK jamais foi uma CARLY SIMON, ou NEIL DIAMOND.

Se vocês quiserem dar uma pesquisada, percorram grandes hits de PAUL REVERE & THE RAIDERS. Alguns muito conhecidos e que marcaram época, como MR. SUN E MRS MOON, LET ME, CINDERELA SUNSHINE. E vejam os tempos GARAGEM e PSICODÉLICOS com KICKS, CORVAIR BABY, HUNGRY, GOOD THING, ITS HAPPENING´ e um monte!

Pedradas POP!

Ou assistam a um filme do TARANTINO, que anda em cartaz: ERA UMA VEZ EM HOLLYWOOD”, lá estão três músicas deles na trilha sonora.

Ah, o ROCK DE GARAGEM e a PSICODELIA estão juntos, quase indistintos, na discografia clássica do assunto. Mas, ouçam, por exemplo, ELECTRIC PRUNES, BYRDS, SPIRIT, de um lado, e MUSIC MACHINE, BLUES MAGOOS e PAUL REVERE & the RAIDERS do outro. Moram no mesmo prédio, e cada um em seu apartamento.

São muito bons e divertidos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

GEORGIE FAME COMPLETE RECORDINGS 1963/1966

 

Quando comecei a colecionar pra valer, em torno de 1969, a curiosidade sobre o que ouviam e como se divertiam os meus ídolos aguçou.

E GEORGIE foi um deles.

Discos e informações eram dificílimos de serem encontrados, naqueles tempos. E, como também sabe a turma de hoje, “sempre foram caros e algo raros”.

As primeiras enciclopédias que saíram nos anos 1970 eram muitas vezes precárias, mesmo havendo exceções – e qualquer dia posto sobre isto.

Talvez os sixties tenham consolidado a liberdade pessoal como valor absoluto, no mundo ocidental desenvolvido, independentemente de grana e classe social.

Um direito e ponto; que foi sendo expandido e, espera-se, continuará.

E tudo isso para dizer que na Inglaterra, claro, havia bares, clubes e locais onde bandas profissionais divertiam os mais jovens e os músicos de quem eles gostavam. E GEORGIE FAME & THE BLUE FLAMES era a banda titular do “FLAMINGO”, em Londres, e foi dos primeiros CLUBES a trazer famosos como BEATLES, STONES, CLAPTON, PAGE, BECK, e a vasta gama de pop rockers. Iam para dançar e curtir junto a seus fãs a deliciosa mistura de BLUES, R&B e JAZZ que eram a moldura para a cena jovem da época.

O que GEORGIE FAME fazia está em um dos discos aqui: “RHYTHM`N`BLUES AT THE FLAMINGO”. de 1964. Gravado ao vivo, pega o clima em cheio. Assim como os seus contemporâneos, GRAHAN BOND ORGANIZATION, JOHN MAYALL & THE BLUES BREAKERS, ZOOT MONEY & BIG ROLL BAND, e só para ficar na epiderme do melhor BLUES / SOUL/ R&B e outros ritmos da época!

Este box traz os cinco primeiros discos FAME, que gravou mais de 45 álbuns originais, uns 70 singles e até hoje é “alvo” de compilações diversas .

É bom cantor de RHYTHM`N`BLUES e pop em geral, algumas vezes pouco inspirado, mas que foi melhorando no decorrer da carreira.

GEORGIE gravou com grupos, BIG BANDS, grandes artistas e o que mais se imaginar.

Há um excelente disco de GEORGIE FAME com VAN MORRISON, “HOW LONG HAS THIS BEEN GOING ON”, lançado em 1995, pela VERVE RECORDS, que dá a medida do que ambos faziam e ainda fazem.

GEORGIE FAME tem repertório eclético e amplo partindo de standards para coisas mais originais. Talvez alguns ainda tenham a lembrança do filme “BONNIE & CLYDE”, cuja canção título foi por ele gravada e consagrada.

Os discos que ele fez são, essencialmente, cults e colecionáveis. São boa cartografia do que foi o pop nas decadas de 1950/60 e 70, extendidos para talvez eternidade.

O box aqui, “THE WHOLE WORLD´S SHAKING”, abrange os primeiros discos de GEORGIE. É muito bem gravado e produzido. Rico em fotos e artes gráficas, traz os discos com faixas bônus e as capas originais.

É muito bom para os que ainda revivem o período. Como o TIO SÉRGIO, que aqui vos escreve…