VAN MORRISON E A ENCICLOPEDIA INTERIOR DE MUSICALIDADES.

AQUI, DEZOITO DOS QUARENTA E SETE DISCOS QUE GRAVOU.

GEORGE HARRISON era; e MILTON NASCIMENTO é tímido e calado.

VAN MORRISON É QUIETO E INTROSPECTIVO. Disse que falava pouco, e que a mente dele estava permanentemente invadida por sons, arranjos, músicas, ideias…

Então, ele ouvia-se o tempo inteiro.

VAN MORRISON é baixinho. E daí?

E daí? MICK JAGGER, ERIC BURDON E JON BONJOVI também são… E todos têm voz forte e potente.

Assisti a um vídeo dele um tanto paradoxal: a banda que o acompanhava era composta por gente alta, muito alta.

Meu irmão, Ciro de Moraes, contou que, num evento de negócios, quem se apresentou foi o sertanejo DANIEL: também baixinho referendado. Mas, havia um detalhe: as BAILARINAS que o acompanhavam eram todas do mesmo tamanho, o menores do que ele!!!!

Estratégias diferentes para se destacarem? Sei lá…

VAN MORRISON nasceu em Belfast, na Irlanda do Norte, e começou a carreira no início dos anos 1960. Fez algum sucesso com um grupo BEAT, o THEM. Gravou alguns SINGLES e dois LPs.

Chegaram a excursionar na América junto com os DOORS. E JIM MORRISON E VAN se conheceram, tornaram-se amigos…o que é lendário. Há gravação memorável de GLORIA, música de VAN e também gravada pelos DOORS.

Voltando à Inglaterra, VAN separou-se do grupo – que prosseguiu… E, depois rebatizou-se para BELFAST GYPSYES

Mas, na América, viram em VAN MORRISON talentos a serem explorados. Retornou, gravou o que recentemente foi relançado por aqui e mundo afora “THE AUTHORIZED BANG COLLECTION”, coisa menor. Mas, indicativa de talento em ascensão.

Imaginem o seguinte: um artista jovem lança, de cara, o que é conhecido como seu melhor disco, e um dos vinte maiores de todos os tempos!!!

Foi isso, ASTRAL WEEKS, 1968, é um marco POP tido como obra de arte. Um amálgama de ideias, que vão do FOLK IRLANDÊS, agrega muito de BLUES; transita no JAZZ, mas é ROCK!

Um ROCK não muito bem definido? Defendo que, sim. Vai além do que fizeram JETHRO TULL, FAIRPORT CONVENTION e outros vários…

No início vendeu pouco.

É do porte e importância do VELVET UNDERGROUND & NICO, de 1967. Disco seminal que, consistentemente nunca sai de moda.

Ambos foram legados de geração para outra, e até sabe-se lá quando? Dois clássicos esquisitos; e, para muitos, um tanto incompreensíveis…

VAN MORRISON desabrochou a partir dali. Partiu do cume. Exigente e focado, sua produção na década de 1970 é sucessiva entrega de bons discos baseados em RHYTHM´N´BLUES, SOUL, BLUES, perpassados por algum JAZZ e ROCK .

É desse tempo um dos maiores shows ao vivo da história: o álbum duplo “IT´S TOO LATE TO STOP NOW”,1974, perfeição gravada e lançada sem qualquer “overdubing”. Na raça, no jogo duro do palco. Pauleira brava imperdível!

VAN MORRISON tem voz e timbre únicos.

É um grande cantor?

Antes de tudo, ele é um BLUES-SHOUTER explícito. Porém, contido em arranjos de bom gosto, com forte influência de SAM COOKE, RAY CHARLES, OTIS REDDING, e outros americanos raiz.

O tempo todo MORRISON nos dá o retrogosto da tradição americana; dos metais aos riffs de guitarra. Um feeling do R&B americano, porém puxando para algo do FOLK IRLANDÊS, e do BRITISH BLUES. Está claro?

VAN tem algo indefinível que só encontrei em JOHN MAYALL e sua enorme e consistente carreira: MORRISON e MAYALL são artistas sedentos e curiosos. Frequentaram todos os recantos e escaninhos da melhor música popular de seus tempos!

Talvez boa definição para o trabalho de VAN MORRISON seja: “O CRIADOR DE UMA ENCICLOPÉDIA DE SONORIDADES CONDENSADAS”. Às vezes, uma quase FUSION, amarrada por seu talento único. E, quem sabe, o uso de muitos músicos ingleses traga esta coloração cultural híbrida: AMERICAN R&B + BRITISH BLUES.

VAN MORRISON foi muito além disso tudo. Sua imensa discografia abarca a MÚSICA CELTA, e aquela sonoridade peculiar das ilhas britânicas; e, ouso dizer, ultrapassa os limites britânicos e circula por um certo “soar” do norte europeu. Transita por coisas meio nórdicas, e meio quase fora da casinha da tradição inglesa-americana. Um retro gosto talvez de New Age. E, talvez, devesse gravar ao menos um disco para a gravadora alemã E.C.M.

Seria?

E para não dizer que não falei de tradição, gravou muitos STANDARDS, BLUES, e o que se quiser procurar ao longo de sua vida artística.

Fez Álbuns com artistas consagrados também dos EUA. JOEY DE FRANCESCO, aqui na foto, por exemplo. E outros grandes da Inglaterra e sua vizinhança, como GEORGIE FAME, ou LONNIE DONEGAN.

A curiosidade que VAN MORRISON sempre teve, vez por outra o levava propositalmente para algum descarrilamento temático.

Em uma canção do disco DOWN THE ROAD, 2002, em que cita nominalmente dois baixos-barítonos do pop inglês SCOTT WALKER e P.J. PROBY, lembrados junto com o desvairado, e quem sabe o maior gritalhão do ROCK da inglaterra, LORD SUTCH. Miscelânea criada pela cabeça deste superdotado peculiar e indispensável.

A exigência que MORRISON sempre fez em sua carreira, e ao longo dos tempos, é que seus discos fossem bons, muito pessoais, e impressionantes.

E todos são!

Aqui, temos uma refeição. Mas é possível conseguir um banquete. Está faltando muita coisa que fez e continua fazendo.

Então, percam-se no mundo que ele criou!

Com certeza vão encontrar vida e arte que nunca imaginaram que existiria…

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O SUNSHINE POP – MÚSICA DE ALTO ASTRAL

Foi o momento mais cativante, do ponto de vista do astral e das melodias, na segunda metade dos anos 1960.Talvez até uma “REAÇÃO CONSERVADORA” ao BEAT, SURF, e FOLK DE PROTESTO, destacando apuro vocal, melodias trabalhadas, e oposição a horrores políticos, como a guerra do Vietnã.

Não há quem não se lembre dos MAMAS & THE PAPAS, ASSOCIATIONS, THE 5TH DIMENSION, ou SPANKY AND OUR GANG , entre centenas, talvez milhares de outros. Todos criativamente alienados, porém mantendo a sanidade em tempos sofridos, e cheios de revoltas e lutas políticas.

Esse THE MAMAS & THE PAPAS – COMPLETE ANTHOLOGY colige tudo o que eles gravaram. Os cinco LONG PLAYS, também lançados no BRASIL, e todos os SINGLES de imenso sucesso. Estão ali faixas solo de MAMA CASS, entre várias outras parcerias e participações.

A qualidade técnica, gráfica e informativa é de alto nível. Um must para os fãs!

Eu os assisti ao vivo, em São Paulo, na boate do Hotel MACKSOUD PLAZA, a bem mais de trinta anos.

O local era pequeno, a banda ótima e reforçada por SCOTT MACKENZIE, um dos maiores “ONE HIT WONDER” da história do POP, com a inesquecível SAN FRANCISCO. Ele substituiu DANNY DOHERTY, da formação original.

O lugar de MAMA CASS foi ocupado por SPANKY McFARLAND, da concorrente de grande sucesso SPANKY AND OUR GANG.

E, claro, o membro original e “dono da banda”, JOHN PHILLIPS, e sua filha MACKENZIE PHILLIPS, que atuou no filme “AMERICAN GRAFFITE”, e veio substituindo a mãe MICHELLE, a “Mama” original.

Foi um belo show. Correto, emocionante, e digno do legado “HIPPIE – FLOWER POWER que eles simbolizaram.

OS MAMAS & THE PAPAS eram ótimos, quentes e e melódicos. Um naco “eterno” e revivido dos sixties. Eu vejo, porém, um detalhe curioso: as duas moças do ABBA com toda certeza ouviram MICHELLE E CASS. E cantavam “lá no alto” como elas . ..

Mas, não duraram mais do que uns cinco anos, e saíram de moda. Seus antípodas e contemporâneo certamente foi o VELVET UNDERGROUND.

E foram superados por tendências musicais mais ensimesmadas, contidas, egocêntricas: CAROLE KING, CARLY SIMON, JAMES TAYLOR, LENNON…

E artistas corrosivos, lúgubres e até indigestos, como o MC 5, STOOGES, e o tormento PUNK, meia década depois.

O sonho havia mesmo acabado.

 

 

SANDY DENNY E A REVOLUÇÃO NO FOLK BRITÂNICO – 1967/1978

ALEXANDRA ELENE McLEAN DENNY era muito baixinha, ativa, bem humorada – geralmente -, depressiva e mercurial; segura em seus propósitos profissionais e insegura nos resultados e realizações que obteve durante a carreira.

Sempre achava que sua parte não estava boa. Mas, tocava com proficiência violão, piano e acordeom. Sobre o cantar eu falo já-já!

ALEXANDRA, a SANDY, era contraditória. Quase bonita, um quase talvez inquestionável e talvez enganador com seu rosto suave e nariz perfeito. Muito carente afetivamente, porém determinada e briguenta!

SANDY era bagunçada e caótica. Esquecia objetos nos quartos de hotéis; atrasava ônibus em meio a turnês, disseram seus companheiros de banda. E fumava loucamente!!!

No início de carreira, foi tão maltratada quanto o resto do grupo, durante o horror “sacro-infernal” das turnês inacabáveis; na falta de tempo para ensaios; e na loucura de gravar até 3 Lps em um ano – além de aparições na BBC e nas revistas da época.

SANDY foi lançada pelo FAIRPORT CONVENTION, banda símbolo do FOLK ROCK INGLÊS que, logo após o primeiro disco com JUDY DYBLE no vocal, e aqui postado, se viu em Marte sem nave para prosseguir ou voltar à terra.

O FAIRPORT CONVENTION fez audições com montes de cantoras até escolher SANDY.

E aí a banda ficou pasma: qual foi a reação de ALEXANDRA quando quiseram contrata-la?

Bem; ousadamente fez “ela” mesma uma audição com os futuros colegas para saber se era, mesmo, “aquele tipo de banda” que pretendia!

Era! Aos19 anos, ela já havia cantado na BBC e feito um disco com os STRAWBS!

Em pouco tempo, SANDY encaixou-se com o guitarrista e gênio subavaliado, RICHARD THOMPSON, e forjaram a sonoridade que transformou o rumo do FOLK nos álbuns “WHAT WE DID ON HOLIDAY” e “UNHALFBRICKING”, ambos de 1968.

E, principalmente, “LIEGE AND LEAF’, 1969, – considerado o “mais importante disco do FOLK britânico de todos os tempos.

Esses três discos mudaram o rumo e a simbiose da música folclórica da Inglaterra com o ROCK, a retirando da cola do FOLK ROCK PSICODÉLICO AMERICANO, e forjando um caminho mais baseado nas raízes britânicas.

Porém, ficaram pouco mais de 18 meses juntos.

Foi SANDY a componente fundamental dessa transição com sua voz exuberante, forte, peculiar, bem colocada e afinadíssima. Algo entre graciosamente metálica e, ao mesmo tempo, sedosa.

Ela também escrevia letras inspiradas, perspicazes e inteligentes. E compunha melodias belíssimas, que continham a tristeza e a solidão sempre encontrada na música inglesa. Observe o PROCOL HARUM, por exemplo.

Há orquestrações nas gravações de SANDY que remontam àquele “mood” britânico. Procure ouvir “NEXT TIME AROUND”!

As composições de ALEXANDRA detêm um senso de comunicabilidade tal, que muitos de seus amigos próximos juravam que certas canções teriam sido escritas exclusivamente para e sobre eles!

A fama e a importância artística de SANDY DENNY cresceu com o tempo, feito a de NICK DRAKE, seu contemporâneo, cujas obras projetaram-se dos anos 1960 para muito após…

SANDY DENNY tinha fraseado original. Ia do sussurro ao pleno pulmão no espaço de duas linhas cantadas! Os que a ouviram disseram que era capaz de interpretar os longuíssimos versos sem desafinar, sem errar e, sempre, mantendo o interesse do ouvinte no que estava fazendo. SANDY tinha Carisma!

Agora, pensem ALEXANDRA em contraponto ao BOB ZIMMERMAN – aquele -, que cantava e compunha caudalosamente e, é quase consenso, enche o saco e o espírito de quem o escuta pela monotonia expressada.

Com SANDY era e “permanece diferente. Ouçam as suas versões das músicas do americano – claro, é o DYLAN- ; e observem a moça cantando – e quase narrando – as imensas histórias que povoam o imaginário e o cancioneiro FOLK britânico.

Ela tem enorme empatia e imediatamente repassa credibilidade. O nome disso é talento.

Mas, sua carreira foi muito curta e cheia de erros. Deixou abruptamente o FAIRPORT CONVENTION, nos EUA, em meio à turnê para promover “LIEGE AND LIEF”, que despontava com sucesso.

A causa do terremoto foi o guitarrista australiano TREVOR LUCAS, que participava da turnê, e por quem ela se apaixonou perdidamente, e largou tudo para segui-lo, com medo de perdê-lo.

Línguas ofídicas disseram que o moço era boa pinta e chegado à variedade e a inconstância nas companhias femininas. Mulherengo, em resumo.

Claro, isso abalou a estrutura da banda, que definhou até que tentaram todos juntos voltar em 1973, e depois cada um seguir o próprio caminho

Com LUCAS, SANDY fundou e gravou o FOTHERINGAY, 1970, outra banda de curta duração, e mais ou menos no estilo do FAIRPORT, onde um dos destaques é o excelente guitarrista JERRY DONAHUE, que mescla o FOLK e o COUNTRY em seu estilo de tocar.

E TREVOR LUCAS também produziu os memoráveis discos solo: “SANDY”, 1972; “THE NORTH STAR GRASSMAN, AND THE RAVENS”, 1971; “RENDEZ VUS”, 1977; e “LIKE AN OLD FASHIONED WALTZ”, 1973.

Além de várias gravações inéditas até a edição deste “WHO KNOWS WHER THE TIME GOES” – o título de sua canção mais famosa, gravada por JUDY COLLINS e NINA SIMONE.

Apesar de haver tentado um repertório mais abrangente, e até com certo êxito artístico, SANDY não era uma cantora versátil. Sua formação FOLK a determinou o tempo inteiro. Mudar ou cantar diversos gêneros é para poucos. E ela teve carreira curta demais para reaprender.

SANDY morreu em 1978, aos 31 anos de idade, em decorrência de hemorragia cerebral após ter levado um tombo na escada da casa de um amigo, marcando o término de uma carreira um tanto errática quanto significativa.

Ela jamais foi uma POP STAR.

Era um talento evidente, objeto de 3 grandes reportagens na revista RECORD COLLECTOR. E venceu duas vezes a indicação como a melhor cantora da Inglaterra pela revista MELODY MAKER.

É honraria para poucos!

Três curiosidades marcantes:

É SANDY DENNY quem faz dueto com ROBERT PLANT em “BATTLE OF EVERMORE”, no LED ZEPPELIN IV. Eles eram fãs dela!

Em uma das voltas do FAIRPORT CONVENTION, em 1975/76, DAVID PEGG, o baixista, recorda que faziam uma turnê pelos EUA, com o RENAISSANCE, que abria os shows para eles.

Em NOVA YORK, eles inverteram e aqueceram para que o RENAISSANCE gravasse ao vivo o famoso LIVE AT CARNEGIE HALL, que saiu em 1976!

SANDY DENNY e ANNIE HASLAN, duas grandes vozes, são baixinhas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SAVOY BROWN – ÁLBUNS CLÁSSICOS – DERAM – 1965/1978; E COM DAVE WALKER NO VOCAL – 1988/1990 – CRESCENDO REC.

 

Não perguntem o por quê?

Mas colecionar, para mim, começa pelo SAVOY BROWN. Talvez decorra dos tempos de transição entre a década de 1960 e 1970.

Ou, quem sabe, pela memória dos discos da LONDON/DECCA, emblemáticos de meados dos anos 1960 / 1970, quando a gene pegava as capas internas que protegiam os Lps; e todas apresentando outros lançamentos e bandas das gravadoras associadas.

Quem comprasse MOODY BLUES, por exemplo, via discos do SAVOY BROWN, do TEN YEARS AFTER, de JOHN MAYALL & THE BLYESBREAKERS… E, claro, do grande ídolo daquela época, TOM JONES, entre vários e relevantes outros!

Pois, é queridos, queridas e adjacências: Memories are made of this…

Os discos da LONDON/DECCA eram artigos luxuosos – luxurioso? – , que a gente via e, vez por outra, comprava nas lojas importadoras. Traziam a vanguarda do BRITISH ROCK da época, convite à sensibilização e à curiosa sensação de pertencimento a um culto quase secreto. Colecionar DERAM também é um must!!!1

O SAVOY BROWN, por ser BLUES com um algo de PSICODELIA; e ter feito alguns discos já a caminho do ROCK PROGRESSIVO, também teve capas magníficas e marcantes.

Para mim, até melhores do que alguns discos que produziu. Mas, sempre fascinou a minha adolescência e os colecionadores daquela geração.

Confesso ter comprado mais a discografia da concorrência. Afinal, grana curta implica discernimento e escolha rígida. Porém, passou o tempo e fui, aos poucos, colecionando os moços.

As fotos aqui mostram 8 anos da carreira do SAVOY BROWN, na DERAM, 14 Long Plays.

E mais dois de CHRIS YOULDEN, o segundo e mais célebre vocalista da banda – mas que desistiu da carreira por considerar-se apenas mais um entre centenas. E ele não era, defendo, tão limitado quando disse.

O SAVOY BROWN, como o FLEETWOOD MAC, JOHN MAYALL, CHICKEN SHACK e quase toda a BRITISH INVASION fez mais sucesso nos EUA do que na Inglaterra.

KIM SIMMONDS, guitarrista, compositor e vocalista, o dono do SAVOY, persistiu e continuou até morrer fazendo, com ou sem a banda, BLUES estiloso e pessoal, em carreira mais do que cinquentenária e momentos criativos.

É bom não esquecer o sabido por colecionadores em geral. Foi de lá saiu a estrutura do FOGHAT, famosa banda de HARD BLUES de meados da década de 1970 em diante, e grande sucesso na linha da matriz: um BLUES ROCK inspirado por JOHN LEE HOOKER.

Esteve por lá, também, um dos maiores “siders” da história do rock, PAUL RAYMOND, tecladista, guitarrista e vocalista lendário, falecido uns quatro anos atrás, e que participou de várias bandas, entre as quais o UFO, e muitos projetos e gravações ao longo de 50 anos de carreira, ou mais.

Trouxe aqui mais três discos feitos no final da década de 1980, agora com DAVE WALKER no vocal, gravados entre 1988 e 1990. Discos muito bons, também. E algo mais pesados.

E, claro, entre 1978 e 1988, houve outros de KIM SIMMONDS e banda.

Segundo o pesquisei, há 52 álbuns, alguns miscelâneas, 34 compilações e 28 SINGLES. Claro, todos com KIM MAIDEN SIMMONDS, que morreu em dezembro de 2022. Certamente os discos solos incluídos… O sobrenome MAIDEN para mim é novidade… curioso….

KIM era o SAVOY BROWN. Ele criou, manteve e cuidou da fama do grupo. Foi ícone CULT e PRODUTIVO.

Ouçam o SAVOY BROWN, nome de cor como DEEP PURPLE. Ambos na “palheta auditiva” de quem gosta de ROCK.

Para mim, restaram sensações profundas e inesquecíveis.


 

MILES DAVIS – THE COMPLETE COLUMBIA ALBUM COLLECTION – 1955/1985 – BOX SET – 53 DISCOS ORIGINAIS EM 70 CDS.

O que dizer?

Que a modernidade do jazz está concentrada e expandida nesse BOX miraculoso?

E, para complementar, houve o lançamento simultâneo de outro BOX com DVDs, dentro de uma caixa em formato para acondicionar o trompete?

O preço, há uns dez anos ou mais, foi de $145 dólares, frete incluído, entregue na porta de minha casa!

Foi uma pechincha, porque o dólar era suportável; e a caixa não havia se tornado a raridade cult que é, hoje!!!!

É luxo só! É genialidade em seu último ponto”. Não superada, por enquanto, penso. Afinal, é a fase gravada na COLUMBIA RECORDS, trinta anos de arte explícita e bem cuidada!

Os discos são mini-Lps. Os duplos, claro, acondicionando dois. E Há 17 CDS duplos! Inclusive o MILES IN PERSON AT BLACKHAUK, gravado em 1961, em Los Angeles que, na verdade, seria quadrúplo?

Dizer que vai do BE-BOP às diversas variações da FUSION; e mais o quase FREE; e todos os seminais de KIND OF BLUE, passando por SKETCHES OF SPAIN, a NEFERTITI, e AT PLUGUED NICKEL. E caminhando para IN A SILENT WAY, BITCHES BREW, DARK MAGUS, e chegando a STAR PEOPLE; e culminando em YOU´RE UNDER ARREST e AURA?

Estão todos aí e os respectivos shows à cada época. Deslumbrantes!

Tive a honra e a oportunidade de assistir MILES DAVIS, no TEATRO MUNICIPAL, em São Paulo, em 1974. Eu estava lá com amigos, e vi a revolução FUSION in loco!

Banda com duas guitarras, baixo, bateria, metais, e a parafernália percussiva. O show expulsou a metade da audiência, por causa do ROCK FUSION,

O som estava muito alto, e o repertório exalava iconoclastia pura ofendendo os conservadores, que nem sonhavam com tal música “vilipendiando” ambiente tão nobre!

MILES DAVIS tocava um trompete com pedal de guitarras acomplado! Sei, lá! Era “METAL e LISERGIA puros!!!!

Eu jamais esquecerei!

E, para coroar, quando cheguei ao teatro, havia um preto baixinho, de cachecol enorme em torno do pescoço, parado em frente ao teatro e observando a turma chegando!

Era MILES!

O título de matéria sobre o show, no Jornal da Tarde, de Sampa, citava que MILES IS MILES AND MILES AWAY!

E até hoje! Esteja ele onde estiver!!!

 

Nelson Rocha Dos SantosRibamar FilhoElvio Paiva MoreiraRodrigo Marques NogueiraGerson PéricoThemys Pontremoli Lima

PRETTY THINGS – A SAGA ERRÁTICA DE UMA BANDA CULT

Ingleses, por supuesto!

Começaram tocando BEAT e R&B feito os YARDBIRDS e, principalmente, os ROLLING STONES.

E foi de LOS ROLLINGS, como dizem os argentinos, de onde saiu DICK TAYLOR, em 1963, e formou os PRETTY THINGS com PHIL MAY e outros caras.

O nome é o de uma canção de BO DIDDLEY, de quem fizeram outros covers e trouxeram o molde de sua base sonora BLUESY – ROCKER.

O dois primeiros discos e varios SINGLES vão por aí. Eles não são para quaisquer ouvidos. Mas, há alguma coisa de original e diferente no que fizeram e fazem…

Da mesma forma que os ROLLING STONES e vários contemporâneos, os PRETTY THINGS enveredaram um pouco para a PSICODELIA.

Em 1968, gravaram seu disco mais importante: S.F.SORROW é um dos primeiros ÁLBUNS CONCEITUAIS do ROCK. E, na época, foi tido como antecessor do conceito desenvolvido por THE WHO, em TOMMY; uma potencial ÓPERA ROCK, como se cunhou naqueles tempos.

PETE TOWNSHEND é fã do disco, que eu acho um tanto chato, mesmo que seminal e histórico.

Fizeram, também, discos sob o nome ELECTRIC BANANA, hoje cultivados por quem gosta de coisas meio heterodoxas e de falsas simplicidades…

A turma do LED ZEPPELIN também era fã. E os levou para a gravadora da banda, a SWAN SONG, em meados dos 1970. Lançaram dois LPs apreciados pela crítica e algum sucesso de vendas: SILK TORPEDOES e SAVAGE EYES, espécies de HARD ROCK. E certamente inspirados pelo modelo vitorioso do HUMBLE PIE, DEEP PURPLE e do próprio ZEPPELIN.

No princípio dos anos 1990, DICK TAYLOR, guitarrista; e PHIL MAY, o vocalista, juntaram-se a JIM McCARTHY, baterista dos YARDBIRDS, e justapuseram os nomes: PRETTY THINGS – YARDBIRDS BLUES BAND. Saíram dois discos colecionáveis até a medula por quem gosta de HARD BLUES e adjacências.

Os discos originais da banda, nessa postagem, são EDIÇÕES LIMITADAS e de alta qualidade técnica. Dignos da trajetória de um cometa que, de vez em quando, nos orbita, passa e volta…

Como KEITH RICHARDS, os PRETTY THINGS sempre estiveram quase mortos, mas ressuscitando e transcendendo o potencial zumbi que neles habita e os acompanha desde o início.

Eles não são para todos os dias e muito menos palatáveis à primeira vista.

Mas, permaneceram na mira dos colecionadores no decorrer dos tempos.

Então, procure ouvir. Quem deles gosta, gosta mesmo!

SLY & THE FAMILY STONE – 1967/ 1974 – BOX SET

Você pega o gingado forte de JAMES BROWN, adiciona o senso melódico da MOTOWN e da STAX. O resultado é um combo mixado com ROCK PSICODÉLICO da Califórnia.

Depois, junte alegria extremada no palco, colorido hippie e tempere com fumaças que não vêm de incenso e… pronto: você terá SLY & THE FAMILY STONE.

Os visuais e, principalmente, etnias enganam. ARTHUR LEE, do LOVE; SLY STEWART, e JIMI HENDRIX são negros e profundamente ligados à música de VANGUARDA. No caso, às diversas formas do ROCK PSICODÉLICO.

Nesse BOX tudo o que gravaram na EPIC.

Antes da FAMILY STONE, SLY era produtor e dos bons. Cuidou da obra do expressivo, cult e quase recôndito BEAU BRUMMELS, 1965/1968, excelente banda BEAT da Califórnia, em paulatina e contínua sagração entre os colecionadores e a crítica.

Mas, aí já é outra história imensa, densa; e procurando por um escritor.

Eu a conheço… portanto, quem sabe qualquer hora eu conte…

AS PONTES DE MADISON – TRILHA SONORA – 1995

FILME SENSÍVEL ONDE “MERYL STREEP” E “CLINT EASTWOOD” DÃO SHOWS DE INTERPRETAÇÃO.

E, PARA COMPLETAR, UMA TRILHA SONORA DE ALTÍSSIMO NÍVEL COM CERTAS CANÇÕES TOTALMENTE COMPATÍVEIS COM A ÉPOCA E O “CLIMA” DO FILME.

HÁ DINAH WASHINGTON,QUE DISPENSA INTRODUÇÕES MAIORES, EM DUAS FAIXAS SOBERBAS!

E, PARA QUEM NÃO CONHECE AINDA, QUATRO FAIXAS DE JOHNNY HARTMAN, CANTOR DE TIMBRE BAIXO/BARITONO, E INTERPRETAÇÕES PERFEITAS.

UMA DELAS É DO LP CLÁSSICO ABSOLUTO GRAVADO COM JOHN COLTRANE!

É DISCO IMPERDÍVEL E, HOJE, NÃO TÃO FÁCIL DE ENCONTRAR.

SE CRUZAR COM ELE, NÃO RESISTA: SAQUE A “FADINHA MASTERCARD” , OU ALGUMA DE SUAS IRMÃS, E COMPRE!

MORTE DE JIM MORRISON – 03-07-1971

JIM MORRISON FOI UM DOS QUE INSPIRARAM EM MIM O INTERESSE PELO POP, PELA REBELIÃO POLÍTICA, E POR VIVER, INTELECTUALMENTE, DE MANEIRA INTENSA.

SOU OBSERVADOR DO REAL. MAS, SEM TALENTO PRA MILITÂNCIAS.

DOIS MOMENTOS TORNARAM-ME ADOLESCENTE: EM 1965, QUANDO ESCUTEI “MR . TAMBOURINE MAN”, COM THE BYRDS; E O INÍCIO DE 1967, QUANDO O RÁDIO TOCOU “LIGHT MY FIRE”! ACREDITEM: FORAM MEUS RITOS DE PASSAGEM!

JIM MORREU EM 1971. E EU “COMETI” ESTA COLAGEM EM 1977.

FOI O MEU PRIMEIRO QUADRO. É ARTISTICAMENTE RUIM, MAS CONCEITUALMENTE CORRETO: JIM APARECE EM MEIO AS SUAS DECLARAÇÕES E FRASES, EM FORMATO DE UMA EXPLOSÃO ATÔMICA, QUE SURGE DE UMA BANDEIRA AMERICANA DILASCERADA; E SOBRE UM MAPA AMERICANA RASGADA EM PEDAÇOS E LAVADA EM SANGUE.

É INGÊNUO E POPULISTA. MAS, AINDA HOJE REFLETE OPINIÕES E SENTIMENTOS SOBRE OS GRINGOS…

EU PRETENDI UMA VISÃO DO CONFLITO DE GERAÇÕES EM MEIO À GUERRA FRIA, E DURANTE A DITADURA BRASILEIRA.

JIM TINHA VOZ PORTENTOSA, DE UM BELO TIMBRE, E ALCANCE BARÍTONO.

MAS ERA CANTOR MEDÍOCRE. A RIGOR, SÓ CANTOU RAZOAVELMENTE NO PRIMEIRO LP, THE DOORS, 1967.

NOS RESTANTES, CAPENGOU. E VOLTOU A FAZER TALVEZ A SUA MELHOR GRAVAÇÃO NO ÚLTIMO ÁLBUM, L.A. WOMAN, 1971.

MAS, NINGUÉM LIGOU. O CARISMA NO PALCO E NA VIDA SEGURAVA SUAS PERFORMACES.

SEMPRE QUE VEJO, OU LEIO, ALGO SOBRE MORRISON EU FICO EMOCIONADO. POUCOS ÍDOLOS SIMBOLIZARAM TÃO BEM O QUE ERA SER JOVEM, EMOCIONALMENTE ENVOLVIDO COM O VIVER, COMPROMETIDO COM A MUDANÇA, E CONTRA O REACIONARISMO DA SOCIEDADE.

E TUDO SOB O PONTO DE VISTA DE UM INDIVÍDUO DONO DE SI, E INSTRUMENTO DE SUA PRÓPRIA RAZÃO E POLÍTICA.

A PERSPECTIVA DE JIM MORRISON ERA A DE UM ARTISTA, E NÃO A DE UM MILITANTE POLÍTICO.

EU MUDEI UM POUCO; ENVELHECI COM LUCIDEZ – ACHO. MAS, PERMANEÇO LIBERTÁRIO INCONDICIONAL. SAÚDO CRITICAMENTE A VIDA E OS INCONFORMISTAS QUE LUTAM PARA QUE ELA SEJA MELHOR, MENOS MEDÍOCRE E MAIS JUSTA!

E, RECORDO PEDACO DE FRASE EM UMA CANÇÃO DOS DOORS: “I WATCH THE RIVER FLOW”…

SUN RA – E A VANGUARDA MUITO ALÉM DE “THE HELIOCENTRIC WORLDS!

Tive paciência e consegui mais ou menos saber quantos discos gravou SUN RA e sua ARKESTRA: foram 136. Quer em bom português? Contei cento e trinta e seis discos!

Entre os mitos que o cercam está o de ter criado a própria gravadora, “EL SATURN RECORDS”, prá lá de singular. E quase-famosa por ter feito LPS sem grandes sofisticações gráficas, mas artisticamente instigantes e muito difíceis de serem encontrados pelaí!

SUN RA foi um dos primeiros independentes.

Colecionador sortudo e destemido será quem achar algum daqueles discos. São raros e preciosos!

Quem se interessar pelo “MAGO” deve, também, dar uma olhada na produção do cara por outras gravadoras, como a também cult ESP, e a IMPULSE.

Mas, pode ir direto para as reedições em CDS, da suíça EVIDENCE MUSIC, que vem mapeando a carreira do cara com zelo e respeito.

SUN RÁ era de ecletismo total! Mas, à sua maneira peculiar e subversiva. Teve carreira longa e impressionante.

Começou na década de 1940, e trabalhou compulsivamente por mais de 50 anos! Era superdotado e workholic como JOHN MAYALL ou MILES DAVIS.

Acompanhou grupos de DOO-WOP; gravou BE-BOP; deu canjas várias na transição da música negra dos anos 1940 ao R&B em voga.

Envolveu-se com todo tipo de JAZZ, do RAG ao ROCK; gravou BLUES; meteu o criativo bedelho em mil coisinhas excêntricas e esotéricas.

DIZZY GILLESPIE e THELONIOUS MONK eram fãs se SUN RÁ.

Em 1956 gravou, inclusive, com um “esperma ensandecido” (PORRA-LOCA, para os menos recatados) chamado “YOCHANAN, A SPACE AGE VOCALIST”… um híbrido de cantor de R&B, Proto-RAPPER, ou simplesmente um preto maluco! Tudo isso está no CD duplo “SINGLES”, aqui na postagem!!!!

SUN RA propôs e conseguiu um jeito novo de “re-rever” a música de formas diferentes e nunca feitas! Era criativo, insistente e desbravador. Usou teclados eletrônicos ainda nos anos 1950; abusou de sintetizadores e tudo o que fosse ligado às vanguardas musicais esvoaçantes, ou que o ligasse às coisas cósmicas, míticas, místicas, ou simplesmente fora do eixo… e antes que o PINK FLOYD pensasse nisso…

SUN RA era uma METAMORFOSE GALOPANTE, foi um dos criadores do AFRO-JAZZ.

Ao contrário do FREE JAZZ, de ORNETTE COLEMAN, onde a liberdade para improvisar era total, a proposta AVANT GARDE de SUN RA é uma construção/desconstrução ativa, mesmo que não-programada, de uma obra musical que requer disciplina, técnica e sensibilidade.

SUN RA é um arquiteto do caos sonoro inteligível. Intervinha nas gravações, trocando músicos durante a execução dos trechos. Dava o tom, a ideia; e se não gostasse do som de um trombone, digamos, fazia o trompetista, por exemplo, executar aquela parte do jeito que quisesse. E, se RA concordasse, ia juntando, gravando tudo de acordo com a sua percepção e gosto.

SUN RA acrescentava ou retirava instrumentos, ideias, frases; e o resultado é uma colagem sonora com liberdade vigiada, livre ‘ma, non tropo”. Fica estranho, mas é coeso e musicalmente instigante. A metáfora que me ocorre, é consertar o motor do avião em pleno voo…

Ele rompeu e subverteu a ideia inicial do FREE JAZZ, e está nas raízes da FUSION, DO ROCK PROGRESSIVO, e é precursor do “AFRO-FUTURISMO” jazístico. SUN RA é um compositor, arranjador, maestro maluco, que dirige sua orquestra ao sabor de si mesmo.

Diferentemente do FREE JAZZ, onde cada um tocava sua parte sem a censura de outros; nos discos dele o comandante supremo é SUN RA. Ele é o diretor de obras do caos. Não sabia onde queria chegar, mas chegava prospectando, caminhando, perscrutando, tocando, construindo, destruindo, mudando a música…

Depois de gravada, claro, restava a obra composta: original, intuitiva, provavelmente não repetível, mas “organizada”, porque “petrificada” em disco.

Se o FREE JAZZ é obra coletiva, o AVANT – GARDE parece, em geral, produto individual: o conceito é do artista.

A história da música popular é um caminho tortuoso, desruptivo, e, ao mesmo tempo, previsível. Muita coisa díspar convive ao mesmo tempo.

Para muitos, o ápice da sofisticação na música popular foi a GRANDE CANÇÃO AMERICANA, de GERSHWIN, COLE PORTER…; e na voz de ELLA, BILLIE, SINATRA, entre vários.

A BOSSA NOVA talvez tenha sido o último ato da grandeza musical “tradicional conservadora”. E, tudo isto, culminando no final dos anos 1950 do século passado!

No mesmo espaço/tempo, o R&B e o ROCK AND ROLL comiam solto com incontáveis grupos de DOO-WOP, ELVIS PRESLEY e contemporâneos.

Além das experiências radicais na MÚSICA CLÁSSICA contemporânea, a ELETROACÚSTICA, por exemplo; à época estavam em curso subvertendo o gosto tradicional, e acrescentando elementos de ruptura.

No BRASIL, em 1959, a compositora JOCY DE OLIVEIRA, contestara sarcasticamente a BOSSA NOVA, em seu LP.

Mas, em 1961, executou no TEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO a primeira obra de música ELETROACÚSTICA do BRASIL. JOCY esteve e está além de seu tempo…

Talvez a transição entre a década de 1950 e a de 1960 tenha sido o período histórico onde ocorreram as mais significativas erupções e terremotos estéticos.

SUN RA não existiria sem esse amplo painel, composto por contradições procurando sínteses, e de saltos à frente. A entropia foi o FREE JAZZ, sucedido por uma quase-reorganização da vanguarda com o AVANT-GARDE.

Ao mesmo tempo, vieram os Beatles e os formatos tradicionais simplificados tomaram a cena novamente.

Até que…

SUN RA morreu aos 79 anos, em 1993, mas sua ARKESTRA continuou sob a direção, talvez até hoje, do saxofonista MARSHALL ALLEN, que já a trouxe ao Brasil.

Quando eu morrer, vou-me embora pra SATURNO, de onde SUN RA disse que veio. Porque lá sou amigo do Rei…