GORDON LIGHTFOOT: O MAIOR COMPOSITOR CANADENSE, E OUTROS ARTISTAS E DISCOS RELEVANTES “BEFORE THE GOLDEN RUSH”

 

Na cidade de ORILLIA, em ONTÁRIO, CANADÁ, onde nasceu GORDON LIGHTFOOT, tem uma estátua de 4metros de altura em sua homenagem.

Ele é um cavalheiro algo tímido, e foi mulherengo atuante. Casou-se muito cedo, e meio na marra…Rebelou-se e revelou-se, digamos…

GORD é imenso em seu país. O único artista de lá que primeiro fez sucesso em sua terra natal, em vez de rebuscar o mundo!

A turma nasce lá, emigra para o HOSPÍCIO abaixo, se destaca, retorna e conquista seus conterrâneos…GORDON fez o contrário.

Pausa.

Em documentário mais ou menos recente, mostraram a cidade de K.D.LANG, ótima cantora daquela imensidão gelada. Na entrada, uma parede e a inscrição: K.D.LANG …. DYKE. É a expressão odiosa pela qual tratam as moças homo, bissexuais, etc.. no HOSPÍCIO DO NORTE e adjacências.

Há um vídeo espetacular, no YOUTUBE, de KATE cantando ao vivo HALLELUJAH, de outro heterodoxo daquelas paragens, LEONARD COHEN! Um encontro de sensibilidades que só os grandes conseguem expressar nas músicas de outros grandes.

K.D. LANG, mulher forte, assumida em seu destino, está descalça. Tem pés pequenos, delicados como a voz e a interpretação que ela sempre nos lega…

Alguma coisa errada não está certa… Existe um incômodo; algo não combina, realmente não orna nisso tudo…

Não é a orientação sexual da KATE, seu destino ou talvez escolha.

E sim a grosseria, a incompreensão sobre a pessoa de KATE. A simples agressão aos diferentes, sobre os quais têm nada a ver as pessoas de fora que os/as observam. É o preconceito puro falando, gritando.

Aliás, continua escandindo sua ira, cuspindo nas ruas, cidades, sociedades mundo afora, e recantos adentro…

YORKVILLE é um bairro sofisticado em TORONTO, frequentado por gente descolada, ou endinheirada, com luxuosos hotéis, comércios, bares, restaurantes, galerias de arte, etc.

Na década de 1960, era uma espécie de GREENWICH VILLAGE, com botecos, clubes, frequência e o usual boêmio eterno.

Foi por lá que iniciaram carreira, entre vários JONI MITCHELL, NEIL YOUNG, PETER, PAUL & MARY, o STEPPENWOLF; DAVID CLAYTON THOMAS antes do BLOOD SWEAT & TEARS; e DANNY DOHERTY, depois nos MAMAS & THE PAPAS.

E onde GORDON foi apresentado pela atuante dupla FOLK IAN e SYLVIA, e tornou-se amigo de farras e bebedeiras de RONNIE HAWKINS, cantor americano meio ROCKABILLY que emigrou para o CANADÁ.

Em TORONTO RONNIE contratou para acompanha-lo um grupo que tinha ROBBIE ROBERTSON, GARTH HUDSON, RICK DANKO, e RICHARD MANUEL, todos canadenses; e mais o americano LEVON HELM. Eles tocam nos álbuns de HAWKINS, aqui na foto.

Mais tarde, a “banda” foi transmutada na SEMINAL THE BAND! O batismo é porque eram músicos para “toda obra”; acompanhavam tudo e todos.

Este pessoal estava envolvido na FOLK MUSIC que atraiu artistas norte-americanos e canadenses, antes de “AFTER THE GOLD RUSH”. O disco marcante de NEIL YOUNG, na FUSION entre o FOLK/COUNTRY contemporâneo, gravado em 1971.

Uns tempos atrás, meu amigo Roberto Real enviou-me de presente pequeno BOX que necessita restauração, com alguns EPS da orquestra de GLEN MILLER. No meio, o SINGLE histórico do KINGSTON TRIO, onde está TOM DOOLEY, 1957, considerada por muitos a canção que deu impulso ao FOLK “tradicional moderno”. Em tudo pertinente a essa postagem.

Assim como este belíssimo “CLOUDS”,1969, criado por JONI MITCHEL. Artista canadense típica, solitária como seu país de origem, e profunda como a frieza das montanhas e florestas de lá. JONI, GORDON, ANNE MURRAY e PAUL ANKA são os únicos músicos canadenses que viraram estampas de selos. Uma honra, claro!

GORDON esteve uns cinco meses na INGLATERRA, em 1963, mas não foi afetado pelo BEAT e toda a revolução POP/EXISTENCIAL que por lá se esboçava.

Já no Canadá, explodiu em 1964/65 cantando e tocando em um bar chamado RIVERBOAT. Sucesso crescente, cachê idem; e de lá foi fazer temporadas no MASSEY HALL, teatro para 2200 pessoas, acústica espetacular, e a casa da SINFÔNICA DE TORONTO!

Ele ganhou seu primeiro prêmio com doze anos! Aos dez já cantava em casamentos e festas; e disse, brincando, que “chegou a faturar tanta grana informalmente”, que quase teve de declarar Imposto de Renda!

É a “Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, de MAX WEBER, inculcada em garoto superdotado, esperto, e ultra talentoso!

Em 1965, GORD esteve no famoso FESTIVAL DE NEWPORT, meca da FOLK MUSIC TRADICIONAL, como cantor e compositor revelação do CANADÁ, e seu show foi muito bem.

Também naquela edição BOB DYLAN causou rebuliço famoso, e foi vaiado quando subiu ao palco acompanhado pela BUTTERFIELD BLUES BAND, em set totalmente elétrico, que entrou para a HISTÓRIA tanto pela transição para o FOLK ROCK, e a fase elétrica da obra de BOB, como pela total subversão do gênero!

GORDON LIGHTFOOT foi inspirado por “THE FREEWHEELIN´ BOB DYLAN,” 1963, disco onde está BLOWIN´IN THE WIND. E DYLAN disse que não conhece música de GORDON que não seja excelente. Citou várias… E que “FOR LOVING ME” é uma das músicas que gostaria de ter escrito!

E foi DYLAN quem o apresentou no “CANADIAN HALL OF FAME, em 1986. Sob enorme aplauso da plateia para ambos.

Mas, a relação entre os dois mistura certa mútua inveja com admiração profunda. Há fotos dele e GORDON tocando juntos em estúdio, ensaiando, criando. E DYLAN o considera um de seus cantores prediletos. Quem sabe o predileto.

A quantidade de artistas que gravaram LIGHTFOOT, hoje acervo com mais de 450 obras compostas, é extensa demais! Para citar poucos, ELVIS PRESLEY, BARBARA STREISAND, JERRY LEE LEWIS, JOHNNY CASH, FAIRPORT CONVENTION, OLIVIA NEWTON-JOHN, GENE CLARK, ERIC CLAPTON, GRATEFUL DEAD, JUDY COLLINS, e pasmem!! JANES ADDICTION!!!

Ele é um artesão das palavras; um “pintor” que expressa através de suas letras paisagens e cenas do imenso CANADÁ. Consegue transmitir o silêncio das vastas florestas geladas. A enorme desolação daquela beleza despovoada… Ele captou o íntimo e a essência do país em suas canções.

Um de seus grandes sucessos é “CANADIAN RAILROAD TRILOGY”, obra composta em 1967 para o centenário do país. Ganhou prêmios e loas. É belíssima, mesmo! E aproveitem e ouçam as magníficas SEVEN ISLAND SUITE, SHADOWS, CAREFREE HIGHWAY, para ficar em quase nada…

GORDON é, também, artífice da geografia interna de almas; do sobe e desce nas ladeiras dos sentimentos. Retrata momentos íntimos com detalhes e precisão poéticos, que fizeram JONI MITCHELL e incontáveis tornarem-se fãs, e gravarem suas composições.

Em 1970, ele assinou contrato de 1 milhão de dólares com a WARNER/REPRISE e internacionalizou-se. Era muita grana!

“IF YOU COULD READ MY MIND”, inspirada no final de um de seus casamentos, tem mais de cem versões gravadas por outros artistas!!! É canção lindíssima, letra e música; e a sua gravação é espetacular! Participaram JOHN SEBASTIAN, RY COODER e RANDY NEWMAN, craques da época.

GORDON LIGHTFOOT é considerado o MAIOR COMPOSITOR do CANADÁ. Estudou orquestração e teoria musical, na CALIFÓRNIA, quando tinha 18 anos. GORD sabe ler e escrever música.

E canta muito! É barítono de voz expressiva e belíssima. Ouvi-lo é prazer pleno. Não é um chato egocêntrico ensimesmado. É um grande intérprete!

GORD geralmente atua com grupos mais acústicos. Mas, soube renovar-se e tornar-se mais POP e ROCK, como os seus contemporâneos. Na sequência de sua obra percebe-se a influência de artistas como J.J.CALE e MARK KNOPFLER. É um passo em direção a, digamos, certos discípulos de DYLAN e dele mesmo. Claro?

Também progressivamente eletrificou os arranjos; sempre mantendo as características e estilo básicos. Chegou, como outros, a um tipo de fusão entre o FOLK / COUNTRY/ POP. É de bom gosto e atualizada. Curiosamente, bastante identificável com o CANADÁ…

Em 2002 ele sofreu um aneurisma e ficou 6 semanas em coma. Recuperou-se mas, quatro anos depois, teve um derrame. E até hoje é fumante inveterado. Encurtou sua trajetória.

LIGHTFOOT tem carreira vasta, mesmo gravando relativamente pouco. 23 álbuns, só. Até agora. Tem 5 GRAMMYS, discos de ouro e platina. Recebeu 16 prêmios JUNO AWARDS, e foi levado ao “SONGWRITERS HALL OF FAME”, do CANADÁ.

É DOUTOR HONORIS CAUSA EM DIREITO, e em MÚSICA também. Provavelmente por causa da habilidade com as palavras e a destreza em melodias e arranjos…

GORDON continua em atividade reduzida, desfrutando sua pequena fortuna de uns 30 milhões de dólares; e a casa belíssima em TORONTO, frutos de merecidos royalties de seu fantástico trabalho!

O excelente BOX -“SONGBOOK”, RHINO, 1999, continua em catálogo. Parece perene. São 4 CDS, bom livreto, e colige em 88 canções a sua obra, até 1998. Pega o que é significativo em quase tudo o que fez.

O texto é longo, porque GORDON LIGHTFOOT é imenso!

Procurem conhecê-lo.

A GRAVADORA E.C.M. E A MÚSICA FRIA INSTIGANTE

 

E.C.M. significa EDITIONS OF CONTEMPORARY MUSIC. É uma gravadora fundada na Alemanha em 1972, por um músico chamado MANFRED EICHER, que se tornou um dos produtores mais originais, criativos, bem sucedidos e perfeitos da história da música.

Um feito imenso para o material e artistas que grava e promove: JAZZ não óbvio, VANGUARDAS complexas. CLÁSSICOS e ERUDITOS de foco amplo, alcance mais restrito, porém observados como obras de arte originais.

Curiosamente, MANFRED estabeleceu-se e opera da Noruega, em Oslo, de onde por um desses “não sei o quê” da vida elaborou uma sonoridade única, que perpassa por mais de 1500 discos, todos no mínimo bons ou interessantes; e muitos e muitos excelentes, ou até geniais.

Descolar o maior número desses discos inclassificáveis, é um dos projetos de vida que persigo. Tenho vários. Faltam muitos, mas muitos mesmo!

E qual é o segredo de EICHER, um dos caras que mais admiro, para não dizer que invejo descaradamente?

Em linhas gerais, MANFRED procura artistas mundo afora que tenham magia indefinível; um certo charme e sonoridade que ele trabalha, produz, refina, grava; e muitas vezes combina com outros músicos que, aparentemente, têm pouco a ver uns com os outros.

É só aparência. A tudo se pode combinar muito, quase tudo…

Exemplo típico e encontrável com certa facilidade no Brasil, é o CD “Mágico Carta de Amor”, de EGBERTO GISMONTI, com o saxofonista tcheco JAN GARBAREK e o baixista americano CHARLIE HADEN Gravado ao vivo em Munique, em 1981, é JAZZ sei lá o quê de excepcional beleza e qualidade.

O resultado dessas “coalisões/colisões” que ele promoveu às dezenas é, sempre, música peculiar, belíssima e “indefinivelmente identificável” com a sonoridade da gravadora. Todos os que gravam na E.C.M. produzem este som distinto, inigualável!

A gravadora, como eu disse, garimpa por este planeta afora.

Vejam aqui o CD do norueguês CHRISTIAN WALLUMRED & ENSEMBLE, lançado em 2009. Ele toca Piano, Harmonium, e Toy piano. Está acompanhado por trompete, violinos, viola, cello, harpa barroca, bateria e percussão.

Este CD, “FABULA SUITE LUGANO”, é para mim ERUDITO DE VANGUARDA. Mas, ele “seria” essencialmente um artista de JAZZ “pós tudo. Eu não durmo com um barulho ( som ) desses… E isto é a E.CM.

Na postagem temos três pianistas e respectivos grupos: BOBO STENSON, sueco; AYUMI TANAKA, ora, ora, adivinhem de onde? E MARILYN CRISPELL, americana. Todos refinados pelo bom gosto e competência de EICHER, e da gravadora. São discos totalmente diferentes entre si, e lançados respectivamente em 2009, 2023 e 2021. É esta capacidade para produzir diversidades relevantes que a mim encanta.

Garanto, todos valem a pena!

Há, também, além de americanos sofisticadíssimos, como os grupos OREGON, e ART ENSEMBLE OF CHICAGO, as gravações da maestrina e pianista CARLA BLEY.

Mas, na foto estão postados um box de 4 CDS do baterista PETER ERSKINE, formando trio com os excepcionais JOHN TAYLOR, pianista e PALLE DANIELSSON, baixista, coisas de 1993 a 1999.

E, também, do consagrado, superdotado, e conhecido guitarrista PAT METHENY, em “WATERCOLORS. É obra FUSION excepcional, de 1977, com LYLE MAYS, EBERHARD WEBER e DAN GOTTLIEB. O instrumento que cada um toca você procura saber por aí…

E o quinteto do baixista britânico DAVE HOLLAND, jazzista excelente. PRIME DIRECTIVE é de 1999, e o grupo, bem, mais uma vez, procure saber como é composto….

Para finalizar, uma obra complexa do guitarrista norueguês, digamos “MULTIFUSION”, TERJE RYPDAL. Ele é acompanhado em uma das obras pelo coral de vanguarda THE HILLIARD ENSEMBLE e a BRUCKNER ORCHESTER LINZ. E pela WROCLAW PHILARMONIC ORCHESTRA, na outra. São peças ‘CLÁSSICAS”, vá lá, ERUDITAS contemporâneas, de fascínio explícito!!!! O disco é 2013.

Tudo considerado, há nas fotos uma chuva de estrelas e meteoros imperdível!

Mas, TIO SÉRGIO, por que MÚSICA FRIA?

Talvez não seja a definição perfeita. Mas, para vocês aguçarem a percepção, imaginem o JAZZ LATINO de DIZZY GILESPIE, ou GONÇALO RUBALCABA, e GATO BARBIERI. E vá ao ROCK de CARLOS SANTANA, e mesmo à FUSÃO CUBANA do BUENA VISTA SOCIAL CLUB.

Convoquem ao encontro a BANDA MANTIQUEIRA, A ORKESTRA RUMPILEZZ, a BOSSA NOVA, ou a MPB contemporânea sofisticada. Tudo isto expressa MÚSICA QUENTE. Concorda?

Em oposição a isto você tem o JAZZ e a MÚSICA EUROPEIA DE VANGUARDA, em geral, obras experimentais e mais cerebrais. O termostato costuma baixar… audivelmente.

A ECM flerta com a sofisticação europeia, seja no JAZZ ou no CLÁSSICO. E até aposta em novos artistas de lugares menos badalados, como a Polônia, a Bulgária, e os países nórdicos em geral. Procura uma espécie de “FOLK-JAZZ-NEW AGE”, se é que isto existe…,

E a tudo mescla experimentação, música concreta, eletroacústica, ou/e digital. E temperado por beleza melódica e harmônica “amornada”, bem controlada e profundamente instigante.

Como disse o EGBERTO GISMONTI, em show antológico realizado em 1982, em SAMPA, em abertura para o guitarrista JOHN McLAUGHLIN & BANDA – outro gênio inclassificável:

“Boa Noite, pessoal! Vocês não vão se arrepender em terem vindo até aqui”!

Então, sentou-se ao piano… e eu estou viajando até agora!

JOE COCKER – 1944/2014 – E AINDA NÃO REVISITADO –

 

JOHN ROBERT COCKER tinha talento natural, voz rouca e potente, diferenciada e personalíssima. Era cantor mais para o SOUL, o RHYTHM´N´BLUES e o FUNK. E menos para o BLUES.

Era um cantor emocional, derramado, mas não tão arrebatador como seus contemporâneos ERIC BURDON, VAN MORRISON e o menos conhecido, mas “terrivelmente perturbador”, TIM ROSE.

No festival de WOODSTOCK, em 1969, há pelo menos quatro performances espetaculares: TEN YEARS AFTER, com ALVIN LEE, o pai dos “atletas da guitarra”, em ” I´M GOING HOME’, aula de ROCK de quase dez minutos. Estava lá JIMI HENDRIX, se expondo ao mundo e, ao mesmo tempo, consolidando e transcendendo um novo jeito de tocar. E houve THE WHO, visceral, barulhento, sujo e arrepiante.

E, também JOE COCKER, expressivo e emoções explícitas à flor da epiderme, em performance eletrizante com “WITH A LITTLE HELP FORM MY FRIENDS” – canção dos BEATLES, de quem ele gravou algumas outras canções. Existe um BOX com 4 CDS onde tudo isso e mais ainda estão presentes.

COCKER teve carreira longa, quase 50 anos, mas irregular. A discografia é contínua, mas inconsistente. Fez 22 álbuns de estúdio, 9 ao vivo, deixou 14 compilações, e 68 SINGLES.

Em seu disco de estreia, ‘WITH A LITTLE HELP FROM MY FRIENDS”, 1969, juntou-se banda estelar, com JIMMY PAGE, na guitarra, e STEVIE WINWOOD, nos teclados, todos já famosos, e em ascensão.

JOE COCKER se apresentou no Brasil pela primeira vez, em 1972. Ele e banda tocaram em São Paulo, no ginásio da Portuguesa de Desportos. Mas, as críticas foram muito ruins. Na linguagem da época, “ele estava devagar, quase parando”.

Seus melhores discos são os três primeiros, entre 1969 e 1971, base de seu extenso, mas nem sempre convincente repertório.

O seu vibrante show ao vivo de 1991, “JOE COCKER LIVE”, lançado em disco com bastante sucesso, é bem produzido, cheio de balanço, e destaca o bom trabalho da banda.

Ali, COCKER repassou a carreira e os seus predicados, e talvez ainda seja a melhor sugestão para quem quiser conhecê-lo.

No decorrer do tempo, ele conseguiu alguns HITS, e manteve-se em atividade.

JOE COCKER era um grande cantor? Tenho minhas dúvidas. Mas, seja como for, era um intérprete inconfundível e se tornou um ícone.

Ele foi substituído, no estilo, pelo também britânico SEAL; mais jovem, moderno e ótimo cantor de SOUL e BLACK MUSIC em geral.

A obra de JOE COCKER ainda não foi posta à prova. Mas, com o tempo, ficará mais claro o quanto de seu talento natural foi realmente lapidado.

Curiosamente, mais de dez anos transcorreram desde a morte de JOE COCKER, e ainda não houve um projeto de relançamento mais amplos de sua discografia. Não há coletânea mais ampla, e nem um BOX para uma compreensão melhor do que ele deixou.

Não é bom sinal.

24 de dez de 2014 02:15

LUCIANA SOUZA – CANTORA BRASILEIRA SOFISTICADA

 

Quase impecável, LUCIANA SOUZA canta orientada pelas frases dos letristas. É perfeita ao escandir ao estilo JOÃO GILBERTO, e compreende muito as intenções e a dinâmica da BOSSA NOVA, interpretando muito bem TOM e VINÍCIUS.

Ela é íntima do melhor JAZZ e jazzistas; usa acompanhamento sempre estelar, e foi seis vezes indicada para o GRAMMY, além de ter participação em dezenas de discos.

Em suma, LUCIANA SOUZA é uma craque. Talvez alguns não apreciem o seu timbre, para mim algo cansativo. Mas sua técnica, conhecimento e bom gosto são atrativos além do suficiente.

Estou ouvindo “NORTE E SUL”, CD de 2003, também indicado ao GRAMMY. Banda eficiente ao máximo e três pianistas sensacionais que se revezam: BRUCE BARTH, o consagrado FRED HERSCH, e

EDWARD SIMON, um espetáculo à parte compreendendo e transmitindo a intenção interpretativa de JOÃO GILBERTO, em recriação espetacular de “CHEGA DE SAUDADE”.

LUCIANA SOUZA vale a pena e grava muito. A turma do JAZZ e da BOSSA não pode perder!

Dá uma escutada.

CREAM – DISRAELI GEARS – 1967

 

SAIU NO BRASIL, EM 1968.

É DISCO DE FORMAÇÃO PARA MUITOS, E INAUGURA JEITO NOVO DE FAZER ROCK: UM TRIO DE SOLISTAS QUE TOCAVA INTEGRADO, E ABRINDO ESPAÇO PARA SOLOS, E A DEMONSTRAÇÃO DO VIRTUOSISMO DE CADA MÚSICO.

SOB UM OLHAR MAIS AMPLO, PODE-SE AFIRMAR QUE ERIC CLAPTON, GINGER BAKER E JACK BRUCE CRIARAM “FUSION” DE JAZZ, BLUES, ROCK PSICODÉLICO E R&B. É UM FEITO E OBRA CONSAGRADA.

COMPARE, POR EXEMPLO, COM O “JIMI HENDRIX EXPERIECE”, TRIO, ONDE O BAIXO DE NOEL REDDING E A BATERIA DE MITCH MITCHELL TRABALHAM EM FUNÇÃO DEO GUITARRISTA HENDRIX, O FOCO ABSOLUTO.

ESTÁ NA MITOLOGIA QUE O CREAM ENSAIVA EM UM QUARTO NO APARTAMENTO DO BAIXISTA JACK BRUCE, QUE FAZIA FUNDOS PARA UM CAMPINHO DE FUTEBOL.

A GAROTADA PARAVA DE JOGAR PARA ASSISTI-LOS “TREINANDO”! IMAGINE: FAZIAM ADOLESCENTES

DEIXAR DE JOGAR BOLA!

GINGER BAKER, UM ESTILISTA DO INSTRUMENTO, “INVENTOU” A BATERIA COM DOIS BUMBOS. E FALAVA-SE QUE JACK BRUCE “FUNDIA BACH COM CHUCK BERRY”… ELOGIO ENORME COMO POUCOS…

É LENDÁRIO E HISTÓRICO, QUE NOS METRÔS E MUROS DE LONDRES HAVIA PICHAÇÕES: “CLAPTON IS GOD”! TAL A PROFICIÊNCIA E FAMA QUE CONSOLIDARA…

OS TRÊS SÃO DILETOS PARA MILHARES E MILHARES DE DISCÓFILOS. EU, POR EXEMPLO!!!

ESSE DISCO, “DISRAELI GEARS” É, PENSO, O MELHOR ENTRE OS POUCOS E EXCELENTES QUE FIZERAM AO LONGO DE 2 ANOS DE EXISTÊNCIA.

É AMPLO E VARIADO RECHEADO POR CLÁSSICOS: “SUNSHINE OF YOUR LOVE”, NAS PALAVRAS DO LETRISTA PETE BROWN, “IRIA PAGAR OS ALUGUEIS DELE E DE BRUCE, OS AUTORES, PELO RESTO DA VIDA”.

AINDA PAGA. É CANÇÃO IRREPREENSÍVEL, COM DEZENAS DE REGRAVAÇÕES.

PARA MIM, “DISRAELI GEARS” BEIRA A PERFEIÇÃO, OU A SUPERA…

O CREAM PERMANECE MODERNO. DAÍ O RECORRENTE E ONIPRESENTE MITO, EM FUNÇÃO DO RITO PERFECCIONISTA REPRESENTADO PELO CONJUNTO DA OBRA!

TE-LOS É MANDATÓRIO!

CASSANDRA WILSON E PATRICIA BARBER – OS RÓTULOS RESTRINGEM DUAS ARTISTAS SOBERBAS!

CUIDADO COM RÓTULOS. DOIS DOS MAIS CRIATIVOS, E INTELECTUALMENTE SOFISTICADOS ESCRITORES DO SÉCULO VINTE, NÃO FORAM INDICADOS AO PRÊMIO NOBEL POR PRECONCEITO E INCOMPREENSÃO:

JORGE LUIZ BORGES FOI TACHADO DE CONIVENTE COM A DITADURA MILITAR ARGENTINA, NOS ANOS 1970. E, APESAR DE TER SIDO ESCRITOR MUITO SUPERIOR À CONCORRÊNCIA DE SUA ÉPOCA, JAMAIS FOI CONSIDERADO COMO HIPÓTESE PARA RECEBER A HONRA.

SÓ QUE NÃO FOI BEM ASSIM. BORGES APENAS ACHAVA QUE A ARGENTINA ESTAVA SE DECOMPONDO E SE DEGRADANDO SOB O PERONISMO. E ERA VERDADE!

ALIÁS, CONTINUA SENDO VERDADE!

NENHUM PAÍS, NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE, SAIU DO PRIMEIRO PARA O TERCEIRO MUNDO.

A EXCEÇÃO É A ARGENTINA, A PRIMEIRA A FAZÊ-LO. E PROSSEGUE ALTIVA E VELOZMENTE NESTE CAMINHO DECADENTE….

OUTRO ROMANCISTA MONUMENTAL FOI GRAHAN GREENE. INGLÊS, MODERNO, CONSCIENTE E CONSISTENTE.

FOI CHAMADO DE ESCRITOR CATÓLICO!

BOBAGEM!!!

GREENE ERA UM PROSADOR SOBERBO QUE, POR ACASO, ERA CATÓLICO. SÃO COISAS DIFERENTES, VOCÊS NÃO ACHAM?

MAS, VAMOS MUDAR DE PATO A SAPATO. O QUE APROXIMA DUAS CANTORAS INTERESSANTES, CASSANDRA WILSON E PATRICIA BARBER, NESSES DOIS DISCOS?

EU DIGO: O JAZZ CONSTRUÍDO EM CIMA DE BANDAS E INSTRUMENTAÇÕES DO ROCK! É VERDADE! PORÉM, É JAZZ!

O DISCO DE CASSANDRA TENDE A SER UM QUASE TRIBUTO A BILLIE HOLIDAY, E CONSEGUE;

MAS, NÃO DO JEITO CONVENCIONAL. A BANDA É COMPOSTA EM PARTE POR MEMBROS QUE ACOMPANHAM NICK CAVE – THE BAD SEEDS. ESTRANHO?

NADA: BILLIE ERA DARK E NICK MAIS AINDA! O PRODUTOR DO DISCO ENTENDE DE MÚSICA E NÃO SÓ DE ROCK. E O RESULTADO CONSTRÓI O QUE BILLIE PROPUNHA E FEZ A VIDA INTEIRA. É DISCO MAGNÍFICO EM LINGUAGEM ATUALIZADA!

JÁ PATRICIA BARBER FAZ PROSELITISMO. HOMOSSEXUAL ASSUMIDA, FAZ LETRAS E CANTA SUA ORIENTAÇÃO. É ATITUDE RESPEITÁVEL E NÃO HÁ QUAISQUER PROBLEMAS. MESMO PORQUE GÊNERO, OPÇÕES, ORIENTAÇÕES SEXUAIS OU EXISTENCIAIS NÃO DEFINEM A QUALIDADE ARTÍSTICA.

A MÚSICA, OS ARRANJOS E O ESTILO SUI-GENERIS DE PATRICIA CANTAR O QUE DEFENDE, AÍ SIM! É SHOW DE MÚSICA! LETRAS E MELODIAS DEVEM ESTAR CONJUGADAS E, SE BEM FEITAS, SE COMPLEMENTAM.

POUCOS ARTISTAS CONTEMPORÂNEOS SÃO TÃO ORIGINAIS QUANTO PATRICIA BARBER. SE O PROSELITISMO É MARKETING OU ATITUDE, POUCO IMPORTA.

O QUE NOS INTERESSA, NESSE DISCO, É A PERCEPÇÃO DE QUE O JAZZ QUE ELA PRODUZ PUXA A TODOS NÓS PARA A DÚVIDA POR CAUSA DE SUA FRONTEIRA COM O QUASE-ROCK!!! SERIA FUSION? EU ACHO QUE SIM!

TUDO ISSO, É PARA AFIRMAR QUE RÓTULOS RESTRINGEM, FAZEM CALAR PARTE DO QUE INTERESSA, ENSEJAM CAMINHOS ESTREITOS QUE MASCARAM O ESSENCIAL.

EVITAR CLICHÊS É PRECISO. E CENSURAR NINGUÉM PRECISA!

“CÉU” E “TIÊ” – O NOVO POP BRASILEIRO

 

GOSTO, SIM! E POR QUE NÃO!
É POP BRASILEIRO de boa qualidade. Sim, POP.

TIÊ faz o tipo jovial descomprometido, como PAULA TOLLER. E com melodias mais típicas do POP INTERNACIONAL, talvez um retrogosto da RITA LEE.

A banda é boa, alegre, agitada com algo dos paulistas e a nossa risonha e confortável contenção de comportamentos. Os temas e perspectivas dela são os de sua geração; amores andando, cuidar do próprio cotidiano, e o vasto etc.. fora, claro, de minha atual vivência.

Eu gosto desse disco e toco vez por outra!

CÉU é mais elaborada, EXPERIMENTAL e UNDERGROUND. Acho que vê o mundo com mais desconforto e ousadia. E fez um disco variado e surpreendente. É mais brasileira na proposta sonora e rítmica. É moderna, sim!

Assisti a Céu no programa do JOOLS HOLLAND, na BBC. Foi recebida como estrela e apresentou-se “passando roupa”, literalmente.

Encantou pela estranheza e competência. Muito legal!

Acho dois discos excelentes e recomendo aos heterodoxos.

JONI MITCHELL: THE HISSING OF SUMMER LAWNS . A MINHA CANTORA-COMPOSITORA PREDILETA!

 

Um pensador mexicano reclamou desolado: “pobre México, tão longe de Deus é tão perto dos Estados Unidos!”

TIO Sérgio perguntaria: “o que pensariam e diriam os canadenses? Partilham fronteira imensa, estão no frio total, moram em país desabitado; falam duas línguas, e são ao mesmo tempo gozados e mal interpretados pelos americanos! Um Karma leve, certamente.

Mas, diz a maioria dos americanos, o Canadá é o único país pelo qual entrariam em alguma guerra para defender!

Talvez seja possível uma síntese pelas diferenças. São duas culturas distintas, mas bem integradas, e que não perdem suas características notáveis.

Nada mais peculiar do que os grandes astros musicais do Canadá. NEIL YOUNG, GORDON LIGHTFOOT; o RUSH, K. D. LAING, LEONARD COHEN e JONI MITCHELL. Há outros.

O que os aproxima é a fria individualidade de suas propostas. Fazem sucesso no país vizinho, e são diferentes de qualquer outro artista americano. COOL!!!!!

Existe algo de solitário e desolador nesses artistas canadenses todos. Será a geografia imensa, desafiadora e inconquistável? Percebem-se eles protegidos pela certeza da invulnerabilidade, que os preserva únicos, já que são letristas e músicos críticos e perfeccionistas?

Os canadenses se aproveitam da proximidade. Os mexicanos a temem.

E JONI MITCHELL sempre olhou o mundo de cima. Será algo de europeu em seu refinamento intelectual e artístico? Eu diria que sim – mas com restrições: JONI vê a si mesma na paisagem. O Canadá a marca menos do que o BRASIL está marcado em CAETANO VELOSO – por exemplo. Eu acho…

Ainda assim, JONI é artista menos universal, porque não canta a sua aldeia, mas a ideia de si mesma. É pessoalmente tão vulnerável a ela mesma, que teve poliomielite já perto dos cinquenta anos! E é tão transcendente, enquanto artista, que coleciona muitos gatos pingados como seus fãs ao redor deste mundo absurdo.

Eu adoro a JONI. Ela me expõe a pensar sobre eu mesmo. E nesse tempo de coletivos, facebook e massificação isto não é pouco!

Dar uma volta completa em torno de si mesmo é essencial. Conhecer-se; palmilhar a própria alma; observar mais o que o interior expressa.

JONI é a intimista suprema.

Tentem!

VANGUARDA PAULISTANA DE “ONTEM”? – HOJE, PÔ!

 

Fala sério, Tio Sérgio! Se é VANGUARDA não pode ser de ontem, tem de ter uma certa perenidade peripatética, pô!

Seria?

É argumento possível que nem tudo se pereniza, e o que foi significativo ontem não necessariamente se derramou sobre os dias de hoje, ou terá relevância no futuro.

Tá; mas se é bom, se permeou o tempo com significados, é muito provável que tenha deixado rastros e raízes.

Falo aqui da chamada VANGUARDA que se instalou e se expressou no TEATRO LIRA PAULISTANA, nos 1980, em São Paulo. E de lá teceu artes, criou portas, que se abriram, lógico…e deram, entre outras coisas, nesse disco, décadas depois.

Estou comentando isso, porque no mix bêbado da trilha sonora que está rolando, hoje, há um CD GRAVADO AO VIVO, no SESC POMPEIA, também em SAMPA.

São três artistas de VANGUARDA: ARRIGO BARNABÉ, LUIZ TATIT e LÍVIA NESTROVSKI, com e o nome do disco é instigante “DO NADA MAIS A ALGO ALÉM”:

A frase é bem paulistana, e está em ANO BOM, canção emocionante que talvez deva ser interpretada como alento para sofridos quase conformados; e que encontram, de repente, a oportunidade para voltar a perscrutar a hipótese de ser feliz com alguém.

É canção de amor não linear.

Aliás, como é todo ato que expresse um afeto motivador para se construir um relacionamento emocional significativo; e talvez uma situação para amar; ou mesmo o amor.

Papo de urubu?

Pode ser. Mas, é melhor do que papo de Urutu, aquele veículo blindado que o Brasil produzia…

A maioria das letras no disco são de TATIT; E a maior parte das música são de ARRIGO.

E, ambos, apesar de coetâneos e contemporâneos, nunca haviam composto juntos. Há, também, parcerias com NÁ OZZETI e ZECA BALEIRO;

E JOSÉ MIGUEL WISNIK – que também escreveu o texto de apresentação, com a precisão sofisticada de sempre. Uma aula de como “ver” e “ler” o que as músicas nos mostram.

O disco, claro, é musicalmente belíssimo!

Estão nele, os vários arranjos de ARRIGO BARNABÉ, que também empresta sua “VOZ algo BLUESY meso pós PUNK”, como as intervenções de ELVIS COSTELLO, em discos “melhores” do que a voz dele permite, dando um sabor entre o convergente e o destoante no projeto.

E há LÍVIA NESTROVSKI, e seu cantar dinâmico, preciso, em clara e linda voz; e o canto correto e interpretação sensível de TATIT.

Todos juntos acompanhados por músicos como o guitarrista MÁRIO MANGA; o cantor RENATO BRAS; o baterista EDU RIBEIRO e o pianista PAULO BRAGA. Gente acostumada com a música de vanguarda…

Tudo considerado, ficou bom; muito bom!

Mas, se quiser compreensão imediata, mensagens diretas e simples, emolduradas por arranjos óbvios e decifráveis no ato, o disco não é para você.

Essa verborragia toda que depus, a mim parece definir um jeito paulistano de se expressar. Eu falo demais; sempre buscando dizer com o máximo de precisão o que penso, sinto ou percebo.

A maioria das pessoas que conheço também fala demais!

E nesse disco também se fala demais!

Agora, por que essa turma tão encastelada veio parar aqui nesse texto? É o contexto? talvez pretexto?

Foi principalmente por causa de uma estrofe, na música BABEL:

“Ser humano é tudo igual;

É bom, mas é falho;

Ser humano é cerebral;

Cerebral, o caralho!”

Nítido e verdadeiro!

WALTER LACERDA – SOFT JAZZ

 

Surpresas para quem prospecta. Saí com a fadinha MASTERCARD pra xeretar uns cds e comprei este ótimo disco.

WALTER LACERDA é flautista e gravou com gente grande da música brasileira. Nesse “Por onde você andava “, Lacerda e banda tocam composições dele, um SOFT JAZZ delicioso e muito bonito. Disco bom para quem pega leve e gosta de relaxar, mas vai um tanto além do lounge .

Comprei na Pops anos atrás. Recomendo aos de bom gosto, PRINCIPALMENTE aos mais velhos.